Depois daquela noite maravilhosa, eu e o Rodrigo acordamos cedo e fomos tomar café da manhã, os Teixeiras ligaram falando para a gente ir lá para a casa deles que de la já iríamos para a loja ver uma cadeira nova para o Gabriel.
Nem vimos meus pais acordando, acabamos saindo cedo e eles pelo jeito aproveitaram bem a noite também rsrs.
Chegamos na casa dos Teixeiras e o Gabriel foi super simpático, ate estranhei, ele falou com o Rodrigo:
Gabriel - Bom dia! Achei que vocês iam demorar mais para chegar
Ana - Pulamos cedo da cama.
Gabriel - Você nunca foi de acordar cedo assim rsrs Só o Rodrigo mesmo para conseguir fazer isso.
Ana - Ele não fez nada, eu que acordei ele.
Rodrigo - Mentir é feio meu amor.
Gabriel - Relaxa Rodrigo, sei quando ela está mentindo rsrs mas me fala uma coisa, que cadeira você acha melhor pra mim?
Rodrigo - Então cara, como eu já adiantei um pouco para sua mãe, acho melhor você pegar uma que fecha em "X" por enquanto, que ela é mais pesada, é mais estável, firme.
Gabriel - Essa que você usa é qual? Ela parece ser bem mais leve e bonita.
Rodrigo - Essa é uma monobloco, é mais leve sim, só está bem velha já.
Gabriel - Ela parece ser bem mais confortável, você tem uma postura até mais imponente do que a minha rsrs.
Rodrigo - Você quer sentar nela pra ver como é? Da uma volta e vê se você gosta, você só vai estranhar por ela ser muito leve.
Gabriel - Beleza, enquanto meus pais se arrumam, eu fico nela.
Rodrigo - Beleza!!
O Rodrigo encostou no sofá, fez a transferência rápido e chamou o Gabriel para sentar na cadeira dele:
Rodrigo - Pronto, agora passa para a minha cadeira.
O Gabriel ficou olhando:
Gabriel - Como que você passa assim? Eu não vou conseguir passar sozinho não.
Rodrigo - Chega com a cadeira aqui do lado da minha, arruma sua perna para fora da cadeira, segura aqui no canto do assento e vem.
Ana - Deixa que eu te ajudo Gabriel.
Rodrigo - Não! Deixa ele tentar sozinho, você não vai estar do lado dele sempre.
Enquanto eles falavam o Gabriel se ajeitou para fazer a transferência.
Ana - Então vou ficar aqui atrás para se precisar de ajuda.
Rodrigo - Não vai precisar. Bora Xomano, passa pra cadeira.
O Rodrigo falou e ele foi, foi meio desajeitado mas conseguiu. Quando ele estava passando para a cadeira os Teixeiras estavam chegando, a Dona Márcia chegou dizendo:
Dona Márcia - Meuu filhooo... Você conseguiu sair da cadeira sozinho, que garoto forte.
Rodrigo - Vai dar uma volta com ela, vê se você consegue ficar nela. Só não toca muito forte pra ela não virar com você.
O Gabriel foi dar uma volta pela casa para sentir melhor a cadeira e o Rodrigo aproveitou para dar um conselho.
Rodrigo - Bom dia! Eu entendo a empolgação de vocês ao ver ele fazendo as coisas sozinho, mas ele quer independência para se sentir um homem de novo, não para vocês agirem e tratarem ele como uma criança que conseguiu contar ate 5 pela primeira vez, muito menos para tratarem como um cachorrinho que aprendeu um truque novo.
Sr.Teixeira - Eu ja falei isso pra ela, mas ela diz que é incentivo.
Dona Márcia - Mas eu não posso demonstrar que estou orgulhosa? Que estou feliz? Isso é besteira.
Rodrigo - Claro que pode. não só pode, como deve! Mas demonstre de uma forma descontraída, mostrando respeito por ele. A senhora percebeu que ele saiu sem falar nada? Muito provavelmente ele ficou constrangido pela senhora ter falado assim com ele na frente de outras pessoas.
A Dona Márcia ficou quieta e de cabeça baixa, pensativa.
Rodrigo - Na próxima, tente falar algo tipo "Olha, conseguiu sozinho. Já vou deixar você sozinho em casa.", "Que bom que já consegue sozinho, daqui uns dias ta saindo pra rua aprontar de novo"
Dona Márcia - Entendi! Eu não levo jeito pra isso, não sou uma boa mãe para essa situação.
Ana - Claro que é madrinha! A senhora só precisa lembrar que ele não é mais uma criança, isso é uma coisa que toda mãe faz, mas nesse momento é muito ruim para o Gabriel.
No meio da conversa o Gabriel apareceu na sala e disse:
Gabriel - Rodrigo, me ajuda aqui na cama. Qual é o truque pra sair e subir sozinho?
O Rodrigo pegou a cadeira do Gabriel e foi até o quarto, fomos todos atrás, ao chegar no quarto o Gabriel estava parado do lado da cama esperando as dicas, o Rodrigo foi até ele, enquanto ele estava indo eu olhei para o lado e vi uma coisa na parede que me deixou totalmente paralisada, era quase uma parede inteira de fotos, como se fosse uma linha do tempo, tinha fotos de quando éramos criança e tinha outras fotos que a gente parecia até namorados. A Dona Márcia viu e me disse:
(Estávamos na porta e o Rodrigo e o Gabriel na cama, um pouco longe)
Dona Márcia - Era isso que eu queria te mostrar aquela vez. Ele sempre soube que você gostava dele, ele também sempre gostou de você, mas achava que você merecia alguém melhor que ele.
Eu fiquei quieta, não consegui falar nada, na parede tinha tanta coisa sobre nós, tanta lembrança. Eu queria chegar mais perto e ver tudo, mas fiquei com medo do Rodrigo ver e ficar bravo, com ciúmes, pois tinham umas fotos que parecia realmente que éramos namorados, eu e o Gabriel era um grude, tinha muita intimidade.
O Rodrigo ensinou o Gabriel a passar para a cama, quando ele estava ensinando o Gabriel a sair da cama e ir para a cadeira o Rodrigo percebeu que eu estava olhando para o mural, e observou melhor, não falou nada, continuou a explicar para o Gabriel como ele iria fazer pra sair da cama e pronto.
Quando ele ensinou e estávamos saindo do quarto o Rodrigo parou e disse:
Rodrigo - Que legal esse mural, aquela pequenininha magrela ali é a Ana? Rsrs
Gabriel - É Ela mesma. Só tinha cabeça e mais nada rsrs.
Ana - Olha quem fala, olha só você nessa foto ali, aquele cabelo ridículo. Eu tinha ate vergonha de andar com você nessa época.
Ali no começo tinha as fotos mais antigas, mas o Rodrigo foi olhando mais e começou a ver as fotos mais recentes, as fotos que a gente parecia um casal, ele parou em uma foto em que a gente estava se abraçando na piscina eu estava com o rosto virado para ele e parecia que a gente estava se beijando segundos antes da foto ser tirada, eu amava aquela foto, ela foi da virada de ano mais memorável da minha vida, mas naquele momento eu quis que aquela foto desaparecesse. Ele olhou para a foto e olhou para mim, sem dizer uma palavra ou esboçar uma expressão facial, mas nos olhos dele tinha algo que eu não estava gostando.
Na parede tinha uma foto de um dia que saímos juntos e do lado tinha uns anéis bem simples, eles estavam amarrados por uma fita vermelha e pendurados em um prego. O Rodrigo viu aquilo é perguntou do que era;
Rodrigo - Esses anéis aqui são de quê?
Gabriel - Foi no dia dessa foto ai do lado, mas foi só uma brincadeira, foi um dia que ela me pediu em namoro e comprou esses anéis do moço que estava vendendo artesanato na feirinha.
Rodrigo - E você aceitou?
Gabriel - Tive que aceitar, ela até ajoelhou rsrs.
Rodrigo - Que romântica ela rsrs
O Rodrigo ficou olhando aquilo com uma cara que parecia normal, mas eu sabia que não estava, eu conhecia ele, eu estava vendo algo nos olhos dele que não era tão legal, e ele sabia o que a fita vermelha significava, lembro que uma vez conversamos sobre isso.
Eu não sabia o que fazer, a Dona Márcia percebeu que eu não estava confortável e chamou eles para ir logo.
Chegamos no carro e o Gabriel viu que o Rodrigo entrava sozinho, e nem usava a tábua de transferência que o hospital indicou para ele. Lá foi mais uma vez o Rodrigo ensinar o Gabriel.
Ele explicou, o Gabriel foi meio desajeitado de novo mas conseguiu:
Sr. Teixeira - Agora que eu já estava ficando forte de tanto carregar você, você aprende a fazer tudo sozinho rsrs mas é bom, minha coluna agradece rsrs
O Rodrigo viu e falou baixinho para a Dona Márcia:
Rodrigo - Tá vendo? Os comentários podem ser feitos assim.
Dona Márcia - É... acho que consigo fazer isso. Obrigada! (Ela sorrindo)
Guardaram a cadeira no carro e esperaram eu e o Rodrigo entrar no carro também e fomos a caminho da loja pra comprar a cadeira para o Gabriel.
O Rodrigo estava quieto, só respondia as coisas que eu falava, não estava normal e eu sabia o motivo, mas preferi ficar quieta porque eu não sabia se realmente queria falar daquilo naquele momento, eu sei que o Rodrigo é bem calmo e tranquilo com isso, mas ele estava de um jeito estranho comigo, eu sentia isso, não podia ser só impressão ou coincidência ele ficar assim depois de ver aquele mural, eu estava aflita e incomodada, mas preferi ficar assim no momento e falar disso depois.
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