๐’๐€๐‚๐‘๐ˆ๐…ร๐‚๐ˆ๐Ž

By LuanaMaurineAutora

112K 15.8K 5.7K

Obra vencedora em: #1 ยฐ ๐‘ณ๐‘ผ๐‘ฎ๐‘จ๐‘น no ๐‘ท๐’“๐’๐’‹๐’†๐’•๐’ ๐‘ถ๐’ƒ๐’“๐’‚๐’” ๐‘ซ๐’๐’–๐’“๐’‚๐’”; #1 ยฐ ๐‘ณ๐‘ผ๐‘ฎ๐‘จ๐‘น no concurso ๏ฟฝ... More

๐ƒ ๐„ ๐ƒ ๐ˆ ๐‚ ๐€ ๐“ ๐Žฬ ๐‘ ๐ˆ ๐€
๐† ๐‹ ๐Ž ๐’ ๐’ ๐€ฬ ๐‘ ๐ˆ ๐Ž
๐Œ ๐€ ๐ ๐€ ๐Œ ๐ˆ ๐ƒ ๐† ๐€ ๐‘ ๐ƒ
Booktrailer
๐„ ๐ ๐ˆฬ ๐† ๐‘ ๐€ ๐… ๐„
๐ ๐‘ ๐Žฬ ๐‹ ๐Ž ๐† ๐Ž
๐Ÿ - ๐๐‘๐„๐’๐’๐€ฬ๐†๐ˆ๐Ž
๐Ÿ - ๐€ ๐„ ๐’ ๐‚ ๐‘ ๐€ ๐• ๐€
๐Ÿ‘ - ๐Ž ๐€ ๐‚ ๐Ž ๐‘ ๐ƒ ๐Ž
๐Ÿ’ - ๐ƒ ๐„ ๐’ ๐„ ๐‰ ๐Ž
๐Ÿ“ - ๐Ž ๐Œ๐”๐๐ƒ๐Ž ๐„ฬ ๐”๐Œ ๐‹๐”๐†๐€๐‘ ๐‚๐‘๐”๐„๐‹
๐Ÿ” - ๐‹๐„๐Œ๐๐‘๐€๐๐‚ฬง๐€๐’ ๐ƒ๐„ ๐”๐Œ ๐’๐Ž๐๐‡๐Ž
CAPรTULO 7 - O Pronunciamento
CAPรTULO 8 - Perguntas Difรญceis
CAPรTULO 9 - O Desconhecido
CAPรTULO 10 - O Interrogatรณrio
CAPรTULO 11 - O Retorno
CAPITULO 12 - O Juramento
CAPรTULO 13 - Palavras Amargas
CAPรTULO 14 - Vinganรงa
CAPรTULO 15- Dividas
CAPรTULO 16 - Salvadora
CAPรTULO 17 - O Pedido
CAPรTULO 18 - A Velha
CAPรTULO 19 - Planos
CAPรTULO 20 - Acerto de Contas
CAPรTULO 21 - O Lamento
CAPรTULO 22 - O Sacrifรญcio
P A R T E 2
Uma Oraรงรฃo Celta II
Booktrailer - P A R T E 2
CAPรTULO 23 - deuses
CAPรTULO 24 - A Estrangeira
CAPรTULO 25 - Valhalla
CAPรTULO 26 - O Jantar
CAPรTULO 27 - O Passeio
CAPรTULO 28 - Ameaรงas
CAPรTULO 29 - A Proposta
CAPรTULO 30 - Ajuda.
CAPรTULO 31 - Incertezas
CAPรTULO 33 - O Reencontro
CAPรTULO 34 - Yggdrasil
Especial Halloween
Capรญtulo 35 - Niflheim
CAPรTULO 36 - Segredos & Promesas
CAPรTULO 37 - Conversas & Sentimentos
CAPรTULO 38 - Impotรชncia
CAPรTULO 39 - Verdades
CAPรTULO 40 - Egoรญsmo
CAPรTULO 41 - Deuses sendo deuses
CAPรTULO 42: Surpresa.
CAPรTULO 43: Quem รฉ morto sempre aparece.
CAPรTULO 44: O beijo da justiรงa.
CAPรTULO 45 - Nidavellir
CAPรTULO 46 - Culpa
CAPรTULO 47: Eu me Importo
CAPรTULO 48: O preรงo da liberdade
CAPรTULO 49: O meu lugar
CAPรTULO 50 - Anseios
CAPรTULO 51 - O Labirinto
CAPรTULO 52 - A Flor
CAPรTULO 53 - Cortem-lhe a cabeรงa
CAPรTULO 54 - Nรฃo levarei o seu caos.
CAPรTULO 55 - O amor nรฃo รฉ tudo
CAPรTULO 56: O Baile
CAPรTULO 57 - O รบltimo Teste dos Deuses
CAPรTULO 58 - Promessas feitas no luto
CAPรTULO 59 - Inconsequรชncias
CAPรTULO 60: Culpa e Erros
CAPรTULO 61 - Visita Inesperada
CAPรTULO 62 - Campos Elรญsios
CAPรTULO 63 - O Convite
CAPรTULO 64 - Sem Promessas
CAPรTULO 65 - Fugitiva
Loki
Teaser - Parte III
UMA ORAร‡รƒO CELTA - III
CAPรTULO 66 - Recomeรงo
CAPรTULO 67 - O Primeiro Passo
CAPรTULO 68 - Os Tuatha Dรฉ Danann
CAPรTULO 69 - Eu vou lutar!
CAPรTULO 70 - A Profecia
CAPรTULO 71 - O guarda
CAPรTULO 72 - Temores
CAPรTULO 73 - Vitรณrias
CAPรTULO 74 - Por vocรช.
76 - Confusa
77 - Uma noite tumultuada
78 - Apenas uma noite
79 - Duras verdades
80 - Revelaรงรตes em meio ao caos
81 - Para sempre e sempre
82 - Segredos e Adeus
83 - Sejam fortes & corajosas
PEDIDO DE AJUDA
84 - PELO CONFINS DOS MUNDOS
85 - TRAIร‡รƒO
86 - O fim de um ciclo
๐Ÿ†VENCEDOR DO WATTYS 2021๐Ÿ†
81 - LAร‡OS
CAPรTULO ESPECIAL - SPIN OFF

CAPรTULO 32 - O Duelo

1.5K 195 52
By LuanaMaurineAutora


A vida não é nada além do acúmulo de resultados e consequência das escolhas e caminhos que optamos por seguir. Meu pai uma vez me disse, que cada ação gera uma reação, e esta pode ser boa ou ruim. Ele também acrescentou que o bom e o ruim não passa de uma questão de perspectiva: o é bom para mim, talvez não seja para outra pessoa e vice-versa. Por fim, ele me aconselhou a respeito de que eu deveria ser cautelosa em cada escolha que eu viesse a tomar em minha vida. Disse que eu sempre deveria tentar prever todas as consequências de cada caminho que eu decidisse seguir, pois assim chegaria à escolha mais sabia e não teria nada do que me arrepender.

Meu pai falava comigo como se eu fosse uma adulta, mas naquela época eu estava tão distante. Ainda assim, guardei o seu conselho. Somente depois de muitos anos fui capaz de compreende-los e então comecei a pensar em minhas escolhas tentando saber se elas foram certas ou não. No entanto, creio que só obtive essa resposta no final de minha jornada. Até lá, essa dúvida pairou sobre minha cabeça, eu apenas tive que aprender a conviver com ela.

A vida, como tal, continuou a me surpreender, pois na noite que antecedia a minha batalha com Freya, meu pai — depois de muito tempo — reapareceu em meu sonho.

Lembro-me perfeitamente de tudo que ocorreu quando nos encontramos novamente.

Eu estava eu caminhando pelas areias da praia que ficava perto da casa onde, na minha infância, habitei com meus pais. O dia estava no seu fim e a brisa relaxante do mar que acariciava minha pele, jogava meus longos cabelos negros para trás. Mais à frente identifiquei a silhueta de um homem sentado na areia olhando fixamente para ondas do mar. Não precisei de muito tempo para me dar conta de que era meu pai quem estava me aguardando naquele lugar.

Caminhei até meu pai. Ele trajava uma longa veste cinza que encobria os seus pés e se arrastava pela areia. Também pude observar que o druida segurava em uma das mãos o seu longo cajado de madeira. Cheguei próximo dele e me sentei ao seu lado.

— Quanto tempo! — falei, em uma espécie de sussurro que mesclava dor e saudade.

— O tempo necessário, minha pequena. — disse, ele, voltando seus tristes olhos verdes em minha direção.

Eu queria gritar e despejar um amontoado de palavras duras contra meu pai. Queria mostrar o quanto estava com raiva por ele ter morrido, por ter me abandonado. Mas toda mágoa ficou presa em minha garganta, sufocando-me, transformando em lágrimas que eu também aprisionei.

— Diga-me, por que estamos aqui? — indaguei com frieza.

O druida me analisou por um longo período de tempo. Talvez tentou entender no que eu havia me transformado.

— Você confia em mim? — perguntou, pela primeira vez, parecendo inseguro.

Permaneci o encarando em silêncio. Eu, sempre acreditei que podia confiar em meu pai, entretanto, tudo tinha mudado com o passar do tempo, era bem provável que nossa relação também mudara.

— E alguma vez eu não confiei, meu pai? — questionei arqueando a sobrancelha.

Papai sutilmente semicerrou os olhos.

— Foi só uma pergunta retórica. — alegou, exibindo um pequeno sorriso nos lábios.

— Perguntas retóricas não levam a lugar nenhum. Você, como, um sábio druida, deveria saber disso. — repliquei, com dureza.

Meu pai franziu a testa demostrando o incomodo que minhas palavras provocaram dentro de si.

— Parece que você se tornou mais sabia do que eu um dia eu fui. — alegou, ele, com certo orgulho.

— Deve ser porque sofri mais que você. O sofrimento nos deixa mais forte e também mais sábio. — proferi, ainda em tom rude.

Já não éramos mais os mesmos, havia muita mágoa entre nós.

Notei que meu pai intensificou o seu aperto no cajado que segurava em uma das mãos. Seu maxilar estava trincado em uma expressão de austeridade. Algo do que eu disse, havia alabado as emoções.

— Você sempre soube, não é? Sempre soube pelo que eu passaria.

O druida abriu a boca tentando articular qualquer fala, mas nada escapou por seus lábios. Talvez a culpa fosse grande demais para sair de dentro de si.

— Não precisa dizer nada! Suas palavras de nada servirão para modificar o que passou. Elas não serão capazes de apagar as cicatrizes em meu corpo, tampouco as marcas de abusos cravadas em minha alma. Nada poderá ser feito para desfazer as lembranças das vezes que fui estuprada e nem os dias em que quase morri de fome. Então não me peça desculpas, não diga que se lamenta e não me implore por perdão, porque eu não vou te perdoar. Esse é o seu fardo, carregue-o até que você deixe de existir. — declamei cada palavra com fúria e toda mágoa que guardava dentro de mim.

Os olhos verdes do meu pai se encheram de lágrimas. Alguém choraria naquela situação e não seria eu.

— Eu não posso mudar o que passou, porém tenho a possibilidade de te ajudar a transpor a dificuldade que enfrenta nesse momento. É por isso que estou aqui. Vim lhe mostrar como fará para partir de Asgard. — revelou, em um tom neutro que escondia qualquer sentimento que carregava.

Lancei um olhar desconfiado para o druida. Seus olhos me encaravam revelar qualquer indicio que demonstrasse as verdadeiras intenções por detrás de suas palavras.

— Por que decidiu me ajudar logo agora? — inquiri, desconfiada.

Ele segurou o seu olhar nos meus. A forma como me encarava, fez com que um arrepio percorresse minha espinha.

— Você tem uma missão a cumprir. Erieanna. Eu estou aqui para ajudá-la a obter o êxito. — respondeu, mantendo a expressão de austeridade em sua face.

Soltei uma risada irônica que se misturou no ar e juntou-se ao barulho das ondas do mar revolto.

— Não está aqui por mim! Tudo se trata dessa maldita missão que, a propósito, nunca me disse qual é! — acusei, enfurecida. Deixei evidente o rancor que sentia por ele.

— Pode me odiar o quanto quiser. Não vai mudar no fato de que eu te amo e sempre me importarei contigo. Você é minha filha, é o meu legado. Nunca quis que carregasse o peso dessa missão, tentei evitar que ela ocorresse. Mas, como já te disse uma vez, é algo grande, algo que vai além da vontade dos deuses. — Seu olhar se tornou sereno. — Tenha paciência e no momento certa tudo será esclarecido. — concluiu, brandamente.

Desviei meu olhar para o mar que se agitava, como se sentisse o turbilhão de perigosas emoções que cresciam dentro de mim.

— Eu tenho sido paciente por muito tempo. Apenas me diga como faço para partir de Asgard, é tudo que preciso saber. — pedi resignada.

— Pois bem, preste atenção em tudo que lhe falarei, siga cada passo de minhas instruções e obterá a ajuda necessária para que possa deixar Asgard para trás. — proferiu cada palavra pausadamente, deixando nítido que eu não deveria fazer nada diferente do que diria.

Assenti levemente com a cabeça de modo a demostrar que tinha compreendido a seriedade de sua sentença.

— Vai precisar de três velas, mais creio que as encontrará facilmente. Necessitará tingi-las de verde, marrom e laranja. Depois, logo que o dia amanhecer, deves se posicionar no sentido em que o Sol nasce, vais acender uma vela verde e dizer: "Eu clamo por mudanças, esta é a minha certeza, abra-me meus caminhos, traga-me os sinais". Posteriormente, acenda a vela marrom e profira: "Má sorte, caia! Obstáculos, caiam!". Por fim, acenda a vela laranja, proclame: "Sorte e Prosperidade estão agora comigo, Deus Sol, venha para mim!" — Meu pai sabiamente me instruiu. — Cernunnos virá a teu auxílio e assim será capaz de se libertar de Asgard. — explicou qual era seu plano para me libertar do mundo em que eu fazia parte.

Suspirei pesadamente.

— Meu pai, creio que não esteja ciente do Tratado que existe entre todas as divindades que governam as partes de Midgard. Cernunnos não poderá pisar em Asgard, caso contrário, provocará uma guerra entre os deuses Celtas e os Nórdicos. Ele nem sequer pode vir ao meu encontro sem desencadear um pequeno conflito. — argumentei, evidenciando que a sua proposta de salvação, não era viável.

— Minha pequena, esse é o único caminho. Além do mais, quando conjurar o deus cornífero, vocês se encontrarão no seu domínio místico. Não estarão em Asgard, portanto, não infligirão qualquer acordo já afirmado. — Ele esclareceu as minhas dúvidas

Soltei mais um longo suspiro.

— Tentarei do seu jeito, até porque, não tenho qualquer outra opção. — declarei, colocando-me em pé. Meu pai, por sua vez, repetiu minhas ações.

Ficamos, então, ambos nos encarando sem saber como se despedir.

— Não sei será uma despedida definitiva, então quero que saiba que desejo tudo de bom que a vida possa lhe oferecer. Eu te amo e sempre te amarei, pequena Erieanna. — Seus olhos ficaram banhados em lágrimas, enquanto ele apertava o cajado com demasiada força.

Não tinha certeza se nos veríamos novamente. Por tal motivo, lancei-me nos braços de meu pai. O druida me acolheu com um carinho afetuoso, fazendo meu frio coração se aquecer por breves instantes.

— Apesar de tudo, eu também te amo e sempre vou te amar. — sussurrei, contra seu peito.

Permanecemos abraçados até que tudo, aos poucos, foi se desfazendo ao nosso redor. Então eu acordei flutuando suavemente sobre minha cama e calma que estava infiltrada em meu ser, era o único indicativo de que eu me encontrara com meu pai em um plano espiritual que jamais soube ao certo como funcionava.

Assim que voltei a realidade, percebi que o Sol estava perto de nascer. Portanto, coloquei-me em pé. Muito em breve eu teria de enfrentar Freya em nosso duelo.

Como de costume em momentos em que se fez necessário enfrentar uma situação importante, eu lavei meu rosto e parti para fora do castelo de Asgard, com um único objetivo: encontrar um local em que a força da Natureza fosse abrangente para que com ela pudesse me conectar.

Perto de onde eu estava, havia somente um lugar que servia para meu propósito: a pequena floresta atrás do majestoso jardim do palácio. Como era necessário que eu fosse ser rápida, evitei passar pelo labirinto e a passos rápidos caminhei até meu destino.

Ao chegar junto as árvores, pude sentir que a energia à minha volta sofreu uma alteração considerável. A brisa cálida da manhã era reconfortante e o som dos pássaros anunciando o início do dia, deixava-me em paz. E eu raramente estava em paz.

Encontrei uma árvore que parecia já ter vivido por muitos e muitos anos. Levei meus dedos em sua direção e acariciei as lascas de seu tronco rígido. Em completo silêncio, agachei-me agachei próximo a uma de suas raízes que havia sobreposto o chão e cravei meus dedos na terra abaixo de mim, enquanto trabalhava a minha respiração até que ela estive no mesmo ritmo do ar ao meu entorno. Não muito tempo depois, fui capaz de alinhar minha energia com a da floresta que me cercava. Fiz uma prece — não para os deuses — mas para o ser que regia toda força mística da Natureza. Pedi proteção para sobreviver em Asgard, mas principalmente, pedi sabedoria para distinguir em quem eu devia confiar. Finalizei minha oração agradecendo por meus dons e pelas bênçãos que fora me concedidas em situações anteriores. Depois, tive de partir para enfrentar Freya.

Ao retornar para meu quarto, levei um susto ao encontrar Acme parada bem no centro dele, carregando algo de tonalidade escura em suas mãos.

— Fico agraciada com sua visita, minha amiga. Mas, por qual motivo está aqui, logo tão cedo? — Fitei-a com cuidado.

— Vim com o objetivo de te ajudar a se preparar para o duelo. — explicou com seriedade.

Franzi meu cenho ligeiramente, pois o propósito de sua visita me deixou confusa.

— Agradeço por sua disposição, no entanto, creio que não será necessária. — declarei, com delicadeza, para não soar como desfeita.

— Terei de discordar, pois estou certa sobre a necessidade de você deixar sua marca em Asgard. Por isso trouxe vestes de combate na cor preta para que todos continuem te enxergando como aquela que desafia os deuses. — argumentou, ela, de modo perspicaz.

Um felino sorriso de canto se esboçou em meus lábios. — Está coberta de razão, minha amiga. Deixe-me entrar nessas vestes e mostrar a toda essa gente quem é Erieanna. — Estiquei a mão incitando-a me entregar as roupas que me trouxe.

Sem perder tempo, Acme me entregou a calça de tecido grosso de pele de animal que provavelmente fora tingida com pigmentos pretos, bem como uma camisa justa de couro reforçado da mesma tonalidade. A jovem loira me ajudou a entrar nas vestes, amarrou todos os laços necessários para que as elas se moldassem ao meu corpo e, depois, tingiu toda parte ao entorno dos meus olhos de preto. No final, eu me tornei a verdadeira imagem de uma guerreira brutal e impiedosa.

Acme me olhou dos pés a cabeça e assentiu levemente com a cabeça, irradiando satisfação. Observei quando ela me deu as costas e rumou para perto de um caixote que estava disposto ao lado de uma das portas, próxima da sacada. Só então me dei conta da presença do objeto que minha amiga arrastou pelo chão e o colocou a minha frente.

— Abra. — pediu, mantendo uma postura rígida.

Mais uma vez franzi meu cenho, porém fiz o que fora me solicitado.

Com muito cuidado, destravei as trancas do caixote e o abri. Dentro dele, havia um belo escudo de madeira escura, na qual, bem no centro, pintado de vermelho, estava gravado uma runa de proteção. Também notei a presença de uma magnifica espada, a qual eu a segurei em minhas mãos. Ela era grande, maior que a extensão de meu braço, também era um pouco pesada, mas nada que não fosse possível empunhar. Sua lâmina reluzente carregava vários símbolos de runas que eu desconhecia. Seu cabo tão vermelho quanto o sangue, fora devidamente elaborado de modo a ostentar pequenas pedras que reconheci como rubis. Aquela era, definitivamente, uma espada de alto valor.

— O que é tudo isso? — questionei, indicando o caixote com as armas que também inclua duas pequenas adagas.

— Suas armas para o combate. — Acme respondeu como se fosse o óbvio.

Arqueei a sobrancelha claramente desconfiada.

— E de onde elas vieram? — Cruzei os braços abaixo do peito e semicerrei os olhos demonstrando que não aceitaria qualquer resposta.

Acme ponderou suas palavras, e sutilmente desviou o olhar antes de me responder:

— Vieram do salão de armas. Tomei a liberdade de pegá-las emprestadas para que tivesse algo decente para lutar.

Eu ainda estava desconfiava da origem daqueles armamentos, entretanto, não tinha quaisquer outras opções a serem usadas. Dessa forma, apenas — temporariamente — aceitei sua resposta, assim como as armas que me trouxe.

Devidamente pronta para o combate que se seguiria, nós partimos rumo o aguardado duelo que eu enfrentaria.

A Arena de combate de Asgard, não ficava tão longe do palácio em que Odin habitava, e como fomos cavalgando, o percurso fora ainda mais rápido.

Ao chegar em nosso destino, fomos contempladas com a magnífica beleza arquitetônica da Arena cujo o espaço era grandioso e facilmente abrigava milhares de pessoas. Naquele dia, portanto, o local estava lotado, não havia nenhum espaço vago. Todavia, seria ingenuidade de minha parte acreditar que o duelo seria pouco prestigiado. Toda aquela gente adorava se divertir às custas da desgraça alheia. Provavelmente, somente Odin tinha interesse direto em minha vitória, por isso só ele torceria por mim. Todos os demais esperavam minha derrota.

Evitamos entrar diretamente na Arena. Acme, assim, levou-me ao local onde os combatentes costumavam aguardar até serem anunciados. Fiquei aguardando em silêncio, forçando-me a permanecer tranquila. Porém, meu curto período de meditação, fora interrompido por Freya que fez questão de fazer valer a sua presença.

— Vejo que realmente está disposta a seguir a diante com essa história de se tornar uma Valquíria. — Escutei a melodiosa voz da deusa irromper em meus ouvidos.

Abri os olhos para encará-la com atenção. Ela trajava uma roupa de combate similar à minha: calças e colete de couro e, também, botas que cobriam metade da extensão da panturrilha. A única diferença eram as cores, enquanto as minhas eram negras, as suas tinham tonalidade marrom. Seus sedosos cabelos loiros estavam bem presos em uma trança assim como os meus. Seu rosto, porém, estava impecavelmente limpo, nele não havia nenhum rastro de tinta.

— Mesmo se eu não estivesse determinada a ser uma Valquíria, ainda assim, estaria aqui. Jamais desisto de um confronto quando me desafiam. Essa, com certeza, não seria a primeira vez. — rebati, esboçando em pequeno sorriso.

Freya semicerrou seus límpidos olhos azuis antes de indagar:

— Sabe... Fico me perguntando... O que será Odin te prometeu? Qual motivo te levou a lutar com tanta determinação em prol dos objetivos do deus da guerra? — Ela pendeu a levemente a cabeça para o lado, a medida em que arqueava uma de suas sobrancelhas.

Exibi um malicioso sorriso de canto.

— Se Odin te deixou às escuras sobre suas intenções, não serei eu a lhe fornecer essas respostas. Só posso adiantar que ele me prometeu algo pelo qual que vale a pena lutar. Algo que amplia meu desejo vencer esse duelo. — Diminui consideravelmente a distância entre nós e deixei nossos rostos quase colocados. — Então dê o seu melhor nessa batalha, porque eu darei tudo que tenho. Não existe, para mim, outra opção a não ser te derrotar. — Dito isso, virei-me de costas e parti rumo a entrada da Arena.

Não esperei que Freya rebatesse minha ameaça. Apenas a deixei refletir sobre as minhas duras palavras.

Pouco tempo depois, ela se colocou ao meu lado. E, enquanto aguardávamos a sermos anunciadas, nenhuma de nós proferiu qualquer frase, pois todas elas já haviam sido proferidas. Venceria o embate, quem vencesse o duelo.

Aguardamos, em completo silencio, Odin pronunciar discurso que marcava o início do evento e, assim que ele fora finalizado, Freya fora anunciada. Portanto, a deusa líder das Valquírias, foi a primeira a adentrar na Arena.

A multidão irrompeu e gritos e aplausos quando Freya lhes concedeu a honra de sua presença. O público eufórico gritava palavras de encorajamento a deusa que percorria a Arena acenando para todos que torciam por ela.

Quando a euforia cessou, o homem responsável por apresentar o duelo, finalmente me anunciou.

Senti todas as batidas do meu coração pulsarem em um ritmo rápido e forte. Segurei a espada com firmeza, ergui o escudo que eu carregava e parti em direção a Arena. Tive a sensação de que tempo desacelerou quando me coloquei em frente à multidão que ficou em silêncio. A luz do Sol refletiu sobre meus olhos, precisei colocar o braço à frente do meu rosto e assim encarar o público que me olhava em um estranho misto de raiva e descrença.

Virei-me do lado oposto ao Sol e alinhei minhas costas tomando uma postura de determinação. Não me abalei por toda aquela gente. Pouco me importava se elas assinavam ansiavam por minha derrota.

Procurei pela face de Odin no meio da multidão e logo o encontrei sentado confortavelmente em uma lustrosa poltrona disposta bem no centro da Arena protegida do calor do Sol. Seu único olho se fixou em mim, no mesmo momento que sua voz ecoou em minha cabeça:

— Não aceito nada menos que sua vitória. Vença esse duelo! — Determinou, Odin. severamente.

Trinquei o maxilar para conter a raiva ameaçava queria me possuir. Eu detestava todos os deuses, sem exceção.

— Não me ameace, Odin, não se esqueça que é você quem precisa de mim e não o contrário. — Mandei meus pensamentos para ele, que se mexeu em sua cadeira parecendo desconfortável.

O apresentador ainda discursava sobre as habilidades das combatentes, enquanto eu e o deus supremo, travávamos uma discussão silenciosa em nossas cabeças.

— Se não cumprir a sua parte do acordo, não poderei cumprir a minha. Ficará fadada a ficar presa em Asgard até que sua existência chegue ao fim. — Odin me lembrou do nosso acordo.

— Você deveria ter controlado sua parceira. Agora tenho que arrumar sua bagunça. Não se preocupe, eu não tenho pretensão de ser derrotada. Sua vitória está garantida. — rebati, erguendo o meu escudo mental para que Odin não fosse mais capaz de se comunicar comigo.

Voltei a me concentrar no discurso que — obviamente — exaltava mais Freya do que a mim: um reles espectro de alguém que algum dia fora uma humana. Em seguida, busquei na multidão um rosto conhecido, além do de Acme, Balder e Thor que me encaravam. Meus olhos se depararam com Loki que — para meu desgosto — estava com os olhos fixos na deusa da sedução que também o fitava com intensidade. Parecia que estavam se comunicando mentalmente, e presenciar tal fato, me encheu de fúria.

O discurso chegou ao fim e nós — as combatentes — fomos orientadas a tomar nossos postos.

O mediador do duelo se posicionou no meio de nós duas e pediu para que estendêssemos as mãos a nossa frente. Ambas, prontamente, atenderam ao pedido.

— Duas runas serão desenhadas em seus pulsos. Elas terão o único propósito de, temporariamente, bloquear qualquer magia que exista dentro de vocês. Esse será um duelo em que poderão ser utilizadas somente a força física e a inteligência, pois assim, será comprovado que tens as habilidades de verdadeiras Valquírias. Estão de acordo? — indagou com seriedade, o homem de porte físico de um guerreiro.

Seu cabelo marrom estava preso numa trança que seguia até a metade de suas costas. Sua expressão de austeridade, indicava que não era muto amistoso.

Tanto eu como Freya concordamos com as regras. Assim, o mediador que provavelmente era algum deus de menor significância, desenhou as runas em nossos pulsos. Logo após, ele deu dois passos para trás e declarou:

— Quero uma luta limpa, sem trapaças e sem golpe baixo. Podem usar espadas, escudos e adagas. Usem todas habilidades de lutas que conhecem, mas, se atacar a adversária por trás, será eliminada imediatamente e a luta terá seu fim. — Olhou para mim, sem seguida para Freya. — Que comece o combate! — declarou, estrondosamente, para que todos o ouvissem.

Prontamente, ergui meu escudo e empunhei minha espada em posição de combate. Permaneci preparada para me defender ou iniciar qualquer ataque. Freya fez o mesmo. Ambas ficamos nos encarando, era difícil saber quem efetuaria o primeiro golpe.

Começamos a vagarosamente andar em círculos, tentando analisar uma a outra. A multidão estava tensa e eu já havia decidido que não seria a primeira atacar. Teria paciência e esperaria o primeiro golpe, pois dessa maneira, tentaria identificar com que tipo de oponente estava lutando.

Não demorou muito para que Freya soltasse um grito de guerra e avançasse contra mim. Ela correu em disparada em minha direção, seus olhos azuis continham uma fúria cruel. Flexionei meus joelhos e observei com atenção, tentando prever onde me atacaria. Seu machado agressivamente fora lançado contra meu rosto, porém bloqueei o ataque com meu escudo.

Freya não perdeu tempo e chocou com brusquidão seu pé contra meu peito. O movimento habilmente planejado fez com que eu me desequilibrasse. Não tive tempo de reagir quando a deusa passou uma rasteira em meus tornozelos, derrubando-me de costas no chão. Arregalei os olhos ao notar a lâmina de seu machado vindo em direção ao meu pescoço. Havia mais do que raiva em seus olhos azuis. Aquele não era apenas um combate, se eu perdesse, minha existência seria apagada. Freya desejava o meu fim. Meus pensamentos estavam lentos, porém, os meus instintos aguçados agiram mais rápidos. No último instante, consegui desviar do ataque... Para minha sorte, o machado cravou profundamente no chão.

Aproveitei o momento em que a deusa da sedução tentava arrancar sua arma do solo e rapidamente me coloquei em pé. Não concedi tempo para que minha oponente pudesse se defender e também lhe passei um golpe rasteiro que a levou de costas no chão. Lancei meu escudo em direção a sua cabeça com objetivo de nocauteá-la, porém ela foi rápida e girou para o lado conseguindo escapar do meu ataque.

Seu contra-ataque também foi ágil, pois habilmente, Freya retirou a adaga que guardava entre a sua bota e a lançou contra o meu coração. Vi a lâmina girar no ar, pronta para me acertar em cheio. Só tive tempo de me jogar um pouco para o lado e mesmo assim não fui capaz de desviar por completo. A adaga arrancou boa parte do meu braço que começou a jorrar sangue pelo o chão pedregoso da Arena.

Trinquei o maxilar na tentativa de conter a dor e contive todo impulso de abandonar o escudo para estancar o sangramento de minha carne aberta. Segurei a espada com mais força e observei quando Freya abriu um largo sorriso ao me ver sangrando.

Eu já sabia com quem estava lutando. A líder das Valquírias era como os guerreiros vikings: agressiva e impetuosa. Uma exímia guerreira movida pela ação iminente sem planejamento algum. Minha melhor opção era a de me defender de seus golpes e atacar nas brechas entre eles. Só assim a desarmaria. E foi exatamente o que eu fiz.

Freya arrancou o seu machado do chão e novamente começou a me atacar. Seus golpes tentaram atingir meu tronco, minhas pernas e até mesmo minha face. Entretanto, consegui bloquear todos eles. Contudo, no último golpe, o seu machado cravou fundo no meu escudo e sua lâmina afiada arranhou o meu rosto que começou arder.

Porém, seu golpe não fora calculado. Para sua infelicidade, eu tinha a desarmado. Sua arma ficara presa em meu escudo, e todas as suas tentativas para recupera-la foram nulas. Não importou o quanto ela se emprenhou empenhasse tentando recuperar o machado. Ele estava permaneceu cravado em meu escudo.

Exibi um largo sorriso e choquei minha perna contra a sua barriga. O duro impacto do meu golpe arremessou a deusa para longe, fazendo-a tropeçar para trás.

Lancei o meu escudo ao chão e parti para cima de minha oponente determinada cravar minha espada em seu tronco. Porém, usando o próprio escudo, Freya bloqueou meu ataque e, ironicamente, nele minha espada ficou presa.

Restou para nós, apenas duas opções: tentar recuperar nossas armas, ou lutar com o as adagas escondidas em nossas vestes. Freya decidiu por mim. Rugindo como uma fera raivosa, ela correu em minha direção, segurando uma adaga na mão. A deusa estava determinada a me degolar. Bloqueei seu golpe segurando seu antebraço e depois choque minha cabeça contra seu nariz que começou a sangrar. Mas, mesmo que eu a tivesse atordoada com meu ataque, Freya sacou uma faca que carregava na cintura e com ela foi capaz de rasgar, transversalmente, toda pele da minha barriga. Um fio de sangue jorrou de meu corpo e molhou meu traje. Meus cortes ardiam como se brasa estivesse me queimando. Tomada pela dor, não vi quando seu punho socou meu olho, também não previ o ataque certeiro de seu joelho que atingiu, em cheio, o meu estômago. Só lembro de não ser capaz de me manter em pé. Em completa agonia, eu desabei desajeitada no chão onde bati minha cabeça contra o solo duro.

Minha visão ficou turva, passei a enxergar apenas borrões desconexos que não formavam imagem alguma. Também não ouvi nada além de um zunido ensurdecedor no meu ouvido. Lá no fundo alguém gritava por meu nome. Bem ao longe alguém torcia por mim.

Senti uma mão enrolar em meus cabelos, arrastando-me pelo chão pedregoso que arranhava minhas costas. Minha boca ficou seca, como se todo o liquido tivesse deixado o meu corpo. e meus dedos formigavam. Não sentia minhas pernas e nenhum mísero músculo que me pertencia. Percebi, então, que Freya havia me envenenado. Ela apagaria minha existência e eu nada poderia fazer, pois meu corpo simplesmente parou de obedecer aos meus comandos.

O mundo estava mudo. Tão silencioso como a morte.

"Lute contra isso!" Uma voz masculina ordenou em minha mente.

"Lute até seu último suspiro" aquela voz conhecida determinou com bravura.

Tentei com todas as forças lutar contra o veneno agindo dentro de mim. No entanto, tudo que eu consegui fazer foi cravar minhas unhas no chão arenoso, tentando me conectar com qualquer outra força que havia ali.

"Você é mais forte que isso! Vamos, Erieanna! Levante! Lute!". Aquela voz ordenou, em completo desespero.

Senti a força da terra sob mim. Senti o sopro do vento contra minha pele. Senti tudo que eu era, tudo que magia alguma poderia anular. As runas tinham bloqueado os meus poderes, mas elas não foram capazes anular o meu elo com a Natureza.

Instintivamente, concentrei-me poderosa energia da terra em que meu corpo repousava, e deixei que ela fizesse parte de mim; permiti que ela me possuísse, pois ela também fazia parte do que eu era. Eu pertencia a terra, assim como ela me pertencia.

Aos poucos fui recobrando os sentidos e o efeito do veneno foi se dissipando. E, quando voltei a mim, notei que Freya me segurava pelos cabelos, enquanto mantinha a lâmina de sua faca rente ao meu pescoço. A deusa discursava ferozmente sobre a minha fraqueza, expressando a necessidade de matar para que ninguém mais desafiasse os deuses. Ela estava tão absorta no seu discurso de ódio, e nem se deu conta que havia burlado seu maldito veneno.

Aproveitei a sua distração, retirei as únicas adagas que trouxe nas botas e as cravei em seus pés até que elas se afundassem profundamente no chão. A deusa urrou de dor, e derribou a faca que segurava contra a minha garganta, no chão. Desesperada ela se abaixou em direção ao solo, tentando se libertar das armas que a prenderam no mesmo chão duro do qual me levantei.

Inutilmente, Freya tentou se livrar do meu ataque. No entanto, não lhe concedi o tempo necessário para que escapasse, apenas peguei sua própria faca, aquela que estava banhada em veneno e coloquei contra seu pescoço. Ela arregalou os olhos azuis e neles eu vi uma sentença de morte. A multidão se calou ao ver sua deusa imóvel e imponente, totalmente a minha mercê.

Percorri meu olhar pela multidão, a procura de Odin. O acenou levemente com a cabeça, concordando que eu poderia pôr um fim na vida de Freya, caso assim eu desejasse. Porém, mesmo que eu quisesse degolá-la na frente de todos, fiz o contrário do que esperavam e retirei a faca de seu gracioso pescoço.

Freya soltou um pesado suspiro de alívio que ecoou pela Arena silenciosa. Creio que nem ela acreditou que eu poupara a sua vida.

— Sua deusa é uma trapaceira! — bradei com fervor. — Isso aqui... — Ergui a faca que pertencia a Freya — Foi banhado em veneno. — Gritei, furiosa. Um coro de espanto tomou conta da plateia que nos assistia. — Se uma Valquíria age dessa forma, sem honra alguma, então me desculpem, mas isso não serve para mim. — afirmei, com escárnio, e joguei a faca em direção ao mediador do duelo. — Pode conferir se quiser. — proferi com desdém.

O homem entregou a arma nas mãos de alguém que com certeza saberia assegurar a minha afirmação. E, enquanto todos aguardavam o veredicto, eu me agachei junto a Freya e libertei seus pés da adaga. A deusa soltou um pesado suspiro de alívio antes de se jogar de costas no solo arenoso.

Seus lábios tremiam, assim como suas mãos que repousavam acima de seu peito.

— Como conseguiu combater o veneno? Como foi capaz de me vencer? Eu sou uma deusa e você era apenas uma mortal. — sussurrou, baixinho, para que somente eu a ouvisse.

— Nunca fui apenas uma mortal. Eu sou Erieanna, filha de um druida, filha da Natureza de onde vem a minha força. Sou parte dela e ela é parte de mim. O mundo pertence a mim, Freya, porque eu represento todos aqueles que vocês ignoram as preces. Aqueles que sofrem em lugar em que vocês, os deuses, decidiram esquecer. Para você, minha cara, eu sou a justiça.

Uma lágrima solitária escorreu pelo belo rosto de Freya abrindo uma trilha pelas manchas de sangue que o cobriam. Não tive pena da deusa, tampouco compaixão. Não era capaz de me compadecer por alguém que — um pouco antes — quase pôs um fim na minha existência.

O tempo do nosso diálogo foi o suficiente para que o especialista em veneno chegasse a um veredicto.

Com uma postura austera, o mediador do duelo se colocou de frente para a plateia que — em completo — aguardou que se pronunciasse:

— Erieanna está certa. Isso está envenenado. — ele anunciou em alto e bom tom. Um murmúrio agitado se instalou na multidão. — Por conta da ação trapaceira de Freya, Erieanna, por sua verdadeira competência, é a vencedora desse duelo. — O homem ergueu minha mão anunciando minha vitória.

A princípio, ninguém se manifestou diante de tal situação inesperada. Um silêncio constrangedor se abateu na plateia que não sabia reagir naquela situação incomum. Porém, quando Balder, Thor, Odin e Acme começaram a aplaudir, o público fez o mesmo. Um coro de gritos e assovios felicitaram o meu sucesso no combate. Todavia eu apenas pensei, era o quanto toda aquela gente era hipócrita. Tive nojo de seus gritos, senti total repúdio por se venderem completamente em uma curta fração de segundo. Eles não passavam de marionetes nas mãos dos deuses que os controlavam.

Queria dizer que tudo acabou por ali. Entretanto, aquele não foi o fim, pois o deus supremo dos Aesir esperou a agitação diminuir para finalizar o combate do jeito que servia ao seu propósito. Ele, então, caminhou para dentro da Arena e discursou:

— Meus caros amigos... — começou e multidão se aquietou para ouvi-lo. — Primeiramente, gostaria de parabenizar Erieanna por sua honrosa vitória. — Todos voltaram a me aplaudir com fervor. — Segundo... — Bradou estrondosamente de modo que a sua voz sobressaiu a da multidão. — Após se tornar evidente o fato de que Freya descaradamente trapaceou no combate, eu, como líder dos Aesir, declaro que por ora, ela deve ser destituída de seu posto e Erieanna ocupará o seu lugar. — Novamente, um buchicho alarmado tomou conta da plateia que não sabia como lidar mediante o discurso anunciado por Odin.

Eu não concordava com sua decisão. Não esperava, de fato me tornar a líder das Valquírias. Quando firmei o acordo com o deus supremo, tinha certeza de que eu partiria de Asgard antes que seu plano se concretizasse. No entanto tudo estava prestes a fugir do curso que eu planejara. Eu teria de reverter a situação naquele exato momento, antes que nada mais pudesse ser feito.

— Odin... — comecei a falar brandamente. — Sei que Freya trapaceou, mas quem nunca optou por escolhas erradas? — inquiri não só para ele, mas também para a multidão que me ouvia. — Acredito que todos devem ter o direito a uma segunda chance. Além do mais, Freya tem sido uma exímia líder das Valquírias. Já eu, nada sei em relação a essas deidades. Não tenho conhecimento de suas rotinas, nem de seus treinamentos e muito menos de seus princípios. Por ora eu concordo em me tornar uma Valquíria e também estou de acordo que Freya me treine para tomar seu lugar, caso realmente seja necessário. — Sugeri sabiamente.

O deus da guerra trincou maxilar demonstrando não aprovou o meu discurso, porém até ele sabia que eu tinha plena razão em relação a tal situação: eu ainda não estava preparada para me tornar um líder do seu exército de Valquírias. Talvez nunca estivesse.

— Concordo com nossa vencedora. — Odin se aproximou de Freya, abaixou-se a pegou em seu colo. — Senhora dos Vanir, terá sua segunda chance em Asgard... Não me decepcione. — Lançou-lhe um olhar ameaçador que fez a deusa estremecer em seus braços. — O espetáculo acabou. Hoje contemplamos o surgimento de uma nova Valquíria. Voltem para suas casas e desfrutem de mais um dia de paz. — ele comandou, mantendo um tom de voz neutro que somente os verdadeiros líderes são capazes de dominar.

Então a população foi se dispersando e eu segui meu curso. Observei com o coração acelerado Loki caminhar em minha direção, no entanto o deus apenas passou por mim, ignorou-me por completo e foi de encontro a Freya. Meu coração se apertou, mas estava muito cansada para me deixar de abalar pela escolha do deus da mentira; exausta demais para me importar com suas ações.

Acme e Balder me parabenizaram pela minha vitória e me levaram ao meu quarto. Recusei qualquer tipo de ajuda e dispensei qualquer pessoa que insistiu em limpar meus ferimentos. Eu queria ficar sozinha, precisava de um tempo só meu. Além do mais, jamais precisei de qualquer auxílio para consertar os ferimentos que os vikings constantemente me causavam. Não seria aquele o momento em que eu precisaria de ajuda. Eu ficaria bem.

Olhei para meu reflexo no espelho. Contemplei meu rosto ferido, arroxeado, ensanguentado e fiquei com raiva de mim. Raiva por ter sido uma peça do espetáculo dos deuses nórdicos. Raiva por não ter tido outra coisa escolha a não ser — como sempre — ter lutado para sobreviver.

— AAAAARGH! — urrei e soquei o espelho a minha frente que se estilhaçou e deixou minha imagem destorcida, quebrada, um verdadeiro caos; assim como eu estava por dentro.

Perdida na minha enlouquecia, não percebi quando Loki invadiu meu quarto e se posicionou atrás de mim.

— Você está uma bagunça. Nem parece que venceu o duelo. — ele constatou, olhando para minhas mão ensanguentadas por conta do ataque contra o espelho.

— O que faz aqui? Não deveria estar ajudando Freya? — indaguei com escárnio, mantendo meu olhar fixo no espelho destruído.

Loki pegou um dos unguentos umedecidos em ervas que eu havia misturado para tratar de meus ferimentos, e com mansidão, começou a passá-lo pelos cortes em minhas costas.

Levemente contrai meus músculos devido ardência das ervas contra minhas feridas abertas. Eu acabara de colecionar mais algumas cicatrizes, embora já tivesse toda uma história de dor e sofrimento estampada em todo meu corpo.

— Achei que precisaria de mim, já que é uma tremenda teimosa. Eu sabia que recusaria qualquer ajuda. Além disso, sou o único que é mais teimoso que você. O único que não desistiria de te ajudar. — Fez uma breve pausa. — Pelo jeito eu estava certo. — concluiu em tom de reprimenda, levando o unguento até meu pescoço.

— Você me deixa confusa. Ora me ignora, como se eu nem existisse. E em outra... Bem, em outra você está aqui, cuidando de mim. Não sei se sou capaz de lidar com suas múltiplas personalidades. Não estou certa de quero lidar com você. — confessei, expondo-me pela primeira vez.

Loki girou a cadeira em que eu me sentava e ajoelhou-se a minha frente.

— Não tente me entender, Coração de Gelo, eu sou complicado demais. — Rasgou uma parte de sua camisa branca e começou a enrolar em minha mão ensanguentada. — Apenas deixe-me fazer parte da sua vida. Deixe-me ser seu amigo. Permita que eu te acolha em meus braços quando desmoronar. Deixe-me enxugar suas lágrimas se um dia vier a chorar, e permita que cuide de ti, quando se machucar. — pediu com tanta sinceridade, que eu não pude deixar de ser tocada por suas palavras.

Entretanto, fria como sempre fui, insensivelmente eu rebati:

— Por qual razão eu deixaria que entrasse em minha vida se a qualquer momento pode me trocar por Freya?

Era para ser uma grave acusação que o deixaria acuado. Contudo, o deus da mentira contraditoriamente exibiu um sorriso sarcástico.

— Está com ciúmes, Coração de Gelo? — perguntou em tom provocativo.

— Não. Com certeza não! Estou apenas sendo cautelosa em relação a sua solicitação de amizade. — respondi com firmeza.

— Amizade é uma questão de confiança. Só poderei mostrar minha lealdade se, primeiramente, aceitar que sejamos amigos. — ele replicou com perspicácia.

Fitei-o com atenção, seus olhos azuis refletiam um brilho sincero que me levavam a me perder no mundo de possibilidades que haviam por de trás deles.

— Um passo de cada vez, Loki. Levaremos nossa relação de amizade com extrema cautela. Lhe darei um voto de confiança, não me decepcione novamente. — Adverti seriamente.

Loki segurou minhas mãos e as beijou.

— Embora eu seja o deus da mentira, farei o possível para não lhe desapontar. Obrigado pelo voto de confiança, Coração de Gelo. — Novamente beijou o dorso das minhas mãos.

Eu não tinha mais nada há falar, por isso permaneci em silêncio, guardando todas as confusões dos meus pensamentos dentro de mim.

Naquele dia, o deus da mentira cuidou de todos meus ferimentos, limpou todo o sangue que estava impregnando no meu corpo, esperou que eu tomasse banho, e então levou-me até minha cama, para que eu me deitasse. Em silencio, e ele se sentou ao meu lado. Seus olhos misteriosos me encararam por um longo momento, até que ele finalmente se pronunciou:

— Tem algo que devo lhe dizer... — Loki começou a falar em tom tenso. — Ficarei ausente por alguns dias, pois devo retornar a Midgard para cumprir a promessa que fiz a Ragad. — ele informou cerrando o maxilar, evidenciando que não estava satisfeito com o que teria de fazer.

Ficamos nos encarando por um bom tempo. Eu fiquei calada, ponderando sobre minha decisão a respeito de tal fato. E Loki apenas aguardou por meu posicionamento a respeito daquele anuncio.

— Vamos, Erieanna! Grite comigo! Me xingue! Me mande embora! Mas pelos menos diga algo, porque seu silêncio está acabando com o pouco que resta da minha sanidade. — exclamou desesperado.

Respirei fundo antes de dizer:

— Tenho certeza de que não facilitei as coisas para você. Já que, a magia de sangue que lancei naquele lugar antes que eu morresse, fez com que metade do clã, suas casas, o armazém onde guardavam seus mantimentos, bem como o salão do Lerd, fossem incendiados assim que me afogaram no mar e meu coração deixou de bater. Terá um árduo trabalho pela frente. Dificilmente um Lerd mal visto pelo clã se torna um rei. — Não consegui evitar com que um leve sorriso surgisse em meus lábios ao revelar as minhas últimas ações em Midgard.

Loki também sorriu.

— Com certeza não facilitou. Ainda não faço ideia de como farei de um Lerd um Rei, se seu clã está em ruína. Porém, darei meu jeito. Sou o deus da trapaça poderia o enganar com tranquilidade, mas como deus, preciso manter minha palavra, não se deve dar as costas aos acordos firmados por sacrifício. Selei o acordo e, portanto, tenho de cumprir com minha parte, as consequências podem ser muito terríveis caso eu falhe com Ragad. Eu o farei Rei, depois o destino se encarregará de seu fim e o destino sempre se encarrega, todas nossas ações sempre se voltam contra nós, não há como evitar. — ele explicou, torcendo os lábios indicando um certo desgosto.

— Espero realmente que consiga cumprir com sua promessa. Preciso que Ragad se torne rei para que meu plano se concretize. — revelei, parcialmente, o real motivo por não ter ficado totalmente zangada com ele.

Loki, mais uma vez, esboçou um leve sorriso.

— Somos muito parecidos, Erieanna. Somos calculistas, desafiadores, e, de certa forma, frios. Brigamos por aquilo a achamos certo e fazemos justiça quando necessário. Você diz que sou egoísta por só pensar em mim, mas você também é assim. Tudo que faz, cada decisão que toma é pensando em seu bem. Não poupou a vida de Freya por misericórdia, a manteve viva porque era necessário. — Ao perceber que eu franzia o cenho por conta de tudo que falava, ele acrescentou: — Fique tranquila, eu não estou te julgando. — Um fraco sorriso se formou em seus lábios. — Eu acredito que não existe bem ou mal, apenas perspectiva diferentes de se enxergar uma determinada situação. — Finalizou seu pensamento, olhando-me com demasiada intensidade.

Seus olhos azuis pareciam querer ver tudo que eu escondia dentro em mim. Eles tentavam descobrir tudo que eu era, tudo o que eu sentia, tudo que eu pensava.

— Diga-me, Loki, por que se importa comigo? E não diga que estou enganada, pois ouvi claramente sua voz em minha cabeça, torcendo por mim, me encorajando a resistir ao veneno quando eu estava imóvel naquele chão, prestes a deixar de existir. Então diga-me, por qual motivo não queria que Freya colocasse um fim na minha existência? — indaguei curiosa, quase suplicando por uma resposta.

Ele acariciou meu rosto antes de me responder:

— São tantos os motivos, Coração de Gelo. Entretanto essa é uma conversa para outro momento. Por ora você precisa descansar. Quando eu voltar, prometo que responderei essa pergunta e todas as outras que virão após ela. Tenha paciência, minha querida. A eternidade é nossa, não há motivo para ter pressa. — Depositou um beijo cálido em minha testa, e partiu do meu quarto, deixando, mais uma vez, um vazio cravado em meu frio coração.

Não sabia dizer quanto tempo Loki demoraria em Midgard, nem se sentiria a sua falta. Também não tinha ideia de como seria meu treinamento com Freya. Minha única certeza é de que, no dia seguinte, eu conjuraria Cernunnos e saberia de uma vez por todas, se ele me ajudaria ou não a partir de Asgard.

Meu mundo estava uma loucura. Uma insanidade que ameaçava a me engolir.

(CAPÍTULO SEM NENHUMA REVISÃO)

Postei e sai correndo. Não pude revisar, me perdoem.

E desculpa pela demora, me enrolei toda esse final de semana.

bjus tia Lua

Continue Reading

You'll Also Like

45.3K 6.5K 50
"Ele รฉ o meu noivo!" Foi esta a frase que selou o destino de Alessia. Uma pequena mentira que logo seria uma grande dor de cabeรงa. Alessia Victoria K...
1.5M 155K 34
Livro 1 da trilogia "Irmรฃs Harrison". Charlotte Harrison, a filha caรงula do duque de Cambridge, vai fazer dezessete anos. Essa รฉ a idade perfeita em...
38.3K 3.1K 50
Catarina รฉ uma jovem princesa escocesa que chama a atenรงรฃo por sua beleza, com longos cabelos escuros e uma pele tรฃo branca como a neve. E como qualq...
36.7K 1.5K 22
onde o jungkook trai jimin com sua secretรกria IU