▕ B l a i r▕
Tu consegues Blair.
Embora que o meu consciente me encorajasse, eu não me sentia preparada. Era algo surreal estar num encontro com o meu professor principalmente quando eu sabia que era para fins sexuais. No que estava eu a pensar quando me propus ser submissa? Eu sou a pessoa mais irracional do mundo. Definitivamente.
Deixo um suspiro derrotista escapar. Agora não havia volta a dar. Os nós dos meus dedos embatem contra a madeira da porta, que rapidamente é aberta. A sua figura masculina, neste momento sem a sua vestimenta formal do trabalho, encontra-se à minha frente. Admito que facilmente o confundia com um jovem da minha idade. A sua camisola preta, de manga curta mostrava o mistério, que era a sua pele desenhada. As suas tatuagens davam-lhe um ar mais jovem, o seu cabelo estava ligeiramente despenteado fazendo-me ficar por segundos especada a olhá-lo.
"Entra, Blair. Não quero que ninguém te veja aqui."
Assinto com a cabeça e ajeito o cabelo antes de entrar na divisão. Um cheiro que rapidamente associei ser de Mr. Malik veio até mim. Ouço a porta ser fechada com cuidado enquanto o silêncio acomodava-se entre nós. Eu estava com, medo? Talvez. Medo do desconhecido. Eu não tenho a mínima noção do que vai ser estar com Mr. Malik nem do que ele me vai fazer.
"Podes-te sentar na cama. A menos que prefiras o chão."
"A cama parece-me bem."
Passo a mão na colcha da cama, compondo um pouco o lugar onde me ia sentar e vejo Mr. Malik, encostado à parede branca do seu dormitório. O seu olhar, desde o momento que entrei, nunca me abandonou mas por uma razão desconhecida eu não estava desconfortável ou incomodada. Muito pelo contrário.
Este quarto era sem dúvida maior do que o meu. Talvez pelo facto de ele ser professor mas também tenho que ter conta que somos duas a partilhar uma só divisão. Pouso a mala do meu lado esquerdo, no fundo da cama e volto a ajeitar o cabelo negro enorme e irritante que tanto gostava de me tapar a visão. O meu cabelo, impossível de dominar, estava bom nos momentos desnecessários e mau nos momentos mais precisos. Vá-se lá entender.
"Estás bem?"
"Sim, e você?"
"Também... Fala-me um pouco de ti."
Olho atentamente o seu rosto. A sua língua molhava os seus lábios mas ele parecia não ter consciência de o estar a fazer. Demoro um pouco a processar do que havia de falar. Esta pergunta era tão abrangente e no entanto eu não tinha nada para falar.
"Eu tenho dezoito anos, os meus pais estão separados desde os meus seis anos, não sou de todo boa aluna, apenas estou aqui devido à minha mãe que como deve saber, é a diretora da universidade."
"Soube recentemente."
"Como pode ver, não sou interessante de todo."
"Acredita que és. Andas a por a pomada como te pedi?"
"Não."
"Ainda está vermelho?"
"Não."
"Muito bem. Fala-me mais da tua família."
"O meu pai trabalha no estrangeiro. Ele é completamente diferente da minha mãe. Ele é um doce de pessoa, sempre divertido. Nunca entendi o motivo da separação. Não tenho irmãos, sou filha única mas acredite, eu sou tudo menos mimada. Talvez porque nunca recebi grande atenção da parte da minha querida progenitora. Ela está noiva e eu apenas soube recentemente que ela namorava."
"O facto de serem opostos não quer dizer que se atraiam."
"Desculpe?" Questiono confusa.
"Os teus pais. Disseste que eram diferentes."
"Oh, sim. Concordo."
"Claro que concordas."
Solto o ar que havia acumulado há muito tempo sentindo-me mais à vontade com Mr. Malik. Ainda assim não era por lhe ter contado um pouco da minha vida que iria mudar alguma coisa. Apenas me sentia melhor por estarmos a ter uma conversa decente sem discussões ou sem silêncios. Relaxo a cabeça, deitando-a para trás e ficando a observar o teto. Devido ao momento inesperado, o meu cabelo baloiçava calmamente raspando nas minhas costas descobertas. As mesmas já começavam a doer por não ter um encosto mas não me podia queixar ainda assim. Era ele que estava de pé.
"Você é casado? Ou já foi?" O seu olhar confuso encontra o meu e vejo-me na obrigação de prosseguir com a conversa para esclarecer as suas dúvidas. "Parece-me ser tão experiente."
"Não, não sou casado, Blair, nem tenho namorada se está preocupada. Apenas já aprendi muito com a vida."
Assinto com a cabeça sem dizer nada por algum tempo.
"Pensava que íamos jantar." Admito.
"Podemos encomendar uma pizza."
"Gosta de pizza?"
"Não, mas os adolescentes costumam gostar."
"Que idade tem?"
"Vinte e cinco." Ele afirma deixando-me boquiaberta.
"Admiro ainda não andar de bengala. Já usa dentadura?"
"Sempre tão engraçada, Blair. Esqueci-me de me rir."
"E sabe mandar bocas como os 'adolescentes'. Os idosos de hoje em dia! Quem havia de dizer!"
Eu consegui! Fiz o sisudo do meu professor de Biologia rir-se o que era, de facto, um acontecimento inédito. Ficava ainda mais atraente quando sorria. Devia-o fazer mais vezes e eu devia deixar de pensar estas coisas. Elas não são saudáveis para a minha saúde mental.
Ouço o docente fazer o pedido, sem sequer me questionar se gostava ou o que não. Como o pedido fora uma pizza simples acho que também não havia muito por onde reclamar. Ainda assim eu iria fazer por comentar algo negativo propositadamente. Porque essa sim, sou eu.
A chamada é desligada e o seu olhar volta a encontrar o meu. O silêncio, amigo fiel, decide juntar-se a nós na divisão chegando, como sempre, a ser incomodativo. Era neste momento que a minha mente gritava comigo por ter feito tal proposta e ainda pior; por ter insistido com ele. No que estava eu a pensar? Em ter relações com o meu professor?
"Faço dezanove daqui a dois meses."
O meu comentário não o deixa de todo indiferente e questiono-me o porquê. Questiono-me também se sou a única submissa que ele tem. Se eu, das poucas raparigas que não me fazia a ele, estou aqui onde estarão as outras.
"Temos cinco anos de diferença."
"Não é muito." Balbucio.
"Ainda assim é proibido."
"Mas não é pedofilia."
"Blair... Não defenda uma coisa que não vai passar de sexo."
O seu punho fecha-se fazendo-me sentir novamente receio do homem que se encontra à minha frente. A forma como ele me havia dirigido a palavra fora novamente fria e arrogante. Suspiro de forma pesada e vejo-o virar-me costas. Ele prometeu que não me magoava. Eu sinto-me uma oferecida neste momento após a sua afirmação.
'Não defenda uma coisa que não vai passar de sexo.'
Idiota, cabrão, estúpido, sadomasoquista de uma figa, parvo e mais uma vez quem devia estar a ser insultada era eu. Eu é que me meti nesta situação. Eu é que fui a estupida, como sempre sou. Eu quero voltar a chorar. Quero voltar a estar sozinha, no sótão.
Este homem leva-me ao limite do desespero.
Num movimento inesperado e ele vira-se para trás e corre ao meu encontro. Os seus lábios molhados e rosados tocam nos meus de forma lenta, fazendo-me querer prolongar o beijo. O nosso primeiro beijo, se é que se fosse afirmar isso.
Apenas nos afastamos quando estamos mais calmos. O meu olhar abre-se lentamente fixando o seu e passo a língua pelo lábio inferior ainda sentindo o seu sabor em mim. O fantasma dos seus lábios ainda parecia estar nos seus o que me reconfortava. Ele tanto me expelia como me quer para ele. Mr. Malik é um homem de veras complicado.
"Fale-me de si, Mr. Malik."
"Faz perguntas, Blair."
Pensava que ele iria negar. Pensava que ele ia dizer que não havia nada de interessante nele ou que simplesmente iria negar a minha curiosidade. Mr. Malik era todo ele um mistério e um sorriso vitorioso é esboçado no meu rosto ao saber que eu o iria puder conhecer melhor.
"Nasceu onde? Tem um sotaque inglês muito carregado."
"Bradford."
"Já lá fui quando era pequena." Sorri relembrando-me. "É uma cidade linda, mas infelizmente não tive tempo de ver tudo."
"Sim, Bradford é lindo."
"Gosta de chá?"
"Não aprecio muito. E tu?"
"Também não. Prefiro café. Às vezes não devia beber tanto visto que tenho energia suficiente e mesmo a médica não aconselha mas eu gosto de contrariar as regras."
"Sim, Blair. Eu já dei conta disso."
Dou algumas gargalhadas, muito mais à vontade com este homem. Ele também sorria com a nossa conversa, agora não tão silenciosa e monótona. Ou foi da minha pergunta ou foi mesmo do beijo. Como sou convencida e como não vai passar de sexo, prefiro acreditar na primeira hipótese.
"Tem irmãos? E já agora que nos estamos a conhecer posso trata-lo por tu? Posso chamá-lo de Zayn?" Ele ia a falar mas rapidamente o interrompo com a minha energia habitual. "Desculpe a pergunta, quer dizer. Se não puder eu entendo. Além disso nem sei se gosta que o chame assim. Acho que a minha pergunta foi muito direta. Desculpe."
Mr. Malik apenas gargalha com a minha conversa deixando-me confusa. Os seus olhos percorrem vários pontos do meu corpo até encontrarem o meu olhar e encararem a minha expressão de perdida.
"Tenho quatro irmãs e sim, Blair, podes-me tratar por tu."
"Agora vai ser estranho mas eu habituo-me depressa."
"Não tenho dúvidas disso." Balbuciou com um sorriso a transparecer.
Agora que já me estava a habituar a ele comecei a despertar. Um sorriso infantil estava esboçado no meu rosto e os meus cabelos baloiçavam alegremente com os meus movimentos. Zayn observava-me sem reclamar com as minhas mudanças de posição na cama constantes.
"És o único rapaz? Apenas tens irmãs?"
"Sim. Estou habituado a mandar desde pequenino, quando ficava sozinho com elas em casa."
"Seu mandão!!" Digo com um ar divertido e começando a saltar, sentada, na cama.
"Blair, para quieta." Ele ordenou pegando nos meus pulsos.
"Vês, só sabes mandar!" Aponto vitoriosa e ouço-o suspirar derrotista. "É difícil para mim estar quieta. Sou uma pessoa-" Procuro um adjetivo adequado a mim mas inexplicavelmente não encontro nenhum à altura. "Complicada, talvez."
"Eu meto-te quieta num estante."
"Ohh, então eu vou ficar quieta a partir de agora."
"De certeza?" Ele questiona aproximando-se aos poucos de mim. "Não tenho de fazer nada?"
"Acho que não é necessário..."
"Achas que não? É que eu não concordo contigo..." Os seus lábios rosados e desejosos roçam nos meus fazendo aumentar o nervosismo e ansiedade. "Acho que te devia calar..."
"Então cala-me." Peço não tento a certeza se fora em forma de gemido.
Os nossos lábios ainda se roçam por mais um pouco aumentando o desejos de contacto mas no fim acabam por se tocar. O meu lábio inferior fica entre os seus e é chupado de forma lenta e prazerosa. Não protesto quando os seus dentes prendem o meu lábio. Apenas suspiro de forma a que ele percebesse que eu estava a gostar. A sua mão percorre a minha perna descoberta causando-me arrepios.
"Eu vou buscar a pizza. Não saia daqui, Blair."
E a conversa ainda só ia no começo.
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Nota: Sei que o Zayn só tem três irmãs mas foi propositado.