Camila Brench
A palavra ansiedade me define. Fui ao banheiro três vezes depois que vesti a roupa que tanto experimentei nos últimos dias. Todo dia depois da aula, chegava em casa, vestia e ficava desfilando na frente do espelho.
Escolhi com ajuda de Taylor um vestido neutro e curto, - que combina perfeitamente com a minha pele pálida distribuída por sardas - suas alças são finas deixando meus ombros nus cheio de sardas amostra. O decote é em formato v, ele é um pouco aberto nas costas e com meus cabelos no comprimento um pouco a baixo dos meus peitos é quase visível essa parte no vestido. A saia é um pouco rodada e com isso aumenta mais meu quadril destacando minha cintura. À pedrarias da mesma cor do tecido por todo ele. Optei por saltos vermelhos para dar contraste com a roupa. Passo minhas mãos pelo vestido, sentindo as pedrarias enquanto encaro meu reflexo na porta de vidro que divide a sala de estar com a de jantar. Minha maquiagem é a mais simples que fiz desde de tudo, passei apenas um hidratante labial.
Não quero que minha família me veja como a nova Lauren como Mason me vê e sim como a pessoa quem eu sou.
E se eu gaguejar em algum momento? E se eles não gostarem de mim? E se eles me tratarem mal? E se eu cair com esses saltos? Deveria ter posto o que havia escolhido e Taylor discordou por serem muitos baixos. Viro meus calcanhares decidida a trocar os saltos, mas paro no segundo em que escuto a campainha tocar.
Estava prestes a ter outro surto de ansiedade quando vejo meu pai no meu campo de visão.
- Vem filha, eles chegaram - ele oferece o braço se aproximando de mim. Seguro me sentindo protegida e o acompanho até o saguão.
Jogo meus cabelos para frente com intuito que assim fica mais bonito, não sei o que fazer com os braços então coloco atrás das costas, ficando ereta e de cabeça erguida. O mordomo Toby corre na nossa frente para abrir a porta. A primeira pessoa que vejo é uma mulher baixa e ruiva, ela tem os olhos castanhos um pouco mais escuro que os do meu pai. Seu rosto tem as feições rústicas dele. Ela é elegante e não parece nada gentil, porém quando seus olhos caiem sobre mim ela sorri.
- Você deve ser a nova membra da família, meu nome é Lucy Rouge - suas feições fortes, não são nada comparados com o seu jeito delicado e atencioso de ser. Ela me abraça e sinto seu perfume doce.
A ruiva se vira para cumprimentar seu irmão e um homem que conversava com ele até então vem até mim. Ele não é ruivo, tem o cabelo preto e olhos azuis, suas roupas são elegantes como da esposa. Julgo que seja marido da minha tia Lucy.
- Prazer Camila, sou Tom Rouge - ele me cumprimenta pegando em minhas mãos. Seu sotaque britânico é visível.
- O prazer é todo meu.
Tom vai para o lado da esposa que conversa algo com minha mãe que havia se juntando a nós no hall.
Uma mulher alta e magra, com o cabelo ruivo escuro de olhos azuis faiscantes é a próxima passar pela porta. Vestida com um longo vestido vermelho e luvas do mesmo tom nas mãos, parecendo o lustre da sala de jantar com tantas joias pelo corpo. Atrás dela, pelo ombro consigo ver, uma garota da minha idade que provavelmente deve ser Lorraine. Não consigo ver seu rosto com clareza, pois a mulher para na minha frente. Ela é intimidara demais, seus olhos parecem me avaliar, me sinto pequena perto dela.
- Seja-bem vinda, querida - ela beija minha bochecha, ao contrário do perfume doce de Lucy, o dela é forte e marcante - Meu nome é Ashley Velay.
- O-Obrigada - digo rápida, tentando não mostrar meu nervosismo.
Seus olhos permanecem fixo em mim, trazendo mais medo. Ela parece avaliar cada canto do meu rosto.
- Impressionate a sua semelhança com Lauren - ela diz sem tirar os olhos de mim.
Engulo em seco. Tentando levar seu comentário como um elogio.
Lorraine entra no meu campo de visão. Ela é muito mais bonita do que eu imaginava, seu vestido preto quase não cobre seu corpo direito. Olhos verdes escuros me fuzilam, sua cabeça é pouco oval e cheia diferente do formato do resto da família, seus lábios são pequenos como seus olhos, seu nariz é fino igual a sobrancelha que quase não é visível. O cabelo é da mesma cor que o da sua mãe e vão até os ombros enrolados nas pontas. Seu semblante é tomado por um sentimento de susto, diferente da mãe que quase olhou os pelos do meu nariz, minha prima mal consegue direcionar os olhos para os meus.
- Bem-vinda priminha - ela sorri, suas bochechas ficam maiores com isso - Lorraine Velay.
A última a entrar é uma senhora, com os cabelos grisalhos, mas é possível ainda ver o ruivo natural neles. Seus olhos são tão verdes como os meus, e mesmo com o rosto já enrugado ela é uma mistura de tia Lílian, minha mãe e tia Ashley. Ela tem uma caixa preta grande de veludo nas mãos.
- Lau! - ela diz enquanto me abraça com uma das mãos já que a outra esta ocupada.
Meu estômago embrulha.
- Vó, essa é Camila - Lorraine diz entre risos.
- Oh - ela parece pensar - me lembrei, são tantos problemas que estou parecendo uma velha ranzinza de mais de sessenta e cinco - ela reclama.
- Mas você tem mais de sessenta e cinco anos, Dahlia - Lucy a lembra.
- Isso daqui é pra você, não abra agora, só no jantar - ela sorri gentil para mim - Seja bem-vinda, minha neta - pisco algumas vezes tentando não chorar.
Se acomodamos todos na mesa e reparo que fica um lugar vago na minha frente, mas não faço nenhuma pergunta. Lorraine faz questão em sentar do meu lado e vó Dahlia também. A comida logo chega em nossas mesas e eu tento ser o mais educada possível comendo. Todos ali são chiques demais.
- Lílian ainda está presa? - Ashley é a primeira quebrar o silêncio.
- Sim e ficará pelo um bom tempo - minha mãe responde segura de si.
- Francamente Lorraine que roupas são essas? - vovó reclama - Parece que você pego um pedaço de pano e enrolou pelo corpo - todos riem, até a mãe dela.
Tento esconder o riso e bebo um pouco do meu suco de laranja.
- E o gostoso do Cooger? Tenho certeza que já conheceu - Lorraine cochicha sorrindo malicioso, quase vomito meu suco para fora.
- Ele estuda comigo.
- Ae? O que ele fez quando te viu? - ela pergunta curiosa.
- Ele ficou surpreso e com medo também - e inventou um namoro de mentira para que eu me apaixonasse por ele e agora estamos no meio de uma guerra, completo na minha cabeça.
- Ele é muito gato, não é? - estou começando a desconfiar que ela quer arrancar algo de mim - Lau tinha bom gosto.
- Bonitinho - minto e bebo mais um gole de suco para disfarçar meu incomodo em responder todas essas perguntas.
- Bonitinho? - ela ri, não concordando - ele parece aqueles atores de filme clichê da Netflix.
- Realmente, quem me dera se fosse nos meus tempos - Vovó Dahlia diz ao nosso lado como se tivesse escutado a conversa toda.
- Ela tem boa audição - Lorraine sussurra no meu ouvido para que ela não escute.
- E quando teremos a Esmeltin de novo? - vovó diz alto trazendo atenção de todos na mesa que conversavam algo.
- Se for possível esse ano mesmo - meu pai diz com convicção - Kiro Cooger é fraco demais, ele caíra sozinho.
- Camila sabe sobre a história da Esmeltin? - Ashley pergunta enquanto balança a taça olhando para o vinho dentro.
- Não - respondo e é verdade, eu só sei o que as pessoas me contam e não as que realmente estão envolvidas.
- Terei o prazer em lhe contar então - vovó aperta meu ombro sorrindo.
- Ah, essa história de novo não! - Larroine resmunga do meu lado.
- Tudo começou quando os Brench abriu uma companhia de cosméticos, chamada Esmeltin - ela da uma pausa dramática, olhando para todos como se fosse contar a história do século - os Velay se juntaram nessa, mas seu avô não contava que no mesmo ano faliríamos. Vendemos nossa parte da empresa para Will Cooger que se demostrou muito interessado e logo os Brench tiveram que vender uma parte dela para ele, pois a empresa só dava prejuízo, mas eles são sabiam na época que Will estava por trás dessas recaídas repentinas. Não se contendo ele assumiu a presidência e passou o cargo para o filho mais velho, Kiro, que pretende fazer o mesmo.
A história da empresa é mais embaraçosa do que eu imaginei. A briga não é só na parte dos Brench e eu carrego o sobrenome desde que eu nasci da qual também faz parte. Minha família sempre participou da guerra desde o início e agora eu me sinto no centro dela.
- No meio dessa confusão, seus pais se conheceram e se casaram e você... digo Lauren, quase se casou com um Cooger - minha vó finaliza e toma um gole da sua taça de vinho.
Só de ouvir que Lauren quase casou com Mason, sinto um gosto amargo na minha boca e meu estômago embrulha. Definitivamente não consigo mais imaginar os dois juntos.
A conversa sobre os planos deles em tomar a empresa de volta segue e eu me concentro na comida. Logo minha parte favorita chega e a sobremesa é servida, me delicio a cada pedaço da torta de morango, que pelo o que Lorraine me contou é o doce preferido da vovó.
- Acho que está na hora da Camila abrir o nosso presente! - minha mãe diz trazendo minha atenção.
Sorrio ansiosa e curiosa para saber o que é. Esse é o meu primeiro presente dado por algum membro da minha família, me sinto emocionada. Pego a caixa preta que havia deixado em cima da mesa ao lado dos talheres e abro. Meus olhos se arregalam no instantâneo e minha boca fica entreaberta.
Estou deslumbrada.
- Gostou? - Lucy pergunta curiosa.
- Eu amei, de verdade... É lindo - pisco algumas vezes tentando não chorar de emoção na frente da minha família.
Tiro a joia da caixa com cuidado e coloco sobre a palma da minha mão contemplando cada mínimo detalhe daquela peça tão magnífica. É um medalhão com uma esmeralda enorme e a cor me lembra meus olhos.
- Tem uma história por trás dessa joia... - minha vó começa - É de família, foi a única coisa que seu avô não quis vender quando falimos. São três joias no total, e eu entreguei cada uma para suas tias. Lilian ganhou a de rubi e passou para Lauren. Ashley ganhou a de diamante que passou para Lorraine e por último sobrou uma que era da sua mãe, estava esperando sua tia Lílian ter um filho, mas acho improvável ela ter na cadeia.
- O de Lauren vocês ainda não encontraram? - Ashley pergunta.
- Ainda não, aquele rio é maior do que eu imaginava - meu pai responde - Acredita que nem o par que falta do sapato dela encontramos?
Quase cubro minha boca com as mãos. Eu sei onde o colar esta, eu nunca o deduraria mesmo depois de tudo que ele fez, minha família já tem muitos apelidos para Mason e acho que não combinaria ladrão como um.
- Ah, aquele que... Camila sabe não sabe? - ela pergunta se perdendo entre suas palavras.
Levanto uma das sobrancelhas.
- Sei o quê?
- Ela não sabe do que? - Lorraine parece tão perdida quanto eu.
Todos trocam olhares na mesa antes voltar a atenção para mim e minha prima. Todo mundo tem a expressão seria.
- Das coisas que foram encontrada da Lauren no rio. Ela usava muito acessório e a maioria esta ainda no meio da água - minha mãe responde erguendo o queixo levemente na nossa direção. - Mãe, você não contou tudo sobre os colares - ela direciona o olhar para a senhora ao meu lado esquerdo.
- Bom... mandamos que gravassem seu nome atrás, junto com o meu - ela explica. Viro a joia e vejo que tem três nomes bem pequenos escritos um do lado do outro no prata; Dahlia, Fray e Camila. Tem um espaço grande reservado para os outros e eu mal posso esperar para repassar para meu filho ou filha.
É claro, se um dia eu tivesse.
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