O Despertar da Sombra

By BCavalcante

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Sinopse: Ronn é um bastardo, ele sabe disso, ele sempre soube, mas saber não tornava mais fácil aceitar. Ape... More

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NOTA
Prólogo
A história de uma sombra I
A história de uma sombra II
A história de uma sombra III
O prelúdio da penumbra I
O prelúdio da penumbra II
O prelúdio da penumbra III
A luz da escuridão I
A luz da escuridão III
Epílogo
Outras obras publicadas

A luz da escuridão II

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By BCavalcante

II

- Por quanto tempo estive desmaiado? - Seu coração batia mais forte e ele suava, o que apenas fazia com que o frio lhe parecesse pior, embora estivesse habituado ao frio. Por duas semanas. Ronn ofegou novamente. O mantive vivo, pois seu corpo é Midgard.

Acima da cidade, centenas ou talvez até milhares de fios se erguiam sobre a floresta, como os cipós de uma imensa árvore invisível. Conseguia claramente distinguir cada fio colorido em meio a paisagem cheia de tonalidades cinza, com seu olho esquerdo. Cada um daqueles fios era uma pessoa morta. Ordenou a si mesmo que se acalmasse e foi inundado com uma tranquilidade não natural.

Aqueles fios poderiam ser de pessoas que morreram há meses ou anos. Mas sua mente gritou para que fosse verificar se Elsea estava bem.

- Por que a cidade está cinza?

Há um mestiço humano com um deus menor da desordem na cidade, ele é o responsável por isso, há alguns anos seu poder despertou, até então não passava de um humano, como não foi criado entre os deuses, não aprendeu a controlar seus poderes e sua fome de desordem, venho-o seguindo há meses, recolhendo as almas injustiçadas, cujas vidas foram tiradas antes do tempo pelo caos que ele provoca em seu frenesi de tornar-se mais poderoso. Entretanto, não sou capaz de enfrenta-lo, se ninguém para-lo, ele destruirá completamente todas as vidas dessa cidade, em seguida partirá para a próxima.

De repente, a imagem de um homem de cabelos e pestanas pretas passou por sua mente.

- Qual o nome do semideus?

Rurik. Ronn fechou os olhos com os punhos apertados.

- Ninguém se dá conta do que está acontecendo?

Não. A desordem é semeada na mente dos homens, corrompendo a alma aos poucos, um homem honrado poderia ser capaz de matar toda a sua família apenas guiado por um único impulso de raiva, qualquer sentimento de afeto se transforma em obsessão e quando o caos alcança a maioria da almas, até mesmo a terra se torna infértil, destruindo a vida que ela foi criada para fornecer, mas as pessoas se tornam tão extremamente embebidas em conflitos que não percebem ou não se importam que o seu redor esteja em ruína.

Então foi ele quem causou a destruição das aldeias e cidades que ouvi os viajantes sussurrarem temerosos. Pensou Ronn.

- Por que os deuses já não o destruíram?

Os deuses não interferem no livre arbítrio humano, a menos que seja para interferir na consequência direta da ação de outro deus. Por ter dormido e engravidado uma humana, o deus menor da desordem, pai de Rurik, foi sentenciado a destruição, Rurik por sua vez, é parte humano, possuindo seu próprio livre arbítrio, de forma que os deuses não podem interferir em seus atos.

Entretanto, quando Forseti se viu obrigado a toca-lo com o machado, mesmo em vida, ele de certa forma interferiu em seu destino, a morte, mas nenhum deus pode-lhe tirar a vida para desfazer a ação de Forseti...

- Porque eu sou humano ou em parte humano e isso seria interferir novamente em meu livre arbítrio.

Exatamente.

- Forseti será punido?

Dependerá das consequências.

Ronn refletiu a informação por um momento e sua respiração congelou em seus pulmões.

- Se os deuses não podem derrota-lo e os humanos são contagiados pelo seu poder, apenas outra criatura não completamente humana poderia fazê-lo. Isso quer dizer...

Que apenas você pode ser capaz de para-lo, o que não significa que consiga e o que também não significa que você é obrigado a fazer, por ser meio humano, você não tem nenhuma obrigação para com os assuntos não humanos, nem mesmo o próprio Odin poderia obriga-lo contra sua vontade.

- Como posso sequer para-lo?

A raposa o olhou por um longo tempo, como se estivesse avaliando algo em seu âmago. De fato, Ronn não hesitara em responder-lhe, não havia um mínimo sinal em seus olhos ou espírito, que indicasse que se acovardaria ou que buscasse vingança contra Rurik, por tê-lo torturado e humilhado. Também sabia que estava prestes a arriscar a vida que acabara de ter de volta, por pessoas que o odiavam, que o odiaram a vida inteira e que não teriam pestanejado duas vezes em mata-lo.

Como um ser imortal, ela conhecera e vira a vida de milhares de pessoas, qualquer outro teria ido à cidade apenas para levar a própria irmã consigo, caso ainda estivesse viva, não ele. Tão único parecia querer, era justiça, talvez por ter vivido a vida inteira sendo injustiçado, conhecia melhor que ninguém como alguém impotente poderia sentir-se.

Mas mais que isso, ao vislumbrar todas as suas memórias, ela percebeu que Ronn verdadeiramente nunca odiou a ninguém, nem nunca jogou a culpa de sua impotência nem as injustiças a que era submetido a alguém, nem a ele mesmo. Quão único clamor por justiça sentiu em sua alma, momentos antes de ter sido tocado pelo machado de Forseti, foi que em toda a sua vida, ninguém o chamara pelo nome, logo, morreria como se o fosse, ninguém.

Ela reconheceu o que Forseti viu no garoto, a ponto de lhe conceder dádivas, ainda que tivesse feito coisas consideradas erradas, apenas para ter uma chance de sobreviver, o garoto era isento de qualquer culpabilidade, tinha um coração justo, como poucos homens tinham, quase o epítome da equidade, até mesmo quando decidia roubar algo, o fazia apenas com alguém que não sofreria com a perda do roubo.

Irei lhe dizer como você pode derrotar Rurik.

...

Ronn estava nas costas da raposa, que corria a toda velocidade na floresta, para alcançar a cidade, as árvores passavam como um borrão e os arranhões dos galhos, percebeu surpreso, cicatrizavam em segundos.

Seu olho esquerdo quase vibrava à medida que alcançava a cidade, os espíritos injustiçados sussurravam em sua mente, lamentos, choros, gritos. A raposa lhe disse que não entraria nos domínios de Rurik, até que ele tivesse partido, por ser criação de Forseti, não conseguia passar um local que não estivesse sob sua guarda, como o era uma cidade dominada pela desordem. Ele estaria sozinho para enfrenta-lo.

Com o coração estrangulado, decidiu que apenas procuraria Elsea quando tivesse terminado com Rurik, caso ganhasse. Se descobrisse que algo havia lhe acontecido, engoliu com força, não seria capaz de usar as dádivas, justiça não se misturava com vingança. De forma que a raposa lhe indicou que seguisse os rastros de injustiça, quanto mais próximo estivesse de Rurik, maiores os sentimentos de injustiça seriam.

Ao alcançar o trecho da floresta corrompido pelo caos, Ronn desceu da raposa, tão logo pôs os pés no solo cinza, sua alma foi sacudida, o ar quase vibrava com o poder anarquista de Rurik, levou algum tempo andando lentamente para que se habituasse às sensações negativas, o tempo todo vozes sussurravam em sua mente.

Tudo ao seu redor lhe parecia caótico, as plantas haviam se convertido para debaixo da terra, deixando apenas as raízes para fora, o vento ia e vinha aleatoriamente, a neve se arrastava lentamente para cima das árvores e muros, as pessoas tinham os olhos vidrados, comportando-se sem o menor nexo, nuas, apesar do frio, arrastando-se na lama, falando de trás pra frente, viu uma mulher com uma faca, atacando aleatoriamente por quem passava, em vez de gritar, as pessoas atacadas riam.

A desordem parecia afetar cada pessoa de maneira diferente. Vários corpos ao longo das ruas, alguns claramente haviam sido atacados.

Ronn manteve-se nas sombras, pois apesar de o sol alto no céu, na maioria das ruas parecia noite, em outras, tarde, em outras, nevava. Tentou não pensar em Elsea, a taberna ficava na beira da cidade e a desordem se intensificava à medida que adentrava em direção à praça central. Deveria ter fé de que ela estivesse a salvo.

Faltando poucas ruas para a praça, já vendo as torres de onde estava. A desordem se tornara tão intensa que Ronn não conseguia se mover bem, o chão parecia um rio agitado, movia-se ondulando em si mesmo, desmoronando construções, ora engolindo, ora expondo corpos e objetos. Teve um vislumbre da praça e apoiou-se em uma parede, apenas para seu braço atravessa-la como se fosse líquida.

O chão da praça central estava em vários níveis diferentes, vários trechos flutuavam, cada construção em volta estava de uma maneira, comportando-se de uma forma, não havia nada minimamente semelhante com o que aquele lugar costumava ser.

No meio de tudo isso, Rurik, sentado em um barril de hidromel. O homem estava sem camisa, seu corpo maior e mais bem constituído do que jamais vira, ele parecia estar no auge de sua força. Provavelmente seu lado humano garantiu que seu corpo não fosse dismórfico.

Medo agarrou as entranhas de Ronn, na praça estava quente como o pior verão, ele suava e seu coração martelava em seu peito, a adrenalina começou a fluir por seu corpo. Ele precisava distrair Rurik para que pudesse ataca-lo com a guarda baixa.

- Sabe. - Gritou Ronn, para chamar a atenção do semideus. - Eu entendi todo o exagero sobre seu poder, mas por que as coisas se tornam cinza? O cinza deixa as coisas uniformes, o que há de desordem nisso?

O homem girou a cabeça para ele, aparentemente surpreso, não o havia sentido até que tivesse falado, Ronn supôs que por ser único no que concerne a humano e não humano, não era um farol de ordem no meio daquele caos. Confusão nublou suas expressões, ele o havia reconhecido, sorriu maliciosamente.

- Então o bastardo sobreviveu. Eu lhe parabenizaria, mas sei que você preferiria estar morto.

Ele estendeu a mão, Ronn sentiu poder fluir e congelou por alguns segundos, estava tentando corrompe-lo, felizmente justiça era quase seu antagônico, de forma que não afetou sequer seu lado humano.

Ronn respirou aliviado e sorriu, não tinha certeza se seria afetado.

- Já que estamos falando de bastardo pra bastardo, como um Ronn chegou a tornar-se um senhor de mercadores? Estou aceitando dicas.

Ronn observou o homem erguendo-se de ódio, seu plano era deixa-lo tão irritado quanto pudesse, apenas quando ele estivesse completamente consumido pelo caos, Ronn poderia derrota-lo.

- Quero dizer, depois que eu arruinei seu casamento, eu pretendia fugir da cidade e fazer meu próprio nome em algum lugar que ninguém me conhecesse, então tenho uma ideia de como você o fez, você sabe quem é sua mãe ou ela lhe abandonou em alguma poça de lama?

Tinha que forçar as palavras pela garganta, jamais tinha dito algo cruel com o intuito de ferir deliberadamente. Embora gostasse da sensação de falar de igual para igual.

Rurik avançou pela cabeça de Ronn com uma espada longa em mãos. Ronn tentou correr, mas seus pés estavam colados no chão, de forma que quão único conseguiu, foi esquivar-se da espada abaixando-se, a lâmina cortou o vento no lugar de sua cabeça, sim, ele estava mais rápido. Antes que Rurik girasse o punho para tentar golpeá-lo novamente, Ronn deu um soco na lateral interna de seu joelho, fazendo o perder o equilíbrio.

Percebeu que seus pés haviam se soltado do chão e girou sobre os calcanhares, atingindo os pés de Rurik, que caiu de costas no chão, o ouviu ofegar após o ar ter sido arrancado de seus pulmões e aproveitou a oportunidade para erguer-se e cair em cima do homem com seu cotovelo mirando o estômago, o que o fez virar de lado com um grunhido e vomitar.

Ronn se afastou quando Rurik balançou a espada, mas se deu conta de algo. O corpo dele era de carne e osso, assim como o de Ronn, então poderia mata-lo. Ronn hesitou, nunca tinha matado nada, nem agredido, sua reação rápida provinha de todo o auto treinamento por observar os espadachins, a forma mais fácil de ganhar do inimigo é indo pelos pontos mais fracos, Ronn era menor que Rurik e mesmo tendo alguns músculos, poderia ser esmagado completamente em um agarre, não poderia lhe dar a oportunidade de segura-lo.

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