Fallin' All in You

By KahMonteiro

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Emily Clark sempre acreditou no tempo exato das coisas, como quando você consegue chegar a tempo no ponto de... More

Não tome decisões no calor do álcool
A ressaca, a aceitação e o esbarrão.
A garota da porta vermelha.
Pedaço de coragem num papel.
O roubo do guarda chuva.
Talvez sejamos como Alpacas.
Fogos de artifício, Danny Zuko e Polaroides.
Porque não existe ninguém como Emily.
Elefante branco na sala de estar.
Shawn tem um presente.
Rotina solitária de um compositor.
Canção de hotel.
Moletom, galochas e uma playlist especial.
Terapia de banheira.
Alta dose de dopamina.
Café com sabor de laranja.
Dilemas de um irmão mais velho.
Um café, discos velhos e despedidas.
Terapia do plástico bolha.
O monstrinho verde do ciúmes.
Fritei sua cuca, então você cozinhou meu coração.
A epifania de Emily Clark.
Tempo, tempo, tempo, tempo.
O vôo do passarinho.
Para onde vão os corações partidos?

No princípio era uma proposta.

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By KahMonteiro

"Bem, a vida tem uma maneira engraçada de aprontar com você

Quando acha que está tudo bem, e tudo está dando certo

E a vida tem um jeito engraçado de ajudá-lo quando

Você acha que tudo está dando errado, e tudo explode na sua cara."







Respirei fundo encarando as ruas movimentadas de Toronto, pessoas indo e vindo, trabalhadores apressados, estudantes atrasados, turistas encantados. O centro da capital era lindo, especialmente no fim do ano com todas as decorações natalinas, mas confesso que me irritava um pouco o congestionamento e às vezes me deixava com vontade de mudar de vez para Quebec, lá era tão mais calmo e tudo ficava sempre há vinte minutos. Mas basta só eu olhar em volta e o centro de Toronto me conquista de novo.

Apertei meu casaco já me direcionando para as portas do ônibus que se aproximava da minha parada, mas antes parando no sinal que havia fechado para os carros. Encarei a pequena garoa escorrendo como lágrimas e embaçando os vidros das janelas, um outdoor meio embaçado me levando há alguns anos atrás.

̶  Eles me ligaram, Lily. - ele tinha aquele sorriso escancarado de alegria.

̶  Não acredito, você conseguiu mesmo. - bati palminhas, animada pelo garoto a minha frente.

̶  Eles disseram que é apenas um evento teste para divulgar o meu trabalho, estarei junto com outros garotos.

̶  Não importa, já é um começo e eu estou muito orgulhosa de você. - o abracei enquanto algumas pessoas que passavam na rua nos olhavam estranho por aquela demonstração de afeto tão explicita.

(...)

̶  Emily, abre essa porta. - o garoto batia incessantemente. - Eu estou indo embora amanhã e não quero ir brigado com você.

̶  Você prometeu nunca mentir, lembra? - gritei do outro lado da porta, eu estava irritada.

̶  Eu sei, me desculpa, Lily, eu fiquei envergonhado de te contar a verdade.

̶  Amigos de verdade não mentem.

̶  Por favor, eu não quero perder minha melhor amiga, abre para mim? - respirei fundo antes de abrir.

̶  Promete que é a última vez que vai mentir para mim?

̶  Prometo. - ele sorriu quando abri a porta, por fim.

̶  E promete que nunca vamos perder o contato ou nos afastar ou nos perder um do outro?

̶  Claro que prometo. - ele me puxou para um abraço. - Você é minha alma gêmea da amizade, Lily, nós contra o mundo, lembra?

Sorri encarando a imagem do garoto agora com cara de jovem adulto bem sucedido, nós não tínhamos cumprido nenhuma daquelas promessas, depois que ele se foi cada um seguiu sua vida e seus planos e aos poucos o contato frequente se tornou cada vez mais raro, agora já se passara cinco anos. Cinco anos que não nos víamos ou sabíamos nada a respeito um do outro. Respirei fundo antes de descer na minha parada de sempre pedindo ao universo que hoje fosse um dia bom, andei mais alguns metros até parar em frente à fachada elegante do prédio onde eu trabalhava, eu tinha acabado de concluir minha faculdade de jornalismo com louvor na universidade Western e agora trabalhava como checadora para a T' Secret, uma revista com foco na carreira e vida dos famosos. Confesso que esse nunca foi o meu objetivo, mas eles pagavam bem e a revista era parte de um grupo empresarial dono de vários meios de comunicação, se eu me mantivesse no foco, em breve teria minha chance de virada. Comecei na redação há uns dois anos como estagiária e quando cumpri meu prazo eles acabaram me contratando permanente.

Passei pela recepção da redação cumprimentando Lydia, a recepcionista, que me entregou alguns recados e segui para chamar o elevador.

̶  Bom dia, flor do dia. - Mike cumprimentou com seu jeito alegre e rotineiro - Trouxe chá. - ele me estendeu o copo fazendo um sorriso brotar em meu rosto.

̶  O que seria de mim sem você? - agarrei o copo sentindo a temperatura do liquido esquentar minha mão - A propósito, bom dia.

̶  Que bom que o seu humor está agradável hoje, porque a Lisa quer te ver. - agora ele sorria amarelo - A notícia boa é que ela parece entusiasmada.

̶  E a ruim? - perguntei já arrependida.

̶  Ela está entusiasmada demais. - ele encolheu os ombros.

̶  Tudo bem, vou me preparar para as ideias mirabolantes.

A minha chefe é uma mulher adorável, flexível e de total paciência, o problema é que ela costuma ter ideias desastrosas que podem resultar em alguns problemas com a justiça. E por justiça eu quero dizer processos de estrelas de Hollywood. Eu sempre procurei me manter fora das vistas de Lisa Emerson, durante esses dois anos que estou na redação focava apenas em atender suas demandas de textos para corrigir e melhorar, o que parecia está dando certo até o momento. Respirei fundo contando até três antes de jogar o copo de chá fora e me dirigir até sua sala.

̶  Queria me ver? - falei com a cabeça enfiada pra dentro da porta.

̶  Emily. - ela abriu um sorriso largo assim que me olhou - Entre querida, temos muito o que conversar. - falou largando alguns e papeis de lado.

̶  Temos? - caminhei lentamente até a cadeira em frente a sua mesa, eu já podia sentir o arrepio tenebroso sem nem saber sobre o que se tratava.

̶  Sim, na verdade eu tenho uma nova matéria sobre um jovem astro em ascensão e estive pensando em quem poderia trabalhar nessa coluna e aí me veio o seu nome.

Eu não precisava ser o gênio da lâmpada para saber que uma proposta como aquela não cairia de paraquedas no meu colo depois de dois anos sendo apenas checadora. Sempre que uma matéria exigia demais da exposição de algum jornalista, Lisa sempre usava os novatos como cobaia assim ela manteria o nome dos seus favoritos intactos e teria um menor prejuízo com os chefões. Por isso eu procurava me manter longe do radar da loira em minha frente, checadores eram presas fáceis.

̶  Lisa, eu fico muito honrada que você tenha pensado em mim para assumir esse trabalho, mas eu não acho que seja possível.

̶  Oh, por favor, Emily você já está conosco há dois anos, começou como uma simples estagiária e depois ficou no cargo de checadora, mas eu sei que você assim como outros aqui só está esperando a sua chance de brilhar. Querida, eu não vou lhe bajular para o serviço, sendo bastante direta eu apenas tenho consciência de que você é uma boa escritora, talvez uma das melhores dessa redação.

̶  E por que está me dizendo isso?

̶  Você acha que eu não leio os seus textos assinados por Dylan ou Amber? - falou se referindo aos meus colegas colunistas. - Todo texto passa por mim antes e depois da checagem, eu preciso ter total noção do que estamos mandando para as pessoas, e eu vi o que você fez com o artigo sobre o tal Bieber, a acessória dele ligou elogiando. - óbvio que saber disso deixou meu peito estufado de orgulho e levantou meu ego, eu não sou hipócrita e nem dada a falsa modéstia, sei que sou boa no que faço, mas ouvir outra pessoa falar isso é bastante agradável. Porém ainda assim, eu não me sinto segura para aceitar.

̶  Eu não sei, Lisa, escrever sobre a vida dos famosos nunca foi meu objetivo. - e era verdade.

̶  E por isso vai se sacrificar a passar o resto da vida conferindo texto dos outros? - suas palavras afiadas não chegavam a me ferir, tendo em vista que ela estava certa, mas não deixava de me incomodar o tom usado pela loira a minha frente. - A questão é: essa matéria pode ser a chance que você precisa para ser notada pelos peixes maiores, dependendo de como se saia eles podem até te promover à editora e aí você poderá escrever sobre o que quiser. Eu nunca escondi meu objetivo de trabalhar no jornal, logo, Lisa tinha o saber disso, mas nunca havia tocado no assunto até este momento. - Escute o conselho de alguém que já esteve em sua posição, não deixe que os seus sonhos lhe ceguem, procure atalhos para chegar até eles, do contrário continuará estagnada.

̶  De quem eu supostamente terei que falar mal? - perguntei após um longo suspiro me sentindo vencida por suas palavras, a mulher sabia como manipular.

̶  Falar mal? Não, não será este o caminho querida. - observei ela abrir uma gaveta e puxar de lá um papel de cor parda, o estendendo para mim em seguida. - Eu quero uma matéria completa com direito a capa e recheio principal sobre ele.

Abri o envelope retirando de lá uma fotografia, meu rosto devia estar com a maior expressão de surpresa. Encarei o jovem homem de sorriso perfeito e olhos castanhos esverdeados, ele estava mais bonito do que eu podia me lembrar. Isso só podia ser pegadinha do universo.

̶  "A verdadeira face de Shawn Mendes", não, está muito dramático, o que acha de "A verdade por trás do sorriso de Shawn Mendes"? - ela me encarou entusiasmada. - Tudo bem, você deve ser melhor com títulos do que eu, apenas escreva sobre ele.

̶  Você sabe que revistas do mundo inteiro já escreveram sobre ele, certo?

̶  Sim minha cara Emily, mas nós somos o país dele, daremos ao resto do mundo algo diferente, uma narrativa nunca vista antes. Todos estão acostumados a ver Shawn Mendes como o príncipe cavalheiro e mais gentil da indústria musical, mas eles esquecem que por trás de letras românticas e sorrisos doces existe um jovem rapaz que está sujeito a errar, quebrar corações e ter sua própria cota de sujeiras. - ela parecia ansiosa por isso - E é isso que vamos dar ao mundo, vamos humanizar o astro teen deles com uma matéria bastante honesta.

̶  Lisa, eu não acho que ele me dirá algo que já não tenha dito para outros jornalistas. Além do mais, ele nem me conhece, como vou tornar isso possível? - você é uma grande mentirosa Emily Clark.

̶  Emily, eu sei que você é mais inteligente que isso, por favor, não se subestime. - eu podia ler as entrelinhas ali, sabia exatamente o que ela queria dizer.

̶  Como eu vou fazer isso? - na verdade eu sabia exatamente como, só estava tentando adiar o inadiável, talvez se eu fingir demência, Lisa desistiria de mim.

̶  Esse já não é um problema meu, querida, mas para que não me ache uma megera, te darei até segunda para pensar a respeito da proposta . Agora vá. - falou agitando a mão me despachando de volta para a minha mesa. - Ah, Emily - ela tornou a me chamar quando eu estava prestes a sair - Ele está na cidade essa semana, caso você precise de um incentivo para aceitar, é uma boa chance. - ela olhava no seu celular checando a informação e eu senti uma leve vontade de revirar os olhos.

Eu me sentia agitada, fazia exatamente cinco anos que eu não via o Shawn, nós não tínhamos mais intimidade e isso me assustava, eu não sabia como seria reencontrá-lo, se ele me reconheceria de cara ou lidaria comigo de forma cordial como se eu fosse sua fã. Eu estava em pânico, porque apesar de negar para mim mesma, eu sabia que vinha empurrando toda aquela bagunça acumulada para algum lugar bem no fundo de mim.

̶  E então? - Mike me abordou assim que eu saí da sala da chefa - Qual a maluquice da vez?

̶  Lisa quer que eu faça uma matéria sobre o Shawn Mendes. - contei enquanto andávamos até a máquina de café.

̶  Só isso? Achei que ela fosse querer você para escalar o muro de alguma mansão de famoso e flagrá-lo pelado, mas me parece uma tarefa bem tranquila, Emily, no entanto como estamos falando de Lisa Emerson, já suponho que tenha uma parte estranha.

̶  Lisa quer um furo do Shawn, algo que ninguém saiba e que possa ser repercutido no mundo todo.

̶  Tipo, um filho escondido nas Filipinas? - ri pelo nariz imaginando uma criança com traços do Shawn andando por aí. É, seria bem fofo.

̶  Tipo isso, mas a parte mais maluca é que ela quer que eu me infiltre na vida dele.

̶  Ela disse isso? - os olhos castanhos mais curiosos que nunca me encaravam.

̶  Não com todas as palavra, mas você a conhece, sempre insinuosa.

̶  Como você ficaria amiga dele assim de uma hora para outra? Ele tem uma equipe profissional que já deve ser preparada para isso, não tem chance disso funcionar.

̶  Na verdade tem... - ele me olhou com os olhos atentos. - Eu meio que já conheço o cara.

̶  Como assim já conhece o cara? - ele perguntou fazendo aspas com os dedos. - Você já fez matéria com ele e se esqueceu de me contar?

̶  Você sabe que não. - suspirei me aproximando mais dele antes conferindo se não tinha ninguém ouvindo. - Nós meio que fomos melhores amigos de infância por um tempo.

̶  O QUE? - tratei de tapar a boca do Mike enquanto alguns colegas nos olhavam torto. - Como que eu só estou sabendo disso agora Emily Julie Clark?

̶  É uma longa história, topa pedir uma comida e irmos lá pra casa depois do expediente? Aí eu te conto tudo.

̶  Você ainda pergunta? Claro que eu quero saber cada detalhe dessa história.

(...)

Estávamos jogados no sofá do meu apartamento, as caixinhas de comida espalhadas pela mesinha de centro enquanto eu encarava Mike esperando ele assimilar tudo. Eu tinha acabado de lhe contar toda a história de como eu conhecia o Shawn e pela cara do meu amigo ele estava bastante surpreso.

̶  Fala alguma coisa, Mike. - pedi me remexendo no lugar, impaciente.

̶  Deixa eu ver se entendi: você conheceu o cara quando tinha dez anos, ele te ajudou com um pequeno acidente de bicicleta, vocês descobriram ser vizinhos, se tornaram melhores amigos, ele foi em busca da carreira dele, vocês perderam contato e agora você tem que basicamente escrever uma matéria dizendo que ele é uma farsa?

̶  Você colocando assim parece bem pior. - suspirei esfregando os olhos por baixo da armação redonda. - Não é como se eu fosse descobrir que ele tem um filho nas Filipinas, certo? - meu amigo deu de ombros parecendo mais confuso do que eu.

̶  Você pretende contar isso ao Dan? - ergui uma sobrancelha pedindo para que ele fizesse sentido. - O cara é seu namorado e pelo o que eu entendi você vai precisar colar no Shawn para conseguir essa matéria.

Dan e eu estávamos juntos há quase sete meses, ele era aquele cara divertido que sempre tinha uma piada pronta na ponta da língua, eu gostava do jeito que ele me deixava confortável e de como os meus amigos pareciam gostar dele. Eu nunca fui um padrão de beleza a ser seguido, meu corpo não era padrão, meu tamanho não era padrão, nem meus gostos eram padrão, e isso me trouxe algumas inseguranças, mas o Dan parecia não se importar, ele me dizia o quanto eu era bonita e especial e acima de tudo, o quanto ele admirava a minha inteligência, e esse era um dos fatos por eu gostar de estar com ele. Além de gentil, Daniel me dava espaço para ter meu próprio ciclo social assim como eu fazia com ele, nós falávamos sobre tudo sem nos sufocar.

̶  Eu não tinha pensado nisso. - confessei jogando minhas pernas por cima das do meu amigo. - Digo, eu nem sei se vou mesmo levar isso adiante, é arriscado demais.

̶  Você realmente precisa pensar, Ema, por um lado é a sua grande chance e eu sei o quanto você esteve esperando por ela ao longo desses dois anos, mas por outro lado, pode tudo dar errado e você acabar machucando pessoas com quem se importa, e pior, sair machucada disso tudo. - Mike tinha razão, eu não podia tomar uma decisão desse cunho sem ponderar os prós e contras.

̶  Eu vou pensar bem no que vou fazer e dependendo da minha decisão, conversarei com o Dan a respeito disso, de qualquer forma, eu tenho até segunda para confirmar com a Lisa.

̶  Eu apoio que você converse com o Dan, caso você esteja pretendendo aceitar o trabalho, precisa ser honesta com ele e eu acredito que falar com uma pessoa que esteja de fora possa te ajudar. Mas Ema, essa tem que ser uma decisão exclusivamente sua.

̶  Tudo bem, eu vou pensar sobre isso.

Mike não demorou muito para ir embora, o que me deixou com folga suficiente para começar a pensar sobre o dia de hoje, era um trabalho que tinha tudo para dar errado, eu sabia, mas ao mesmo tempo não é todo dia que te dão a oportunidade de mostrar potencial, mesmo isso indo contra todos os meus princípios básicos pessoais e profissionais. Pensar nisso me lembrou de Shawn, como será que ele devia estar agora? Nas minhas memórias sempre tem imagens dele sorrindo e falando daquele jeito meio atrapalhado, mas isso já faz tanto tempo. O que eu vi e ouvi era muito agradável e ainda me lembrava do garoto que eu conheci em Pickering, mas agora eu estava curiosa para saber mais sobre ele, e foi com esse pensamento que eu corri para o meu computador abrindo a barra de pesquisa e digitando o nome. Encontrei varias imagens, algumas de sua infância e adolescência, outras eu até podia lembrar por ser bem no começo de sua carreira quando ele ainda fazia vídeos para o vine, lembro-me de ajudá-lo com a câmera algumas vezes e não posso evitar sorrir com algumas memórias engraçadas. Li um pouco sobre ele, algumas curiosidades que eu não conhecia e outras que eu não lembrava, li que ele estava trabalhando em um novo álbum e isso parecia agitar seus fãs, senti um pouco de orgulho por ver que finalmente ele estava conquistando tudo o que sonhou, Shawn merecia cada vitória e isso só me deixou mais insegura em relação a tal matéria, não era justo Lisa querer desmerecer todo o trabalho que ele estava construindo com tanto esmero. Foi com esse emaranhado de pensamentos confusos que eu decidi recorrer à única pessoa que ainda poderia me ajudar.

"Oi, aqui é Daniel Wilson, Dan se você for meu amigo. Eu não posso atender no momento, mas deixa sua mensagem aí e eu ouço depois."

Era a quinta vez que eu ouvia aquela mesma mensagem, o que me fez bufar desistindo da ligação decidindo ir até o apartamento dele, de qualquer forma não ficava tão longe daqui. O tempo estava frio e eu apertava meus braços abaixo dos seios numa misera tentativa de me aquecer, andar algumas quadras era sempre agradável, mas não nesse frio mortal do inverno canadense e como se não bastasse o Dan continuava sem atender o celular, o que só me deixava mais irritada. Não pude segurar o suspiro em agrado assim que adentrei o prédio aquecido, chamei o elevador sem muita dificuldade me sentindo ansiosa pelas palavras carinhosas que Dan estava sempre disposto a me oferecer, ele com certeza saberia exatamente o que dizer, ele sempre sabia em momentos como esse. Toquei a campainha estralando os dedos um no outro esperando que ele viesse logo me atender, mas nada. Tentei novamente, e de novo, e de novo, até que ouvi o trinco girar, mas o rosto irritado agora recebendo traços surpresos era tudo o que eu não esperava encontrar.

̶  Te acordei? - perguntei franzindo o nariz. Olhei no celular e não passava das 19:00pm

̶  Mais ou menos isso. - ele coçou a nuca num claro gesto de quem estava desconfortável com algo. - O que faz aqui?

̶  Não vai me convidar para entrar? - apontei meu dedo para a porta que ele puxou mais para trás de si bloqueando qualquer visão que eu pudesse ter. - Dan? O que está acontecendo?

̶  É... Olha Emily, está tudo uma bagunça aqui e eu acabei de receber um não da gravadora, será que a gente pode se falar depois?

̶  Eu sinto muito, quer me contar o que aconteceu? Por que eles não aceitaram sua proposta? - ele abriu a boca, mas antes que pudesse foi interrompido por uma terceira voz.

̶  Daniel, eu preciso ir ou vou me atrasar para o meu plantão. - uma garota de cabelos castanhos apareceu me fazendo arquear em surpresa - Ah, oi. - ela sorriu para mim que ainda permanecia estancada no lugar - Foi divertido gatinho, mas eu preciso ir, qualquer coisa me liga. - E assim ela saiu deixando apenas um beijo no canto da boca do garoto.

̶  Ema... - ele parecia tentar achar as palavras certas. - Não é nada diss...

̶  Não termine essa frase se ainda tiver alguma dignidade. - fechei os olhos com força negando com a cabeça

̶  Eu posso explicar, olha só, em minha defesa nosso relacionamento andava morto. - okay, agora eu estava surpresa de verdade, ele estava tentando por a culpa em mim? - Você estava meio distante e eu também, sempre ocupados com nossos próprios projetos, você mal ligava e estava sempre correndo. - ele estava pondo a culpa em mim. - Fala alguma coisa Emily.

̶  Você ao menos pretendia terminar comigo? - ele encolheu os ombros, o que só me deixou mais furiosa. - Como eu não vi antes o grande babaca que você é? Quer saber? Vá se foder, Daniel, você e sua grande arrogância. - apertei a alça da minha bolsa com uma mão enquanto com a outra eu mostrava meu dedo do meio para o cara parado na minha frente. Mamãe estaria orgulhosa - Vá se foder seu grande pedaço de merda.

Saí do prédio sentindo a raiva borbulhar todo o meu corpo, eu precisava descontar essa raiva de alguma forma ou acabaria chorando enquanto botava minha playlist para corações partidos para tocar. Resolvi ligar para a única pessoa em toda Toronto que estaria realmente disponível para mim nesse momento.

̶  Mike, eu fui corna e preciso beber.

"Estou a caminho do seu apartamento."

E assim com esse dia infernal começava a pior escolha que eu já fiz na minha vida.



...

Olá pessoas, essa é a minha primeira história com o Shawn, espero que vocês possam se divertir tanto quanto eu me divirto escrevendo. Criticas construtivas serão sempre vem vindas. Não esqueçam de votar e comentar, isso ajuda muito no curso da história.

Beijo!

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