Uma voz mansa e levemente rouca de homem cantava no fundo da minha mente, uma voz doce capaz de absorver todos os meus problemas e me devolver tranquilidade. Não à outro lugar que eu gostaria de estar nessa madrugada, à não ser aqui, nos braços de Harry Schofield.
— Vê? Está dançando. — Harry interrompe meus devaneios.
Vamos, Izza. Diga algo.
— Você fez mágica comigo.
Vi Harry baixar a cabeça e sorrir envergonhado, sob a luz pálida o rosto de Harry até pareceu corar um pouquinho. Me abraço mentalmente de felicidade, balançando para lá e para cá.
— O momento que é mágico, não eu.
Harry me tirou de cima dos seus pés e me girou. Estou com as costas grudadas no seu peito, posso sentir sua respiração entrecortada por conta do frio. Um tremor percorreu meu corpo da cabeça até o dedo mindinho do meu pé; minha língua estava coçando para perguntar que música ele estava imaginando, mas minha curiosidade foi varrida para longe quando ele subitamente me inclinou para baixo. O medo dele me deixar cair me obrigou a agarrar seus braços. E eu espirrei.
Harry me levanta e me solta.
Eu não sabia dizer se o frio que se instalou no meu estômago era por causa do seu olhar que procurava o meu, ou era realmente pela chuva.
Espirro outra vez.
— É melhor a gente voltar para o carro, não acha? — Ele sugeriu. Sorri internamente. Harry se preocupa comigo. — Você precisa se aquecer antes que fique doente.
Fiz uma prece silenciosa a ouvir essas palavras, não vou ficar doente e meus pais não vão descobrir que sai. Pelo menos era isso que eu achava.
— Ainda temos que procurar o seu casaco. — Falei me recordando do lugar onde ele o largou.
Na verdade não ligava a mínima para o casaco, eu só queria passar um pouco mais de tempo como ele.
Eu queria fazer algo para me lembrar, algo que me permitisse passar o resto da noite em claro me virando de um lado para o outro com a lembrança. Juntei toda coragem que tinha e disse a mim mesma, tentando convencer-me de que aquela seria a única chance que eu vou ter de fazer algo assim. Vou ser justa comigo mesma.
Segurei parte da mão de Harry e fiquei brincando com seus dedos por alguns segundos.
— Vamos? — chamei. Harry levantou uma sobrancelha, e sorriu. — O que foi?
De repente me sinto uma idiota e largo a mão dele.
— Você me deu uma ideia, Isabella.
Não tenho certeza se foi por simples reflexo, ou por meus pensamentos estarem tão transparentes a luz fraca, mas Harry estendeu a mão e entrelaçou com a minha.
Mesmo que daqui alguns dias ele não lembre da forma perfeita das nossas mãos juntas, essa visão ficará sempre comigo.
Harry me ajudou a caminhar pela grama molhada e escorregadia.
Em tom conspiratório, ele falou:
— Vou deixar meu casaco aqui. Assim quando o acharem pela manhã, vão saber que ainda tem pessoas que se divertem na chuva.
— Não tem medo? Digo, de alguém descobrir que a gente esteve aqui?
E como se tivesse esperando sua deixa, um cara alto, forte e careca, com um olhar nada agradável, apontou uma lanterna para nossa cara.
— Ei, vocês dois. — Ele gritou. — O que fazem ai?
— E agora? — Olho em pânico para Harry.
Harry segurou mais forte a minha mão.
— Agora, corremos.
E foi exatamente o que fizemos.
★★★
— Você viu? — Harry tentou falar em meio a uma crise de risos. — Viu só a cara dele?
— U-hum.
O olhei com um sorriso duvidoso. Ele está achando graça? Podíamos ter sido presos. Coloquei a mão no peito tentando acalmar meus batimentos, e incapaz de pronunciar qualquer palavra.
Me envolvo com meus braços e me aninho no assento de couro, sentindo meu corpo balançar a medida que os pneus em baixo de nós cantavam na pista molhada. No caminho que fizemos até chegar no Lakes de Drive, Harry me contou que havia comprado o carro de uma mulher metida a granfina que mal saia de casa. O carro é bem conservado e confortável, admito. Somente uma mancha marrom na lateral do banco do motorista confirma o tempo de uso. Harry está pagando o Ford com salário que ganha sendo Pizza Boy.
Meus olhos estavam começando a arder devido à falta de sono. Solto o cabelo passando os dedos pela trança para desfaze-la. Me aconchego no banco de couro.
— Está com muito frio? — Harry perguntou me olhando de soslaio. Balanço a cabeça, confirmando. — Vou ligar o aquecedor.
Antes que eu pudesse agradecer, eu espirrei.
— Tem que trocar essa roupa, Isabella. Se continuar toda molhada vai acabar pegando um resfriado.
— Não trouxe nenhuma roupa extra comigo. — Falei.
Harry dirige usando apenas uma das mãos, o braço livre ele estica para o banco de trás e me entrega um moletom cor de café.
— Não vou me trocar na sua frente. — Digo a ele.
Senti meu rosto começar a queimar e abaixo minha cabeça, fazendo com que meus cabelos encharcados caíssem para a frente criando uma cortina entre nós.
Harry suspirou. Ele diminuiu consideravelmente a velocidade quando pegamos a Downie Street. Eu conseguia ver o prédio da prefeitura se arrastando para longe em câmera lenta enquanto eu desafivelava o cinto e passava para o banco traseiro. Escondo o meu corpo o máximo que consigo dele.
Harry estava me encarando pelo retrovisor.
— Pare de me olhar. — Eu o aviso.
— Desculpe. — Harry murmurou e voltou sua atenção para a estrada.
Discretamente cheiro o moletom. Tem cheiro de água, sabão, Harry e algo cítrico que não reconheci de imediato. Ainda assim é meu perfume favorito. Eu queria poder coloca-lo em um potinho em cima da minha cômoda e passar a noite inteira o observando. Dobro minha blusa, meu casaco, e volto para o banco ao lado de Harry.
— Gostou? — Harry perguntou.
— Do moletom?
Escondo minhas mãos dentro das mangas compridas demais para mim, na verdade o moletom todo é muito grande para mim. Eu me sentia esquisita dentro dele, parecia que eu estava indo para uma festa do pijama e não voltando para a minha casa escondida.
— Também. Apesar de parecer que você tá vestindo um saco de batatas. — Harry riu. — Mas eu estava me referindo ao que você achou da nossa noite.
— Molhada.
Quem nunca dançou na chuva não sabe o que está perdendo. Eu estava feliz. Feliz e encharcada.
— Sei. — O sorriso de Harry se alargou ainda mais. — Tenho que te trazer pra dançar na chuva mais vezes. Nossa noite foi ótima.
★★★
Escalar a cerca viva é muito mais difícil do que parece ser nos filmes, não entendo como Harry faz tudo parecer mais simples. Eu tentei subir segurando minhas roupas entre o pescoço e o ombro, mas então elas escorregaram, tentei joga-las para cima mas também não adiantou. Por fim, eu coloquei minha blusa encharcada enganchada na calça e vesti o casaco (tudo isso serviu para me deixar muito mais molhada e pesada). Entrei no quarto com toda atenção do mundo para não acordar ninguém, depois de fechar a janela e jogar minha roupa no cesto, fiz meu caminho assim mesmo de calcinha, sutiã e moletom e me enfiei embaixo do cobertor. Sempre achei que Harry nunca mais fosse voltar a falar comigo, e agora passamos a noite juntos conversando e brincando como dois bons amigos. Eu estava doida para vê-lo de novo amanhã.
Fecho os olhos e adormeço, tendo o cheiro de Harry para embalar meu sono.
OBRIGADA POR TEREM LIDO, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO.
Se tiverem gostado comentem, adoraria saber o que estão achando.
Sou nova aqui, e estou um pouco insegura com essa fanfic.
Beijinhos de gliter!!!
Até breve.