• NIKOLAI • 1º Livro da série...

By only-anggel

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Algo deve ter dado errado em meu cérebro, tenho todas as suas químicas em minhas veias e estou entindo toda a... More

• Apresentação •
Prólogo
Voltarei para casa?
Casar?
Seja Perfeita.
Ledi Yevandrovisck
Lua de mel || Part I
Lua de Mel || Part II
Castigo
Respostas
Jantar
Aumente a voz!
Um outro lado
Feliz Aniversário, Sky.
Olá, Califórnia!
Isso se chama "Química"
Voltando a Rússia
Nossa guerra
Pecadora
Chapada
Viciado em você, amor
Vem comigo
Descobrirei sua verdade
Sou só eu agora?
Mãe.
Não vou abaixar minha cabeça.
Como adultos.
Raiva
Abra os olhos!
Eu amo você, Króchka.
Dois extremos.
Confia em mim.
O ataque.
Enterro
Capítulo Bônus: Welcome, Darling!
O passado retorna || Parte I
O passado retorna || Parte II
Minha.
Epílogo
Nota

Cartas sobre a mesa

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By only-anggel

Guardando coisas que você não sabe

E isso está me mantendo acordado à noite

Você não vai gostar de onde isso vai dar

E eles vão te dizer que eu não me importo mais

E eu espero que você saiba que isso é uma mentira

Crossing a Line - Mike Shinoda


Nikolai Yevandrovisck 

15, January — 2018

— E então? — Aleksi murmurou confuso e eu respirei fundo trazendo dois copos com Bourbon, o entreguei um dos copos e sentei em minha cadeira. — Vou ficar com Branka ou com Scarlett?

— Com as duas. — bebi um gole sentindo minha garganta queimar com o álcool. — Você será o único que terá acesso ao quarto da Branka, quero que a acompanhe até que Scarlett parta, você vai com ela e eu vou arrumar algum guarda para cuidar da Branka. — ele moveu as sobrancelhas em desgosto e virou todo o seu copo — Quer me dizer algo?

— Preciso, chefe? — segurava seu copo vazio o girando entre seus dedos. — Você já sabe o que acho disso.

— Aleksi, você é a pessoa que eu mais confio nessa porra. — ele me olhou — Estou te colocando para proteger as pessoas que eu mais amo. Eu sei que você acha isso uma tarefa estúpida, mas não é.

— Certo. — ele levantou vestindo seu casaco. — Mais alguma coisa? — questionou ajeitando sua gola, neguei com a cabeça.

— Está dispensando. — ele apertou os lábios e deixou a sala em seguida. Cobri meu rosto com as mãos e encarei o teto. Era inexplicável como eu estava me sentindo no inferno nesses últimos dias.

Meu celular vibrou em meu bolso e eu o peguei para ler o nome no visor. Apenas deslizei o dedo para cancelar a chamada, era Andrei e eu já sabia o que ele queria.

— Está indo? — ouvi a voz de minha mãe e me virei no topo da escada. Aleksi estava um pouco mais atrás, encostado na parede ao lado da porta de seu quarto. Assenti, ela se envolveu com os braços, olhou para trás e suspirou se aproximando. — Promete que vai me deixar a par de tudo, certo?

— Sim. — garanti e ela acenou. Eu não disse mais nada, apenas virei e desci as escadas. Peguei meu carro e deixei a casa indo para a sala de reunião de Bratva, eu já me preparava para o que estava por vir. Meu pai reservou 12 dos quartos mais caros do melhor hotel de Moscou para receber os principais representantes de Bratva ao redor do mundo.

A entrada do prédio era espelhada, o estacionamento repleto de carros importados e modelos recentes, difíceis de encontrar. A recepcionista exageradamente gostosa me deu indício de como essa reunião iria terminar. Respirei fundo e empurrei a porta, no mesmo momento meu celular vibrou outra vez.

— Estou aqui, irmão. — fechei a porta e meu celular parou de vibrar em meu bolso.

— Ótimo! — exclamou —Agora a festa pode começar. — ele murmurou e nossa troca de olhar foi o suficiente para nos fazer segurar o sorriso. Me sentei na cadeira livre em sua frente.

— Boa tarde, senhores. — comprimentei olhando para os homens ao nosso redor, não obtive resposta, mas eu já esperava isso.

Molhei os lábios ajeitando minha postura, sentia o olhar de meu pai sobre mim, mas não o olhei.

— Acho que não precisamos de cena, todos aqui sabem a razão de estarmos presentes. Mas, temos dúvidas. Eu mesmo quero saber onde Petya...? — ele encarou Dmitry incerto, meu pai confirmou sua sugestão — E a garota mais nova estavam. Andrei? — o homem de cabelos grisalhos na ponta esquerda fez com que todos na mesa encarassem meu irmão.

— Bom, nós fizemos uma nota explicando. Em 2002 Moscou estava sofrendo sérios ataques, os Italianos estavam conosco em mira e Petya sofreu ameaças. Então, ele junto de Kape, que era o Brigadier da época, decidiram proteger Petya já que ela estava carregando um novo herdeiro.

— O médico da minha família garantiu que eu teria um herdeiro, então eu achei ideal protegê-lo. Cortamos relações por um tempo, descobri tarde demais que se tratava de uma garota. — meu pai se explicou e eu apertei a caneta entre meus dedos para evitar de acender um esqueiro e colocar fogo nele ali mesmo.

— E porque escolheram a Califórnia? — Andrei me encarou, essa não foi uma pergunta para qual nos preparamos, mas Newt, que foi quem perguntou, não fez para mim e sim para Dmitry.

— Que tipo de pergunta imbecil é essa? — soltei com ignorância. Esperava que alguém conseguisse responder para ter o efeito que eu esperava. — Alguém consegue responder essa dúvida estúpida?

— É distante da Rússia e distante da Itália. Não era um... Alvo? — o rapaz que foi eleito a pouco tempo em Miami respondeu, soando mais como uma pergunta. Bati a mão na mesa.

— É uma coisa meio óbvia, não acha Newt? — ergui uma das sobrancelhas o encarando, ele moveu os ombros.

— Eu pensei nisso, mas achei que seria melhor confirmar.

Era mentira.

Eu não pensei nisso, eu tinha 13 anos. Apenas pensei nos contêineres vazios e que talvez com alguns pacotes de salgadinhos eu daria conta de a manter viva.

— Tá, mas vocês registrou a garota? — outro perguntou e ele me encarou, ódio pincelando seus olhos antes de assentir.

— Sim. — respondeu antes de limpar a garganta e entregar os documentos que comprovavam para o primeiro da fileira em sua esquerda.

— E isso quer dizer o que exatamente? — o representante do Brasil questionou estúpido com certo deboche — Vamos ter que simplesmente aceitar uma garota tomando decisões que ela não sabe tomar?

— Talvez seja algo bom ter uma garota na banca. — o representante Irlandês murmurou, a risada do meu pai cortou seu pensamento.

— Na banca?! — perguntou balançando a cabeça negativamente. — Ela não vai chegar até aqui, se tiver que fazer parte de algo, terá que ser um cargo simples.

— Por quê? — antes que eu fosse capaz de raciocinar, eu já estava questionando.

— É bem óbvio, Nikolai. — Andrei respondeu praticamente rosnando meu nome. Nós tínhamos combinado de nos mover pelas beiradas para influenciar na decisão da banca, mas que a decisão viria de lá e não de nós. Era um dos nossos passos para não nos comprometer com meu pai, nem com a banca.

Ergui minhas mãos em um pedido de desculpas e em seguida cruzei os braços. A reunião prosseguiu, foi extensa e intensa, metade da banca acreditava que ela deveria ser treinada e outra parte acreditavam que o ideal seria criar uma lei para excessão com garotas, mas essa excessão entrava em conflito com a lei geral de descendência por isso ocorreu alguns debates para enfim decidirem o que eu e Andrei já esperávamos.

— Branka Yevandrovisck será treinada até os dezoito anos por ter direito a sua herança familiar, durante sua iniciação decidiremos se ela está capacitada de assumir suas obrigações em Bratva ou não. Todos de acordo? — a banca concordou em uníssono enquanto Hari, o representante da Índia terminava de assinar nosso contrato de acordo, em seguida entregou para Andrei.

Estava feito, ganhamos tempo para nos livrar de Dmitry e livrarmos o foco de Branka.

...

Enxaguei meus cabelos e me lavei em seguida antes de desligar o chuveiro e esvaziar a banheira. Sequei meu cabelo, meus ombros, meu peito e quando sequei meu pau pensei em Scarlett, sentia falta de foder ela. Suspirei, não iria me masturbar outra vez pensando nela. Eu não era a porra de um muleque de quatorze anos, porque eu não chamava uma vadia e me saciava logo de uma vez? 

Enrolei a toalha em minha cintura, escovei os dentes e deixei o banheiro, dando de cara com Scarlett sentada em minha cama. Eu passei a dormir por aqui desde que nós paramos de nos falar. Parei onde eu estava e ela encarou meu peito descoberto antes de focar em meus olhos outra vez.

— Eu volto daqui a pouco. — se levantou e eu encostei no batente da porta do banheiro.

— Você já está aqui. Está com vergonha do que? — ela me encarou com as bochechas vermelhas, ergui uma das sobrancelhas sentido vontade de rir. — Tudo o que está aqui você já viu e já tocou, não faz muita diferença, faz?

— Não. — ela cruzou os braços mudando sua postura. Ela limpou a garganta. — Mas, acho que a conversa que quero ter com você, é melhor que você esteja vestido.

— Não consegue me levar a sério assim? — questionei me aproximando dela, ela recuou minimamente.

— Consigo, mas não quero. Se veste. — pediu e eu sorri virando e indo até a estante, sentia seus olhos queimando minhas costas, larguei a toalha e vesti uma calça de moletom azul escura. Anja percebeu que eu não estava mais no mesmo quarto que Scarlett e separou algumas peças pra mim naquele quarto, assim como trocou a roupa de cama e trouxe utensílios para o banheiro. Quando me virei seus olhos ainda estava em mim, limpei a garganta.

— Está bom assim? — ela assentiu desviando o olhar. — Pode falar.

— Eu... Eu quero te perguntar algumas coisas. — ela me olhou mais séria dessa vez — Quero esclarecer tudo antes de ir embora. — ela prendeu seus olhos nos meus.

— Vá em frente. — me sentei encostando na cabeceira da cama enquanto secava meu cabelo, ela suspirou e subiu na cama também, sentando sobre seus joelhos em uma distância considerável de mim.

— Quero ouvir da sua boca o que houve quando era criança. — piscou algumas vezes e eu permaneci a encarando sem dizer nada. Eu nunca disse pra ninguém em voz alta o que houve, mesmo quando minha mãe entrou em meu escritório na semana passada e questionou sobre isso.

Eu contei para ela o que consegui contar por cima, e no final ela chorou me abraçando e dizendo que sentia muito por não ter tido a capacidade de nos tirar desse meio.

Respirei fundo encarando a morena em minha frente, eu queria ser transparente com ela. Ela sabia quem eu era, o que eu fazia e eu gostava da ideia dela me conhecer melhor do que qualquer outra pessoa, principalmente porque eu sabia que se ela cogitasse a ideia de ficar seria por mim, e nada além disso.

— Meu pai me chamou no escritório dele e disse que eu precisava provar minha fidelidade a Bratva. Então ele disse que minha mãe estava grávida de uma menina e que eu precisava me livrar das duas e essa era minha prova. Ele me deu um vidro com veneno e pediu para que eu colocasse em seu prato favorito.

— Frango à Kiev — deduziu e eu assenti.

— Eu detesto esse prato porque eu fiquei ao lado de Anja a vendo cozinhar, lembro que minha mãe até elogiou o cheiro porque Anja disse que eu estava ajudando ela a fazer. Depois de pronta fiquei 40 minutos encarando a travessa, mas no fim das contas eu não tive coragem e mandei o Aleksi a levar para Califórnia, e assim ele fez. Eu disse para meu pai que eu matei e mandei Aleksi se livrar do corpo.

— Você tinha tantas opções, Nikolai... — ela murmurou triste e eu ri.

— Quais? Enfrentar meu pai? O que ele me pediu não foi como família, foi como Pakhan e você nunca vai entender o poder disso porque não faz parte da sua vida. Se meu pai descobrisse sobre elas, ele se livraria das duas. Eu às escondi todo esse tempo para as manter viva. — molhei os lábios — Eu procurei um apartamento na Austrália, mandei fazer identidade falsas e você simplesmente fodeu com tudo.

— O que você esperava, Nikolai? Que eu encontrasse sua família em um container e fingisse que nunca aconteceu?! — indagou exasperada.

— Que você me ligasse, me xingasse, brigasse comigo, mandasse eu resolver! Mas, que confiasse em mim pra isso, não simplesmente fingir que eu não existia e agir pelas minhas costas com o meu irmão!

— Quantas vezes você me deu motivo para confiar em você, Nikolai? — ela me encarava irritada — Quantas respostas eu tive de você? Quanta coisa você me escondeu? Quantas vezes você me castigou? — ela enrugou as sobrancelhas. — As coisas não funcionam como você quer, Nikolai!

— E tem que funcionar como você quer? — respondi sem conseguir conter minha raiva — Eu sei que eu errei com você, que muita das coisas que eu fiz não tem perdão, mas Rady Boga! Eu tenho direito de ficar irritado com você também! — me levantei jogando a toalha para longe.

— Porque eu? — ela questionou e eu a ignorei continuando meu caminho em direção a porta, senti sua mão em meu pulso. — Por. Que. Eu? — insistiu pausadamente, me desfiz do seu toque a encarando.

— Porque o seu pai roubou meus containers para pagar uma dívida dele com a Itália... Para proteger você. — apertei os olhos me aproximando dela — Você tem noção do que aconteceria com elas se a Itália conseguisse os Containers? Hm? Nós receberiamos no máximo pedaços, eu ficaria louco de raiva, Scarlett! — toda a raiva que eu senti na época me consumiu, mas ela parecia ainda raciocinar o que eu disse. 

— Para me proteger? — ela ecoou me encarando com os olhos abertos, uma expressão confusa, os ombros tensionados. Somente agora percebir o que eu havia dito e que eram coisas que ela ainda não sabia. Respirei fundo.

— Sua mãe era Italiana, Scarlett. — ela assentiu mostrando que sabia disso. — Eles prezam pela família, sangue lá é algo importante, seu pai era um estupido quando decidiu trair Bratva para tentar acertar as coisas com Lá Famíglia

E realmente era verdade. Mesmo que ele ajeitasse as coisas com Lá Famíglia, ele seria cobrado por Bratva, foi uma atitude burra de sua parte. Ela permaneceu me encarando sem reação, o cenho franzido dizia que ela ainda não havia entendido.

— O que minha mãe tem haver com tudo isso, Nikolai?

— Scarlett. — segurei seus ombros a fazendo focar em mim — Sua mãe traiu a famíglia e foi morta por isso. A famíglia mesmo sem te conhecer te protegeria se soubesse de sua existência, porque é isso que eles fazem. Isso te tornava um alvo fácil, seu pai no meio que ele estava, envolvido com as pessoas que se envolveu... Todos os lados queriam você e o seu pai tentava te proteger o máximo dentro do possível. A famiglia descobriu sobre você e o cobrou por isso, então ele simplesmente entregou o meu container como um pedido de trégua — ri erguendo os braços — Ele quis tentar esse jogo logo comigo, o Brigadier de Bratva!

— Isso quer dizer que eu... — ela engasgou, mas seus olhos sequer brilharam. Seus ombros caíram e ela fechou os olhos apoiando a ponta dos dedos sobre a testa. — Você me trouxe até aqui para ter uma vantagem sobre a Itália, para vingar meu pai... Você é um estúpido. — ela negou com a cabeça ainda desacreditada, os olhos apertados com força.

— Isso quer dizer que eu iria te matar, te entregar para a Itália em uma bandeja. Meu pai, inclusive, só aprovou esse casamento por essa razão. — seus olhos azuis subiram para os meus em completa incredulidade.

— Como você pode dizer que sente algo por mim se... Se simplesmente pensou em me matar?! PUTA MERDA, NIKOLAI! — gritou irritada me empurrando.

— Eu pensei, Scarlett. Pensei quando eu via você como a porra de uma peça no meu jogo! Pensei quando tudo o que você fazia era chorar e dizer que eu fazia parte de um culto! Eu simplesmente odiava você, eu odeio o seu pai e a Itália! Eu não esperava que as coisas fossem mudar no meio do caminho...

— Como? — seus olhos começaram a transbordar e suas mãos gesticulavam sem parar. — Como você pretendia fazer isso? — eu compreendi o que ela queria que eu falasse, ajeitei minha postura e limpei a garganta.

— Isso passou, Scarlett. Eu jamais te machucaria agora e você sabe disso.

— Como, Nikolai? — insistiu em um tom grosseiro. Pensei por um momento se deveria a contar aquilo, ela me perdoaria? Talvez não. Se eu mentisse ou ocultasse ela poderia ficar. Mas, ficaria por mim ou pela mentira?

— Veneno. — cruzei os braços — Meu pai queria que eu fosse rápido. O intuito era fazer sua tatuagem, te foder e filmar para mandar para o seu pai, sua estadia seria menos de uma semana. — molhei os lábios, ela segurou o choro outra vez e tentou passar por mim, mas eu a segurei pelos cotovelos. — Mas, no momento em que te vi, assustada sem saber como se defender, sem entender o que estava acontecendo, eu pensei em Branka. — fui honesto a fazendo me olhar com lágrimas nos olhos. — Eu preferi fazer do meu jeito, eu queria te mostrar o mundo, Sky. Eu só... Não esperava gostar de você.

Ela ficou em silêncio me encarando com uma crise silenciosa ocorrendo em sua mente. Eu a soltei sem saber como agir e ela se afastou minimamente enquanto secava o rosto.

— A minha mãe... — ela desviou o olhar — Você está dizendo que a minha mãe tinha envolvimento com a máfia? — ela voltou a me encarar.

— Sim. — respondi sentindo como ela bruscamente fugiu do assunto — Mas, não sei muito sobre. Tudo o que eu sei, eu puxei do sobrenome que você não tem.

— Ricci. — ela respondeu por mim se afastando e sentando na ponta da cama. Ela ficou em silêncio por um tempo até me encarar outra vez — Porque todo mundo esconde as coisas de mim? Eu estou cansada disso. — ela apoiou os cotovelos sobre os joelhos e enfiou a cabeça entre as mãos. — Eu me sinto como se tudo ao redor de mim fosse uma mentira. — eu ajoelhei em sua frente.

— Eu estou te contando a verdade, não estou? — ela ergueu a cabeça, a ponta do nariz vermelho, os olhos prestes a transbordar e a voz embargada.

— Porque eu estou te pedindo, droga! Ninguém me conta nada se eu não implorar! Eu quero que você seja capaz de me deixar ser a primeira a saber dos seus planos, queria que meu pai tivesse sentado comigo e me contado isso ou... — ela se perdeu no meio de suas lágrimas, era evidente o desespero que a consumiu. Respirei fundo e a apertei contra mim acariciando seus cabelos. Sentia seu corpo tremer e escutava seus soluços de olhos fechados. Eu não sei por quanto tempo ficamos daquele jeito até que sua respiração normalizasse e a sua voz soasse baixa e dolorida.

— Eu comprei minha passagem ontem à noite. — meus dedos congelaram e por mais que eu quisesse fingir que ouvir aquilo não mexeu comigo, meu corpo se tensionou por vontade própria. Ela me empurrou gentilmente enquanto balançava a cabeça. — Eu não posso simplesmente apagar o fato de você ter matado o meu pai. Eu preciso respirar, Nikolai. — seus olhos buscaram os meus e eu apenas assenti.

— Para onde? — questionei a olhando, ela secou o canto dos olhos.

— Filipinas. — respondeu fungando. Era errado achar que ela ficava linda chorando?

— Filipinas? — ecooei apoiando meu punho em seu maxilar é secando algumas lágrimas que escorreram por suas bochechas com o polegar. Ela confirmou com a cabeça. Ficamos outra vez em silêncio, seus olhos estavam focados em minha tatugagem no peito.  — Sky... — murmurei e ela negou com a cabeça. — Olha pra mim. — pedi e ela afastou meus braços.

— Não posso. — eu respirei fundo e me afastei antes de levantar sentindo uma irritação percorrer meu corpo. Enfiei as mãos no bolso do moletom e ela subiu a cabeça em minha direção, sentia todo o calor de seu corpo sumir do meu, travei o maxilar sentindo a ponta dos meus cabelos molhando minhas bochechas.

— Não adianta porra nenhuma você fingir. — seus brilharam outra vez — O que você sente não vai mudar, porém se quer espaço o problema é seu. — movi os ombros — Eu provavelmente ainda estarei te esperando se decidir voltar, mas, não espere que eu vá atrás de você, eu não vou. — deixei o quarto em meu modo automatico e caminhei pelo corredor em direção ao meu escritório. Bati a porta com força sentindo minhas mãos formigarem e me apoiei na mesa de madeira sentindo uma estranha vontade de querer quebrar tudo ao meu redor. Eu queria tanto que ela decidisse ficar, mas eu sabia que ela não iria.

Confesso que desejei que ela ficasse por Branka ou por minha mãe, mas pelo jeito nem mesmo isso foi o suficiente.

Ela não iria ficar.

E eu precisava me acostumar com isso.


Scarlett Yevandrovisck,

29, January — 2018

Duas semanas sem falar com Nikolai.

Eu não tentei mais falar com ele depois de nossa discussão e ele também não se moveu para falar comigo. De qualquer forma, eu sabia que era melhor assim. 

Eu queria ser um pouco diferente, mas eu já não consigo mais sentir tanta raiva dele, eu entendo suas razões e me sinto perdoando seus erros... A pior parte vem quando eu me vejo com uma vontade incontrolável de toca-lo ou beija-lo. Mas, isso vai além de mim. Eu prometi para meu pai que manteria distância e peço perdão todas as vezes que sinto vontade de quebrar minhas promessas.

O céu claro e o jardim livre de neve denunciavam que o dia devia ser maravilhoso, observei Aleksi colocar minhas coisas no carro e senti o frio percorrer meu estômago. Eu estava ansiosa, mas não tão contente quanto deveria.

— Você está fazendo a coisa certa, não faça essa carinha. — ouvi Petya dizer e me virei para a olhar. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, ela vestia uma regata simples, não parecia estar com frio, mas eu estava.

— Eu sei. — sorri minimamente, seu sorriso se ampliou e ela me abraçou, um abraço tão forte e carinhoso quanto o que eu havia dado em Branka mais cedo.

— Você precisa pensar um pouco mais em você. — ela se afastou e me olhou nos olhos, os mesmo olhos de Nikolai. — E quando digo você, estou falando de você literalmente. Esquece um pouco o Nik, eu, a Branka ou seus pais. Todo esse drama acabou, a vida tem que continuar e você precisa colocar sua cabeça e coração no lugar.

— Não é tão fácil assim...

— E nunca vai ser se você se negar a aceitar. Viva o luto com data de validade, entende? — ela tocou meus cabelos.

— Me desculpe por não ficar com vocês nesse momento. Eu queria muito ajudar a Branka, mas...

— Eu estou aqui, Sky. Nós vamos ficar bem, ela está lidando bem com as coisas, enfrentando tudo que aparece pela frente...

— Sim, mas o Dr. Pavlok disse que essa pressa dela não é bom... Eu estou me sentindo mal de ir logo agora.

— E você aqui vai mudar o quê? Vai amarrar ela e a impedir de conhecer o mundo que lhe foi vetado? — ela franziu o cenho e sorriu apoiando a mão em meu ombro. — Vai dar tudo certo, ela só precisa experimentar as coisas no tempo dela, e o ritmo dela está bem acelerado. — ela moveu os ombros divertida, mordi o lábio.

— Promete pra mim que vai tirar dela essas manias de salto alto? Pelo amor de Deus, é terrível ver ela andando de salto dentro de casa! — implorei e ela riu.

— Ela está impressionada com as meninas da máfia, ela vai parar de andar assim por conta própria. Dê tempo ao tempo. — piscou tocando a ponta de meus cabelos. — Você me promete que vai pensar em você no tempo que estiver fora? Você é jovem, merece viver. — pediu e eu assenti.

— Eu prometo. — a abracei carinhosamente e ela riu me apertando contra si, era muito bom ver ela ganhando peso.

— Qualquer coisa me liga. — exigiu e eu garanti que iria enquanto me afastava e finalmente me despedia. 

Todo o caminho até o aeroporto eu precisava me convencer de que estava tudo bem, eu me sentia fazendo algo muito errado, eu só queria que aquela sensação passasse. As pessoas pareciam tão apressadas para deixar Moscou, eu não estava tão agitada assim. Observei Aleksi colocar minhas malas — que eram somente duas — na esteira e respirei fundo antes dele prosseguir me guiando pelo aeroporto.

— Eu fico por aqui, Senhorita. — Aleksi se pronunciou no portão de embarque. Me virei para ele e franzi o cenho.

— Como? — ele molhou os labios e enfiou as mãos no bolso.

— Nikolai pediu para que eu ficasse está manhã... Mas, você estará em boas mãos. — ele piscou pra mim e se virou indo embora sem nenhuma despedida prolongada. Ainda desnorteada eu procurei por ajuda e foi vergonhoso uma senhora de sessenta e quatro anos me ajudar a ir até meu vôo. Intercalei minha atenção entre a passagem e as placas nas poltronas procurando por meu assento. Era na janela como eu havia escolhido, perto do banheiro.

— Com licença. — pedi para o homem que ocupava a poltrona do corredor, ele abaixou o jornal e cruzou as pernas.

— Pode passar, não estou com suas pernas. — respondeu ignorante tirando os óculos e foi inevitável não deixar a surpresa tomar conta de mim.

— Andrei? — ecoei o fazendo abrir um enorme sorriso, pelo meu tom de voz algumas pessoas até me encararam.

— Eu mesmo. — ajeitou a gola de sua camisa azul escuro — Não fica aí me olhando com essa cara, senta aqui. — bateu na poltrona em seu lado virando o corpo para me dar passagem.

— O que você está fazendo aqui? — questionei me sentando ao seu lado.

— Nikolai estava preocupado em mandar Aleksi com você e deixar Branka sozinha. Então eu me ofereci para vir com você e Aleksi ficar. — ergui uma das sobrancelhas e cruzei os braços.

— E ele concordou com isso? — ele fez uma careta.

— Não exatamente... Porém, isso é somente um detalhe. — garantiu — Vai ser por pouco tempo, no máximo dois meses até ele confiar em alguém o suficiente para deixar com Branka e mandar Aleksi.

— Mas... Andrei, e Bratva? — ele moveu os ombros.

— Eu sou somente o conselheiro, Scarlett. Informei que ficaria dois meses fora e participarei das reuniões por ligações em vídeo e essas coisas. Antes de você aparecer Nikolai era mestre em dar essas escapadas. — ele sorriu e eu ainda não sabia como reagir — Mas, nós vamos ter que conversar. — ele se inclinou sobre mim e fechou meu cinto de segurança.

— Sobre o quê? — a aeromoça surgiu para checar os cintos enquanto outra servia lanches,  Andrei suspirou fundo olhando para a bunda de uma delas, foquei em um dos pãezinhos que me foi servido.

— Sobre eu e Penélope. — ele encarei no mesmo momento.

— Você e quem, Andrei? — ergui uma das sobrancelhas e ele suspirou pesadamente antes de me encarar.

— Não se faça de surpresa, você sabe que eu não vou casar com a Anya. Eu detesto ela, ela me detesta e eu só quis assustar ela um pouco porque ela gosta de falar demais. — sorriu ironico sem mostrar os dentes, eu balancei a cabeça levando as mãos para meu rosto e em seguida segurei seu braço, toda a agitação que eu não senti até aquele momento me atingindo de uma única vez.

— Andrei, Penélope é policial, você ficou maluco?! — comecei a sussurrar como quem conta um segredo, ele riu. — Você está rindo? Já imaginou como seu pai vai reagir quando souber disso?!

Ele abriu um dos pequenos sacos de amendoin e jogou alguns deles na boca. — Sim e é por isso que precisamos conversar. — ele me encarou sério. — Eu vou precisar da sua ajuda.


Postar esse capítulo foi um verdadeiro desafio, mas assim... To bem contente com ele. Ontem eu tentei postar, hoje também, mas só consegui agora (AMÉM)

Peço desculpas pela demora, essa semana foi top pra mim, descansei minha mente, coloquei minhas ideias em ordem e consegui definir direitinho o que eu quero para os próximos capítulos, e percebi que estamos chegando ao fim...

Pois é, mas ta tudo bem... 

É isso, espero que tenham gostado ♥

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