Cinquenta tons de Cinza (l.s)

By unicorniallarry

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Harry não vê as cores, Louis é fascinado por elas. Já imaginou um mundo sem cores? Um nuance constante de cin... More

Prologue
chapter one
chapter two
chapter three
chapter four
chapter five
chapter six
chapter seven
chapter eight
chapter ten
chapter eleven
chapter twelve
chapter thirteen
chapter fourteen
aviso

chapter nine

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By unicorniallarry

Pétalas amareladas, muitas delas enfeitavam aquele buquê delicado, aquele ramalhete de flores que Louis levava com cuidado dentre seus dedos. Nada muito grande, apenas algumas colhidas nas redondezas por alguém que não queria nada mais que agradar, causar um sorriso de covinhas e eventualmente, iniciar bem toda a noite.

Ele conseguiu, embora.

Em companhia de olhos verdes reluzentes, e agradecimentos genuínos.

Valeu a pena.

Os dedos espetados em espinhos ao colher sorrateiramente aquelas delicadas obras amareladas, valeu a pena.

Apesar de Harry não ser contemplado com a dádiva de discernir o acinzentado do amarelo, ou de qualquer outra matiz, ele estimou o ato em si, a amabilidade. Ignorando a frustração de não ter muitas informações sobre aquele conjunto de rosas, mas ele sabia, sabia que eram respingadas de verde, cujo tom lhes cobria as folhas minúsculas e caules finos.

O agradecimento foi espontâneo, verdadeiro, refletido em seus olhos, num brilho que tirou o fôlego do outro por segundos.

Louis lhe presenteou também com cavalheirismo ao abrir a porta do carro para que ele entrasse, insistiu ao alegar precisar agir desta forma se Harry, realmente, estivesse pretendendo ter um encontro decente.

Soou como brincadeira, com doce leve da verdade.

O céu estrelado lhes agraciava com pontilhados bonitos e uma lua deslumbrante, o som calmo de um jazz qualquer os manteve entretidos em suas conversas silenciosas.

Harry sentiu o aroma das flores ao levá-las para seu nariz, doce, sereno e acolhedor, uma essência que emanava para causar a eclosão de sentimentos tênues dentro de si. Ele sorriu verdadeiramente mais uma vez, voltando a descansa-las sobre suas pernas cobertas por um jeans negro. Louis também sorria, o vento esvoaçava algumas mechas de seus cabelos castanhos e ele nem ao menos se importava.

–– Você gostou? –– questionou, fitando as flores e indicando do que se tratava a pergunta, Louis apenas queria ter certeza, de certa forma, Harry lhe agradeceu, mas não evidenciou sua opinião sobre, porém, ele estava prestes a fazê-lo, mordendo os lábios ao comprimir uma risada, porque era óbvio que ele amou.

–– Sim. De verdade, gostei por você ter tido a delicadeza de colhe-las. –– divagou, acariciando despreocupadamente algumas pétalas cinzas. –– E flores são, sem dúvidas, algo maravilhoso para presentear.

–– Como sabe que eu colhi?

–– Bem, digamos que a floricultura da cidade teria acertado o tamanho dos caules. –– suspendeu uma sobrancelha, divertido, ajeitando-as cuidadosamente e erguendo o arranjo, indicando os cortes mal feitos no tronco esverdeado. –– Mas você ganhou pontos, de qualquer forma.

Louis endireitou a postura, levantando o nariz para ele e engrossando a voz, brincalhão.

–– Quis ser original, meu caro. Preciso deixar minha marca de alguma maneira. Sou a personificação da gentileza e originalidade em um embrulho bonito.

Harry assentiu, risonho, porque ele literalmente houvera sido cortês em preferir se dar ao trabalho de apanha-las com suas próprias mãos, reforçando com palavras que concordou com tudo, mesmo que claramente sublinhasse a parte mais acertada, Louis, francamente, era um embrulho mais que bonito.

Adiante, as luzes já podiam ser vistas, ofuscando o céu e lhes saudando com cores fortes e pessoas caminhando, por todos os lados. Um parque bonito, roda gigante, barracas e pequenos jogos diversos. E cores, muitos tons que piscavam fortes e divertidos. Um bom lugar de lazer. Harry recordou das vezes que esteve ali com seus pais, pequenos detalhes estavam diferentes, porém, o todo estava exatamente como se lembrava. Vida, animação, casais românticos passeavam, crianças correndo e vendedores simpáticos numa áurea extrovertida.

Harry saltou do carro, esquecendo as flores no banco do passageiro, nuances multicoloridos lhe contornavam a face, e Louis sorriu ao pegar na mão dele para que se aproximassem juntos da entrada do local, onde uma placa vermelha gritava em letras informais dizeres de bem vindo.

–– Parece bem cheio. –– Louis comentou ao analisar alguns vendedores com fantasias vergonhosas que faziam até mesmo as crianças, recuarem desconfiadas e curiosas sobre o que aquele amontoado de roupas pretendiam representar, talvez um gato velho e enrugado. Louis torceu o nariz, desviando o olhar ao irem adentrando o parque gradualmente.

–– Aqui sempre estará cheiro. É maravilhoso. Todos os dias. Está nesse ritmo desde minha infância, minha mãe adorava me levar para a roda gigante, ver tudo de cima e... ver. –– soprou a última palavra, sentindo a melancolia lhe embalar na paisagem cinza apresentada para si, inversa a alegria de todos. E o sorriso estava esticando seus lábios, porque Harry era experiente em ser inverso ao esperado. Ele era a personificação do contraposto, se a tristeza o forçasse para suas profundezas sombrias, a luz da gratidão orientaria-o a flutuar e emergir acima mais uma vez. –– Você irá gostar, temos um bonito céu, a paisagem deve continuar incrível.

–– Então, nossa primeira parada, roda gigante.

E Louis marchou até a alta e azulada roda gigante, de um tamanho descomunal, tinha dois bancos por vez, em seus ferros bailavam a maior concentração de luzes brilhantes, revezando e mudando sua coloração em curtos espaços de tempo, embora seguisse um ritmo repetitivo. As cores urravam animação desmedida que contagiava aos poucos, Louis se deixou vivificar-se, ele precisava estar empolgado, se divertir, sentir a espiritualidade levar para longe suas preocupações. Então, ele realmente estava quase saltitando quando compraram os bilhetes, para duas voltas de cinco minutos. Harry observava os entrelaçados de sorrisos desconhecidos e murmúrios que vinham das extremidades, pois era isso que surtia efeito em seu interior do sentir, as reações eufóricas e contentes dos arredores, isso lhe inflama alegria, a felicidade estampada em faces que sumiam dentre as pessoas que também estavam felizes.

Porque, na verdade, sem nem ao menos percebermos, a atmosfera que nos circunda inflinge, provoca, suscita nosso humor.

E eles localizavam-se sofrendo dessa decorrência, mesmo que recebessem a energia que os orlavam, de maneiras unânimes e individuais.

Ambos se acomodaram na cabine do brinquedo quando abriram-na para que entrassem.

Era incrível, honestamente.

Nos primeiros metros acima, numa velocidade vagarosa que escorregava delicadamente para os ares, Louis já estava encantado. Era possível ver tudo dali, desde a movimentação de pequenos seres nas ruas mal divididas do parque, até o longínquo, onde as luzes fracas de Bibury exceliam, árvores embelezavam com seu toque de natureza e o céu findava o panorama, em insinuações explícitas que o vangloriaram por ser igualmente belo se comparado com a superficialidade dos pontos reluzentes dispersos ao chão. O conjunto, admirável. E quando pararam a dois assentos abaixo do topo, provavelmente para mais alguém entrar, Louis aguçou a visão para com algo borrado que lhe prendeu a atenção.

–– Um lago? –– questionou atraindo o olhar confuso de Harry para si. –– Ali, um lago? –– apontou para o que parecia ser água, numa parte esquerda e distante, alguns metros ao que assemelhava-se ao término do local, pois um muro improvisado dividia-os das águas que ondeavam serenamente.

–– Oh, sim. Um lago, fazia parte do parque. Eventualmente, foi esquecido, as pessoas não vinham até aqui para estragarem roupas e penteados com água fria, então, concordaram em fecha-lo, após uma mulher reclamar por ter sido jogada nele e borrado sua maquiagem. –– Harry revirou os olhos, lembrando do quanto a voz dela era irritante e do escândalo desnecessário que ela fez questão de armar. –– É um lago raso, não passa da cintura. Era minha diversão, naquela época.

–– Adultos sendo adultos. –– Louis resmungou em resposta. –– Tão presos as obrigações de estarem apresentáveis, sentem vergonha da liberdade de brincar e se molhar, se desmontar. Adultos deveriam ser mais crianças, às vezes.

Harry concordou com um maneio de cabeça, expulsando as memórias ruins para longe. Observando o mundo estendido no horizonte, rendido para a apreciação.

–– Bonito, não é? –– Styles disse, não era uma retórica, portanto, ele evidenciou suas covinhas quando Louis pousou o olhar em si, acenando em concordância diante o silêncio confortável interrompido pelo ranger baixo dos ferros que os faziam girar devagar no brinquedo.

Próximos, um ao lado do outro, presos em seus lugares por um cinto de segurança desbotado.

–– É maravilhoso. Bob nos dará dois minutos no topo, ele é um cara legal.

Louis havia conversado com o dirigente da roda gigante, e o mesmo lhe prometeu isso, como um agrado de boas vindas. E Harry sorriu, ele houvera escutado essa parte da conversa, Louis era bom em persuasão, e por mérito próprio o convenceu a lhes doar esse tempo. Propriamente, os dois minutos finais antes de descerem.

Já era belo passando por ali sem pausa, porém, ao cessarem naquele ponto, no topo exato, era realmente mais fácil de analisar e se surpreender. Tons reais, pontilhados no céu azul enegrecido, que clareavam com toda a sua delicadeza e força, moldando-o em vida. Tons superficiais, grifando em vermelho, laranja e uma infinidade de tingimentos às barracas abaixo, exaltando a criação do homem em luzes ligeiras e dinâmicas. Um encontro direto, aos olhos de Louis, uma verdadeira representação dessa interligação subposta. Criado pela natureza, criado pelo humano. Ambos em seus limiares do natural, em formas particulares de estrelar seus shows.

Foram dois minutos marcantes. Para um, por conta das recordações que zarpavam em pensamentos. Para outro, por conta de seu olhar artístico, sublinhando a beleza pura da paisagem. Para os dois, por conta da ótima companhia, porque sim, esse foi o ponto alto.

Seria possível tentar descrever com palavras o quão agradável e divertida foi aquela noite, realçar todas as vezes que sorriam um para o outro por coisas bobas ou a forma que não desentrelaçaram as mãos, mesmo sem conhecimento de que as mantiveram juntas. A maneira que flertavam sutilmente, criavam climas, se encaravam, e quase se beijavam.

Eles experimentaram as barracas de tiro, onde Harry ganhou alguns doces e eles os dividiram, sentados em baixo de uma árvore, e onde Louis ganhou um pequeno urso panda, e o deu para Harry apenas para vê-lo sorrir daquela forma exuberante. Ou da forma que o algodão doce desmanchou após cair acidentalmente em uma poça de lama, e isso os levou a comprar um novo em meio a amigáveis culpas, onde um julgava ter sido do outro a responsabilidade do acontecido, embora o doce estivesse na mão de Harry, Louis assumiu, de qualquer forma. Isso rendeu mais alguns sorrisos, porque estavam brincando, afinal. Harry o derrubou, por não segura-lo direito, e Louis acabou batendo em seu braço incitando sua queda. Os dois possuíam sua parcela no caso. Mas não importava de fato.

Tranquilos, transitando no meio das poucas pessoas que ainda andavam por ali, o parque quase vazio às duas horas da madrugada. O ar limpo e leve, exaltando o perfume conhecido da grama amparada das bordas. Eles já haviam aproveitado tudo que lhes poderiam ser oferecidos, ou era apenas o que achavam.

Os cabelos longos de Harry, devido ao calor, estavam amontoados em um coque desleixado, sua camisa branca ganhou manchas de tinta, adquiridas quando decidiram brincar com algumas crianças que atiravam bolas umas nas outras, e bem, eles pensaram que fosse água, e continuaram lá ao descobrirem que não era.

Seus passos eram sossegados agora, apenas observando os comerciantes fechando seus respectivos pontos de venda, passos direcionados ao portão de saída, a placa que os recebeu ainda possuía um vermelho vivo que brilhava sobre suas cabeças.

Mas não era isso que Louis queria, ainda faltava uma coisa, uma coisa que tilintou em sua mente e espremeu seus lábios em um sorriso empolgante, parando de abrupto e levando Harry a fazer o mesmo, tendo em vista que suas mãos juntas não o permitiu continuar andando rumo ao carro estacionado há alguns metros a frente.

–– Algum problema, Louis? –– soou curioso, e aceso ao atentar-se aos olhos cinzas e o sorriso exposto do outro. Compreendendo numa sincronia invisível sobre o que se tratava, e então, lhe restou também sorrir ao negar levemente com a cabeça, arqueando as sobrancelhas e espremendo os lábios. –– Não acho uma boa ideia...

–– Por favor, Harr. Por favor, uh? Só um pouco, e depois vamos embora. Não seja chato. –– choramingou, fazendo um bico infantil e puxando sua mão em direção ao muro mal feito de lona, o obrigando a dar alguns passos para a esquerda. –– Está tarde, não tem problemas. Apenas me acompanhe, você nem precisa entrar se não quiser.

Harry tentou resistir, literalmente não parecia uma ideia atrativa ou segura, mas quando viu, já haviam passado do muro e se esgueirado entre a grama parca. Estranhamente, o céu estava nublado, escondendo as estrelas e o vento uivava em rajadas que chocavam-se contra suas peles. Talvez chovesse, mas Louis não parecia se importar, o puxando pela mão até o lago pouco iluminado por algumas lâmpadas em suas laterais, uma ponte curta e o seu fundo poderia ser visto através das águas cristalinas que ondeavam-se elegantemente.

Silêncio completo, irrefutável, pleno.

Harry sorriu, sendo presentiado com memórias de todos os momentos que se lançou naquelas águas, com outras crianças dentre brincadeiras até os corpos reclamarem em tremores por conta do frio. Bons tempos. Durante a infância, esses passeios foram o mais próximo que conseguiu de amizade. Na escola, as crianças o ignoravam como se ele fosse contaminado, intitulando-o de apelidos que cortavam seu coração menino, porque aceitar o diferente, não funciona na prática. Ser tratado como um igual lhe era agradável, confortável. Nulo conhecimento sobre suas limitações, ocasionava nulo receio de agir normalmente em sua presença. Sem florear, ou entenebrecer o legítimo. Somente a realidade e o bem-estar ao portarem-se perante dele como um semelhante, aliás, uma ou outra diferença não o torna um ser inferior, ou disforme.

Essa maré de boas lembranças tocava-lhe de uma forma boa, doce.

Harry não pensou duas vezes antes de passar a camisa branca por seu tronco e tira-la, e surpreendo Louis, ele sorriu ao apontar para o lago a avançar alguns passos, tomado por coragem e vontades que cantarolavam em seu subconsciente.

–– Vai ficar aí? Temos uma rebeldia para cometer nessa madrugada, Willian.

Louis sorriu abertamente, repuxando seus lábios ao externar o quão concordava com ele, passou a camisa por seu torso em seguida, ambos cobertos pelas calças e sentindo rajadas de ventos que serpenteavam suas peles. A negritude não os permitiu vislumbrar mais que curvas, e sinceramente, eles nem ao menos ligavam para nada quando se jogaram naquela água congelante que lhes cobriu até a cintura, encharcando a parte de baixo de suas roupas. Harry mergulhou, molhando seus fios cacheados e emergindo sob o olhar atento de Louis, balançando a cabeça para tirar as mechas que caíram em seus olhos ao ter o coque desfeito, aproveitando para bater a mão nas águas frias do lago e respingar propositalmente no outro, rindo baixinho ao receber um olhar indignado como resposta.

Houve um pequena guerra de água, brincadeiras e risadas.

Apostaram corrida, Louis o deixou vencer.

Harry também lhe mostrou os peixinhos que moravam ali.

Mais risada, mais brincadeiras.

Contudo, em determinado momento, o frio lhes cumprimentou, lábios tremelicaram com a concentração mais densa de ventanias e gotículas que desabavam do céu, num início de tempestade.

Eles resolveram ir, agora sim, já haviam tido o suficiente por noite. Pegaram suas blusas, vestindo-as. Louis envolveu Harry em seus braços, compartilhando calor humano, o mantendo em seu aperto carinhoso.

–– Casa? –– Louis perguntou baixo, sua voz cortando o silêncio completo, caminhavam juntos e embolados até o muro, cúmplices, culpados e satisfeitos. Harry emitiu um resmungo de concordância, assentindo ao reforçar sua resposta, suas mãos apertavam o tecido da camiseta de Louis entre os dedos naquele abraço lateral.

O veículo deslizava pelas ruas, Harry recostou a cabeça no acolchoado do banco, um urso no colo e as flores descansando em suas mãos.

–– Borboleta, por quê? –– Tomlinson introduziu aquilo a conversa, curioso.

–– O quê?

–– Você tem uma borboleta, na barriga. Bela tatuagem, mas o que ela significa para você, ou que te incitou a fazê-la?

Louis sabia que havia um boa definição, e bem, Harry havia dito-lhe que tatuagens requerem um bom motivo pessoal, um bom significado.

Harry esticou os lábios num sutil sorriso, dando de ombros e voltando a fechar os olhos, suspirando baixo antes de responder com sua habitual entonação tranquila e meiga.

–– Bem, gosto de borboletas. São leves, livres, com suas asas esbanjando cores, e eu não sei se são capazes de sentir tristeza, mas para nós, são um amontoado de tons que nos lembram apenas alegria. Fortes criaturas, mesmo que delicadas e pequenas.

Harry abriu um largo sorriso agora, lembrando da vez que uma pousou sobre nariz, esfregando as patinhas ao cumprimenta-lo, há muitos anos, ela era dona de asas enormes se comparado com seu corpo pequenino, asas que continham dum esverdeado enegrecido, talhadas numa graduação entre azul claro e amarelo fosco. Deslumbrante aos seus olhos de menino, inesquecível. Analisando-a quando ergueu voou, pousando sobre uma flor miúda. Uma das últimas coisas coloridas que seus olhos puderam ver. Se aquela borboleta surgisse em sua frente novamente, Harry iria atentar-se as suas formas, desenhos, tonalidades, porque o que encantou seu eu criança um dia, hoje não surtia mais efeito, e estava tudo bem.

–– Entendo.

Louis acelerou o carro, prestando atenção a estrada vazia, tossiu levemente, incerto sobre prosseguir, no entanto, Harry tomou a palavra, concluindo a narração ao parecer ler seus pensamentos atrofiados.

–– Deve estar se perguntando: “Qual a razão de não ter feito uma colorida?” Acertei?

–– Yeah. –– era exatamente o que ele estava pensando.

–– Todos perguntam isso. Dessa forma, assim, para mim, posso a colorir mentalmente, sempre que a olho. Eu posso, porque as cores estão na minha mente e eu posso externar isso aqui, diariamente, variar, graduar e ao fim, as cores são detalhes que irão sumir para dar espaço a outras.

O rapaz pressionou as sobrancelhas, julgando ter soado confuso e estranho, mesmo que Louis não tenha demonstrado acha-lo louco ou diferente, nem um pouco, e sinceramente, Louis se via achando atrativo e envolvente as minúcias que lhe eram reveladas, como um álbum para completar, e Harry tinha as figurinhas. Lhe intrigava, lhe fisgava, por isso, Louis desviou o olhar para ele, admirado com a suavidade de seu significado sensível, condolente, falou-lhe o quão aquilo era lindo, delicado, pessoal, humano, e após exprimir isso, manteve o silêncio novamente, porque ele sabia que Hary ainda não tinha acabado, e estava interessado no que quer que outro dissesse. Como sempre, aliás.

–– Minha irmã costumava pintar com canetinhas, todos os dias, das duas primeiras semanas quando eu a fiz. –– tirou alguns fiapos úmidos que caíram em seus olhos graciosamente. –– Ela costumava passar longas horas comigo, pintando-as das cores que eu pedia, foi algo nosso por um tempo.

Louis estava um pouco mais encantado e entusiasmado.

Harry lhe prometeu deixar as colorir qualquer dia desses.

Chegaram até a residência do cacheado, o carro fora estacionado. Harry se inclinou sobre Louis para se despedir, plantando um beijo em sua bochecha, se afastando minimamente para pronunciar palavras de boa noite.

Estavam tão próximos.

Louis se atou no esverdeado mal iluminado, sorrindo, eles se curvaram milimetricamente para frente, por instinto, por vontade. E lá estava, o clima emoldurado, os flertes encobertos, os olhares desejosos. Os narizes trombavam, os olhos conversavam docemente. Respirações engatadas, corações desenfreados. Harry abaixou as pálpebras, quebrando a conexão visual e permitindo que seus cílios delineassem sombras em sua bochecha ao fitar os lábios finos e bonitos, mordendo seus próprios. Louis se empurrou mais para frente, absorto.

–– Tivemos um encontro, talvez eu esteja te devendo um beijo. –– Harry sussurrou provocativo, firmando os dentes na carne avermelhada da própria boca, porque ele sabia que tinha toda a atenção do outro presa ali, e ele gostou disso.

Houve uma análise, a proximidade os deixando verem-se com nitidez apesar da luz escassa, Harry oferecia covinhas charmosas, marcando meigamente suas bochechas, ao tempo que também apresentava um sorriso contido, os cílios longos pareciam maiores de perto. Louis estava numa espécie de hipnose, detalhando e decorando-o, mas também era analisado por olhos verdes curiosos, olhos que notaram a barba rala que masculizava-o, mal distribuída nas extremidades de sua face, notou as narinas buscando por ar, parecendo ofegar gradualmente, as sobrancelhas grossas apertadas, evidenciando sua concentração.

Harry descansou um beijo na bochecha de Louis, carinhosamente, descansando os lábios sobre a pele macia, descendo devagar, plantando outro, e outro, suavizando a carícia ao chegar próximo aos lábios entreabertos, depositando um levíssimo beijo no canto deles.

Diferente das outras vezes, Louis não se afastaria, pelo contrário, se aproximou ainda mais ao unir-se totalmente a Styles e virar o rosto, apenas o suficiente para que seus lábios se esbarrassem num selinho carinhoso, um início doce e respeitoso, sendo o bastante para principiar uma explosão dentro deles.

Houve um choque, como se uma carga elétrica tivesse sido descarregada diretamente em suas peles.

Louis, de início, afagou a bochecha de Harry, escorregando as mãos para agarrar alguns fios cacheados de sua nuca, pressionou as unhas curtas ali, sorrindo ao senti-lo aprofundar o beijo, dançando suas bocas juntas, as pressionando, as encaixando. Um beijo carinhoso. Harry foi mais para frente, prendendo o tecido da camisa de Louis entre seus dedos ao trazê-lo para si, sentindo com clareza as sensações que aquele contato estava acionando em seu corpo, causando arrepios em sua coluna e vício naquele sabor.

Louis poderia retratar um formoso quadro sobre o quão bem os lábios alheios se ajustaram aos seus, a delícia de sua maciez em conjunto com o tênue hálito de menta. Sinceramente, havia um erupção dentro dele, vívida e árdua, ignorando seu pulmão reclamar pela de falta de oxigênio, sugando-o mais um par de vezes, mordiscando e mantendo-o entre seus dentes.

Sorrindo ao se afastarem, sem fôlego. Lábios vermelhos e inchados que confessavam o que fizeram, evidenciado os segredos que os lábios confidenciaram, que compartilhavam naquela madrugada.

Olhos fechados, testas recostadas.

As fichas caindo aos poucos. Eles haviam se beijado, da forma mais deliciosa que poderiam realiza-lo, e honestamente, não existiam resquícios de arrependimentos. O ultimar da noite findando da melhor maneira. Incrível, magnífico, estonteante! Viciante...

Após as janelas, os chuviscos deram um adeus, cessando por completo, e através do anuviado cinzento, a lua voltava a lhes saudar elegantemente.

As bocas unidas, sem esboçar movimentos, apenas permitindo que as respirações escapassem por ali. Tomlinson sugou o lábio inferior do outro, permanecendo com ele dentre os seus, mordendo-o ao puxa-lo para si e soltar para pousar um selinho casto. Harry resmungou algo, embrenhando os dedos nos fios castanhos e curtos, chocando as bocas novamente, beijando de verdade, com barulhos de saliva, vontade, lábios se esfregando. Delicioso, a forma que se encaixavam, que arrepios lhes percorriam, que não parecia ser o suficiente, que as mentes ficaram em branco e nada mais que aquele momento importava, que Styles se inclinava sobre ele, mais e mais, mantendo-o perto com as mãos em seus fios.

–– Por que nunca fizemos isso antes? –– Harry murmurou após instantes sossegados, observando os olhos cinzas focados nos seus, ainda tão perto, e apreciando a carícia em sua nuca.

–– Você tentou, smile. E, droga, eu deveria ter cedido. –– Louis respondeu, pressionando os lábios em desapontamento, e Harry os selou, demorando ao pressionar os lábios unidos, sorrindo travesso ao se afastar.

–– Você deveria. –– concluiu, sentindo Louis se inclinar sobre ele e resgatar seus lábios em mais selinhos estalados. Recuou alguns milímetros, erguendo as sobrancelhas e estreitando os olhos, negando ao ver a janela de sua casa permitindo escapar um feixe de luz, indicando que seus pais já haviam acordado e o esperavam entrar. Voltou a fitar Tomlinson, proferindo a despedida com uma entonação que lamentava. –– Tenho que ir, Willy.

–– Ugh, não me cham- ah, esquece.

Desistiu, resolvendo aproveitar para beija-lo mais uma vez antes de o deixar, e honestamente, não foi apenas mais uma vez, de qualquer forma, eles não se importavam.

Ao fim, Harry chegou até seu quarto com as roupas molhadas, um buquê cinza em mãos e um sorriso que não abandonou seus lábios em momento algum, nem mesmo seus músculos em espasmos pela friagem ou o sono alcançando e pesando suas pálpebras comprimiram a alegria que orlava sua expressão. Uma noite maravilhosa, afinal.

Ao fim, Louis também exibia o mesmo sorriso que iluminava sua afeição, pensamentos focados no rapaz cacheado, ao canto de seus olhos, miúdas rugas se formavam adoravelmente, externando contentamento ao se lançar em sua cama, coberto por uma roupa quente enquanto sua mente insistia em rememorar os detalhes de sua noite, e seu travesseiro carregava um sutil aroma de morangos, sendo o mesmo que Harry usou ao dormir ali, e ele manteve-o dentre seus braços, fechando os olhos azuis, embora seus lábios se negassem a conter o sorrir persistente. Uma noite maravilhosa, afinal.

Ou, convenhamos, um encontro maravilhoso, afinal.

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