Vou casar com a escuridão
Sou um soldado contra o meu próprio vazio
Marry The Night - Lady Gaga
Scarlett Stewart
September, 24 — 2017
— Pronto. — Sófia disse ainda ajeitando meu coque, permaneci passando o dedo sobre o machucado que cicatrizava em minha mão. Ela saiu da minha frente e eu ergui o rosto, eu ainda não usava maquiagem, mas o vestido branco me fazia sentir estranha. O tecido era fino, transparente em meus braços, mas com alguns detalhes rendados.
Eu me levantei observando o decote em formato de coração que ia até abaixo do busto, sua renda se estendia por todo o modelo justo que acompanhava minhas curvas, a partir das coxas ele se abria bem pouco.
Girei um pouco em frente ao espelho vendo os detalhes nas costas sobre o tecido transparente e suspirei sentindo vontade de chorar outra vez. E é por isso que Sófia não havia autorizado dar início a maquiagem, eu chorava a cada cinco minutos e ela estava adiando ao máximo.
Algumas batidas na porta e ela se afastou para abrir, pude ouvir cochichos e preferi não me virar.
— Vocês têm dez minutos. — avisou e eu encarei a francesinha pintada em minhas unhas, meu coração acelerou. Só podia ser Nikolai e eu não queria o ver, será que se eu implorasse uma última vez ele me deixaria ir? Hoje seria a primeira vez que eu o vi desde o dia que me obrigou a fazer o tal juramento. Puxei ar para meus pulmões e me virei em um pulo.
— Nikolai, eu... — todo o meu corpo se arrepiou e meus olhos se encheram de lágrimas não sendo capaz de acreditar quem estava bem a minha frente. — Papai! — o grito que eu dei se perdeu no momento em que eu o abracei, meu corpo tremia entre meus soluços enquanto meu pai me abraçava pela cintura.
— Minha menininha... Me desculpe por ter falhado com você. — ele pediu com a voz embargada. Eu balancei a cabeça não querendo suas desculpas, eu quem deveria pedi-las.
— Eu sabia que você viria. Eu rezei todos os dias por isso... Me desculpe ter saído, papai. Eu prometo que nunca mais irei fazer isso, eu juro... — o abraçava com todas as minhas forças, seu perfume tão conhecido por mim me fazia bem. Não entendia o motivo de Sófia ter nos ajudado, mas seria eternamente grata.
— A culpa não foi sua, querida... Foi minha. Eu amo tanto você, Sky. — ele me apertou um pouco mais.
— Eu também te amo, papai. — sentia o tecido de sua camiseta ficando úmidos — Vamos, antes que a Sófia volte! — me afastei dele apenas para o olhar — Tem seguranças para todos os lados, no quintal, no corredor, no salão e no estacionamento. — apoiei a costa de minha mão tremula sobre meus lábios — Mas, talvez se eu disser que esqueci algo em casa... — ele negou com a cabeça e eu não entendi, apenas o encarei.
— Sky... — todo o seu rosto estava vermelho, lágrimas ainda desciam por seus olhos azuis. Olheiras se formavam abaixo de seus olhos, mas o cabelo e a barba estavam bem cortados como sempre foram. — Eu queria muito te tirar daqui, mas eu não posso... — ele me abraçou e soluçou — Eu não posso, filha.
— Pai... — murmurei sem entender e ele me apertou mais, não me deixando afastar.
— Eu vou tentar te tirar dessa, eu juro que vou. A Penélope está aqui e ela vai me ajudar, confie em mim, ok? Eu vou dar um jeito. Mas, até lá precisa me prometer que seguirá todas as regras e será uma boa garota. Não tente nada, essas pessoas não medem esforços e matam em um piscar de olhos.
— Pai, eu não entendo...
— Me promete que não vai fazer nenhuma loucura, Scarlett. — ele me segurou pelos ombros para me olhar nos olhos, eu o encarei assustada, três batidas na porta. — Scarlett!
— Eu prometo, papai. — engoli a seco e ele sorriu me abraçando outra vez enquanto a porta atrás de mim se abria.
— Preciso que você saia. — Sófia avisou impaciente e meu pai me deu um beijo na testa antes de deixar a sala, por que eu achei que ela seria capaz de ser boa comigo? — Já chorou o suficiente, vamos fazer essa maquiagem e se você chorar com ela pronta eu faço questão de colocar fogo no seu cabelo, entendeu? — eu suspirei caminhando de volta para a cadeira. Uma moça entrou para fazer minha maquiagem e depois de quarenta minutos saiu. — Vamos. — Sófia ordenou ajeitando o salto e em seguida a saia de seu vestido amarelo.
Ela foi na minha frente, caminhando com o queixo erguido e parando algumas vezes para ajeitar detalhes do evento, em uma de suas paradas eu encontrei Andrei e Penélope discutindo. O irmão de Nikolai tinha seu melhor sorriso debochado no rosto enquanto Penélope parecia mais irritada do que o comum.
A morena de quase trinta anos era melhor amiga do meu pai desde o treinamento para entrar para a polícia. Quando minha mãe faleceu, mesmo sem saber como se cuidava de uma criança, ela ensinou meu pai. Cuidou de mim a vida toda, ia me visitar sempre que podia e sabendo a forma como eu vivia sempre me levava chaveiros dos lugares que visitava a trabalho.
Eu respirei fundo e continuei meu caminho sem esperar por Sófia, eu me conhecia o suficiente para saber que eu era incapaz de abraçar Penélope sem desmoronar e se eu chorasse, Sófia iria me matar.
Meu pai estava me esperando na entrada do salão, ele ainda tinha o rosto vermelho de quem chorava. Mas, quem o visse julgaria que era emoção ao ver sua filhinha se casando. Apesar de que todas essas pessoas que eu não conheço do lado de fora, fazem parte da máfia. Sabiam exatamente que eu estava ali me casando por puro capricho de Nikolai. E o pior é que ninguém estava preocupado com a garota que foi sequestrada e casada a força, a maior preocupação de Bratva era que Nikolai estava se casando com uma "mundana" como dizia Sófia.
Eu esperei o momento certo com a cabeça apoiada no ombro de meu pai, seguranças nos cercando, garantindo que nada daria errado. Me perguntei por alguns minutos o que aconteceria se eu dissesse não no altar, mesmo sabendo que não teria coragem de o fazer.
Quando tudo estava pronto e Sófia avisou que estava na hora, a marcha nupcial começou a tocar e eu passei pela porta apertando o braço do meu pai com toda a força que eu poderia, pedindo silenciosamente que ele não me soltasse.
Sorrisos falsos de pessoas que eu sequer conhecia, um salão cheio e bem decorado e Nikolai no pequeno palco. Ao seu lado estava Andrei e ao outro uma morena de olhos castanhos. Ela riu baixo e falou algo em seu ouvido, ele assentiu com um sorriso torto. Não foi como nos filmes, eu não fiquei o encarando.
Eu estava assustada demais para isso.
Eu olhava para todos os lados procurando por rosto conhecidos, entre tanta gente com faces pintadas e corpos esculturais estava Penélope. Eu quis chorar e gritar que eu precisava de ajuda enquanto ela observava com cautela o meu grande dia.
Cada passo era agoniante.
Torturante.
Rídiculo.
Então alcançamos o altar, ele ergueu sua mão para mim e eu olhei para meu pai com os olhos marejados. Ele se curvou beijando minha testa enquanto entregava minha mão para Nikolai. Ele se afastou com os olhos úmidos e encarou o loiro com certa raiva antes de se afastar, ainda observando meus pés eu subi os pequenos degrais.
Nikolai me guiou em volta do altar, três voltas e nós paramos em frente ao padre outra vez. Eu estava confusa, não sabia dizer se era uma questão cultural ou algo que fazia parte da máfia. Assim que pude afastei minha mão de Nikolai e ele não se importou.
O padre leu um trecho da bíblia em russo. Ótimo, eu não sabia o que estava acontecendo em meu próprio casamento. Ele disse algo e ficou em silêncio, com um sorriso irritante de quem sabia que eu não estava entendo nada Nikolai guiou minha mão direita até o púpito, onde o padre colocou as alianças, o que me fazia ficar cada vez mais confusa. O padre ainda falava e nós o observamos com atenção, até que a mulher ao meu lado e Andrei se moveram para trás de nós com coroas.
Me virei vendo ambos trocarem de lugar, Andrei colocou a coroa em mim e eu segurei o riso, ele sorriu ao perceber enquanto ajeitava o objeto dourado sobre minha cabeça.
— Prontinho, rainha das virgens. — ele disse sério somente para que eu ouvisse. Na mesma hora eu gargalhei de maneira que ecoou por todo o salão. Tampei minha boca na hora que percebi o que aconteceu e foi a vez de Andrei rir. Nikolai impaciente puxou Andrei pelo ombro e ele rapidamente se desculpou antes de se colocar ao seu lado.
Nikolai entrelaçou nossos dedos e me virou para ele sem paciência alguma enquanto o padre focava outra vez na cerimonia. Coroas? Sério? Eu estava me sentindo a rainha da Inglaterra.
— Da. — disse alto e eu senti meu coração acelerar sabendo que aquilo significava "Sim". O padre falava e eu prestava atenção tentando não perder o momento que eu deveria aceitar como ele fez.
— Da. — disse da mesma forma assim que o padre parou de falar, o senhor de óculos me encarou e ergueu uma das sobrancelhas enquanto o salão ria. Nikolai se inclinou em minha direção.
— Eu sei que está ansiosa, mas podia esperar ele terminar, não é? — falou em inglês só para que eu escutasse. Ruborizei outra vez irritada comigo mesma por não ter aprendido russo ainda.
O padre me entregou uma taça enquanto dizia mais coisas em russo, eu não entendia nada. E então ele ficou me encarando se divertindo enquanto eu tentava descobrir o que era suposto eu fazer. Por que diabos eu tive tantas aulas e nenhum ensaio de casamento? Eu odiava ele.
— Beba. — a garota atrás de mim pediu e eu encarei a taça em compreensão, eu deveria beber tudo? Eu não sabia, encarei Nikolai e ele segurou o riso o que me fez querer revirar os olhos, mas me segurei. Levei a taça dourada aos lábios e virei a mesma, sentindo a mão de Nikolai sobre a minha em seguida.
— Deixe um pouco para mim, amor. — pediu sorrindo enquanto levava a taça aos lábios e eu senti meu rosto esquentar de vergonha.
Céus, eu estava arruinando minha própria cerimônia de casamento.
A garota tirou minha coroa enquanto Andrei tirava a de Nikolai, o loiro abaixou a cabeça para tirar a aliança de minha mão direita e eu o observava, os cabelos loiros caiam sobre a lateral de seu rosto fino de máxilar marcado. Ele puxou minha mão esquerda e colocou a aliança em meu anelar, agora na mão correta.
Então me entregou sua mão direita, ela era grande e suas unhas eram curtas, mas não de quem roí e sim de quem corta. Puxei a outra mão e observei a pequena tatugem de um coração vazio sobre seu anelar enquanto colocava a aliança na mão correta, cobrindo a tatuagem.
O padre falava e falava sem parar e eu não conseguia entender nada. Minha mente começou a inventar teorias sobre a tatuagem em seu anelar.
Uma das coisas que aprendi durante minhas aulas com Andrei, era a importância das tatuagens em Bratva. As tatuagens eram como histórias, nada era por acaso ou por achar bonito, todas tinham significados. E eu me vi questionando o significado daquele coração vazio em seu anelar. Tão perdida em pensamentos que não vi quando Nikolai me puxou pela cintura e pressionou seus lábios sobre os meus. Fechei os olhos pelos poucos segundos que durou o simples selinho enquanto as palmas encobriam a agitação dentro de mim.
Eu ainda estava meio tonta quando o fotográfo se aproximo de nós e pediu para que sorrissemos para a foto. Ele se afastou contente das poucas fotos que tirou e seu lugar foi ocupado por diferentes pessoas, não conhecia nenhuma delas até que Penélope veio até mim e me abraçou com tremendo carinho. Quando eu achei que fosse chorar de novo Nikolai me arrastou para o outro lado do salão, avisando educadamente que nós teríamos nossa primeira dança.
— Por favor diz que vai ser uma valsa comum. — pedi e ele sorriu enfiando uma das mãos no bolso enquanto assentia.
— Só me deixe te guiar que você se saíra bem. — informou dando de ombros — A música que eu escolhi não é muito lenta de qualquer forma. — explicou parando no meio da pista, sua mão ainda segurava a minha, nossas alianças se tocando. Encarei todas aquelas pessoas ao nosso redor, sorrindo como se estivessem felizes por nós.
Então a música começou a tocar, lenta o suficiente para que eu arqueasse uma sobrancelha.
— Caramba, o que você considera uma música lenta? — o encarei e ele tinha o maxilar cerrado, encarando um ponto fixo na multidão que se formava ao nosso redor, soltou nossas mãos pronto para me deixar sozinha quando Sófia se aproximou.
— Eu não sei o que aconteceu. — ela explicou nervosa, o salão se enchendo de burburinhos — Eu... Anya ficou encarregada de... — ela olhou ao redor e a garota de vestido cinza se aproximou de nós.
— Anya. — ele encarou a morena que sorriu.
— Você pediu Only Forever, não foi? — questionou com um tom sarcástico.
— Eu pedi Forever, do Kiss, porra! — eu arregalei os olhos, mas não disse nada. Ele escolheu uma música do Kiss para nossa primeira dança? Quem dançava romanticamente ao som do Kiss?
— Poxa... — ela franziu os lábios — Eu me confundi, peço que me desculpe. Mas, por sorte a música da Demi Lovato é linda! — garantiu e ele tirou do bolso seu celular, antes de desbloquear ela deu um passo para frente e colocou sua mão sobre a dele. — Você vai acabar com a vida da garota, pelo menos lhe dê uma dança descente no dia de seu casamento. Que diferença isso faz pra você, mudak?
Ele suspirou antes de responde-la em russo enquanto enfiava o celular no bolso outra vez, ela riu e se afastou chamando por Sófia que a seguiu após pedir licença.
A música lenta iniciou outra vez, a letra perfurando minha pele em um mar de mentiras enquanto ele aproximava nosso corpo um pouco mais com a mão no fim de minha coluna. Seus olhos azuis acompanhando cada pequena reação minha, nossas mãos entrelaçadas enquanto eu observava as pessoas ao nosso redor.
Estive pensando no futuro
E estive pensando no presente
Sei que vamos ficar juntos
Só não sei como
— Olhe para mim. — ordenou e assim eu fiz, sua postura era perfeita, seus ombros largos e o maxilar marcado o deixavam mais masculino do que naturalmente já era. O timbre lento, tudo o que falava soava preguiço e ágil na mesma medida. — Quem te fez essas marcas no braço? — no mesmo segundo eu desviei seu olhar para ver ao que ele se referia. Sófia havia colocado tanta força da última vez que nos vimos que ficou roxo onde ela apertou com suas unhas, havia basicamente perfurado a pele e por isso ela acrescentou as mangas, na tentativa de esconder as marcas.
Mas, aparentemente nada escapava dos olhos dele.
— Sófia. — disse rápido voltando minha atenção para seu rosto que desviou na direção de onde Sófia conversava com o garçom — Você vai me matar? — questionei e ele não moveu um músculo perante minha pergunta. Calmamente ele voltou a me olhar, se afastou um pouco e me girou enquanto Demi Lovato cantava seu refrão. Em seguida me puxou para si novamente e com minhas mãos na altura de seu peito, ele abraçou minha cintura e ainda nos guiava lentamente quando levou os lábios até minha orelha.
— Você não quer realmente a resposta para essa pergunta, quer? — se distânciou para afastar alguns fios soltos do coque. — Irei te levar para Cancun e você irá ter o final de semana mais livre que já teve em toda sua vida. Então aproveite, amor. Sem perguntas. — pediu calmo dobrando os joelhos lentamente para me erguer, como um noivo faz com sua noiva. As pessoas gritaram ao nosso redor como se fosse o gesto mais lindo que já haviam visto.
— Quem são essas pessoas? — questionei e ele suspirou.
— Por que não pergunta para o Andrei? — respondeu me descendo com calma, a música chegou ao fim, dando início a outra.
— Porque eu não me casei com o Andrei. — ele riu como se visse graça e segurou minha mão de forma que nossas marcas se unissem. Levou minha mão até seus lábios, onde depositou um beijo calmo. Casais invadiam o espaço antes destinado somente a nós.
— Unidos apenas por Bratva, amor. — piscou para mim antes de enfiar a mão no bolso e se afastar, me deixando sozinha no meio de diversos casais que pareciam até apaixonados.
MIGAS, SUAS LOUCAS
VOCÊS ESTÃO ME DEIXANDO LOUCA ♥
To muito animada com o livro, sério! Espero mesmo que estejam gostando, estou dando o meu melhor!
Obrigada por esterem comentando e votando, isso é muito legal mesmo ♥
Els, como sempre né... Obrigada ♥
Gente, queria esclarecer que eu me baseei no casamento ortodoxo para fazer essa cerimonia, mas não segui ao pé da letra porque nunca fui em um, apenas me inspirei em cerimoniais para ter uma ideia sobre o assunto porque li que o casamento mais comum na Rússia é o casamento Ortodoxo.
De agora em diante SE ATENTEM A DETALHES não deixem passar nada, sério. Séra útil futuramente ♥
ENFIM,
O que acharam desse casamento?