▕ B l a i r▕
Informo Samantha de que já iria ter com ela à aula. A rapariga de cabelos loiros e com o seu habitual sorriso amigável assente com a cabeça, deixando-me sozinha no recreio visto que já havia tocado á alguns minutos. Teria que acabar o meu cigarro e enquanto isso verificava se havia trazido tudo para as respetivas disciplinas. O meu horário informava-me de que iria ter Biologia, Psicologia e no final da manhã Literatura.
Assim que dou o meu último bafo dirigi-me para a sala de aula correta. A minha cabeça ainda me doía devido à ressaca mesmo já tento tomado dois comprimidos. Os meus olhos queriam-se fechar a todo o tempo devido às poucas horas de sono mas ainda assim não me arrependia de nada.
"Miss Blair, suponho." Um homem à qual eu associei à noite passada anuncia em voz alto. "Já tem falta mas sente-se."
Olhei para Samantha umas mesas mais atrás de mim. O seu olhar estava colocado no professor assim como o da maioria das raparigas nesta sala de aula. Apenas tenho tempo de pousar a minha mala na mesa e olhar em frente sem focar nada em concreto. Fora provavelmente a última a chegar pois apesar de ainda haver carteiras vazias, o meu atraso passava os cinco minutos de tolerância e tenho a certeza que ninguém tão privilegiado como os alunos desta universidade se iriam dar ao luxo de terem falta logo na primeira aula.
O giz emite um som irritante, mostrando assim que ainda não fora usado e no quadro todos observamos o seu nome. Mr Malik.
"O meu nome é Zayn, Zayn Malik e irei ser o vosso professor de Biologia." Um suspiro escapa por entre os meus lábios devido ao aborrecimento. O sono fazia com que a minha vontade estivesse em negativos em vez de zero. "Acho que a chamada foi suficiente para as apresentações, menos Miss Blair que fez que questão de chegar atrasada." Era a minha deixa. Sorri de forma divertida e acenei a toda a turma provocando um riso constante ainda que num tom não muito alto. Eu também me rira mas o seu tom sisudo fez com que tudo se calasse rapidamente. "Como estava a dizer..."
E foi então que desliguei completamente da aula. Mr. Malik ia dando conselhos inteligente sobre como sobreviver à universidade limitando-se a dizer por muitas palavras o que podia dizer por poucas: 'Estudem!'. Era uma autêntica perífrase.
O seu tom de voz autoritário manda-nos levantar em silêncio das mesas pois a nossa primeira aula iria ser observação. Conseguem imaginar a minha alegria? Não.
Caminhamos até à estufa da universidade, onde iramos observar e tirar notas das plantas. Mr Malik ainda nos chamou por vezes à atenção pois segundo ele, estávamos a fazer demasiado barulho.
Fico algum tempo a olhar o exterior da estufa. Quando era pequena e a minha mãe vinha para reuniões, fora do período escolar, e eu acompanhava-a para puder vir brincar para aqui ou então para o antigo sótão desta gigante universidade. Estranhamente nunca me perdera aqui. Esses dois sítios que referi eram perfeitos para brincar, ainda que estivesse sempre sozinha. Tenho a certeza que quando precisar de estar sozinha saberei onde me dirigir.
Enquanto todos analisavam as plantas eu apenas mexia no meu telemóvel entediada. Conversava com um rapaz que conhecera também na festa, muito simpático.
A mão do professor alcança o meu telemóvel quando se aproxima de mim e num ápice retira-o das minhas mãos de forma brusca. O seu rosto expressava um tom era de veras antipático mostrando o quão carrancudo ele era. Ele guarda o meu utensilio dentro do bolso de trás das suas calças fazendo-se suspirar derrotista.
"Blair, vá analisar as plantas." Ele ordena.
"Gostava de as analisar na posse do meu telemóvel." Reclamo.
"Agora."
"Mas-"
"Eu disse agora Blair, não me ouviu?" Ele perguntou retoricamente.
"Sabe? Talvez devesse fumar alguma coisa aqui plantada. Podia ser que ficasse mais relaxado."
"Não abuse da sorte ou será castigada."
Viro-lhe costas aproximando-me novamente do grupo onde a minha turma se encontrava ainda a tirar nota das estupidas plantas. Se havia matéria que eu desde sempre odiara fora esta. Que interessava sabermos as plantas? Nada, eu não quero ser jardineira nem nada parecido!
Não demorei muito a cansar-me de estar de pé a observar a flora da estufa. Enquanto os outros, inclusivo Samantha, continuavam atentos e a tirar notas de tudo eu estava sentada a um canto brincando com os meus dedos um no outro. Quando levanto o olhar, Mr. Malik encarava-me com um tom sério e avaliador. Desvio novamente o olhar para os meus dedos e espero que a aula acabe.
Ele informa-nos que nos devemos levantar mas ainda assim não o faço por enquanto. A minha preguiça era enorme e estava muito bem aqui.
"Blair levante-se."
"Não, eu fic-"
"Levante-se, estou-lhe a mandar."
Reviro os olhos e faço o que ele me pede. Como será que a mulher o atura? Acho-o realmente irritante.
"Vá para a sala, quero falar consigo no intervalo."
Murmuro um 'está bem' e vou sozinha em direcção à mesma. Agradecia imenso ter o telemóvel na minha posse pois assim escusava de caminhar sozinha e a olhar o ar. A rapariga loira corre para mim com um enorme sorriso assim que entro na sala de aula.
"O que vamos fazer no intervalo?"
"Tu não sei, eu vou ficar aqui a ouvir o sermão de Mr. Malik!" Eu protesto de forma divertida fazendo Samantha apenas se ri comigo.
"Quando saíres vem ter comigo ao bar, estou a morrer de fome."
"Claro, eu irei." Afirmo.
Ela despede-se de mim e sai da sala assim como todos os outros. Sento-me numa das mesas da fila da frente e espero na companhia do silêncio pela presença do docente na sala.
"Temia que já não estivesse aqui."
"Pensa que sou assim tão desobediente?" Ironizo
"Penso que é uma rapariga que merece um castigo. E dos sérios." Ele pausa um pouco a sua frase dando suspense ao que iria dizer a seguir e dirige-se até à minha mesa. Nos meus pensamentos apenas pedia que ele se despachasse pois não estava nos meus planos ficar aqui o intervalo todo e tinha que ir fumar e comer alguma coisa.
"Qual foi a tua cena de entrares da porra do meu quarto às duas da manhã?"
Os meus olhos abrem-se de espanto e os meus lábios separam-se um do outro ficando boquiaberta. Não estava de toda à espera que ele me dirigisse a palavra nesta forma tão informal.
"Eu fiz-te uma pergunta." Ele insiste.
"Eu estava bêbada, sabia lá que aquele era o seu quarto."
Estava um pouco desconfortável com aquela sua mudança repentina e acho que ele conseguia perceber isso, pois ainda me encontrava parva com a sua confrontação.
"Que não se volte a repetir ou eu-"
"Você não me faz nada."
"Achas mesmo que não?" Ele quase que solta uma gargalhada.
"N-Não?" Eu meio que pergunto devido à minha dúvida, não sabendo bem a que ele se referia.
"Não fez o trabalho que lhe pedi. Porquê?"
"É um problema meu."
"O problema é dos dois a partir do momento em que acontece na minha aula."
"Não me pode ajudar nisto." Eu forço um sorriso querendo que ele acabasse com a conversa.
"Diga o que é."
"Tenho problemas em concentração."
"Hiperatividade?"
"Sim." Afirmo e com a minha unha delineio os desenhos antigos e mal apagados naquela mesa onde me encontrava sentada, provavelmente elaborados por antigos alunos.
"Podia ter dito que eu ajudava-a."
"Para a próxima já sabe." Riposto e volto a levantar o meu olhar até ele.
Levanto-me da mesa e passo na frente do docente.
"Já agora, pode-me dar o telemóvel?"
"Devolvo-lhe na próxima aula, claro se o merecer."
Reviro os olhos e fecho a porta da sala, ainda que sem fazer muito estrondo.
✖
"Sam, podemos ir fumar?" Questiono à rapariga loira com quem dividia o dormitório. Samantha assente com a cabeça ainda cansada da aula de Psicologia. Não entendo porque é que os professores não começam a dar matéria apenas no segundo dia de aulas como sempre fora até ao secundário. Estes não. Os docentes universitários gostavam de nos encher a cabeça de preocupações e matéria logo no primeiro dia para nós adorarmos ainda mais a universidade.
"Não acredito que ainda nos falta duas horas de Literatura." Samantha comenta enquanto retirava um cigarro do seu maço.
"Acho que vai ser a única disciplina que jeito hoje."
Sim, eu adoro ler. Sou daquelas raparigas que se perde quando inicia a leitura num livro e que não descansa até o acabar e ver o final feliz. Já que os mesmos não existem na vida real pelo menos entro numa vida falsa por alguns dias e sempre posso sonhar e fingir ser a personagem principal que tanto me cativa e me vicia num conjunto de páginas.
Mal acabamos de fumar ouvimos o toque curto da universidade soar. Fomos então para a sala de aula e eu tive finalmente as duas horas mais interessante desde que começara a ter aulas neste inferno também conhecido como universidade.