A balada do Rohirrim

By CleoLourenco

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"Nunca se viu maior amor na terra dos cavaleiros desde que Elanor e Alec se encontraram. Eram tão perfeitos u... More

Capítulo 1 - O eorlinga e a donzela
Capítulo 2 - A filha do Cavaleiro
Capítulo 3 - O fantasma do Eorlinga
Capítulo 5 - Fuga sob o Luar
Capítulo 6: Desafio de cavaleiros
Capítulo 7 - As sombras de Fangorn

Capítulo 4 - A donzela de armadura

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By CleoLourenco


Alec não podia acreditar na diabrura que se manifestava diante de si: Iniciara aquela aventura perseguindo um "fantasma" ladrão de cavalos e agora, aos pés da misteriosa de Fangorn, o corpo delicado de Ellanor jazia, febril e inerte, como se algum espírito da floresta estivesse zombando da sanidade do cavaleiro.

Ainda tentando entender como aquilo era possível, aproximou-se da donzela e a chamou, tocando de leve o rosto pálido que trazia estampado em suas delicadas feições, algo de sofrimento. Diante do toque tão carinhoso, ela apenas entreabriu os olhos claros e mesmo que ainda sofresse, sorriu debilmente antes de desfalecer novamente.

Contrariado, o Rohirrim percebeu que aquilo não era nada bom. Sua impulsividade, não pela primeira vez, o levava a não medir consequências e agora, a moça poderia estar seriamente machucada. Ela poderia ter batido com a cabeça na queda e isso poderia ser potencialmente perigoso. Assim, um tanto preocupado, colocou seu manto embaixo da cabeça dela para lhe dar um pouco de conforto enquanto se preparava para levá-la de volta em busca de socorro.

Em seguida, buscou os cavalos, amarrando o de Ellanor ao seu para poder guiá-lo sem esforço e depois, voltou a se aproximar da jovem que respirava serenamente, apesar das pequenas gotas de suor que brotava em sua testa e a leve expressão de dor estampada em sua face. Tornou a colocar o próprio manto e a pegou nos braços com certa dificuldade, pois ela usava uma armadura de batalha completa e isso fazia com que ficasse mais pesada que o normal.

Com um comando, seu inteligente corcel se curvou para frente numa delicada e elegante mesura, de modo que o capitão a colocou sobre ele e o montou logo em seguida. Sem maiores dificuldades, aconchegou a jovem em seus braços para que ela não caísse. E então, partiram em uma lenta viagem de volta à cidadela dos cavaleiros, pois dado ao estado de Ellanor e o cansaço dos animais, fatigados na perseguição, Alec não ousou forçar uma marcha mais forte.

No entanto, quando estavam a meio caminho de Edoras, uma chuva fina começou a cair, deixando o já gelado ar ainda mais frio e fazendo reverberar a armadura que ela usava com as gotas que caíam sobre o metal. Então, para evitar que o frio piorasse o estado delicado da moça, o nobre eorlinga buscou abrigo em um velho rancho abandonado que ele sabia, que ficava próximo de onde se encontravam.

Se tratava de uma antiga construção, da qual, maior parte já estava em ruínas. Porém, ainda conservava alguns cômodos em bom estado, servindo de abrigo, vez ou outra, tanto para algum viajante quanto para os soldados que precisassem de um pouso emergencial naquelas paragens.

Assim que chegaram, Alec deixou a jovem em um canto seco e razoavelmente limpo no chão, e se colocou a providenciar algo mais digno para ela. Por sorte, não foi difícil improvisar um pouco mais de conforto para Ellanor. Bastou se utilizar de um velho estrado de madeira que estava forrado com palha seca e velha, visivelmente uma cama improvisada por alguém que estivera ali algum tempo atrás. Depois, para deixar tudo um pouco mais macio, forrou o estrado com sua capa só então colocou a moça sobre ela.

Neste momento, percebeu que a jovem estava bastante febril. Pudera, estava bastante frio e a armadura não lhe conferia proteção contra o clima. Com habilidade ele retirou o peitoral e o saiote da armadura, deixando-os jogados ao lado, fazendo o mesmo com a cota de malha que ela usava por baixo. Conferiu que ela realmente estava vestida como um dos cavaleiros de Rohan. Não havia esquecido nenhuma peça e tudo estava colocado de maneira perfeitamente correta, como se ela sempre tivesse sido um deles. Era certo que ela não recebera ajuda nem do pai nem do irmão para se vestir daquele modo. Mas havia feito tudo tão bem, melhor até do que alguns dos soldados que ele conhecia.

Por fim, a deixou apenas com a calça e o blusão de algodão que costumavam usar por baixo da armadura, pois estes não haviam sido atingidos pela chuva e, portanto, ele constatou aliviado, estavam secos. Retirou também as botas e, em seguida, a cobriu com uma manta de lã que ele sempre carregava no alforge de seu cavalo quando o inverno chegava.

Ainda assim, depois, de acomodá-la, o jovem eorlinga improvisou uma fogueira, utilizando restos de madeira velha e seca que estava armazenada a um canto, restos de algum acampamento feito ali não havia muito tempo. Era uma fogueira um pouco pequena, mas era suficiente para aquecê-los até que pudessem continuar sua viagem.

Já era madrugada quando Ellanor deu sinais de vida. Primeiramente, abriu os olhos bem de leve enquanto dava um profundo suspiro. sentia o cheiro da chuva e um ventinho suave que não chegava a causar frio. Notou que estava envolta em uma grossa manta de lã e franzindo a testa sentou-se na cama, percebendo que não estava em casa.

- Finalmente! - A voz grave de Alec chamou sua atenção. Ele estava sentado próximo a uma fogueira, não muito longe da cama onde ela repousava.

Estava vestido com uma armadura feita de couro, mais leve e usada no dia a dia das tarefas de cavaleiro. Um belo mearas branco estampado no peito contrastando com o fundo marrom avermelhado. Os cabelos longos e claros presos apenas pela metade, deixando o rosto livre dos fios, mas ainda assim, com longas madeixas cor de palha caídos pelos ombros. A barba de cor clara e o olhar severo conferiam a ele um ar austero e enigmático, até mesmo intimidador. Por isso, a moça gaguejou um pouco antes de falar:

- O- onde estou? - sua voz saiu mais fraca e fina do que ela pretendia, dando a ela um ar indefeso muito inconveniente.

- Estamos em uma fazenda abandonada a algumas léguas de Edoras. Não se lembra de nada do que aconteceu?

Ellanor evitou o olhar de Alec, apesar do tom de voz deste ser tranquila. Aos poucos as imagens de sua aventura noturna retornava à sua mente e ela fez uma leve careta ao perceber que fora pega. Talvez devesse fingir que não se lembrava de nada. Quem sabe poderia se passar por uma daquelas pessoas que caminhavam durante o sono e não se lembravam de nada depois. Certamente achariam que ela estava endemoniada, mas isso era melhor do que ser pega fazendo algo como aquilo. Seria duramente castigada quando seu pai soubesse que havia desobedecido suas ordens e, pior ainda, que saía sozinha durante a noite para cavalgar.

- É claro que você se lembra, não é mesmo? - O Rohirrim não se movia, mas sua presença tinha algo de esmagador para ela e sua voz trovejava através do silêncio apesar de que ele falava calmamente e em tom baixo.

Ela engoliu em seco cerrando os olhos suspirando. Poderia se valer de sua condição feminina e simplesmente bancar a perdida e indefesa. Apenas negar que se lembrava de tudo e se safar de punições. Mas era óbvio que,mesmo que Alec acreditasse em sua encenação, não teria a mesma sorte em enganar o próprio pai.

Olhou novamente para o capitão e lembrou-se que sua condição era mais uma desvantagem do que uma vantagem nesses casos. Estavam sozinhos em um lugar ermo. Se ela se fizesse de frágil, ele poderia realmente tentar subjugá-la. Era melhor mostrar-se forte, capaz de se defender do que fosse. Assim, ele não ousaria... Pensando melhor, ele não ousaria de forma alguma, sendo ela filha de quem era... Mas...Num lugar como aquele... ela havia saído de casa sozinha para uma aventura noturna... quem iria dizer que não fora por vontade própria? A dúvida pairava em seu coração mas ela preferiu não se arriscar.

Entendeu o quão vulnerável estava e, de repente, o ventinho frio a fez se arrepiar e tremer. Temeu pelo que poderia acontecer dali em diante. Instintivamente, cruzou os braços ao redor do próprio corpo sentindo-se desprotegida com aquelas roupas folgadas de homem e assentiu com um movimento de cabeça sem ainda olhar para ele.

- Então, era você, o fantasma de Mathur. - ele afirmou enquanto atiçava o fogo da fogueira com um pedaço de pau - O "homem" que roubava os cavalos e aterrorizava os meus soldados.

Uma sombra de orgulho perpassou o olhar arguto de Ellanor. Segurou-se para não sorrir neste momento. Por quanto tempo ela conseguiu essa deliciosa liberdade encoberta pelas superstições dos homens que deviam proteger a cidade? Ela não sabia ao certo, mas sentia-se satisfeita de ter feito algo tão ousado. Olhou de soslaio para Alec. O homem ainda a olhava fixamente com aqueles olhos que feriam mais que as próprias espadas dos rohirrim. Ela pensou que ele iniciaria um discurso sobre o quão errado era uma dama estar fora da proteção de sua casa àquela hora, mas tudo o que ouviu foi a indagação em tom curioso, quase jovial:

- Por que?

Ela se mexeu um pouco pois se sentia desconcertada com o interrogatório do bravo cavaleiro. No entanto, não abaixaria a cabeça nem para ele e nem para ninguém. A resposta veio tão fácil que ela nem percebeu quando se virou para ele e o encarou com olhar altivo e seguro e com voz cristalina e firme afirmou:

- Porque eu simplesmente odeio a minha prisão.

Pego de surpresa, Alec arqueou as grossas sobrancelhas. Olhando a moça com imenso interesse, tentou imaginar ao que ela se referia pois, até onde sabia, ela era filha de um importante cavaleiro e, portanto, uma moça cheia de mimos e regalias. Sabia também que a moça tinha um gênio forte e gostava de afrontar a autoridade do pai. Seria apenas isso? Um capricho de uma garota mimada e inconsequente que se arriscava noite adentro roubando cavalos apenas por prazer? Porém lembrou-se de que ela sempre os devolvia quando amanhecia e nunca fez questão de que a reconhecessem . Ponderou que era mais do que apenas roubar cavalos para chamar a atenção.

- Por que você rouba os cavalos se odeia prisões? - insistiu ele tentando entender o que ela queria dizer.

- Não roubei ninguém! - ela rebateu prontamente - Eu sempre os devolvi sãos e salvos no fim da noite. Eu os pegava emprestado!

Aquilo era verdade, mas ainda assim, Alec insistiu.

- Sabe que ainda assim você violou regras pegando cavalos sem autorização. Terei de levá-la de volta e reportar o que você fez. Mas vou lhe dar uma chance de não ser posta em um escândalo. Vou devolvê-la a seu pai e ele mesmo cuidará de sua punição. É o que posso fazer em nome de nossa amizade.

Ellanor arregalou os olhos diante da ameaça. Ser levada ao pai era pior ainda. Sabia que seria vigiada e não poderia sequer colocar os pés para fora de casa. Provavelmente ele a castigaria muito mais severamente. Cerrando as mãos sobre a manta de lã, a jovem estreitou os olhos contrariada. Mas voltou a abri-los assustada ouvindo as palavras do homem ao seu lado

- Mas há outro meio de se resolver esta situação. Posso ajudá-la e guardar apenas para mim essa sua aventura. Mas terá de fazer algo por mim.

O eorlinga se ergueu, então, do local onde estava sentado e aproximou-se da cama. Ellanor sentiu seus sentidos todos dispararem e mesmo se encolheu um pouco, amedrontada por causa da aproximação repentina do homem que sentou-se na beirada do estrado e a olhou nos olhos:

- Preciso que me diga o que te faz se arriscar tanto? - Ele perguntou em um tom levemente zangado - Esta noite você poderia ter morrido! Fora todos os perigos que você passou todas essas noites, se metendo no quartel. Diga-me o porquê desse capricho insano e, talvez eu a ajude.

Tomada de surpresa a jovem o olhou num misto de espanto e raiva, mas sua voz saiu baixa e sentida, quase embargada:

- Ele me proibiu de montar. Ele sabe que não posso viver se não cavalgar pelos campos. Sabe que é o pior castigo do mundo me separar do que mais amo fazer. É por isso que me sujeitei. Por que juro que vou morrer se viver mais um dia presa naquela casa!

Aquelas palavras, ditas com tanta paixão, tomaram Alec de surpresa. Ellanor demosntrava tanto amor por cavalgar que ele não questionou. Sabia exatamente como ela se sentia. Sabia que enlouqueceria se fosse privado da liberdade que experimentava quando estava cavalgando. Porém, jamais conhecera uma jovem com tanto amor pela cavalaria, como a aquela que estava diante de si. Uma alma de eorlinga num corpo frágil de mulher, era o que já havia lhe dito o irmão de Ellanor, mas ele não havia compreendido, até ouvir as palavras que ela acabava de proferir.

- Então, é só por isso? - ele a mirou com um leve sorriso nos lábios - É só pra poder cavalgar?

Ellanor o olhou furiosa. Como ele ousava fazer pouco caso do que ela acabava de lhe contar? Para ele podia ser pouco, mas a vida dela se resumia à sua paixão pelos cavalos e pela liberdade que sentia quando cavalgava. Acreditava de coração que todas as imposições eram injustas e já provara a ele mesmo que ela poderia montar tão bem quanto ele mesmo, por que, então, merecia ser trancafiada em casa? Ela se recusava a aceitar aquilo e o odiava por diminuir seus sentimentos naquele momento.

- Se este é o único motivo, eu vou lhe ajudar. - ele respondeu ficando em pé novamente. - Você não deve mais roubar cavalos ou sair sozinha pelos campos, senhorita Ellanor. É perigoso e você sabe disso. Mas se quiser, posso acompanhá-la em seus passeios e assim, você não precisará deixar de fazê-los.

Então, logo sua raiva se desfez e um sentimento extremamente confuso tomou seu coração. Não sabia se era gratidão ou medo, ou simplesmente felicidade. Aquele homem não deixava claro o que queria dizer. Poderia ser que estava apenas fazendo uma chantagem e nesse caso, iria querer tirar proveito da situação. Ou, talvez, ele a compreendesse:

- Não contarei ao seu pai o que se passou aqui esta noite. Mas lhe peço, que a senhorita seja mais prudente.

Ela gastou um bom tempo olhando para ele num misto de sentimentos que ela não saberia explicar. O que sabia sobre o capitão era que se tratava de um homem sisudo e muito rígido com seus homens. Porém, sabia que era honrado, portanto não seria capaz de se aproveitar de uma moça como ela. Não esperava uma atitude como aquela vinda dele.

- Não vai contar a meu pai e me pede em troca apenas que eu seja mais prudente? - questionou sem acreditar - Por que o senhor faria algo assim?

- Por que agora eu já estou envolvido.

Ele a olhou por um momento como se verificasse que ela estava realmente bem. Depois, simplesmente a deixou e foi organizar o que necessitavam para partir. Uma vez sozinha, Ellanor vestiu-se novamente com a armadura de seu pai e quando saiu,  Alec já a esperava com os cavalos prontos. A chuva havia cessado, mas uma densa camada de neblina pairava sobre os campos verdes de Rohan. O Rohirrim lhe deu instruções sobre como iriam proceder para entrar em Edoras sem que ela fosse vista e, por fim, partiram para a cidade dos cavaleiros

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