Capítulo 3 - O fantasma do Eorlinga

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Muitas luas se passaram desde o jantar fatídico onde sir Grant havia anunciado o casamento de Anne com sor Wulfric e os dias se sucederam rapidamente. Logo, os campos verdes começaram a secar num dourado que muito lembrava o tom de palha dos cabelos dos eorlingas e o vento começava a soprar frio indicando o clima do inverno que se aproximava e toda a terra dos cavaleiros começou a sentir os efeitos que os tempos de frio traziam sobre si. Entre o povo de Rohan, era justamente nesta época mais sombria, em que o ciclo da natureza revelava a fragilidade da vida que se esvaía a cada alvorecer, que surgiam as mais diversas e sombrias histórias de que se tinha notícia e, mesmo entre os bravos cavaleiros, via-se a apreensão e o desconforto que se apoderava dos campos vazios em horas pouco iluminadas.

Desta forma, neste período, se fazia necessário que as rondas pelos limites da cidade fossem intensificadas, posto que era quando as noites ficavam mais densas e os dias mais curtos que as ameaçadoras sombras cresciam desde a floresta de Fangorn até os corações dos homens.

Cumprindo suas funções de capitão dos rohirrim, era comum que Alec passasse muitos dias junto a seus homens na vigilância dos limites da cidade e até mesmo em rondas no campo. Por isso, naquele dia, estavam reunidos ao redor de uma fogueira ao lado da torre de vigia do posto próximo aos portões da cidadela e se divertiam contando histórias sobre fantasmas e aparições.

Nada supersticioso, Alec se divertia vendo as reações de espanto e medo nas feições de seus companheiros. Intimamente se perguntava qual era a lógica em se contar aquele tipo de história àquela hora da noite, se a maioria dos homens tinha tanto medo. Mas os homens pareciam muito mais se divertir do que sentir medo e, de alguma forma, o sobrenatural os atraía tanto que, mesmo que se encolhessem amedrontados, aquilo ainda era uma distração para a noite fria e nenhum deles parecia disposto a se afastar da roda.

Então, um dos homens se adiantou e chamou a atenção de todos para um fato do qual Alec ainda não tinha conhecimento. Segundo ele, há algumas noites, o fantasma de um eorlinga visitava os estábulos do posto de vigia e lhes roubava algum cavalo. O bravo Alec, que ouvia o relato confirmado por mais dois ou três soldados que participavam da conversa, percebeu que estavam tão impressionados que sequer tinham certeza se o visitante que recebiam era humano ou sobrenatural.

ㅡ Era o fantasma de Mathur, tenho certeza! ╶ explicou um dos guardas convicto. ╶ Ele se vestia como um de nós, até o elmo e a armadura era a de um eorlinga.

O capitão cerrou os olhos levemente ponderando os argumentos do companheiro. Uma das mais antigas e célebres histórias que assombrava os eorlingas se tratava do conto de horror de um cavaleiro, um filho de Eorl. Rezava a lenda que ele fora um príncipe, um grande domador de cavalos. Em uma noite como aquelas, ele foi surpreendido por um ser da floresta de Fangorn. Sabe-se lá que diabruras habitam aquela floresta, mas como Mathur era um homem muito curioso, seguiu a criatura adentrando a escuridão da velha floresta e nunca mais foi visto novamente com vida.

A partir de então dizia-se que a alma do eorlinga vagava pelos campos nas noites frias atraindo os incautos e os fazendo se perderem para sempre na floresta ou, ainda, os levando a morrer de hipotermia vagando pelos vastos campos verdes, pois sua alma perdida precisava de companhia.

ㅡ Poderia ser apenas alguém nos pregando uma peça, ou ainda um ladrão se aproveitando das crenças temerárias de vocês. ╶ a voz grave de Alec ressoou ecoando acima do crepitar das chamas da fogueira de modo quase surreal.

ㅡ Não era um ladrão. ╶ respondeu o guarda que relatara a história ╶ Todos os cavalos o obedecem com docilidade, mas sempre voltam ao estábulo pouco antes do amanhecer.

O silêncio que se seguiu era sombrio e desconfortável. Apesar do céu limpo e da lua cheia, o vento frio era constante, gelando os corpos por baixo das grossas roupas de lã que os soldados vestiam abaixo da armadura, como se um sopro fantasmagórico os tomasse de súbito fazendo os mais medrosos suarem frio, como se algo demoníaco fosse saltar das sombras e os engolir por completo.

A balada do RohirrimWhere stories live. Discover now