Capítulo 2 - A filha do Cavaleiro

25 6 4
                                    


Findaram-se as festividades primaveris. Logo, os deleites dos banquetes e toda a animação das danças e das incansáveis rodas de conversas onde os cavaleiros contavam cada detalhe de suas aventuras, não passavam de doces lembranças de um passado recente. Logo, a corte galante dos rapazes à procura de jovens esposas e as animadas conversas e elogios não passavam apenas de doces divagações entre os bordados e as noites se tornavam ainda mais tediosas, apesar de Elanor contar sempre com a companhia leal e gentil de suas irmãs.

Depois de tantos dias experimentando conversas e convivendo com os mais variados pretendentes, entre os mais valorosos cavaleiros de Rohan, o bordado e os enfeites de flores eram ainda mais aborrecidos do que antes para a inquieta jovem. Mais do que os flertes, a menina ansiava pelas sensações que as aventuras vividas pelos valorosos eorlingas despertavam dentro de si. Logo, trocou de vez as rendas pela companhia constante do pai e do irmão, chegando a persegui-los quando estavam em casa, na tentativa de acompanhá-los em suas tarefas diárias. Desta forma, conseguia, de vez em quando, companhia e permissão para sair em breve cavalgada, sempre acompanhada por um dos dois. Momentos escassos, mas em que se sentia mais viva.

Não que a jovem tivesse aversão aos afazeres domésticos. Na verdade, ela apreciava um bom bordado e adorava enormemente se enfeitar com as rendas que ela e as irmãs teciam em casa. No entanto, apreciava a montaria como se sua alma dependesse daquilo para respirar. Era pois, o momento em que mais se sentia livres, pois, aos poucos, ia entendendo que de nada adiantava ter um gênio forte. Sua condição feminina era, muitas vezes, como um cabresto a forçando a uma submissão a qual ela odiava e não aceitava com a docilidade que os cavalos demonstrava a seus cavaleiros. Ela era indomável e não podia se calar diante dos desmandos que lhe eram impostos. Ainda mais quando, certo dia, algum tempo depois do festival, seu pai anunciou que Anne se casaria com um cavaleiro que ele mesmo escolhera.

Aquela deveria ser uma noite agradável. Sor Grant havia convidado para o jantar o capitão Alec e sor Wulfric, outro capitão dos eorlingas e toda a conversa da noite havia sido sobre os assuntos que Elanor mais gostava: a cavalaria e os feitos heróicos dos cavaleiros. Foi então que, em um determinado momento do jantar, sor Grant se pronunciou, anunciando que sor Wulfric havia pedido a corte à mais velha de suas filhas. Então, o que deveria ser uma ótima notícia, para a maioria das famílias, transformou-se em uma enorme contenda, quando Elanor se pronunciou contrária à decisão de seu pai.

Apesar de não gostar nem um pouco de Armitage, Elanor sabia bem que sua irmã nutria sentimentos pelo rapaz e a proposta de um casamento arranjado colocava um fim a todos os sonhos de Anne que era dócil demais para se pronunciar contra a decisão do pai. Mas Elanor, não. Ela sabia como aquilo magoava a irmã e, por amá-la acima de qualquer coisa, levantou-se e bradou em alto e bom tom:

- Mas que anúncio sem propósito! Acaso perguntaram a Anne o que diabos ela mesma quer? Estão aí planejando a vida dela sem nem ao menos saber o que minha irmã acha disso!

Obviamente, aquilo pegou a todos de surpresa. Anne ficou lívida e pálida como a toalha que cobria a mesa do jantar, enquanto Hella levou as mãos aos lábios cobrindo-os e abafando um gritinho. Do outro lado da mesa, sor Grant engasgou-se com o vinho que bebia e Alec a mirou divertidamente espantado. Sentado ao lado de Alec, sor Wulfric a olhava de Elanor para seu pai sem parecer entender muito bem o que se passava. Foi então que Halled, primogênito de sor grant e, portanto, o irmão mais mais velho de Elanor, se pronunciou tentando amenizar a situação.

- Oras, eis que este é um assunto pertinente apenas a papai e sor Wulfric, querida Elanor, portanto, deixe-os tratar disso como devem.

- Isso é que não! - Elanor continuou sem se preocupar com o olhar de reprovação de seu irmão - Se trata do futuro de Anne e ela tem que estar de acordo, não é mesmo?

A balada do RohirrimWhere stories live. Discover now