O segredo de Scott

By Amyu-Chan

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Ao tentar descobrir o que está acontecendo com Scott, seu melhor amigo que está desaparecido há uma semana. E... More

Capítulo 01 - Como tudo começou
Capítulo 02 - Com a vida por um fio
Capítulo 03 - Nova vida, novas regras
Capítulo 04 - Aprendendo um pouco
Capítulo 05 - Voltando pra casa
Capítulo 06 - A primeira briga
Capítulo 07 - O meu lugar
Capítulo 08 - A morte de Scott
Capítulo 09 - O enterro de Scott
Capítulo 10 - Outros bandos?
Capítulo 11 - Final de semana
Capítulo 12 - Confissões
Capítulo 13 - Angústia
Capítulo 14 - Arrependimento
Capítulo 15 - O sequestro de Ethan
Capítulo 16 - Lembra-se de mim?
Capítulo 17 - Voltando a normalidade ou quase isso
Capítulo 18 - O cio
Capítulo 19 - Namoro
Capítulo 20 - O fim do cio e o início dos problemas
Capítulo 21 - Tensão
Capítulo 22 - Aparição inesperada
Capítulo 23 - Coisas boas podem vir de acontecimentos ruins
Capítulo 24 - O sofrimento de Dylan
Capítulo 25 - A história de Dylan
Capítulo 26 - A Volta
Capítulo 27 - O inimigo surge
Capítulo 29 - O medo de Loker
Capítulo 30 - O que fazer agora?
Capítulo 31 - O Alfa enlouquecido
Capítulo 32 - Perdendo tudo
Capítulo 33 - A tomada de poder do novo Alfa
Capítulo 34 - Casa nova... vida nova
Capítulo 35 - Novos membros do Bando?
Capítulo 36 - Ataque anunciado
Capítulo 37 - Relacionamento em risco
Capítulo 38 - Chegando ao íntimo
Capítulo 39 - Um retrato do passado
Capítulo 40 - Especulações
Capítulo 41 - A viagem
Capítulo 42 - A lua cheia
Capítulo 43 - O passado de Dante
Capítulo 44 - Mas e o Dylan?
Capítulo 45 - Um sacrifício necessário
Capítulo 46 - A batalha na nevasca

Capítulo 28 - O massacre na sala vermelha

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By Amyu-Chan

As enormes janelas de madeira explodiram em um turbilhão de cacos de vidro quando corpos pesados se chocaram contra elas, e uma enxurrada de dezenas de lobos multicoloridos invadiu o local. Os rosnados agressivos retumbaram audivelmente pela sala enquanto seus donos fixavam um olhar faminto sobre seus alvos ali encurralados.

Os lobos que se feriram ao usar seus corpos contras as janelas, quebrando os vidros e as molduras de madeira em seu caminho, pareciam não estar sentindo a dor de ter sua pele dilacerada pelo vidro quebrado, ou talvez eles não possuíssem mais a capacidade de se importar com seus próprios corpos. Tal como em um filme de terror gore, os lobos destroçados apenas se levantaram do chão, prontos para atacar e matar tudo que estava em sua frente, ignorando o sangue pulsante que vertia de seus corpos quentes.

Nossos aliados se desesperaram ao verem-se encurralados no centro da sala, onde um por um caia sobres as garras afiadas do inimigo. Berros, gemidos, ganidos e correria eram tudo o que eu podia captar do turbilhão de corpos amontoados naquele lugar.

O mundo ao meu redor ruía, no entanto tudo que meus olhos conseguiam captar naquele momento de horror era o rosto apavorado de Dylan, que tentava correr na minha direção como se não houvesse o amanhã.

A dor aguda em meu pescoço me fez espremer as pálpebras com força e, por um momento eu deixe de ver a carnificina que ocorria ao meu redor. Os dentes de Loker afundaram em minha carne sem resistência alguma, parecia que os dentes do meu captor possuíam um fio mais afiado e cortante do que uma lamina feita para atravessar uma armadura de metal.

Debati-me, tentando me livrar daquelas pequenas adagas em minha pele, mas isso só aprofundou o ferimento ainda mais, causando uma hemorragia que manchou minha camisa de vermelho vivo.

A única coisa que eu podia captar agora eram os gritos desesperados de Dylan, ele parecia estar sentindo a dor junto comigo, na verdade os gritos de pesar dele pareciam os de alguém que acabara de receber a notícia que o amor de sua vida se foi.

A dor que antes atingia apenas meus pescoço e ombro agora se espalhava pelo meu corpo todo, seguindo os caminhos tortuosos de minhas veias, envenenando e queimando meu corpo enquanto o que quer que esteja em meu organismo se alastrava.

Quando isso chegou aos meus nervos, senti como se estivessem expondo meus tendões, rasgando as fibras de meus músculos, destroçando cada pedacinho de mim.

Gritei em agonia quando a dor se tornou insuportável, meu corpo parecia estar se desmanchando, como se ácido o derretesse. Eu temia me tornar uma massa gosmenta e escorregadia a qualquer momento. O sangue já vertia de meu nariz e eu podia sentir o gosto metálico em minha boca.

A pressão dos dentes de Loker finalmente deixou o meu pescoço e, com um pouco de esforço, voltei a abrir meus olhos. A cena que se desdobrava à minha frente estava turva, borrada, diria até dupla, mas mesmo assim eu pude discernir o que estava acontecendo naquele instante.

O Alfa do Bando da floresta estava encurralado contra a parede junto com seis de seus companheiros. Ele enfrentava três lobos usando um mancebo para mantê-los afastados de si e de seus companheiros que ainda restavam.

O Alfa do Bando das montanhas tentava atrair a atenção do maior número de lobos possível para si, dando assim a oportunidade para que seus companheiros fugissem pelas janelas quebradas. Ele estava se sacrificando corajosamente por seus companheiros, como um Alfa honrado que era.

Alguns poucos tiveram a sorte de conseguir fugir, mas outros foram interceptados antes mesmo de conseguir chegar às janelas, sendo soterrados por lobos vorazes que não perderam tempo em destroça-los.

Os berros mortais que montavam a sinfonia da morte eram de dar náusea.

Meus olhos procuraram por aqueles que me eram importantes. Eu rezava para que eles conseguissem escapar com vida desse abatedouro.

Não demorei muito para achar os membros do meu bando.

Nosso Alfa usava um atiçador de lareira para se defender, acertando vez ou outra os lobos que pulavam para cima de si. Mas novamente como em um filme de terror, os lobos atingidos pelo metal cortante apenas se levantavam e voltavam a atacar, ignorando até mesmo ferimentos fatais em seus corpos. Isso era assustador, parecia que não havia maneira de deter aqueles monstros que um dia foram humanos.

Eric, agora em sua forma de lobo, estava ao lado do nosso Alfa, rosnando para todos que ousassem tentar se aproximar de seu parceiro. Ele até atacava quando tinha a oportunidade, mas ambos estavam encurralados no centro da sala.

Scott usava uma cadeira para afastar um lobo cinzento de si, a cena lembrava a um clássico domador de leão no circo, quando este tipo de espetáculo ainda era permitido, só faltava um chicote em sua mão. Scott estava tendo sucesso em manter o animal longe de si até então, mas logo o lobo conseguiu segurar uma das pernas do assento com a boca, arrancando o objeto das mãos de Scott, que agora se via sem uma arma para se proteger.

Foi com horror que vi Scott ir ao chão com um lobo enorme sobre si, mordendo seu braço com ferocidade. O líquido vermelho respingando para todos os lados, enquanto o animal sacodia a cabeça com o braço de Scott ainda entre os dentes. O grito de dor de Scott fazia meu coração gelar.

Quis gritar por ele, mas me senti sem ar, me senti sufocar com algo que subia por minha garganta. O sangue quente jorrou fortemente de minha boca, tingindo a frente de minhas roupas e os braços do homem que ainda me mantinha como refém.

— Opa! Que bagunça... Você está tendo uma hemorragia interna, provavelmente é seu corpo lutando contra o que coloquei em seu organismo, mas não se preocupe, isso acontece com quase todos. — Loker tranquilizou-me de modo lascivo ao se assustar com o solavanco que meu corpo deu para expulsar o líquido vital, no entanto ele não demonstrou qualquer repulsa diante do sangue que sujava seus braços, ele parecia acostumado a se banhar nesse tipo de fluido.

Meu corpo termia em choque pela dor, parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento, mas eu não tinha tempo para isso agora, eu tinha que focar e me manter desperto para tentar ajudar os meus companheiros.

Meus olhos voltaram-se novamente para Scott, ele havia conseguido se livrar de seu atacante de alguma forma, porém agora ele estava muito ferido. Seu braço direito estava em farrapos, dava pra ver as tiras de carne vermelha penduradas junto do tecido de sua camisa.

Scott agora recuava para perto de nosso Alfa e de Eric. Seu sangue deixava um rastro no chão já sujo com os fluidos de nossos aliados e inimigos.

Steven apenas desviava dos ataques de David, o Detetive havia voltado a sua forma lupina e tentava morder Steven como se fosse um cão infectado pelo vírus da raiva. Eu não podia ouvir o que Steven dizia a ele, mas acho que ele estava tentando trazê-lo de volta de alguma forma.

Lucca ainda tentava chegar a mim, ou talvez ele só quisesse chegar até Loker para mata-lo, no entanto ele não estava tendo sucesso em seu avanço, já que a fila de lobos que havia entre nós só aumentava e a arma que ele tinha em mão era pouco eficaz, ele usava um pedaço de madeira que lembrava a uma perna de cadeira quebrada.

Dylan estava transformado em um majestoso lobo negro, ele era bem maior do que os lobos inimigos, se destacando assim na multidão, porém ele estava perdendo feio para eles. Talvez fosse pelo enorme número de inimigos que o atavam de todos os lados, ou talvez fosse porque ele não conseguia se concentrar na luta, já que seus olhos não desgrudavam de mim.

Eu ouvia seus ganidos desesperados, mas não sabia dizer se eram de dor pelas mordidas que rasgavam seus flancos e patas, ou... se eram por mim.

— Estava vendo, humano? A ruína do que antes era o seu Bando? Lindo não? Parece uma pintura antiga... talvez um pouco carregada demais no vermelho, mas ainda assim é belíssima. O massacre na sala vermelha... seria esse o nome que eu daria à obra. — Loker cochichou em meu ouvido, mas eu pouco liguei para o que ele dizia, eu não conseguia deixar de olhar o monte de Lobos que se acumulava sobre Dylan.

Meu corpo doía terrivelmente, eu nunca havia sentido uma dor tão desesperante assim em minha vida, porém isso não importava, minha mente estava colocando a dor em segundo plano, pois a cena diante dos meus olhos era mais desesperadora do que qualquer coisa que estivesse me afligindo no momento.

Dylan estava soterrado por um monte de lobos ferozes. Metade de nossos aliados estavam mortos no chão e a outra metade ou estava fugindo, ou estava encurralada, morrendo sem ter nem mesmo o direito de se defender à altura.

O corpo do Alfa da montanha jazia sem vida no chão gosmento de sangue e os berros dos seus companheiros de Bando eram ensurdecedores.

O Alfa da floresta havia desaparecido, talvez tenha conseguido se salvar, ou talvez tenha sido soterrado pelos corpos dos seus companheiros.

Nosso Alfa tentava segurar Scott com um braço, enquanto ainda usava o atiçador da lareira para manter os lobos afastados. Scott estava muito pálido, parecia estar prestes a desmaiar, ele se apoiava no Alfa como podia, mas já não conseguia ajudar. Em suas costas estava o Eric, que estava manco de uma pata dianteira, contudo ainda desferia mordidas naqueles que se aproximavam muito.

Steven também estava bastante ferido, haviam marcas de mordidas profundas em seu corpo sangrento, mas ele parecia não se importar com isso, ele seguia tentando trazer David de volta, mesmo que o outro apenas seguisse mordendo-o.

Lucca chutava alguns lobos para longe de si e avançava lentamente em nossa direção. Mais um pouco e ele poderia me salvar das garras de Loker, eu até sentia um pouco de esperança ao vê-lo tão perto, no entanto... meus olhos se desviaram na direção onde Dylan estava sendo rasgado por inúmeros lobos.

Desse jeito Dylan morreria.

— L-LUCCA... — Gritei para ele, atraindo sua atenção instantaneamente.

— SALVE-O... — Implorei indicando com o olhar o monte de lobos sobre o corpo desacordado de Dylan... Por favor, que ele esteja só desacordado.

Pela primeira vez Lucca olhou ao seu redor, como se saísse de um transe onde tudo que importava era chegar até nós. Seus olhos se arregalaram ao ver o que ocorria com Dylan, e então sua rota mudou, ele correu pra cima do monte de lobos, sem ligar para os riscos, sem ligar para a sua arma quase quebrada.

— Humano tolo... Não adianta nada Lucca salva-lo agora... Ninguém irá sair vivo dessa casa hoje à noite... Não dessa vez. — Loker riu em meu ouvido, seu hálito quente me dava náuseas.

— Vá se ferrar! — Rangi os dentes para Loker e ele explodiu em uma risada digna de um vilão de novela.

— Você tem coragem... vai ser uma ótima aquisição para o meu Bando. — Ele parecia contente, talvez já estivesse comemorando a vitória.

— Nunca vou fazer parte do seu Bando... Eu prefiro morrer! — Rangi os dentes para ele e tentei relutar para me soltar de seus braços, mas isso só acabou piorando a dor que eu estava sentido em minhas terminações nervosas.

— Não lute, será pior para você. — Ele advertiu com um sorriso divertido nos lábios.

O ignorei e voltei a assistir o horror que passava naquela sala. Não adiantava nada lutar com esse homem agora, ele não era importante.

Lucca chutava e brandia aquele pedaço de madeira contra os lobos que estavam em cima de Dylan, alguns saiam banhados de sangue daquele lugar e isso me fazia lacrimejar de medo pelo Dylan.

Pareceu levar uma eternidade, mas por fim Lucca conseguiu resgatar a massa sangrenta que era Dylan, ele o jogou por sobre o ombro e recuou para perto do restante de nosso Bando. Steven também havia recuado para o centro da sala, ele agora apenas mantinha David afastado com um pedaço de madeira qualquer.

O meu bando estava inteiro ali, com as costas voltadas para o centro, formando um circulo de resistência. Eles eram tudo que restavam agora, ou outros estavam mortos, parecia que Loker havia ordenado aos seus lobos que deixassem o principal por último.

— Pessoal... quero que saibam que os anos que passamos juntos foram... — Steven engasgou com as palavras, parecia prestes a desmanchar em lágrimas.

— Nós sabemos Steven... nós sabemos. — Lucca gemeu a resposta.

— Eric... eu te amo muito. Espero te encontrar na próxima vida. — O Alfa arfou cansando para o lobo exausto ao seu lado.

Eric ganiu como se estivesse chorando copiosamente.

— Foi bom conhecer os meus irmãos... d-desculpa ter sido um cabeça dura e... não ter aceitado vocês desde o início. — Scott quase sussurrou isso, ele estava sem forças pela perda de sangue.

— Não... — Solucei sem controle diante daquela despedida triste.

— É o fim... não há esperanças para eles agora. — Loker parecia se excitar com aquilo, seu olhar brilhava na direção dos irmãos feridos e prestes a perecer diante de tantos lobos.

Meu coração acelerou ao perceber que ele estava certo. Não tinha como eles vencerem aquilo, não sem armas, não sem a capacidade de revidar à altura.

Senti as lágrimas escorrerem por meu rosto e me cegar de vez, assim era melhor, eu não veria eles morrendo daquela forma horrível.

De repente eu ouvi o som de uma buzina desenfreada que vinha do lado de fora da casa. A luz forte de um farol invadiu a sala antes de uma enorme caminhonete de cabine dupla entrar na mesma, jogando pedados das portas duplas para todos os lados. O veículo derrapou de lado até o centro da sala e uma das portas traseira da cabine se abriu.

— VENHAM RÁPIDO! — Gritou Richard de dentro do veículo.

Lorenzo estava na direção e seguiam buzinando como se estivesse em um protesto, isso parecia manter os lobos afastados.

— Mas o que... — Loker rosnou tão surpreso quanto eu.

Hayato e Giovanni levantaram-se da caçamba, onde antes estavam agachados, protegidos dos destroços da porta da sala. Eles estenderam um braço para o alto, segurando fogos de artificio já acesos.

Quando os rojões dispararam pela sala ferozmente, eles quicaram desnorteadamente no teto e nas paredes, explodindo logo em seguida, criando um mar de faíscas multicoloridas que incendiou as cortinas e os sofás.

O estrondo dos fogos de artificio deixou os lobos inimigos desnorteados por um momento. Dando ao meu Bando a oportunidade de fugir.

Lucca não perdeu tempo e jogou o corpo desacordado de Dylan na caçamba, entrando logo em seguida na mesma para cuidar dele. Scott foi empurrado pelo Alfa para dentro da cabine, ele estava tão pálido e quieto que já devia ter desmaiado. O restante do bando não se moveu.

Os lobos inimigos estavam quase se recuperando dos estrondos, alguns balançavam a cabeça, tentando recobrar os sentidos. Logo os ataques voltariam, mas Eric, Steven e o Alfa ficaram parados, olhando na minha direção com angústia, eles não queriam me deixar pra trás.

— VÃO... VÃO... — Gritei em desespero quando os lobos começaram a se recuperar dos fogos de artifício.

— Não! — Loker rugiu atrás de mim, cobrindo minha boca com sua mão áspera.

Steven virou o rosto manchando de lágrimas, como se não quisesse me ver sendo abandonado, ele pulou para dentro da cabine, seguido pelo Alfa que ainda lançava uma olhar perdido na minha direção. Eric hesitou, ganindo para mim, tentando avançar na minha direção.

— SUBA ERIC! — O Alfa ordenou ao bater a porta da cabine. Eric hesitou novamente, olhando diretamente nos meus olhos.

— Vá — Eu falei com o olhar.

Eric ganiu mais alto, escondendo a cauda felpuda entre as pernas e baixando suas orelhas na cabeça, mas por fim ele pulou para a caçamba quando um lobo tentou morde-lo no pescoço.

A caminhonete acelerou, virou na direção da saída e disparou a toda velocidade, seguindo a estrada escura à sua frente.

— NÃO! NÃO... NÃO! DE NOVO NÃO! — Loker finalmente me soltou e correu até a saída, que agora estava destruída.

— O QUE ESTÃO ESPERANDO? VÃO ATRÁS DELES, AGORA! —Loker gritou tais ordens para seus lobos, os mesmo não hesitarem em seguir o que seu Alfa ordenava. Eles correram atrás do veículo mesmo estando bastante feridos. A sala estaria completamente vazia agora, se não fosse pelos corpos daqueles que não conseguiram fugir.

Sem forças eu fui ao chão, mas um peso enorme saiu do meu peito, meu Bando estava a salvo... Eles iam ficar bem... Eles ao menos iam ficar bem.

O fogo se alastrava dos sofás e das cortinas para o restante dos móveis, e pela velocidade que a chama lambia os materiais, logo a casa estaria ardendo como o inferno. Com um pouco de sorte eu arderia junto com a casa.

Sem forças para fugir, eu encolhi no chão, deixando a dor e o medo finalmente tomar conta de mim.

Eu havia sido deixado pra trás e só agora minha mente processava tal informação. Eu estava sozinho, sozinho nas garras de um louco, prestes a me transformar e morrer.

Agora que a adrenalina estava baixando e a coragem me deixando, o desespero começava a me atormentar. Eu não queria ter ficado pra trás, eu queria ter ido com eles... eu queria ao menos morrer nos braços do Dylan.

— PORRA! — Loker chutou um móvel com raiva, estilhaçando ele em mil lascas contra a parede em chamas.

Mesmo com dor e, mesmo com medo de estar sozinho, eu sorri... Eu ri da falha de Loker.

— Do que está rindo? — Loker virou-se na minha direção e marchou pra cima de mim com raiva, ignorando o fogo que agora rugia ao devorar as paredes de madeira.

— Você falhou de novo... Seus irmãos fugiram uma segunda vez. — Debochei dele do meu cantinho no chão.

Os olhos de Loker brilharam em fúria por um momento, mas logo sua expressão aliviou e ele começou a rir como o psicopata que era. O calor do fogo já me fazia suar, mas ele parecia nem mesmo sentir a queimação das labaredas.

— Do que você está rindo? — Foi a minha vez de questionar.

— Ah... Meu novo amigo, estou feliz que Dylan tenha saído vivo dessa. Agora vai ser mais interessante mata-lo, pois... irei usar você como arma para ceifar a vida dele e de seus companheiros. — Loker agachou-se para me pegar em seus braços novamente.

O peso das palavras dele me congelou por dentro, eu mal conseguia sentir o calor do fogo agora.

— Eu nunca irei machuca-los... estou torcendo para morrer na transformação. — Rosnei entre dentes para ele quando fui erguido do chão, sendo segurado como uma noiva.

— Não se preocupe com isso... Você não vai morrer, eu te garanto. Você vai viver para tirar a vida daqueles que ama. — A promessa dele me apavorou ao ponto de me fazer tremer, sinceramente eu preferia que ele tivesse dito que eu ia morrer em pura agonia.

— Não vai ser divertido? Qual será a expressão que eles farão ao terem seu adorado humano destroçando seus pescoços? — Loker sorriu com um brilho assustador em seus olhos. Ele marchou para fora da casa ardente sem se preocupar com os pedaços de madeira flamejante que despencavam do teto e quase nos acertavam.

Uma vez lá fora o ar frio da noite queimou ainda mais minha pele, fazendo o meu interior doer também.

Com passos lentos, Loker seguiu seu caminho pela floresta, me levando para o desconhecido e para algum lugar onde eu esperava ser a minha sepultura.

Olhei para trás uma última vez, para o lugar que foi meu verdadeiro lar em muito tempo. As memórias que tive ali eram preciosas e eu rezava para permanecer com elas durante minha metamorfose, eu rezava para que elas fossem fortes o suficiente para me impedir de ferir meu Bando... Minha família.

A casa queimava inteiramente agora, sendo consumida, acabando com tudo que havia ali dentro. Parecia até uma analogia para o que acontecia na minha vida agora. Tudo mudaria e, nessa história onde outros eram os protagonistas, eu voltaria como o vilão que um dia foi o amigo.


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Notas finais do capítulo:

Com a ajuda inesperada do Bando do Motel, Josh, Eric, Lucca, Steven, Dylan e Scott conseguiram fugir com vida, mas tiveram de abandonar alguém importante. Agora Ethan está do lado do inimigo e voltará com um lobo sem alma. Como eles reagirão a isso? Como enfrentarão alguém que um dia foi seu companheiro? Como Dylan ficará? Não percam no próximo capítulo.

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