- Alô.
- Oi. Onde você tá? Estou te esperando a horas!
- Me desculpa. Mil desculpas Ana. Eu estou meio enrolado por aqui.
- E não podia avisar? É exigir muito do seu tempo, pegar o celular e enviar uma mensagem? Estou aqui, feito besta te esperando.
- Eu sei, me desculpa por isso, mas um cliente muito importante...
- Todos os seus clientes são muito importantes Maicon! Todos eles são amigos de amigos, que direta ou indiretamente influenciam e são inestimáveis para o futuro da empresa. Eu já sei!
- Se sabe não deveria me cobrar tanto Ana Clara!
- Eu não cobro do Dr. Maicon Dantas. Longe de mim entrar nessa guerra, porque entre mim, e os seus importantíssimos clientes, eu perco feio e isso já está mais do que provado. Eu cobro, se bem que, cobrar nem é a palavra correta, na verdade, eu espero. Eu espero e ainda anseio é pelo Mike que a cinco anos atrás, fazia das 24horas do dia, 25, e com o único objetivo de está ao meu lado.
- Nós estamos casados agora, Ana! Por favor, não somos mais o um jovem casal, nutrindo sonhos, agora é real!
- Se fazer presente só era necessário na época do namoro?
- Não! Não, tem nada haver com isso. Não coloque palavras em minha boca Ana Clara. Eu to atolado de trabalho aqui, depois a gente se fala.
- Você sempre está.
- Passo as 20:00 para te levar pra jantar. Prometo!
- Não faça promessas que não vai cumprir Dr. Maicon Dantas.
Desliguei, antes mesmo de ouvir uma resposta para minha grosseria. Existe uma crise ao cincos anos? Se não existe, eu acabei de inventa-la. Alguns especialistas em relacionamento, na verdade quase todos, afirmam que a rotina é o grande vilão e a causa de muitos términos. Mas, que com amor e algumas parcelas de esforço, tudo pode ser resolvido. Eles só esquecem de afirmar, que sentimento não é moeda de troca.
(...)
Hoje, aquele sábio ditado de "Tudo no começo são flores" se faz uma realidade. Mas, claro que não foi sempre assim, nunca foi um fardo a ser carregado, cheio de desculpas e impercilhos. Era mágico! Sempre foi. Desde do primeiro momento, em que meus olhos se cruzaram com os dele naquele barzinho em frente à Universidade, eu o sentir em mim. Pode até parecer loucura, e devo conversar que por um certo momento eu também achei que fosse, mas o sentimento existiu de imediato e perdurou, se transformou e nós modificou.
O problema da modificação, é o rumo que ela toma. Cada ser é um ser. Cada um sabe do seu sentir e por mais que você conheça o outro, pertence a ele e somente a ele, o seu estar, e com o nosso relacionamento, não podia ser diferente. Nossos moldes se fizeram de formas opostas, mas no início incrivelmente se completavam. O tempo se fazia maior, as horas se prologavam, está ao lado do outro era uma prioridade sentida, não criavamos horários, não nos vestiamos de desculpas para mascarar as falhas e tudo só era.
" passou ai em 10 minutos, esteja pronta! Te amo hoje e sempre. "
O que aconteceu com o "sempre"? O que fizemos de errado? Será que existe o jeito certo? Não se pode prever o amanhã, não se aprende na escola como lidar com as adversidades, principalmente quando essas estão diretamente ligadas ao o afeto. Quem explica o amor? Quem sabe o porque do coração acelerar? Da voz falhar? Da garganta secar? Não existe explicação coerente, quando o assunto é amar, e nem para a súbita tendência a fechar os olhos para situações de desagrado. Um amor tão puro e fascinante não pode se desfazer assim, deve existir um jeito de recuperar o Mike que me trazia flores com a intenção de vê o meu sorriso, e não com o único propósito de me perdi, desculpas.
(...)
- Alô.
- Senhora Dantas? - Nunca me acostumei com esse "título", Caetano sempre soou mais bonito aos meus ouvidos, mas eu precisei me adaptar a ele, afinal casei com um Dantas.
- Sim.
- O Sr. Dantas me pediu para informa-lá sobre o jantar hoje. - Será que ele realmente acreditava que eu iria nesse jantar?
- Avise ao senhor Dantas que eu não iria. Obrigada. - Não seria mais um jantar em algum restaurante chique que me faria esquecer de todas as falhas. Certo, que a perfeição não existe e eu não posso exigi-la de ninguém, mas limites existem e eu já havia chegado no meu.
- Senhora, um momento. - Silêncio... - Ana Clara! Eu passo para te buscar as 20:00, te amo.
Ele só pode está brincando, e eu já posso ser coroada a trouxa do ano, Maicon tirou de mim toda a sanidade. Como eu me deixei chegar a esse ponto? Por que ele possuía um efeito assolador em mim? Será que eu estou sendo injusta? Comigo e com ele? Quantos questionamentos. Quantas incertezas em um único lugar. Chega, de dúvidas, nossa relação merece mais uma chance. Eu mereço, mais uma chance. E então decidi me arrumar e espera-ló.
(...)
O jantar me surpreendeu positivamente como a muito não fazia. Mike estava lá, era Mike e não Maicon. Era o mesmo cara que me olhava com um brilho encantador nos olhos, o que sorria torto e vitorioso ao falar alguma gracinha que me fizesse corar. Era o mesmo cara que dominava todas as piadas mais sem graça desse planeta, mas que contada por ele, se fazia a mais cômica possível, era ele que estava na minha frente, Mike estava de volta.. Pelo menos foi o que eu achei até metade do nosso jantar.
- Ana, vamos embora! Aconteceu um imprevisto e eu preciso ir encontrar um cliente. Vamos, que eu te deixarei em casa. - Tola! Ingênua! Boba! Mike poderia está de volta, mas sempre que o dever lhe chamasse o Dr. Maicon Dantas tomava forma e nada mais importava. Até quando eu me deixaria invadir por um relacionamento único?
- Ana, não fique assim. Nossa noite foi ótima, mas você precisa entender. - "Você precisa entender" Quem disse que preciso? Onde está escrito? Não preciso de nada. Se tem uma coisa que não preciso é entender. Até porque não há o que se explicar, sem explicação, sem entendimento. É uma rua sem saída.
- Vai ficar calada o caminho todo? - "O silêncio é um amigo que nunca abandona". Já dizia minha mãe e ela sempre têm razão, até mesmo quando não quer ter. Pra quer falar, se não adiantaria? Maicon possui o dom de só escutar aquilo que lhe convém, então é uma batalha perdida.
- Ana, fale alguma coisa, pelo amor de Deus. Eu odeio você no modo silencioso, eu sei que você tá chateada, me desculpa... - Cansei dessa palavra! Cansei de desculpar!
- Estou cansada!
- Estamos chegando meu amor, logo você descansa. - Uma de suas mãos saiu do volante e segurou na minha coxa exposta pelo vestido que subiu um pouco ao sentar. Silenciosamente aquela atitude me trouxe uma interpretação dominante, Mike parecia não se importar, mas sua força em minha pele gritava: "você é minha e eu não preciso me preocupar com isso". O que me fez sentir primeira vez aversão ao seu toque, sentir repulsa no lugar de prazer.
- Não falei de cansaço físico. É cansaço emocional. Cansada de uma relação fadada ao fracasso. Casada de lutar sozinha. Cansada de tentar. - Eu estava travando uma guerra interna e teria de lidar com isso.
- Ana, não diga isso. Meu amor, nossa relação...
- Não existe mais "nossa relação" a muito tempo Mike. - Era tão nítida a ausência que ele nem mais se esforçava, e quando tentava, desistia antes mesmo do segundo tempo da partida.
O caminho seguiu em absoluto silêncio e eu daria tudo para ouvir os seus pensamentos. Apesar de quer, se bem o conheço, apostaria que seus pensamentos estavam direcionados à como resolver o problema do seu importantíssimo cliente. Tudo nessa relação se resumia a isso, todo o tempo.
Chegamos em casa e ele entrou apressado em busca de alguns papéis, enquanto eu sentei na sala e tentei organizar os meus próprios pensamentos, mas era impossível. Tudo ali me levava a pensar no nosso fracasso emocional e isso me sufocava, então levantei, peguei a chaves do meu carro e antes mesmo de abrir a porta ele apareceu.
- Onde você vai? - Autoritário. Esse era o tom da sua voz. Mas ele não iria me impedir, não dessa vez.
- Acho que você tem problemas maiores para se preocupar, do que se importar para onde eu vou, ou deixo de ir.. Tenha uma boa noite Mike.
"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."