Justo e Sujo

By secretbitchh

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[Essa história não será continuada] Ela perdeu sua família para a guerra. Primeiro sua mãe, depois seu pai, e... More

Capítulo 00
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
NOVA FANFIC

Capítulo 3

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By secretbitchh

O salão estava lotado, cheio de figurões e outros políticos. Louisa e seu pai estavam a todo vapor cumprimentando pessoas e posando para fotos, das quais consegui me esquivar com êxito. Seguranças da Anvil estavam parados em lugares estratégicos, todos com escutas e altamente atentos.

O discurso de Stan começou e eu preferi ficar mais afastada ao invés de sentar em uma das mesas lotadas de pessoas que eu tinha visto desde que era criança. Alguns deles me cumprimentaram como oi e abraços, mas eu sentia que era tudo seguido pelo protocolo. Não havia verdade neles.

Eu estava de pé, perto de uma das saídas, ouvindo o discurso e quase ficando cega com os flashes das câmeras que tiravam fotos do Senador.

- As regulamentações que estou propondo não são para tirar certas armas de todas as pessoas, mas para tirar todas armas de certas pessoas - Stan continuou falando, mas eu não estava mais prestando atenção. Meus olhos estavam acompanhando o homem de terno que se movia como um gato por entre as pessoas.

Ele andou pelo salão livremente, mas sempre estrategicamente. Essa foi a primeira coisa que notei nele nessa noite - tirando a impecabilidade de seu terno caro e seu belo rosto. Ele não se moveu, ele rondou. Cada passo era calculado para a segurança, cada saudação analisada. Eu não sabia se era perigoso ou atraente. Talvez os dois. Com certeza os dois.

Segurei seu olhar quando ele me olhou, incapaz de desviar. Ele era uma bela visão, puta merda. Billy não combinava com ele - apesar de ser seu nome social, pelo visto - mas William lhe caia como uma luva. Fino e elegante, assim como ele.

Ele encarou isso como uma abertura e veio até mim. Meu estômago deu uma cambalhota nervosa e eu me xinguei por estar me sentindo como uma garotinha de quinze anos quando ele parou ao meu lado, próximo o bastante para que seu braço escovasse contra o meu quando ele ajeitou o nó impecável de sua gravata.

Tentei prestar atenção no discurso, mas ele estava bem ali ao meu lado, maravilhoso e perfeito, exalando um perfume divino. Eu não acreditava nesse negócio de atração fatal ou destinos cruzados, mas essa tensão na barriga que eu estava sentindo quando ele ficava perto de mim me desconcertou. Possivelmente pela minha falta de sexo.

- Confesso que dado ao tamanho dessa cidade, passei a acreditar no destino depois de hoje - sua voz rouca e aveludada tomou conta de mim sem nenhuma resistência, o que me fez perceber que eu gostava de ouvi-la. Que merda, Ivy.

- Eu costumo chamar esse tipo de coincidência de azar.

Os lábios dele esboçaram uma leve centelha de humor, mas, à parte isso, o seu rosto era perfeitamente sério.

- Uma ex-integrante da CIA com porte de arma permitido sendo parte da família de um Senador anti-armas? Que ironia - comentou roucamente, seus olhos varrendo o salão.

Eu ri pelo nariz, sabendo que ele deve ter se esforçado para saber dessa informação e mesmo sendo bizarro alguém perguntando sobre mim por aí, eu não liguei, afinal quase todos daqui sabiam disso.

- Você me investigou - constatei o óbvio. Ele riu e ajeitou a escuta em seu ouvido.

- Foi a informação que consegui nessa meia hora - ele jogou um olhar brincalhão, mas como sempre com aquela coisa a mais - Se eu não analisasse quem entra e sai daqui, não estaria fazendo meu trabalho.

Eu dei os ombros.

- É justo - concordei e a voz de Stan no microfone aumentou e algumas pessoas vibraram com o que ele disse - Se tivesse feito o serviço direito, saberia que meu porte não é pelo meu trabalho na CIA. Uma chefe de finanças não precisa atirar em ninguém - eu pisquei para ele, que sorriu, olhando para o chão, mas logo voltando para mim.

- Pode me contar mais sobre você hoje depois do evento, posso tentar te pagar aquela bebida que você recusou - sugeriu com aquele tom que faria qualquer mulher abaixar a calcinha. Inclusive você, meu cérebro completou.

- Você costuma flertar no seu horário de trabalho? Isso não é nada profissional, senhor Russo.

A forma divertida e tentadora que ele me olhou me fez ver na hora que minha resposta inteligente não foi tão inteligente assim.

- Então estamos flertando? Achei que só conversando.

Será que ele tinha uma resposta para tudo que eu dissesse?

- Não há nada de interessante na minha vida, pode poupar seu tempo.

A menos que goste de drama, quis acrescentar.

Um brilho triunfante e predatório surgiu em seus olhos.

- Porque não deixa eu decidir por mim mesmo?

Eu passei a mão nos cabelos, tentando me recompor e sair daquele olhar negro e pesado, mas ao mesmo tempo tentador. Um pequeno ruído, quase inaudível ecoou de sua escuta e ele a ajeitou com o rosto concentrado de quem ouvia.

- Ainda não terminamos essa conversa, Ivy - foi tudo o que ele disse antes de sair salão afora.

Oh, céus.

_

O salão havia esvaziado por completo praticamente, restando apenas o comitê do Senador, juntamente com os seguranças da Anvil. E Billy Russo, é claro.

- Você se importa se eu e Lou conversássemos com você agora? - Stan perguntou e eu concordei. Entramos em uma das salas que parecia uma de reuniões, com uma grande mesa de madeira e cadeiras ao redor.

- Nós precisamos dos seus serviços - Stan começou enquanto Lou mexia em sua bolsa - Estamos com um problema nas finanças da campanha.

Louisa me entregou uma pasta. Eu olhei esperando que completassem com qual era o problema. Ela suspirou pesadamente antes de começar.

- O que papai quer dizer é que tem alguém superfaturando os gastos da campanha. Não sabemos como, porque não somos especialistas e pensamos se você poderia dar uma olhada nas contas - Lou disse tudo de uma vez.

Eu coloquei a pasta sobre a mesa, sentei e a abri, encontrando gráficos e contas. Óbvio que eu não ia conseguir dar um parecer agora, mas só a ideia do escândalo que isso seria caso fosse verdade....

- Isso é algo sério. Vocês receberam esses recursos do governo e se estiverem declarando mais do que estão usando... isso é roubo - eu disse enquanto analisava as folhas da papelada da pasta.

- Por isso precisamos de você - Stan falou.

- Posso dar uma olhada - concordei quando fechei a pasta - Quem cuida disso?

Os dois se entre olharam, mas foi Louisa quem respondeu.

- Oliver. Ele não está aqui hoje, pegamos esse arquivo sem que ele saiba. Não queremos alarmar de qualquer forma. Se ele for culpado, vai querer fugir. Se for inocente vai nos processar por injúria. Queremos ter provas antes de qualquer coisa ser feita.

- Tudo bem, vou fazer o que puder.

Eu me levantei por que achei que havia acabado, mas Stan colocou a mão em meu ombro.

- Precisamos que isso fique em mais absoluto sigilo - ele pediu - Você é a única que confiamos para que nada vaze e prejudique a campanha.

- Você tem minha palavra.

- Peço desculpas, mas vou ter que pular o jantar, podemos marcar outro dia. Adoraria ouvir sobre seu último ano - ele disse, agora com um sorriso. Me faz uma pessoa ruim dizer que fiquei aliviada com isso?

- Ivy e eu vamos fazer algo sozinhas mesmo - Lou piscou para mim. Eu guardei a pasta dentro da bolsa e saímos.

Quando voltamos ao salão principal do hotel, avisei Billy com um de seus homens. Ele estava falando algo, o rosto sério e compenetrado quando percebeu que estávamos próximos, veio até nós.

- Felizmente, todos vivos - Stan saudou Billy, que assentiu levemente.

- Alguns de meus homens vão acompanhá-lo até sua casa e vou deixar outros com sua filha como cortesia até que ela faça o check-out - ele disse.

Os olhos de Stan vibraram quando ouviu isso. Até gente rica gosta de ganhar coisa de graça.

- Foi bom fazer negócios com você, senhor Russo, e entraremos em contato em breve - eles apertaram as mãos e Stan se despediu e saiu rapidamente junto com sua equipe.

Ficamos nós três e eu me mexi nervosamente pela presença dele tão próxima a mim. Lou nos olhou e eu fiquei ainda mais desconfortável com o sorrisinho que ela tinha no rosto.

- Sabe de uma coisa? Não vou ser uma boa companhia essa noite, estou exausta. Podemos marcar outro dia? - Louisa se lamentou. Eu entendi o que ela estava fazendo e queria matá-la. Pensei seriamente nisso - Você poderia levar a Ivy para casa? - perguntou para Billy - Ela está sem carro e não é seguro ir de táxi essa hora.

Eu queria arrancar a cabeça dela. Ela estava parecendo aquelas amigas chatas que ficavam empurrando homem para a amiga.

- Não é preciso, posso pegar um...

- Não vai ser problema nenhum - ele disse calmamente, com um esboço de sorriso percorrendo sua boca tentadora. Sua tranquilidade me deixava ainda mais nervosa.

- Ótimo. Boa noite, amiga - ela me deu um abraço - Vou beber um conhaque. É como leite com açúcar para me fazer dormir - ela saiu graciosamente em direção ao bar do hotel.

Vi Garret entrar por uma das portas e senti uma coisa ruim. Ele era irmão de Lou e sempre foi aquele tópico filho de homem rico que achava que podia ter tudo porque tinha dinheiro e era bonito. Nós tivemos algo quando eu ainda era uma adolescente e acabou quando eu descobri o que era amor próprio.

Ele era um machista escroto e eu fazia de tudo para não precisar sequer cumprimentá-lo. Acho que Billy notou, porque estreitou os olhos para mim, em seguida para Garret, que olhava diretamente para nós.

- Tudo bem, só vou pegar meu casaco lá em cima - avisei rapidamente e não esperei resposta dele, querendo sumir dali o mais rápido possível.

Quando o elevador chegou a cobertura, eu entrei no quarto e peguei meu casaco, olhando rapidamente no espelho cromado da sala, ajeitando os cabelos. A porta do quarto se abriu e meu estômago encolheu com com o reflexo da figura loura e alta que entrou. Garret.

Ele me olhou de cima a baixo e mesmo cheia de roupas, me senti nua.

- Quando vi que era você, quase não acreditei - ele disse casualmente enquanto tirava o pesado casaco que vestia.

- Garret - disse, me virando. Ele sorriu, fazendo o nó em meu estômago aumentar - Se soubesse que ia chegar, teria ido embora antes.

Ele só riu, como se eu tivesse o elogiado. Ele se serviu uma bebida, sem tirar os olhos de mim.

- Quando voltou do retiro?

Eu tinha nojo dele. Nojo de um dia ter tido contato com alguém tão baixo e sem empatia. Ele sabia que fui embora por causa da morte de David - não sabia exatamente como e porque David havia morrido - poucas pessoas sabiam, tudo foi abafado pelo Governo - mas mesmo assim ele fazia piada com isso.

Eu não respondi e quando fui em direção a porta, ele me bloqueou com seu corpo e deixou o copo em cima do aparador.

- Eu estou me perguntando como você pode ter ficado ainda mais gostosa - ele levou a mão para me tocar e eu a empurrei, mas no movimento ele segurou meu pulso.

- Me solta - rosnei, puxando meu pulso, mas ele não soltou. Ele riu, aproximando o rosto do meu.

- Qual é, Ivy. Você nunca foi difícil... pra mim.

- Algum problema? - outra voz ressoou e eu reconheci no mesmo momento. Billy. Aproveitei a distração e arranquei meu pulso do toque quando Garret virou para ver quem era.

- Não chamei a segurança - Garret disse com um sorriso debochado - Mas não, nenhum problema.

Billy fuzilou Garret com um olhar maciço.

- Não perguntei pra você - sua voz era baixa e tinha um aviso claro. Ele olhou para e eu me recompus a tempo de evitar uma discussão.

- Vamos? - eu toquei o braço de Billy e ele me olhou. Ele fez apenas um breve aceno e me conduziu para fora com a mão na base da minha coluna.

A descida no elevador foi um exercício de autocontrole. Engoli em seco, superando o nó que havia na minha garganta. Ele não disse uma palavra sobre o que aconteceu no quarto e eu agradeci por isso, esperando não ver Garret tão cedo.

Contive com sucesso minha cara de surpresa quando o manobrista parou na entrada do hotel com um carro que valia boas centenas de milhares de dólares. Preto e brilhando, parecia aqueles carros de filmes de mafiosos. Ele abriu a porta para mim num gesto cavalheiresco e não posso mentir que ele não ganhou alguns pontos com isso.

- Então, alguma sugestão de onde podemos ir? - ele perguntou enquanto dirigia pela avenida principal.

Eu não iria beber, estava nervosa com o que aconteceu e a bebida só ia me fazer falar o que eu não queria. Um restaurante, nunca. Isso não era um encontro. Tinha que ser em algum lugar perto, ficar em um carro com ele me deixava com sensações conflitantes entre meu corpo e meu cérebro.

- Tem um Food Truck perto da ponte do centro, eles fazem um ótimo cachorro quente - sugeri e só aí minha mente estalou que depois de um ano ele poderia não estar mais lá - Não tenho certeza se ainda está lá.

Esperei sua expressão blasé, mas nada veio. Ou ele fingia muito bem, ou não era um rico metido e enojadinho com comida.

- Tem sim, mas agora tem mais uns dez lá - comentou. Seus olhos assumiram uma expressão séria ao passear por mim. Seu rosto parecia emoldurado por seus cabelos negros impecáveis. Eu esbocei um sorriso e olhei para fora da janela, desviando dele.

Quando sentamos a mesa com a comida, meu estômago vibrou de felicidade. Eu praticamente gemi quando dei a primeira mordida.

- O cachorro quente da Europa não chega aos pés do de Nova York - comentei, já mais animada. Meu humor melhorava cem por cento quando comia.

- Tenho que concordar - ele pegou uma batatinha e comeu. Céus, ele era sexy até comendo?

- Você não parece o tipo de cara que come em Food Truck - fiz um gesto para seu terno - Armani não combina com catchup.

Ele estava vestindo um casaco grosso por cima do terno. Ele me olhou e então deu uma risadinha, a expressão sem aborrecimento.

- Não é educado tirar conclusões com base na roupa que uso - falou, já emendando outra pergunta - Quanto tempo passou fora? - perguntou antes de dar a primeira mordida no hambúrguer.

- Um ano.

- Trabalho?

- Também - concordei, já também emendando a próxima pergunta para que não desse tempo de ele perguntar o outro motivo da minha partida - Então, você era um militar?

Ele engoliu e limpou a boca antes de responder.

- Forças Especiais, Afeganistão.

Uau. Ele não era um mero soldado. Eu mordi a parte de dentro da minha bochecha quando aquela sensação chata de lembranças indesejadas me atropelou. A última missão do meu pai foi lá.

- Meu pai também serviu lá - disse na voz que jurei ter sido indiferente e uniforme. E morreu .

- Eu sei. Ele liderou minha unidade por algum tempo.

Por essa eu não esperava. Respirei fundo e bebi um gole do refrigerante gelado. Ele percebeu meu desconforto porque suas palavras seguintes foram de consolo.

- Seu pai era um grande homem. Morreu servindo...

- Não precisa - eu o cortei - Ele podia ser um grande homem lá, para você e os homens que comandava, mas ele e minha mãe sacrificaram a família por algo que os matou.

Eu parei, tive que parar. Não ia abrir meu coração e minhas memórias para um cara que conheci a o quê, três dias? Falar da minha família era uma ferida aberta que eu não queria cutucar. E parecia que ele, a avaliar pelo brilho estranho no olhar, também tinha memórias sombrias ativas dentro dele.

- A guerra deixa cicatrizes não apenas para quem luta nela.

Não era só eu que sofria. A vida era cruel e injusta para as pessoas, era uma realidade em que vivíamos; na melhor das situações, as pessoas podem se recuperar da dor de algo que aconteceu com elas. Às vezes, não podiam. Neste mundo, você tinha que ser capaz de se recuperar.
Recomeçar.

- Desculpe por isso. Eu não costumo ser nostálgica no primeiro encontro - quando notei, a palavra encontro já tinha saído da minha boca e ele tinha um sorriso no rosto.

- Eu não me importo. Gosto disso, você não usa máscaras - ele não forja uma falsa admiração quando diz isso.

- E você usa?

Ele sorriu de leve, como um menino travesso.

- É, um pouco.

- Está usando comigo, agora?

- Não - foi tão firme e em nenhum segundo ele desviou o olhar de mim.

- Estou confiando em você, William - eu bebi mais um gole do refrigerante. Ele riu e uma nuvem de fumaça saiu de sua boca pelo frio - Você tem uma empresa agora - eu disse e ele acenou com a cabeça - Como isso começou?

Não é todo mundo que volta da guerra, abre uma empresa e vira milionário.

- Eu comecei depois de deixar o exército - ele disse - Então, não, eu não sou o rico idiota que você pensa que eu sou - ele fez uma pausa quando viu meu olhar e respirou fundo - Tudo bem, eu sou um idiota, mas não nasci rico.

Eu ri um pouco por sua tentativa de deixar o clima leve de novo.

- Porque deixou a guerra?

É, eu tinha que perguntar isso. Ele olhou para além de mim por um tempo, como se a resposta estivesse ali.

- Você fica cansado de ver pessoas morrendo ao seu redor depois de um tempo - começou depois de uma pausa, e descansou os braços em cima da mesa, numa postura rígida que me era tão familiar ver meu pai fazendo quando falava sobre guerra - Você fica cansado da guerra, e... - ele parou - De qualquer forma, é isso. Então eu comecei a Anvil. Nós fazemos muitos negócios no exterior e eu quis voltar para Nova York e ter mais contratos no país.

- Nem preciso perguntar se está indo bem, você fisgou o Senador.

- É - ele sorriu para o elogio e meu celular tocou no bolso do casaco. Saco.

Não reconheci o número. Eu recusei e o coloquei no silencioso, o enfiando no bolso do casaco.

- Tem certeza que não tem ninguém te esperando em casa? - ele perguntou num tom provocativo.

Jesus. Meu celular tinha o talento de tocar nas horas mais inapropriadas.

- Não, e você? - não custava perguntar para ter certeza. A última coisa que eu queria era me envolver com alguém comprometido.

- Sou só responsável por mim mesmo - ele bebeu de seu refrigerante quando eu assenti para sua resposta - Não tem medo de ficar solitária?

Que tipo de pergunta era essa?

- Eu não sou solitária - não contive meu tom defensivo - E você?

Ele suspirou e olhou bem dentro dos meus olhos quando respondeu.

- Não nesse momento.

Foi minha vez de suspirar, o cara sabia como mexer com uma mulher. Mesmo sabendo que ele só estava flertando, eu tive vontade de conhecê-lo. Talvez porque ele aparentasse ser tão solitário quanto eu. A brisa fria afastou esses pensamentos tristes.

- Eu tenho dois sobrinhos, um menino e uma menina. Eles e minha cunhada... foi tudo o que restou da minha família - comentei para amenizar a conversa.

- Isso é bom... ter alguém para quem voltar.

O controle de seu tom de voz e a tristeza escondida em seu olhar me fizeram estremecer. Eu sabia que ele tinha um lado cruel; havia aprendido a identificar e evitar pessoas com esse aspecto sombrio no olhar. Mas meus alarmes não soaram para ele como deveriam - pelo contrário.

Assumi por esse comentário que ele não tinha ninguém para quem voltar. Me peguei imaginando como era voltar para casa depois de todas missões e meses fora e não encontrar ninguém esperando por ele, ninguém para perguntar como estava se sentindo, para abraçá-lo...

Se soldados com uma boa base familiar já surtavam quando voltavam para casa, imagina alguém sozinho?

E foi aí que eu percebi que havia achado algo para me identificar com ele. E isso me assustou.

Eu limpei a garganta e olhei para minha comida, desviando do homem que estava a alguns palmos de mim.

- Então, você pretende abrir seu próprio negócio ou... ? - ele não terminou. Eu dei os ombros, não tendo resposta porque não havia pensado nisso.

- Eu penso nos dois, mas por enquanto estou bem fazendo alguns trabalhos por fora.

- Sempre haverá emprego para alguém com a CIA no currículo - ele continuou a comer, como se fossemos conhecidos de anos. Ele era tão confiante e tão... natural.

A maioria dos homens que conheci não sabiam dosar a confiança e se tornavam arrogantes e repetitivos, mas ele não.

- Aquele cara... ele é um problema pra você? - ele perguntou e eu levantei meu olhar lentamente. Ele estava falando de Garret.

- Quem, Garret? - perguntei tentando esconder minha aversão só de seu nome sair da minha boca - Não.

Garret era aquele tipo de homem que só era macho com alguém mais fraco. Eu não tinha medo dele ou qualquer coisa, era só não ficar perto.

- Olha só... obrigado por ter intervindo, mas não precisava. Não quero que você arrume um problema que dificulte sua relação com o Senador - disse. Eu sabia bem como Garret era uma cobra. Ele me olhou estreitando os olhos, claramente não acreditando, mas assentiu.

O resto da conversa foi amena e não profunda como quando sentamos aqui. A chuva que despencou de repente nos fez ir embora e quando vi, já estávamos parados em frente ao meu prédio, comigo tremendo de frio e arrumando os cabelos molhados pela chuva enquanto ele ainda parecia um deus. Eu olhei para ele e lambi os lábios, nervosa.

- Posso ter seu número agora? - ele disse num tom brincalhão. Ele me entregou o celular e eu rapidamente digitei o número e o devolvi.

Ele pegou o celular e num gesto habilidoso, segurou minha mão. Sua pele era quente e a suavidade como ele a segurava me balançou.

Ele guardou o celular e levou a mão agora livre até à minha cintura, ao mesmo tempo que baixava também a cabeça até roçar os lábios no canto da minha boca. Seu cheiro, a aspereza de sua barba, o calor que sua pele emanava me deixavam zonza.

- William... - eu sussurrei, esquivando a tempo de seus lábios tomarem os meus.

- Sim? - perguntou ele em tom brincalhão. Tive que deter minha vontade de mergulhar as mãos em seus cabelos negros.

- Boa noite - me afastei e deixei minha mão deslizar da dele, admirando o brilho que cobria suas íris escuras. Ele me jogou um sorriso e eu entrei no prédio, dando graças a Deus por estar de costas e ele não conseguir ver minha cara de boba.

Depois de um banho quente, deitei na minha cama e fechei os olhos. O dia de hoje foi grande, coisa demais para digerir de uma vez só. Não era à toa que eu estava me sentindo tão perdida. Mas estranhamente contente.

A imagem dele sorrindo invadiu minha mente. Ele era tudo o que eu queria e não queria ao mesmo tempo. Era bonito, gentil e engraçado; mas era um soldado. Não em atuação, mas ainda era. Não havia perdido aquela sede, tanto que abriu uma empresa que tinha a mesma função de seus tempos na guerra. Meu pai não estaria feliz, perdi as contas de quantas vezes ele disse que eu não devia me envolver com nenhum militar ''O final nunca é feliz, veja eu e sua mãe. Não quero te ver triste.".

Se você tivesse voltado a tempo, poderia me cobrar algo, pai.

Meu celular vibrou em cima do criado mudo e eu o peguei, desbloqueando e abrindo a mensagem de um número desconhecido.

Tenha bons sonhos.

W.

Senti quele frio na barriga e sorri, logo comprimindo os lábios em repreensão a mim mesma. É só uma mensagem, garota, não um pedido de casamento, não seja estúpida. Meu cérebro gritou e eu dei razão. Eu sequer o beijei ainda. Porque não quis, meu subconsciente gritou de também.

Gemi em frustração e joguei o celular ao meu lado, mas o sorriso ainda estava em meus lábios quando fechei os olhos.


No próximo capítulo o Frank vai dar as caras, yeah!!

Tô mt animada e surtando pela quantidade de comentários no primeiro capítulo!! Vcs são demais!!

Beijos e até o próximo ❤

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