A cortesã do rei ( Degustação)

By autorajessicamacedo

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Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Obrigada!

Capítulo 7

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By autorajessicamacedo

Os guardas jogaram Aston para cima. O homem pensou que poderia tocar o alto teto do salão. Nunca recebeu tantas salvas. Embora possuísse um grande sorriso no rosto, estava incomodado. Não compreendia como alguém poderia entregar a ele os méritos por tal grande feito. Por que o verdadeiro responsável por pegar o assassino não se reportou direto ao rei? Ao invés disso, deixou uma carta dando todas as orientações de onde encontrar os corpos a um simples guarda.

- Como se sente sendo um herói? – Um colega o cumprimentou com um tapinha nas costas.

Aston fez um sinal para aqueles que o carregavam o colocassem no chão.

- Estou feliz, pois as damas do castelo tem de volta a sua liberdade.

- Ah, quanta humildade. Suponho que não a manterá muito tempo quando for promovido.

Aston abriu um sorriso amarelo. Se sentiu incomodado por não merecer todo aquele crédito. Contudo entendeu que quem lhe deu a dica provavelmente tinha seus motivos para não querer tal atenção. Apenas agradeceu em silêncio.

- Qual o motivo de toda essa festa? – Peder cruzou os braços ao chegar à porta do salão.

- Acho que o guarda encontrou o culpado pelos assassinatos das mulheres. – Niels saiu do meio da multidão, tocando as pernas e tomou um bom gole de cerveja.

- Bom saber. E quem era?

- Um dos que ajudavam na cozinha.

- Fico feliz em saber que a segurança voltou a esse castelo.

- Vamos comemorar, Peder! – Niels o puxou pelos braços.

- Talvez em outra hora. – O lorde Oxe se esquivou. Não estava disposto a começar a bebedeira logo pela manhã.

Balançou a cabeça em negativa. Um simples plebeu ajudante de cozinha causar todo esse reboliço? Riu ao pensar que Catherine havia avisado Peder. O nobre sabia que as vezes costumava ser cruel com as mulheres, mas jamais as machucaria fisicamente.

Deu às costas para o salão. Iria cuidar de assuntos mais importantes é que lhe renderiam mais frutos do que uma bebedeira de comemoração, como impedir que Érico se casasse com a princesa Christina, assim ganhando direito à reclamar o trono da Dinamarca.

- Catherine, coloque esse vestido para mim. Quero ver como caí em um corpo real e fazer os últimos os ajustes.

- Não seria melhor que a própria filha do duque o experimentasse? – Catherine foi para trás do biombo e começou a se despir.

- Quer me ajudar ou não?

- Está bem, Merriam! Já estou vestindo.

- Estou tão feliz por esse bárbaro ter sido pego. Por Deus! Quantas mulheres ele deve ter matado?

- Foram muitas. – Catherine se encolheu atrás do biombo para esconder seus olhos tristes.

Pobre, Diana...

- Venha, deixe-me ver o vestido em seu belo corpo.

Catherine saiu de trás do biombo ajeitando as amarras do vestido em um tom de abóbora. Merriam foi até ela e jogou os cabelos negros para trás a fim de ver melhor o vestido.

Estarrecida, a condessa parou com as mãos no ar. Seus olhos estavam arregalados e enormes como nunca e a boca aberta.

- Catherine, seu pescoço... Esses machucados roxos. Por acaso o rei... – Ela engoliu em seco.

A cortesã passou a mão pelo pescoço e os sentiu doloridos. As imagens de seu quase estrangulamento passaram por sua mente e a fizeram tremer. Era difícil descobrir de onde tirou forças para sobreviver.

- Não. Não, Merriam! O rei nada tem haver com isso. – Ela balançava as mãos de um lado para o outro, beirando a histeria. – Ele não pode ver isso.

- Querida, acalme-se. – A condessa a segurou pelos pulsos e fitou Catherine profundamente, fazendo-a parar de se mover. – Diga-me o que aconteceu.

- Não sei se posso.

- Achei que confiasse em mim.

- Eu confio. – Catherine não tinha tanta certeza de suas palavras.

- Então quem machucou seu pescoço?

A cortesã engoliu em seco.

- O homem que estava matando as mulheres.

Foi a vez de Merriam ficar pálida e sem voz. O brilho comum nos olhos da mulher desapareceu.

- Tem certeza, querida? Mas o guarda não pegou o homem.

- Não exatamente. – Tentou se esquivar, mas percebeu que havia se atrapalhado.

- Seja direta, Catherine. Agora me deixou assustada, menina!

Merriam a segurou pelos ombros e levou até um banco perto da janela. Não havia sol naquela manhã, mas o clima nublado era agradável.

- Ontem eu ouvi os gritos de Diana e por impulso segui até encontrar o homem. Para salvar minha criada, eu lutei contra o sujeito, ele me sufocou. Pensei que não fosse sobreviver, mas lutei com toda a força que tinha. Até que ele morresse. – Ela contou uma meia verdade. Mas nem Merriam ou qualquer outro acreditaria se ela contasse que fora guiada pelo espírito de uma das damas mortas.

- Se matou o homem. Então, por que todos estão achando que é o guarda?

- Não queria ter me explicar, menos ainda expor Diana. Ela está devastada com tudo o que aconteceu.

- Compreendo. Preferiu contar ao guarda.

- Mandei uma carta anônima.

Merriam riu.

- Só mesmo, minha heroína. Queria ver só a cara das outras damas quando soubessem quem foi que as salvou.

- Merriam, não! Elas não podem saber. Por Diana.

- Eu sei. – A Condessa deu de ombros. – Mas nada me custa apenas imaginar.

Catherine respirou aliviada.

- Precisamos dar um jeito nesses machucados. Imagine como reagirá o rei se ver essas marcas em sua pele macia. Sei bem o quanto temperamental nosso soberano pode ser.

- Eu nem tinha pensado nisso.

- Pois eu pensei. O curandeiro talvez possa ajudá-la com isso.

- Nostradamus? Não sei se devo contar isso a mais alguém.

- Até onde sei ele é um grande amigo seu. Prefere guardar esse segredo ou perder a cabeça caso o rei desconfie que possui outros amantes além dele.

Catherine engoliu em seco e estremeceu com um lampejo de memória que a fez recordar do seu encontro noturno com Peder Oxe. Merriam estava certa, Frederick não podia saber.

- Vou até Nostradamus!

- Não sem antes me devolver o vestido.

- Já estava me esquecendo.

Catherine colocou de volta seu vestido vermelho e saiu a passos rápidos. Atravessou as escadas e corredores até a área isolada onde o curandeiro ficava. Cobria da melhor forma possível o pescoço com os cabelos, para que mais ninguém visse as marcas.

Deu sou toques urgentes na porta. Assim que o velhote abriu, entrou quase empurrando-o.

- Qual o motivo do afobamento, menina? – ele coçou a cabeça coberta por poucos fios brancos.

- Preciso de sua ajuda. – Catherine tirou os cabelos do pescoço.

Nostradamus arregalou os olhos e ficou boquiaberto.

- Por tudo que há de sagrado. O que aconteceu?

Ela respirou fundo e sentou no banco bambo atrás da porta. Para ele contou toda a verdade, as aparições das vítimas e o embate com o assassino.

- Diana está bem? – O velhote deu uns passos para trás e se apoiou na úmida e bolorenta mesa de madeira.

- Assustada, mas eu acho que sim.

- Pobre menina. Ainda bem que conseguiu salvá-la.

- Acha que consegue fazer essas marcas em meu pescoço desaparecerem? Tenho medo do que possa acontecer se o rei as vir.

- Sim. Tenho uma pomada em algum lugar. – ele começou a mexer na mesa, jogando poeira e vídeos para todo lado.

De dentro de um pequeno baú tirou penas e galhos secos, algumas ervas, mais vidrinhos até encontrar um pote bem pequeno.

- Aqui, querida. – Ele o entregou a Catherine. – Passe no pescoço, daqui a alguns minutos a vermelhidão vai desaparecer.

- Obrigada, Nostradamus! – Ela o abraçou.

Ele ficou envergonha e sem graça com o afeto repentino. A verdade é que ele era ainda mais solitário do que Catherine, ninguém queria ver ou falar com o velho louco curandeiro, queriam os médicos e a ciência.

Nostradamus sorriu e afagou os cabelos negros dela.

- Vou separar algumas coisas para que leve até Diana. Para tratar os ferimentos dela também.

- Ah, Nostradamus o que seria de mim sem tê-lo como amigo.

- A mulher guerreira e determinada que sempre foi.

- Mas sem um bom amigo.

- Sim. Agora passe a pomada.

Catherine jogou os cabelos para trás, pegou uma boa quantia da substância pastosa de cor perolada e a passou pelo pesco. Sentiu arder quando tocou os ferimentos e se encolheu. Pela expressão serena no rosto de Nostradamus, era esperado tal reação. Mas, em seguida, ela começou a sentir uma suave recrescência e a dor passou.

- Os machucados sumiram? – Ela jogou a cabeça para trás, deixando o pescoço mais visível.

- Ainda não, vai levar um pouco mais de tempo. Isso não é mágica, Catherine.

- Posso esperar aqui?

Ela voltou a se sentar no banco antes de qualquer resposta. Nostradamus apenas assentiu.

- Há quanto tempo sabe que seu dom é esse, curar as pessoas? – Olhando para a janela parcialmente aberta, ela divagava.

- Desde sempre.

- Como assim desde sempre?

- Não me lembro exatamente quando nasci, mas minha vida toda sempre foi dedicada ao ajudar os que precisavam de mim.

Entendi.

Alguém bateu na porta.

- Quem é? – Nostradamus tateou a mesa em busca de algo para atirar, como se fosse uma guerra.

- Sou um dos criados do rei. – o homem abriu a porta para se certificar que tudo estava em ordem. Ou seja, Catherine não estava nos braços de outro homem. – O rei me pediu para avisá-la sobre o baile desta noite e ele faz questão de vê-la lá.

- Baile?

- Sim, milady.

- Baile de quê?

- Em homenagem ao fim das mortes no castelo.

- Entendi. Vou me arrumar. – Ela se levantou. – Nos vemos depois, Nostradamus. – Pegou as coisa que o curandeiro havia separado para a sua criada e deixou os aposentos do curandeiro, seguida de perto pelo criado do rei.

Para Catherine não era novidade alguma que Frederick vigiava cada um de seus passos. No fundo, para as mulheres, o seu livre arbítrio não era não era muito distinto do de um escravo

Ao chegar em seu quarto, viu Diana olhando pela janela fitando o horizonte e para lugar nenhum.

- Trouxe isso de Nostradamus para cuidar de seus ferimentos. Espero que seja útil. – coloquei sobre a cama.

- Obrigada, milady. Ela nem me olhou.

- Ainda preocupada? - Catherine se aproximou no parapeito ao lado da criada e a encarou.

- Tenho medo de nunca ser desposada por alguém.

- Pense que apenas tem medo. Eu tenho certeza. – Catherine fez careta e tentou ser divertida, mas não conseguiu.

- Ao menos o rei lhe dá tudo.

- Mas um olhada para um lorde bem apessoado e eu perco a cabeça.

Diana riu. Uma risada carregada de tristeza que se converteu em uma careta de choro. Ela cobriu o rosto com as duas mãos para esconder as lágrimas.

Catherine a abraçou.

- Tudo ficará bem. Vou pedir ao rei que lhe arrume um marido.

- Faria isso por mim?

- Nada posso prometer, entretanto nada me custa pedir.

- Muito obrigada, milady.

Catherine sorriu.

- Será que poderia ajudar-me a me preocupar para o baile de hoje a noite.

- Deseja um banho?

- Sim, por favor. Com saia e essências.

- Estará pronto em breve.

Diana abriu um sorriso discreto e Catherine se alegrou com ele. Pediria ao rei um casamento decente para a moça e ela não teria mais o que temer.

Sentou-se aos pés da cama e observou a luz do sol cada vez mais branda entrar pela janela. Permitiu que sua mente divagasse e não tardou a se arrepender. O calafrio que percorreu seu corpo ao se lembrar do lorde Oxe deveria ser um aviso, entretanto apenas atiçou sua memória. Imagens do encontro na calada da noite a fizeram tremer. Não deveria de forma alguma estar pensando nisso. Porém, quanto mais tentava evitar as pecaminosas lembranças, mais fortes elas retornavam. Carregavam consigo aquela estranha e intensa sensação que a levou do céu ao inferno em segundos.

- Milady, está tudo bem? – Diana parou ao lado de Catherine ao ver que ela suspirava apertando a saia do vestido.

- Sim! – Catherine largou a saia e retomou a compostura. – Meu banho está pronto?

- Da forma como gosta.

- Obrigada!

Catherine se apressou em ir até a tina. Estava envergonhada e com um estranho calor. Ao despir-se, esfregou uma perna na outra, tentando aplacar o desejo que lembrar de Peder provocou ali.

Não era tão religiosa. Questionou a fé das freiras muitas vezes. Porém, fez um pedido silencioso para se livrar daqueles malditos desejos.

Afundou-se por completo na água, molhando os cabelos negros. Permaneceu até não conseguir mais e a busca por ar a impelisse a emergir. Levantou de uma vez, espirrando água para todo lado. Ofegante, apertou as bordas de madeira da tina.

Quis gritar quando percebeu que seu corpo ainda ansiava por mais toques que Peder. Quando aquele bastardo deixaria a corte?

Catherine saiu da tina, secou-se e teve a ajuda de tinha para se vestir. Colocou o mesmo vestido perolado feito por Merriam para o baile de fim de inverno, Frederick queria vê-lo, assim como o colar que dera a cortesã.

- Milady, a barra da saia está um pouco rasgada. – Diana reparou enquanto ajeitava a peça no corpo curvilíneo de sua senhora.

Catherine engoliu em seco, lembrou-se do encontro com Peder e de o vestido ter se prendido em um dos arbustos do jardim. No desespero para sair de perto do lorde, acabou puxando a saia com força e não percebeu tê-la rasgado.

- Está muito perceptível? Frederick quer me ver com esse vestido.

- Posso esconder com alguns alfinetes.

- Que bom! – Catherine olhou para a criada e sorriu. – Obrigada.

Diana pegou alguns alfinetes dentro de um baú menor onde Catherine aguardava lenços e joias, e se curvou para prender o rasgado da saia.

- Pronto. Imperceptível! Tenha um bom baile.

- Não precisa esperar que eu retorne. Vá para junto de sua família.

- Obrigada, milady. – Diana se curvou brevemente e deixou o quarto.

Catherine caminhou até a janela e apoiou-se na superfície fria de pedra. A brisa fresca do início da noite, balançava levemente seus cabelos negros recém-lavados. Respirou fundo ao observar as estrelas que cobriam o céu naquela noite. Não gostava de bailes ou qualquer aparição pública em que as damas sempre a tornavam o centro das atenções, mas da maneira mais pejorativa possível. Sempre ouvia algo como: olhe! Aquela é a vagabunda do rei.

Embora os murmurinhos desrespeitosos às vezes a incomodassem, não eram eles que Catherine temia. Viu uma estrela cadente e fez um pedido: Que Peder não faça nada estúpido na frente do rei.

Ajeitou a pequena tiara de pérolas, jogou os cabelos ondulados para trás e segurou a barra do vestido. Esperava não ser decapitada pela manhã.

Quando Catherine chegou ao salão, até aqueles que dançavam pararam para observá-la. A beleza digna dos mais belos pintores, somada ao tom claro de suas vestes a fez brilhar como uma estrela. Seus passos pareciam lentos, ou talvez todos desejassem parar o momento ali para observá-la melhor.

Sophie apertou com força os braços do trono, cravando as unhas na madeira e cerrou os dentes ao ponto de ouvi-los ranger. A rainha não gostava de Catherine, nem de qualquer outra amante do rei, mas era obrigada a engoli-la, pois sim, Frederick podia ter quantas mulheres desejasse. Se nem o Vaticano se opunha antes as amantes de seus monarcas, o que dizer das lideranças protestantes que costumavam ser nobres subornados ao rei. Sophie era jovem demais para entender com exatidão como os jogos da corte funcionavam, mas no auge de seus quinze anos, tinha o bastante para sentir ciúmes da deslumbrante e mais velha mulher.

- Não vai me abandonar por ela hoje, não é? – Segurou a mão de Frederick sentado ao seu lado.

- O que está dizendo. – Ainda hipnotizado pela entrada de Catherine, ele nem olhou para a sua rainha.

- Não quero ser trocada pela sua amante. Não hoje, não em público.

Frederick ignorou o que foi dito por Sophie. Pouco se importava com a opinião dela.

- Sabia que esse vestido ia ficar lindo.

- Frederick, ouviu-me?

- Fique quieta!

Peder que estava em um canto do salão, sob a luz de um alto castiçal e conversava com Niels sobre a aquisição de um condado que ficava entre outros dois adquiridos recentemente.

- Do jeito que sua fortuna cresce, meu amigo, presumo que daqui a pouco expulse até Frederick da Dinâmica.

O lorde Oxe começou a rir, mas parou assim que viu Catherine. Lembrava bem daquele vestido. Com o esqueceria?

- É mesmo muito bela essa amante de Frederick. – Niels fechou logo a boca para não ficar de queixo caído.

- Sim ela é. – O sorriso nos lábios de Peder aumentou ainda mais quando ele se lembrou como era beijá-la.

- Talvez eu também deva arrumar para mim uma bela amante.

- Ainda nem conseguiu fazer herdeiros com sua esposa.

Niels arqueou as sobrancelhas e fez uma careta.

- Como se tivesse muitos.

- Tenho onze irmãos mais novos para cuidar. Terei meus próprios herdeiros depois.

Por fim, Niels estava falando sozinho, pois Peder não mais o ouvia. Os olhos do lorde acompanharam Catherine atravessar o salão é ir até a mesa do banquete. A lady pegou uma uva com seus dedos delicados e levou até os grossos lábios, fechando-os ao redor da fruta e mordendo de vagar. A mente pecaminosa dele se inflou com os mais obscenos desejos.

Niels só se deu conta de que estava falando para o nada quando viu Peder caminhar até a mesa e pegar uma taça de vinho.

- Bastardo! Nem para pedir licença.

- Encontre-me no mesmo lugar do jardim quando os nobres já estiverem bêbados demais para notar a nossa falta.

Catherine se manteve imóvel como uma estátua e buscou não demonstrar seu susto ao ouvir a voz de Peder surgida do nada. Olhou para o lado discretamente enquanto pegava um pedaço do faisão e viu Peder se servir com vinho.

Os dois estavam em uma distância tolerável e pareciam apenas duas pessoas se servindo.

- Eu não vou.

- Sei que mudará de ideia.

Maldito convencido!

Catherine pegou seu vinho e se afastou sem dizer mais nada. Ela se aproximou de uma das janelas, bebericando seu vinho, observava os cristais do lustre como uma desculpa para não olhar para os nobres que a rodeavam.

A condessa de Varde ficou olhando a cortesã, inconformada com o quanto o rei poderia oferecer a uma mulher sem sangue nobre. Aquela meretriz não deveria estar ali junto as mulheres de bom nome.

Frederick se levantou do trono e chamou a atenção de todos. A coroa feita apenas de ouro maciço, resplandecia em sua cabeça e evidenciava seu poder como soberano.

Sophie também se levantou.

- Meus nobres, esse baile é em comemoração ao fim de um período sombrio nessa corte. Não sei se todos sabem, mas um jovem e bravo homem de minha guarda real encontrou e matou o responsável pelos assassinatos e devolveu a paz a esse castelo. Gostaria de parabenizá-lo por sua bravura e dar-lhe o título de cavaleiro.

Aston arregalou os olhos e deu um passo acanhado para trás. Não esperava por tal repercussão.

- Venha até aqui, jovem. – Frederick fez um gesto com a mão.

- Não sei se mereço, Vossa Graça.

- Não seja modesto. Quem recusaria um título?

- Desculpe-me, meu rei, estou muito honrado.

Um dos criados de Frederick se aproximou carregando uma espada e o entregou ao rei.

- Ajoelhe-se.

Aston olhou para o soberano ao colocar-se de joelhos. Viu o brilho nos olhos do rei e o sorriso no rosto da menina rainha. Não merecia todo o crédito, nem fora ele o responsável por desvendar os assassinatos. Seja lá quem entregou a carta a ele, teria sua gratidão eterna.

- Eu o nomeio Sr. Aston, cavalheiro da guarda real.

Aston se levantou sorrindo.

- Vamos comemorar meus nobres. – Frederick ergueu a taça de vinho e a música começou a tocar.

Catherine ficou observando o novo cavalheiro. Havia feito a alegria de um homem e não precisara revelar seus dons a ninguém. Fora uma boa decisão.

- As horas deveriam ser suas.

A cortesã olhou para o lado e viu Merriam com um cacho de uvas na mão, mordiscando enquanto olhava para o rei como uma cobra prestes a dar o bote de tanto que o devorava. Catherine riu da amiga.

- Fique calada! Ninguém mais saberá do que aconteceu comigo. Deixe o guarda receber os créditos, ele me parece um bom homem.

- É muito pouco ambiciosa para a posição que ocupa nessa corte.

- O conforto e o sossego me bastam.

Merriam balançou a cabeça em negativa antes de colocar outra uva na boca.

- Olhe só para aquilo. Deplorável! – Ela bufou ao apontar com o queixo para o próprio marido.

O conde era uns vinte anos mais velho do que a esposa, e já quase não se aguentava de pé. Trocava as pernas e teve que ser auxiliado por alguns nobres até se sentar em uma cadeira escorada na parede.

- Não seja tão má. Ele já foi um bom homem.

- Ah, sim! Tivemos juntos cinco filhos. Mas hoje ele mal lembra os nomes. Quanto mais fazer qualquer outro.

- Talvez precise de um amante. – Catherine se apoiou no ombro de Merriam para dizer em seu ouvido. – Que conde não me ouça.

- Sim. Eu preciso mesmo. – Gargalhou. – O lorde Oxe seria um ótimo candidato.

Catherine seguiu os olhos de Merriam até o outro lado do salão. Teve a sensação de que a lua que entrava pela janela fazia o brilhar levemente. Ou talvez fosse sua cabeça revelando o maldito entre a multidão como um holofote.

- Ele tem uma boca que eu adoraria beijar.

- Merriam!

- Ninguém está nos ouvindo. - Ela deu de ombros. – Mas diga-me, ele não é belo?

- Sim, muito.

Ao se dar conta, Catherine já estava reparando mais no lorde do que deveria. Os ombros largos, as mãos fortes os olhos verdes profundos e penetrantes, os cabelos loiros que cintilavam como ouro e a arrogância de quem parecia moldar o mundo ao seu dispor.

Como ele podia ter tanta audácia? Cercado dos outros conselheiros do rei, rindo com o soberano. Deveria respeitar os limites de Frederick para o bem da cortesã.

- Catherine! Estou lhe chamando.

Ela balançou a cabeça e voltou a encarar Merriam.

- Pelo visto ele não tem esse efeito apenas comigo. – A condessa riu.

- Eu não... Não! – Catherine se atrapalhou com as palavras temendo entregar algo sobre a estranha relação que estava tendo com Peder Oxe.

- Não precisa se explicar. Esse homem é um pecado.

- Tem razão.

- Não que o rei perca para ele. Creio que esteja bem servida com nosso jovem sobrerano.

- Merriam, por favor, ocupe sua boca com algumas uvas.

A condessa grunhi, mas não disse coisa alguma.

- Merriam? – O conde chamou e ela revirou os olhos.

- O que foi, querido? – O tom áspero contratou com suas palavras.

- Traga para mim um pouco de vinho e fique ao meu lado como uma mulher deve fazer.

A condessa revirou os olho e fez uma careta.

- Quando ele vai entender que não sou uma criada? Parece mais estúpido a cada dia que envelhece.

Catherine cobriu a boca com a mão para conter o riso.

- Trate de engravidar do rei. Aproveite enquanto ainda é nova. Dê a ele o primeiro filho.

- Um bastardo?

- O menino nunca será rei, mas ganhará terras e provavelmente um título. O bastante para que tenha uma boa vida quando seu corpo não for mais do agrado de Frederick.

- Merriam!

A condessa respirou fundo e ajeitou seu vestido.

- Estou indo, querido. – Deu um sorriso forçado para o marido. – Pense no que eu disse, Catherine.

Fazia de tudo para evitar um bastardo. Não queria dar ao filho uma vida aquém da sociedade. Sabia suportar os olhares tortos nos corredores, porém tinha dúvidas se uma criança conseguiria.

Ficou observando os nobres dançarem no centro do salão e Frederick se juntar a eles na companhia da rainha. Quando estava farta, caminhou até um canto e se apoiou em uma pilastra. Sabia que o rei adorava mostrá-la em eventos públicos, exibi-la como uma joia. E era assim que se sentia, algo para ser apenas olhado, pois fora Merriam, ninguém ousava se aproximar. A não ser... Peder.

Olhou para ele e o viu sorrir em sua direção. Como se fizesse um sinal com a cabeça, ele olhou para fora, deixou a taça de vinho em um canto e saiu do salão. Foi um sinal claro para Catherine.

Ela apertou as costas contra a parede ao sentir um aperto estranho no peito em um misto de medo e ansiedade. Não deveria ir atrás dele, mas ansiou por isso. Sabia que se fosse, tudo ia terminar em um beijo ou algo pior.

Suas pernas lhe pareceram bem desobedientes quando se viu caminhando até o jardim. As mãos, suando frio, seguravam a barra do vestido. Não, Catherine!

- Sabia que viria.

Ela encontrou Peder de pé ao lado de um arbusto. De braços cruzados, o sorriso malicioso em seus lábios era revelado pela luz da lua.

- Serei decapitada por sua causa.

- Não diga bobagem. Frederick não mataria algo tão belo.

- Pessoas morreram por menos, lorde Oxe.

- Então, o que acha de irmos aos meus aposentos. Podemos ter uma privacidade maior.

- Eu não ousaria. – Catherine deu um passo para trás e quase tropeçou em uma pedra no chão.

- Então não me importo de continuarmos aqui mesmo. – Peder foi até ela e a ergueu pelos braços tirando-a do ar.

Catherine gemeu quando suas costas bateram contra a parede externa do castelo. Seu corpo estremeceu e ela soube que não era pela superfície fria.

- Peder não devemos... – Tentou protestar, mas já estava derretida nos braços dele.

- Se não quisesse não teria vindo. Suas palavras não condizem com seus atos, lady Catherine.

- Está me enlouquecendo, lorde Oxe.

- É exatamente isso que quero fazer. – Soprou um ar quente contra a orelha dela e a sentiu estremecer contra o seu peito.

Peder ainda a segurava firme pelos braços ao descer os lábios até a clavícula e mordiscar de leve a base do pescoço. Catherine sentiu um calafrio varrendo-a e acendendo a chama em seu interior.

Não deveria estar ali, repetiu a si mesma ao notar que não escaparia do enlace dos braços do lorde.

- O que quer comigo?

- Não preciso responder tal pergunta, pois sabe a resposta. – ele beijou a curva do seio exposta pelo decote.

- Lorde Oxe, isso é uma loucura.

Catherine sentiu os pelos de seus braços se arrepiarem quando a língua do homem passou pelo vale entre seus seios. Sim era uma deliciosa loucura.

- Diga-me que não quer? – Peder a provocou, soprando um ar quente que a fez se contorcer em seus braços.

- Que diabos de tentação quer ser para mim? – Ela fitou os olhos verdes tentando ao máximo não demonstrar seu estado de total rendição.

- A mais excitante e inebriante delas. – Ele a apertou pela cintura. As mãos grandes e fortes, de um homem já maduro e que sabia o que fazer estavam enlouquecendo Catherine.

- Se Frederick descobrir...

- Esqueça o rei.

- Como se eu pudesse.

– Vou lhe mostrar que pode.

Peder deslizou uma das mãos pelo lateral do corpo da cortesã até a base da nuca, onde ele segurou com força os cabelos negros. Com força e selvageria, puxou Catherine para si. Mordiscou o macio lábio vermelho antes de adentrar, sem pedir licença a boca da lady.

Catherine sentiu como se perder fosse um leão prestes a devorá-la. Dê certo modo o lorde Oxe era um predador que sempre conseguia o que desejava.

O beijo voraz dado pelo nobre tinha gosto de pecado e perigo que fazia o coração de Catherine disparar dentro do peito. Suas mãos tremiam e as pernas estavam bambas, mas Catherine não sabia se isso era devido ao medo de serem pegos ou a extrema excitação que Peder lhe provocava. A língua dele era a fita e curiosa, mas ela não era a única a explorar Catherine, pois as mãos apertavam da cintura aos seios sem pudor os comedimento algum.

Ela tomou liberdade para envolver o pescoço do nobre e passar os dedos pelos macios cabelos loiros. No mesmo tempo, sentia suas costas esfregarem contra o muro do castelo, entretanto, em momento passou por sua cabeça como poderia ficar o vestido.

Peder mordeu o lábio inferior de Catherine e puxou até estalar, arrancando dela um gemido. Com as mãos habilidosas, ele percorreu as dobras da seda perolada que compunha a saia do vestido dela, e começou a escorregá-la coxa a cima.

- Peder... – O protesto baixinho foi quase uma súplica.

- Não quer que eu faça isso? – Ele passou a ponta do dedo firme pela virilha da cortesã.

Catherine arqueou seu corpo contra o dele, esfregando seus seios contra o jerkin do nobre. Gemeu no ouvido dele e isso bastou como resposta.

Com um sorriso malicioso de quem havia ganhado um jogo sujo, Peder colocou uma das pernas dela em sua cintura usando o vestido dela é sua própria . Usou a saia para cobrir suas intenções libidinosas e deslizou um dedo até o meu das pernas de Catherine.

- O que está fazendo, milorde?

- Dando-lhe prazer.

Ela estava prestes a questioná-lo quando ele pressionou seu clitóris com o dedo e Catherine mordeu o ombro do homem para conter o seu gemido. Lembrou-se da língua dele ali e de quanto habilidoso o homem era. Foi se dissolvendo perante a ele a medida que o dedo de Peder se movia com pressão. Estava perdendo o juízo, a pouca seriedade foi se desfazendo a medida que o prazer crescia em seu ventre.

O nobre arrogante e prepotente sabia exatamente como dobrá-la e o maldito estava certo, Frederick jamais a fizera se sentir assim.

Catherine mordia os lábios para conter os gemidos de prazer e cravava as unhas nos ombros do lorde enquanto ele mantinha firmes e precisos os movimentos sobre o clitóris dela. Não demorou para que ela alcançasse o ápice com uma onda intensa que fez cada extremidade de seu corpo formigar.

Peder ouviu os gemidos mais intensos que denunciaram o orgasmo e soltou a perna e voltou a beijá-la. Estava excitado, louco para tê-la logo, mas existiam regras de seu próprio jogo que ele fazia questão de cumprir. Iria conduzir Catherine até a beira do precipício e fazer com que ela mesma queira se jogar.

Ele se afastou e deixou-a encarando-o com uma expressão de surpresa.

Catherine se apoiou no muro do castelo com o peito subindo e descendo rápido em meio às respiração descompassada. Mal sustentava as próprias pernas.

- O que fez comigo?

- Dei-lhe algo que Frederick certamente não dá, prazer. – Peder cruzou os braços com um largo sorriso malicioso.

- Até onde pode ir? – Ela mordiscou os lábios.

- Agora está interessada, Lady Catherine?

- Está enlouquecendo-me.

- Pelos seus gemidos não é algo que despreza.

- É bom... – As bochechas dela coraram ainda mais.

- Pode ser muito melhor. – Ele a segurou pelo queixo e a fez fitá-lo. – Encontre-me amanhã em meus aposentos que eu lhe mostrarei com é estar nos braços de um verdadeiro amante.

- Eu não posso ir. Tudo isso já foi longe demais... Se Frederick descobrir.

- Ele não irá. Vejo-lhe amanhã, lady Catherine. – Peder a beijou brevemente antes de deixar o jardim.

A lady o observou caminhar para longe até sumir por completo em meio às sombras da noite. Ela ainda permaneceu parada por longos minutos até retomar a ilusão do controle sobre si mesma.


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