Capítulo 2

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Oii, o que estão achando?
Deixem seus comentários e sugestões. Vou postar um capítulo por semana. Indiquem para os seus amigos é muito importante para que eu não pare de postar.

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Catherine ajeitou a máscara branca no rosto ao descer os degraus que a levam até o salão principal do palácio de Antvorskov. O vestido que usava era feito de seda e veludo, bordado com florais feitos de frios de prata era pesado e arrastava uma longa calda. Sobre o decote em V reluzia um belo colar feito com pérolas e diamantes. As mangas bufantes faziam um rastro quando eram movidas.
Ao caminhar pelo salão cheio de nobres, Catherine teve sua atenção capturada pelos olhos verdes de um homem. Com o rosto coberto por uma máscara negra, ela não pode ver nada além do cabelo loiro penteado para trás e levemente amassado pela fila que prendia a máscara ao rosto. Ele abriu um largo sorriso ao vê-la e deu um passo em sua direção como se a conhecesse...

Catherine abriu os olhos e fitou o forro de madeira cama com dossel. Virou de lado e viu que Frederick ainda dormia. Sentou-se na cama e passou a mão pela testa molhada com um suor frio. Respirou fundo. Não passa de um sonho, disse a si mesma, entretanto, não foi o suficiente para convencê-la. Sonhos para Catherine nunca eram apenas sonhos. Negaram esse seu lado muitas vezes em uma tentativa de que tudo desaparecesse, mas nada mostrou-se tão inútil em sua vida. Seus sonhos lhe contavam coisas, avisavam sobre possíveis acontecimentos do futuro.
Aceitar a verdade de suas visões só a deixou ainda mais inquieta. Quem era esse cavalheiro?
Vestiu a camisola e o penhoar e deixou o quarto do rei no início da manhã.

- Lady Catherine, seu banho já está pronto.
Ela colocou o espelho sobre a penteadeira e se virou para a criada que estava de pé junto à porta do banheiro. Catherine se levantou, tirou o penhoar e o colocou sobre a cadeira de madeira onde estava sentada. Ao caminhar para a tina de madeira, os olhos verdes de sua visão voltaram a sua mente e a deixaram inquieta. Não deveria perturbar-se com isso.
Tirou a camisola e entrou dentro da água quente. Sentiu seus músculos judiados pelo frio do inverno, relaxarem diante da cálida temperatura. Pegou um pouco de água com a mão em concha e levou ao rosto. A sensação era refrescante. Apoiou a cabeça na borda da tina e se permitiu relaxar. Um bom banho com sais perfumados era tudo o que precisava.
Nada tinha a reclamar da vida na corte. Ao contrário do tempo que passara no convento, ali possuía todo o conforto que uma lady poderia gozar. Soprou bolhas na água, que a envolvia em uma abraço caloroso, enquanto se divertia.
- Pode ver além, não pode, milady?
Catherine congelou com a estranha voz que soou em sua cabeça como um sussurro sombrio.
- Quem está ai!? – Ela se encolheu dentro da banheira.
- Eu não estou aqui, não de verdade. Mas ainda assim, pode me ouvir não pode? - A voz sombria como um chiado em uma floresta ecoou no pequeno cômodo, reverberando nas paredes de pedras.
Catherine apoiou as mãos na borda da tina e olhou de um lado para o outro buscando pelo intruso que a assombrava em seu banho.
- Eu ordeno que apareça!
- Ajude-nos, lady Catherine.
- Como?
- Suas origens a tornam especial.
- Quais origens?
Não houve resposta é Catherine se deparou com o eco da própria voz. Com um estranho aperto no peito, ela se encolheu dentro da tina. Estava tão aterrorizada que tremia. De repente o banho não se mostrou mais tão agradável.
Catherine ainda olhando para os lados. Nem o frio do inverno que entrava pela pequena janela no alto do cômodo pareceu incomodar sua pele nua mais do que o medo.
Tolice! Deveria ser armação da rainha ou de alguma outra das amantes de Frederick que a via como uma rival. A própria lady Anne que fora a primeira amante do rei, uma com a qual ele desejou se casar, mas o convenceram do contrário; ela se tornara uma mulher amargurada que odiava Catherine.
Ela ajeitou a postura e sorriu.  Se achavam que eu rastejaria para fora do castelo por medo de alguns falsos fantasmas, estavam muito enganadas.
- Helena! – chamou pela criada assim que o frio do inverno lembrou-se de sua existência.
- Está tudo bem, senhora? – A criada apareceu na porta. – Ouvi gritos.
- Sim. – Catherine não se deu trabalho de dar explicação à criada. – Ajudem-me a me vestir.
- Como desejar.
Helena foi ao quarto e retornou com um pedaço de lã para enxugar a senhora. Ao servir Catherine, a criada se deu conta de porque a mulher se tornara alvo da atenção do rei. Ela não tinha uma beleza comum, parecia ter sido pintada pelo mais habilidoso artista.
A criada ajudou a lady a colocar a sobveste, uma túnica fina feita de linho e acima dela um pesado vestido de veludo vermelho que possuía várias camadas para proteger do frio. O decote era quadrado é mostrava um pouco da sobveste. A saia do vestido vermelho tinha bordados alguns fios de ouro que criavam pequenas espirais que reluziam discretamente com os feixes de luz do sol que entravam pelas janelas. Catherine escolheu um par discreto de brincos de rubi e os colocou. Os longos cabelos negros caiam em ondas ao redor do rosto um tanto pálido. Para as mulheres, ser queimada de sol era sinal de trabalho manual e em lavouras, comuns apenas entre as plebeias.
Catherine deixou o quarto com intuito de ir ao refeitório do palácio. Andar pelos corredores do Castelo ainda a deixava deslumbrada. Eles eram largos, pavimentos com pisos com desenhos em formato de losango. O teto dali assim como dos demais salões era recoberto por pinturas e molduras de ouro. Os lustres dourados eram enormes e cabiam dezenas de velas. As paredes eram claras e algumas também possuíam pinturas.
Durante o percurso, passou por damas e suas criadas. Algumas evitavam olhá-la diretamente, outras evitavam encará-la. Catherine não se importava. Crescera sendo olhada com desdém, ao menos agora essas damas possuíam um motivo. Pouco se importava com os olhares desde que a deixassem em paz. O que não estavam fazendo, pensou ao se recordar da estranha voz no banheiro.
Como podiam ousar falar sobre suas origens se nem Catherine as conhecia? Fora abandonada recém-nascida na porta de um convento e nunca soube nem quem eram seus pais. Não que importasse muito depois de tanto tempo, mas ela se pegou pensando se teria uma infância melhor sendo criada por um casal de plebeus. A resposta lhe pareceu bem clara.
Quando a lady chegou ao refeitório, os nobres que ali bebiam e jogavam cartas virarem-se para ela por reflexo. Catherine, assim como outras amantes do rei, era temida pelo simples fato de não poder ser almejada. Entretanto, muitos ainda babavam ao olhar para ela.
- Ajeite-se, Lorde Banner, ou terá a espada do rei em sua garganta. Sabemos o quanto o nosso soberano é temperamental. – O conde de Arhus riu ao jogar uma carta sobre a mesa.
- É apenas uma bela dama, meu bom amigo.
- Concentre-se no jogo meu caro. Existem outras meretrizes a sua altura.
Lorde Banner balançou a cabeça e voltou para o jogo. O conde estava certo, a tentação que lady Catherine era, ainda faria muito sangue escorrer pelos pátios daquele palácio.
Catherine se sentou em uma mesa e fez um gesto para que uma das criadas trouxesse para ela uma taça com vinho. Sentada sozinha em uma cumprida mesa de madeira, ela não podia dizer que possuía amigos. Os homens temiam se aproximar por medo da fúria do rei e as mulheres a odiavam pelo que era, uma ou outra sofria forte represália quando ousava se aproximar. No convento também não tinha ninguém com quem contar, no fim nada mudava tanto.
A criada trouxe para ela uma travessa com um pedaço de pão e uvas acompanhada de uma taça de vinho. Catherine deu sua atenção à comida que ali era farta. À tarde iria visitar o alfaiate a pedido de Frederick para encomendar novos vestidos para a chegada da primavera.
Enquanto mastigação um pedaço de pão, tentou não devolver o olhar dos homens que a encaravam. Para eles não passava de um prêmio ou um pedaço de carne para eles. No fundo era isso para o próprio Frederick.
Ao olhar para a dama que se ajeitava em uma cadeira sentindo o peso da gravidez. Catherine pensou na vida das damas horadas e de bom nome é se deu conta de que não eram melhores do que a sua. Mulheres não passavam de propriedade que ia do pai para o marido. Quem sabe não vivia melhor do que elas? Ao menos tinha a vida que escolhera e não fora dada em casamento a um porco anos mais velho e servir de procriadora.
Catherine não queria filhos já bastava ela sofrer os preconceitos da corte, não precisava dar o mesmo destino a uma criança bastarda. O curandeiro do castelo talvez fosse a única pessoa que demonstrava um pouco de afeto pela dama e dava a ela infusões que ajudavam a evitar um bebê.
Catherine terminou o vinho e se levantou. Iria ao alfaiate provara alguns vestidos logo, mas antes queria passear pelos jardins. Com o frio, era um local belo e calmo para se ficar. Segurou a barra do vestido para que esse não arrastasse no chão e deixou o refeitório.

Frederico olhou para Sophie sentada no trono ao seu lado. Ela era bela, mas não passava de uma menina mais de uma década mais nova. Visitava-a a noite por obrigação. Se dependesse dele teria casado com Anne sua primeira amante, uma mulher que de certo amou e não o fazia se sentir um bárbaro todas as vezes que a tomava.
Depois que Anne se casou com outro nobre, Frederick se sentiu arrasado. Nenhuma outra mulher que convidou a sua cama como amante pareceu suprir tal vazio, até a noite do convento... Esboçou um sorriso quando o belo rosto de Catherine surgiu em sua mente. Não podia imaginar que sob tamanha formosura se escondia uma raposa fugaz. Ainda era capaz de ser recordar de cada sensação que sentira na noite anterior.
- Frederick! – Sophie tocou a mão do marido e rei ao ver que os olhos azuis dele estavam em qualquer lugar que não fosse a sala do trono.
O rei piscou algumas vezes antes de encarar o homem diante de si. Perdeu-se tanto em seus pensamentos que se esqueceu da presença do nobre.
- Verei o que posso fazer quanto aos grãos que seu condado precisa para o plantio, lorde Bash. – Cansado com as lamúrias, Frederick passou a observar a parede atrás do sujeito, que possuía várias pinturas.
- Rogo para que seja breve, majestade, ou meus vassalos e quem sabe a própria Dinamarca possa passar fome no próximo verão.
- Como eu disse, farei o possível, lorde Bash.
O homem fez uma breve referência e deixou o salão
- São apenas esses? – Frederick se voltou para o chefe da guarda que havia dividido em turnos os períodos de audiência com o rei.
- Sim. Apenas alguns conselheiros que acham prudente retirarmos o símbolo da Suécia de seu brasão de armas.
- A Suécia pertence a mim e não a Érico. – Frederick cerrou os dentes e apertou os braços de seu trono.
- Majestade, já é rei da Dinamarca e da Noruega. É manter as três coroas suecas é uma afronta direta a eles.
- Querem reinar por mim?
- Não, de forma alguma, vossa graça. – O homem se encolheu passando a mão pelo colarinho da camisa de linho. – Somos apenas seus conselheiros.
Frederick se levantou do trono e Sophie se encolheu como a criança assustada que era. Teve medo do trovão de raiva que lampejou nos olhos azuis de seu marido.  Pelo tempo que haviam se casado, já aprendera sobre o quanto temperamental ele era.
Pensou em dizer algo, entretanto, calou-se apenas com medo da represália.
- É apenas um conselho nosso, majestade.
- Sim. Eu o dispenso. – Frederick ajeitou a coroa de ouro sobre a cabeça.
O homem respirou fundo. Já tinha experiência para saber que a ambição de Frederick acabaria levando a Dinamarca à guerra.
Sophie se levantou acanhada e segurou a mão do marido.
- Visite meus aposentos esta noite. Quem sabe não podemos prover um herdeiro para a Dinamarca, Noruega e Suécia.
Ele se virou e observou-a. O corpo dela mal fazia curvas no vestido. Não era roliça e suntuoso como Catherine, mas a rainha tinha apenas quinze anos, sua amante não.
Frederick tentou sorrir e acariciou-a com a ponta dos dedos.
- Teremos tempo para prover herdeiros. – Foi o mais gentil que pode. Mal sabia se o corpo dela suportaria uma criança.
Sophie engoliu em seco, mas não disse coisa alguma. Desejava que um dia Frederick passasse tanto tempo com ela quanto passava com Catherine. Muitas vezes odiava a amante de seu marido, em outras apenas a invejava.

Catherine sentiu a brisa fria como num abraço que a fez se encolher. Talvez devesse voltar para o interior do castelo, antes que o inverno congelasse suas extremidades. No entanto, a lady quis permanecer ali, não se dobrava fácil aos obstáculos.
Segurou a saia e desceu por uma escorregadia escada com três andares. Os arbustos altos e os que cercavam os canteiros, estavam cobertos pela mesma neve branca e fofa que Catherine sentia sob seus pés.
Ela se aproximou de um dos canteiros para ver uma pequena flor roxa que havia desabrochado. A primavera viria logo. Na noite seguinte haveria um baile para saldar o fim do inverno. Nesse mesmo baile no ano anterior, fora o primeiro dia em que Catherine havia entrado no castelo na companhia do rei. Ela ganhou um belo vestido que nunca imaginou um dia poder usar, além de um par de brincos de esmeraldas. Deu-se conta de sua beleza naquele dia quando todos os lordes presentes a perseguiram com o olhar e o rei sorriu satisfeito.
O chão estava escorregadio e Catherine dava cada passo com cautela. Alguns flocos de neve caíram sobre seus cabelos negros e deixaram delicados pontinhos brancos. Ela sentiu vontade de girar com o vento. Olhou em volta e viu que ninguém a observava então cedeu aos instintos e deixou-se rodopiar. O vestido vermelho voando em contraste com a neve que cobria o chão formava uma bela cena aos olhos.
Catherine amava os momentos em que tinha a ilusão de estar livre, de poder agir como bem desejava de voar junto com a brisa. Era uma sensação que durava pouco, pois logo ela se recordava de ser amante do rei, propriedade dele. Assim como quando vivia com as freiras, não havia liberdade alguma, apenas um pouco de conforto.
Ela balançou a cabeça em negativa, espantando os pensamentos cruéis. Permitir-se-ia viver a ilusão de que poderia voar livre pelos poucos segundos que lhe coubessem.
- Catherine...
A lady olhou de um lado para o outro e encolheu-se dentro do pesado sobretudo de veludo.
- Quem está ai?
Malditas sejam as damas que a assombravam. Não queria correr para Frederick e dizer a ele que alguma outra de suas amantes ou a fedelha da rainha a estavam atormentado, entretanto, se continuassem, Catherine não via outra alternativa.
- Não pense que alguns sussurros deixarão-me   assustada.
- Não queremos machucá-la. Oh, não!
Catherine viu um vulto passando por entre alguns arbustos e o sangue da lady congelou nas veias. Fora tão rápido que ela chegou a pensar que não passava de uma peça pregada por sua mente fantasiosa.
- Então o que querem?
- A sua ajuda. – A voz que ecoou pelo jardim inferior do castelo era angelical e infantil.
- A minha ajuda para que?
- Ajude-nos, Catherine.
- Eu não posso fazer nada. Nem sei o que está acontecendo. – A voz dela subiu uns dois tons e se irradiou pelo jardim.
- Precisamos de ajuda....
- Quem?
Não houve resposta, apenas o terrível vento que tocava o rosto de Catherine como o fio afiado de uma espada, em uma dor cortante.
Como poderia saber como ajudar se nem sabia quem era ou quais perigos tal pessoa estaria passando.
A ideia de as vozes não passavam de artimanhas daquelas que desejavam Catherine longe era menos assustadora do que se fossem qualquer outra coisa. Ela se encolheu ainda mais e soube que não era apenas pelo frio.
Bateu a neve do vestido e aprumou o corpo. Era melhor encontrar logo com o alfaiate.
Andou de volta ao interior do castelo tentando se esquecer da estranha sensação que fazia seu peito galopar.  Não podia permitir que a deixassem com medo.
- Lady Chaterine. – Um cavalariço a cumprimentou com um discreto sorriso ao passar por ela no corredor.
A dama apenas assentiu com a cabeça e devolveu o sorriso.
O homem a seguiu com o olhar até que ela dobrasse em uma esquina e desaparecesse de vista. Se a mulher não fosse cortesã do rei adoraria engaçar-se, entretanto ela era e precisava conter seus instintos masculinos para preservar sua cabeça.

Catherine empurrou as portas duplas decoradas com detalhes em ouro e adentrou o ateliê do castelo. A condessa é o conde de Wethefil eram os melhores quando se tratava de alfaiataria na Dinamarca. Não era à toa que Frederick havia os convidados a viver na corte.
A mulher atrás de uma pilha de seda e veludo apontou a cabeça ao ouvir o som das portas sendo abertas. Merriam, a condessa, estava longe de ser uma jovem donzela, as rugas já se acumulavam ao redor dos olhos castanhos, porém as mãos continuavam habilidosas no trato com os tecidos. Ela afunilou os olhos para ver melhor quem entrara e sorriu ao encontrar o rosto de Catherine iluminado por uma janela.
- Olá, Merriam. – A cortesã se curvou brevemente diante da condessa.
- Catherine, minha menina. Imagino que veio experimentar o vestido que o rei me pediu para confeccionar.
- Ah, ele já pediu? – Distraída, ela passava os dedos por entre as pilhas de tecidos sobre a mesa, sentindo a maciez da seda mais nobre.
- Sim, nosso rei querer vê-la bem vestida durante o baile.
- Pensei que talvez ele nem desejasse que eu fosse. É uma festa tão pública. No último ano ele não estava cansado.
- Frederick não é o primeiro monarca com uma amante, minha cara, nem será o último. Em seu lugar, com suas origens, eu me preocuparia em manter a posição ao lado dele. Pressuponho que não deseje voltar para o lugar de onde venho.
- Não, Merriam.
- Então não se esqueça disso e sorria, principalmente para o rei. – A condessa deu uns tapinhas no ombro de Catherine com um rolo de linha de ouro.
- Está certa. Obrigada!
- Vamos ver o vestido que preparei e garantir que Frederick não tenha olhos para outra.
Catherine sorriu ao ir para trás do biombo e começar a desamarrar as fitas que prendiam o vestido junto ao corpo. Merriam era talvez a única mulher que não a odiava ou olhava com desprezo. Pensou em comentar com ela sobre o que acontecera no banho e no jardim, mas teve medo do que a velha condessa poderia pensar. E se não fosse uma peça pregada por alguém? Catherine tremeu com a possibilidade.
- Sem dúvidas, ser a favorita do rei tem suas vantagens. Ele me autorizou não medir gastos na confecção do vestido.
Merriam entrou atrás do biombo para ajudar Catherine a se vestir.
– Um segredinho nosso. – A condessa se aproximou o suficiente para não ser ouvida. – Está mais belo do que a da rainha.
A dama riu ao passar as pernas para dentro da saia.
Ao se olhar no espelho, Catherine ficou paralisada, sua respiração desapareceu por instantes. Sua pele ficou ainda mais pálida do que o comum.
Merriam, ajeitando as pregas do vestido entendeu o choque como uma apreciação de seu trabalho expendido, entretanto, mal sabia ela que não era a causadora da falta de ar da dama.
O vestido de seda e veludo tinha um tom perolado, e fora bordado com florais feitos de fios de prata. Era pesado e arrastava uma longa calda. O decote em V ressaltava o busto de Catherine. As mangas eram bufantes até os cotovelos e estreitas até os pulsos. 
O vestido era o mesmo que vira em seu sonho. A cortesã engoliu em seco. Se o vestido era real qual outra parte do sonho também poderia ser? A imagem do misterioso cavalheiro loiro com o rosto coberto por uma máscara veio em sua mente e embaçou como uma névoa os pensamentos dela. Catherine sabia que boa parte de seus sonhos não eram apenas sonhos, sempre houve algo a mais desde o tempo de criança. Naquele momento a possibilidade de encontrar o tal lorde a deixou apavorada.
- Catherine? – O chamado de Merriam a fez voltar para a certeza do instante.
- Oh, sim. Desculpe-me.
- Suponho que esteja pensando nas noites quentes nos braços do rei.
Catherine se forçou a abrir um sorriso.
- Sim. São noites muito generosas.
Merriam abanou o rosto com a mão como se essa fosse um leque.
- É uma pena meu conde não ser tão jovem ou viril quanto o rei.
- Eu amei o vestido. – Catherine passou as mãos pelas pregas do tecido junto à cintura ao tentar mudar de assunto.
- Eu sabia que amaria. Deus foi generoso contigo ao dar-lhe um corpo tão suntuoso que fica fácil para mim vesti-la.
- Obrigada, Merriam.
- Só precisa usá-lo com um belo colar que ficará deslumbrante.
- Usarei.

Frederick bocejou ao fitar os papéis sobre a mesa. Ainda precisava enviar os grãos ao conde e outros nobres ou o período de colheitas seria prejudicado. Mas rogava por uma milagrosa opção para consegui-los. O seu velho primo Nesthor, um duque que vivia afastando da corte viria para o baile é talvez os grãos que ele estocava fossem uma boa opção.
O rei deixou os papéis em sua mão caírem sobre a mesa. Administrar um reinado não era tão simples quanto parecia quando era um príncipe.
O som das portas sendo abertas sem aviso chamou a atenção de Frederick e o fez  se ajeitar em suas cadeira.
- Espero não estar lhe interrompendo, majestade.
Frederick sorriu ao ver o cavaleiro parado de pé próximo a porta de seu escritório. O homem era alto, com ombros largos e coxas grossas, tinha olhos verdes e um cabelo loiro grande o bastante para que alguns fios caíssem sobre os olhos, mas pequeno para passar do queixo quadrado e marcado. O sorriso dele marcava as covinhas que possuía nas bochechas.
- Peder! Meu bom e velho, Perder Oxe.
- Há quanto tempo. Pergunto-me se ainda posso lhe chamar de amigo agora que é rei da Dinamarca e Noruega.
- Quando estivermos sozinhos ou entre confidentes, pode sim.
Peder retribuiu o sorriso.
- Presumo que aprendeu muito durante o tempo que passou estudando pela Europa.
- As alemãs são tão bonitas quanto dizem. – os sábios de Peder se curvaram em um sorriso malicioso.
- Aposto que cavalgou em muitas delas.
- Apenas o suficiente.
Os dois gargalharam como os bons amigos que costumavam ser durante a infância.
- O que o trouxe de volta a Dinamarca se pelo visto seus estudos estavam tão interessantes?
- Não sei se chegou ao seu conhecimento, mas meus pais faleceram com a febre. Acabaram por deixar-me como tutor dos bens da família e de meus onze irmãos mais novos.
- Lamento o incidente e dou-lhe minhas condolências.
- Mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, não é? Sabe como ninguém como o nascimento nós predestina.
- Compreendo. – Frederick coçou o a coçar o queixo coberto pela barba do cavanhaque. – Mas o que o trouxe a Antvorskov?
- Fica perto de Copenhague e me perguntei por que não fazer uma visita à corte.
- Até quando ficará?
- Não pensei muito. Mas creio que durante um alguns dias, a comitiva acompanhou-me da Alemanha precisa de um bom descanso. Depois preciso partir para verificar as minhas prioridades.
- Espero que esteja no baile
- Não perderia por nada.

A cortesã do rei ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora