Como eu era antes de você (Ho...

By geezerfanfics

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Ele era um pesadelo vestido de sonho. E ela sabia disso. Tinha um letreiro enorme escrito "problema" no rosto... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Segunda Temporada: Capítulo 1
Segunda Temporada - Capítulo 3
Segunda Temporada - Capítulo 4
Segunda Temporada - Capítulo 5
Segunda Temporada - Capítulo 6

Segunda Temporada - Capítulo 2

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By geezerfanfics


A primeira semana que se passou foi a mais difícil da minha vida inteira em Stotfold. Nunca pensei que apenas um homem iria me abrir tantos leques de possibilidades e desejos antes nunca conhecidos por mim. Estar com Will, mesmo nessa cidade pequena transformava tudo melhor. E nos dias em que era mais difícil lidar com minha decisão, eu apenas fechava os olhos em minha cama e tentava visualizá-lo ali comigo. Lembrava-me da última vez que ele esteve na minha casa e fizemos amor no cubículo do meu quarto. Isso fez meu coração se apertar e eu chorei até soluçar, mas, no fundo, eu senti um pouco dele. Na quarta noite que dormi com sua camiseta o perfume dele se foi e isso me devastou mais um pouquinho. Todos os dias eu tentava me ocupar limpando a casa, ajudando vovô com o sudoku ou relendo revistas no quintal nos fundos da casa onde os olhos dos vizinhos não podiam chegar. Mas nada disso me fazia esquecer completamente da minha realidade. Will ligava todos os dias para o telefone de casa para tentar descobrir noticias minhas e cada vez que ele ligava eu sentia vontade de arrancar o telefone das mãos de minha mãe e ouvir a voz dele. Os Traynor também sempre perguntavam sobre meu paradeiro para meu pai e ele nunca contava nada. Todas essas coisas me matavam um pouco por dentro. Eu não suportava acordar de manhã e saber que nem por um minuto do meu dia eu veria o lindo rosto de Will, sentiria seu cheiro ou tocaria nele. Nem sei por quanto tempo terei que ficar aqui, longe dele e de tudo o que me faz se sentir viva.

E Patrick não foi encontrado até agora. O FBI entrou oficialmente no caso, mas ele não deixou muitas pistas. Ele foi visto pela última vez por um taxista às cinco da manhã no dia da festa enquanto fugia. Sei que toda investigação é graças a Will.

— Você precisa pegar sol, Lou, querida. — Mamãe disse, sentando-se ao meu lado no sofá depois do almoço, entregando-me uma xícara fumegante de chá de maçã. — Faz uns três dias que você não saí na rua.

— Eu não sinto vontade, mamãe. Acho que estou mais segura dentro de casa.

Isso é verdade. Tenho medo até de olhar pela janela e ver Patrick me apontando uma arma. Agora, depois de uma semana, percebi que toda a coragem que senti no momento que tentava acalmar Patrick foi pura adrenalina. Eu não sentia nada além de uma vontade insana de proteger Will. E hoje quando eu lembro daquele momento um pânico me atormenta e para todos os lugares onde olho enxergo um revólver apontado para meu rosto.

— Lou, você...

Olhei para mamãe e deixei a xícara pendendo na metade do caminho para a minha boca. Ela baixou os olhos para os dedos entrelaçados sobre as pernas e encolheu os ombros, parecendo estar se desculpando antes mesmo de falar.

— Você está acabada. Desculpe. Mas que roupas são essas?

Eu estava vestida com a camisa de Will e uma calça de moletom cinza. Depois que o perfume saiu do linho eu só quis usá-la. De alguma forma, gostaria de senti-lo por perto.

— É a camisa de Will. Tudo bem, não precisa pedir desculpa, eu só...

— Você não ri mais. — Ela me interrompeu, erguendo o olhar para mim. A forma dura e sincera como ela me observou doeu. — Você está tentando proteger William e eu a admiro muito por isso, mas não está percebendo que está ficando... Devastada.

— Eu só não tenho ânimo para me vestir igual a antes, mamãe. Além do mais, ninguém além de vocês me vê, então acho que não é tão ruim assim.

Forcei um sorriso de quem achou graça. Mas era triste. Nos domingos em que eu não trabalhava sempre colocava uma das minhas melhores roupas apenas para incomodar papai e para conferir se ele tinha alguma nova critica — ele sempre tinha. E também para me olhar no espelho e ver a bela combinação de roupas que havia colocado.

Mas minha mãe não sorriu para mim. Ela estava me fitando como quem dizia "você está cometendo um erro", e isso me machucou porque desde que cheguei aqui ela foi a única a me apoiar. Eu não me sentia tão mal porque sabia que havia pelo menos uma pessoa que iria me dizer que eu estava fazendo o certo.

— Você não é mais a mesma, Louisa. Antes a casa era uma barulheira com você aqui dentro e lá do quintal eu podia ouvir sua gargalhada enquanto estendia as roupas.

Coloquei a xícara sobre a mesa de centro da sala e respirei fundo. Olhei para ela, tentando ler seu olhar e entender o que ela queria dizer com isso tudo, mas não consegui obter nada. Respirei fundo.

— Não sabia que eu tinha que dar gargalhadas enquanto tem uma pessoa tentando me matar.

Ela abriu a boca, mas não disse nada. Merda, porque eu falei isso? Ela começou a fazer cara de quem sofreu só de ouvir o que eu disse.

— Mamãe, por favor, me desculpe, eu não quis...

— Eu vou terminar de lavar a louça.

E então ela se levantou antes de eu conseguir tocar a perna dela com a mão e me desculpar. Fiquei ali sentada vendo suas costas tensas se afastarem de mim. Ela podia estar apenas preocupada, mas eu não compreendi. Os dias que passo trancada dentro de casa apenas me deixa estressada.

Disquei o número de Treena no telefone fixo e aguardei os toques até ela atender. Precisava falar com alguém. Estava me sentindo culpada pelo que disse para minha mãe.

— Alô?

— Treen, sou eu, a Lou.

— Ah, Louisa, puta merda, porque você não me ligou antes?

— Desculpe. Eu estava com medo.

Puta merda — Ouvi uma voz ao fundo e era Thom repetindo o palavrão. — Thomas, não diga isso, é muito feio. Não diga! — Ela tapou o bocal com a mão e apenas ouvi alguns sussurros abafados de ensinamentos. — Você até fez eu falar palavrão na frente do meu filho!

— Desculpe.

— O que você tem feito nesses dias? Quero que saiba que o Will bate aqui em casa pelo menos duas vezes por dia para saber de você. E tem sempre um carro preto passando aqui pela frente com um dos seguranças dele. Acho que está pensando que você está aqui.

Fiquei em silêncio por um minuto. Ele está me procurando. Fechei os olhos, segurando o choro, me convencendo pela milésima vez que só estou aqui para o bem dele.

— Eu não coloco um pé para fora de casa. É tediante.

— Você vai deixar o cara sem informações até quando?

— Até eu ter certeza de que não há mais perigo.

— Por que você sempre quer ser a heroína da história?

Hein?

— Desde pequenas você sempre quis ser a protagonistas, Treen. — Bufei. — Deixei-me fazer alguma coisa decente a primeira vez na vida.

— É verdade, eu nasci para ser o centro das atenções. Mas achei que a frase combinava com o momento.

Uma risada inesperada saiu de mim. Surpreendi-me, porque essa foi à primeira vez na última semana que eu sorri.

— Sinto sua falta, Treen. — Despejei as palavras sem pensar.

— Também estou com saudades, Lou. Volte logo para casa.

É o que eu mais quero.

— Só depois de eu concretizar meu papel de heroína. — Ela riu alto do outro lado da linha. — Acho que mamãe está pensando que eu estou depressiva. Hoje mesmo estava reclamando que eu não sorria, e acho que fui um pouco cruel com ela.

— O que você disse?

— Que eu não sabia que tinha que dar risadas com uma pessoa me procurando para me matar.

Ela ficou em silêncio.

— Eu sei que foi errado ter dito isso, mas eu estou arrependida.

— Você vai precisar agradá-la com muitas xícaras de chá durante o dia. — Ela disse apressadamente. — Sei disso porque muitas vezes consegui o perdão dela assim. Thom está no banheiro e eu preciso, você sabe, limpar. Até mais. Eu amo você. Se cuide.

Suspirei.

— Tudo bem. Obrigada. Também amo você.

E ela desligou o telefone. Fiquei ali, sozinha, parada no meio da sala, me perguntando o que eu estou fazendo com a minha própria vida.

Tinha ido ao banheiro para lavar o rosto com água fria e me surpreendi com meu próprio reflexo no espelho. Eu estava uns cinco quilos mais magra, minhas olheiras estavam fundas e roxas como nunca antes e meu cabelo bagunçado e preso de qualquer forma. Mamãe tinha razão sobre mim. Eu realmente estava devastada. Minha pele estava branca, muito branca, e se eu desmaiasse pelos cantos da casa daqui há algumas horas não me surpreenderia.

Então fui até meu quarto, abri o meu antigo guarda-roupas, com o que eu não consegui levar nas malas até Londres, e peguei um vestido longo e florido dos anos 80 para vestir depois do banho. Passei a mão num par de saltos rosa pink e levei tudo para o banheiro. Tomei uma ducha rápida e me vesti. Deixei o cabelo solto, fui até o quarto onde era de Treena e peguei um dos seus óculos escuros. Voltei para o espelho do banheiro e ainda assim parecia com a Louisa Devastada Clark. Voltei ao meu antigo quarto, peguei um turbante branco na gaveta — comprei por 10 libras na liquidação há uns dois anos atrás. Enrolei ao redor do meu rosto e sorri satisfeita para o espelho. Ninguém pode saber quem eu sou.

Desci as escadas com pressa e encontrei mamãe tirando o pó da televisão na sala enquanto vovô bufava e tentava enxergar o visor.

— Louisa? — Ela perguntou, parando seu trabalho.

— Estou irreconhecível? — Dei uma voltinha. Estava me sentindo um pouquinho animada.

— Talvez. O que você vai fazer?

— Preciso sair um pouco. Prometo que não vou ir muito longe.

Ela largou o pano sobre a estante e veio até mim com um olhar preocupado. Neste instante eu murchei por dentro. Ela não me deixaria sair.

— Eu não deveria deixa-la ir.

— Já sabia... — Falei, triste, deixando os ombros caírem.

— Mas é a primeira vez que vejo você fazer algo diferente do que chorar ou suspirar pelos cantos. Então vá. Mas não demore mais do que meia hora ou eu vou chamar a polícia.

Sorri e a puxei para um abraço.

— Obrigada, mamãe. Obrigada!

Eu andava pelas calçadas de Stotfold surpresa de que quase ninguém parava para me olhar e se perguntar por que eu estava tão coberta. Isso se dava ao fato de que a maioria das pessoas que passavam por mim eram turistas. Eu caminhei ao redor do Castelo, morrendo de vontade de ir até o jardim e sentir a presença forte de Will. Quase cedi a ideia de ir até lá e me perder nos meus pensamentos, mas me contive. No meio do caminho encontrei a Senhora Dente-de-Leão e quase parei para conversar com ela e perguntar como estavam as coisas, porque sabia que aquela seria a única conversa que ela teria no dia. Aliás, será que depois que o The Buttered Bun fechou ela conversou com mais alguém? Pensar assim fez a dor em meu peito aumentar. Apesar de a cada passo dado eu sentir uma falta insana de Will, eu estava me sentindo ao menos um pouco contente por ter a luz do sol batendo diretamente em meu corpo inteiro e não só nas pernas — era até onde mamãe me permitia ir. A brisa cálida batia contra meu rosto e isso era reconfortante. E ver pessoas diferentes também me ajudava.

Mas depois de uns quinze minutos caminhando no mesmo lugar, senti um peso em meu interior. Preciso fazer mais coisas. Será que o fato de ter quase morrido há uma semana podia me ajudar a explorar coisas novas? Ou talvez só não seguir tanto as regras... Então peguei o primeiro ônibus para o centro. Precisava ver mais do que casas geminadas à sombra do Castelo e pessoas andando de lá para cá. Sentei-me no primeiro banco do ônibus, aquele que nos obriga a ficar encarando as costas do motorista, e fiquei contente por assim ter certeza de que ninguém repararia em mim. Nem por um segundo tirei os óculos escuros ou deixei o turbante voar do meu rosto.

Vinte minutos depois desci na primeira parada de ônibus do centro. Eu iria caminhar de lá até o metrô, depois voltaria e, talvez, tomaria um sorvete sentado em um dos bancos da calçada. Isso não me faria mal algum. Comecei a caminhar lentamente perto das vitrines das lojas parando a todo o momento para analisar as roupas nos manequins ou joias que eu jamais teria grana para comprar.

A medida que eu ia andando por ali ia começando a me sentir... Pesada. Não sei se era a culpa por estar longe da minha casa e descumprindo uma ordem de mamãe, o vazio de não ter Will ali ao meu lado ou o medo. Só sei que eu não sentia mais vontade de continuar caminhando e fazer todo o mesmo percurso de volta. Era como se todos ali soubessem quem eu era — embora estivesse usando roupas que me disfarçavam muito bem. Abracei meu próprio corpo e acelerei o passo, decidida em ir até o primeiro ponto de ônibus e embarcar de volta para casa. Meu coração começou a se acelerar e aos poucos me dei conta que este foi o pânico que Patrick deixou em mim. Estava com medo de estar sendo perseguida, descoberta, e tinha a sensação que alguém iria me atacar ali mesmo. O vento não parava de bater contra mim e isso dificultava a minha respiração. Comecei a andar mais rápido. Eu só quero voltar para casa. Precisava me manter segura. Não deveria nem ter saído pela porta. Eu estava bem lá e ninguém me descobriria. Por que é que eu tive que mudar de ideia? Se os dias trancada lá estavam me tornando uma pessoa triste, era preferível assim a ter que correr perigo. Quando o ar me faltou, me escorei na parede de uma loja de confecções e respirei fundo, tentado me acalmar. Isso fez chamar a atenção das pessoas ao meu redor, mas eu não ligava mais. Apertei a mão contra a barriga, sentindo meu estomago se embrulhar, e senti o mundo ao meu redor girar... Girar... Eu só quero a minha casa. Fechei os olhos e tentei me acalmar. Respirei fundo várias vezes, controlando a respiração, pedindo para que meu coração voltasse a bater calmo como antes. Minutos depois, quando o mal estar passou minimamente, abri os olhos e tudo estava parado. As coisas não giravam mais e eu podia respirar novamente. Mas a sensação ainda estava lá. Tirei as costas da parede e me equilibrei sobre os saltos, desejando tirá-los e carrega-los nas mãos. Olhei para a vitrine ao meu lado, buscando tempo para tentar me recuperar e, enquanto eu olhava para as roupas precipitadas de inverno, pensei ter visto um reflexo do outro lado da rua me encarando. Era um rosto conhecido. Virei a cabeça no mesmo instante, mas não havia ninguém lá. Apertei os olhos, sentindo meu coração voltar a acelerar, e o alto da minha cabeça começou a pinicar.

Era Patrick. Eu vi Patrick.

E então eu fui notando que a sensação foi a mesma que senti na noite da festa. Uma negatividade no ar, um perigo evidente. Não fiz nada além de tirar os saltos dos meus pés, segurá-los numa das mãos e começar a correr entre as pessoas, segurando o turbante no rosto para o vento não arrastá-lo para trás. Ele está aqui, uma voz berrava em minha cabeça, e eu não parava de apurar os passos. Olhei para trás, desesperada, mas não havia ninguém. Minha visão embaçou. Estou chorando. Eu vou morrer, dei-me conta, desesperada, e meu ar faltou, mas ainda assim continuei correndo.

E meu inconsciente deu um nó e uma confusão quando a adrenalina se misturou com o medo e o pânico. Eu só sentia que tinha que sair dali e ir para outro lugar, correr até não conseguir mais, e pedir ajuda de alguém longe dali. Aquelas pessoas não me ajudariam ou iriam me reconhecer. Então eu entrei no primeiro corredor que vi. Parei por um momento me certificando onde ele me levaria. Meu coração saltou na garganta. Se eu corresse rápido, chegaria no outro lado em menos de um minuto, e lá estaria na estação de metrô, onde eu poderia me misturar facilmente entre as pessoas e pegar um metro que me levaria diretamente para casa. Respirei fundo e corri sem pensar duas vezes. Minhas pernas estavam com consistência de gelatina, mas ainda assim eu conseguia correr. Estava dentro do peco gélido, mas do outro lado estava a minha luz. Meu coração batia tão forte e acelerado que eu não duvidava que ele poderia pular no chão bem na minha frente. Passei por uma lata de lixo transbordante. Senti uma gota de suor escorrer por minhas costas, outra ao lado do meu rosto. Fiquei com vontade de me livrar do turbante. Se eu gritasse daqui, alguém lá do outro lado correria para cá e me ajudaria? As paredes gigantescas dos prédios, uma de cada lado, pareciam me engolir. Falta só mais um pouquinho. Meu estômago girou dentro de minha barriga e minhas pernas tomaram mais velocidade.

Mas quando eu menos esperei algo me parou. E parou tão bruscamente que, quando eu bati contra, caí com força no chão. Levantei a cabeça.

— Estava com saudade de você, hein?

E ele sorriu. Um sorriso aterrorizante. Era Patrick. O Patrick assustador que eu vi da última vez. A barba estava grande, o rosto duas vezes mais magro, e ele já não tremia mais como antes. Reparei em suas roupas sujas e na mesma calça do smoking dos garçons da festa. Os olhos tomaram um tom escuro e rude. Eu não sentia nada além de desespero. Procurei rapidamente por suas mãos e elas estavam livres.

Patrick abaixou-se um pouco e arrancou o turbante de mim, puxando alguns fios de cabelo junto.

— Acha que isso realmente não iria me deixar reconhece-la?

Ele riu. A risada ecoou no corredor inteiro. Olhei atrás dele, vendo as pessoas paradas ao longe no ponto de ônibus e desejei sair gritando, mas não podia. Eu não sabia se ele estava armado ou não.

— Levante-se.

Meu corpo estava completamente imóvel. Ele jogou o turbante no chão com desprezo.

— Eu mandei você levantar, porra! — Patrick berrou, furioso, e chutou minha perna com força.

Fiquei espantada com a forma abrupta que ele mudou. O Patrick de antes jamais tocaria um dedo em mim. Coloquei a mão sobre a perna, onde ele chutou, e meus olhos se encheram de lágrimas. Quando ele percebeu que eu não me moveria, segurou-me rudemente pelo braço e me ergueu. Perdi o equilibro, sentindo minha perna bambear pela dor.

— Por que você abandonou seu príncipe encantado?

Olhei furiosa para ele.

— Porque você iria matá-lo também.

Ele riu de novo, ironicamente, mostrando os dentes agora amarelos. Nunca pensei que ele podia ser tão desleixado algum dia — logo ele, o atleta bem preparado de Stotfold.

— Sua inocência me encanta, Louisa. Você não pensou nem por um segundo que com você aqui só facilitaria as coisas para mim, não é mesmo? — Ele deu um passo a frente e tocou o meu queixo com um carinho nojento. — Eu sabia que você faria isso... Ah, minha Louisa, sempre tão boa de coração.

— Eu não sou sua, Patrick. — Rosnei, mexendo a cabeça, livrando-me de seu toque.

Ele ficou olhando para sua mão, agora no ar, e para meu rosto enojado e apavorado para ele. Então ele piscou os olhos e, quando os abriu, havia um misto de mágoa e fúria em seu olhar. Não fazia a mínima ideia do que ele iria fazer comigo.

— Antes você não desviava das minhas mãos, Louisa. — Ele disse com calma, o que me assustou mais ainda. — Você lembra das vezes que fizemos amor, querida?

A imagem dos nossos corpos nus veio à tona em minha mente. Senti vontade de vomitar. Como é que eu pude ter tido algo tão profundo com este homem durante anos e nem sequer imaginar que ele podia ser uma pessoa tão má?

— No meu quarto. No chão da sala do meu apartamento. Na minha cama, depois de você interromper meus treinos. Você lembra disso, não lembra?

Ele deu mais um passo em minha direção e eu dei um para trás, atordoada. Eu só queria sair correndo e nunca mais vê-lo. Por mais que ele tentasse sorrir de maneira doce eu não conseguia enxergar ninguém mais do que um homem criminoso e escrúpulo. Ele começou a me seguir dando passos largos e eu praticamente corria de costas para me esquivar dele. A cada passo dado ele estreitava os olhos para mim e parecia me odiar mais ainda.

Meu couro cabeludo pinicava tanto que minha cabeça inteira doía. Senti lágrimas brotar em meus olhos.

— Eu não quero lembrar disso, Patrick. — Falei com raiva, segurando a vontade de chorar. — Odeio pensar que um dia me entreguei assim para você.

— Por quê? Você parecia gostar tanto quando gemia no meu ouvido, querida.

O que? Isso foi a gota d'água para mim.

— Pare de falar comigo como se fossemos íntimos ainda! — Explodi, berrando, e parei de andar. Ele também parou, ficando há centímetros do meu corpo. — Pare de falar como se ainda fossemos um casal, porque não somos!

Ele ficou mudo. Os minutos se passaram e ele não fazia nada além de piscar perplexo para mim. Fiquei o encarando com raiva, sentindo minha respiração se acelerar cada vez mais, minhas mãos tremendo ao lado do corpo.

— Você sabe o que eu posso fazer, não sabe? — Disse baixinho. Tão baixo que eu quase não escutei.

Seu tom era de ameaça e, por incrível que pareça, não senti medo. Só mais raiva ainda. E à medida que eu olhava para aquele rosto mal cuidado só sentia mais coragem de me defender.

— Sei. Pode me matar. Vá em frente. Tire a minha vida e destrua a sua. — Ergui os braços, me rendendo, rindo de nervoso. Acho que tudo era apenas adrenalina. — Você não vai conseguir nada, além disso. Vai morrer na cadeia. Vai me matar porque acha que me ama, mas na verdade, não me ama porra nenhuma.

E duvidar de seus sentimentos foi como acordar o monstro adormecido. Patrick arregalou os olhos, de repente muito escuros, e me olhou com um ódio tão profundo que era quase tocável. Eu não tive muito tempo para desviar quando ele ergueu a mão e bateu com toda força que podia em meu rosto. Caí no chão, desorientada, sentindo minha bochecha arder como nunca antes. Fiquei encarando seus sapatos sujos, notando minha visão embaçar aos poucos, e soube que ia começar a chorar. Coloquei a mão no rosto, sentindo o sangue escorrer no canto da minha boca.

— Você acha que ele te ama? — Ele gritou tanto que a voz saiu rouca. Segurou-me com força e me ergueu brutalmente. Tentei me equilibrar e ignorar a dor que sentia na minha perna e, agora, no rosto. — Ele só quer foder você, Louisa. Eu te amo, sim. E vou morrer com você...

O que ele me disse me aterrorizou mais ainda. Sei que não deveria ter me acostumado com a ideia, mas até agora pensei que ele poderia me fazer qualquer mal, mas que pagaria depois. E se ele morrer também não haverá justiça. Eu teria morrido e deixado o amor da minha vida desamparado e vivo. Sem mim. E então não consegui pensar em ninguém além de William Traynor.

Patrick me empurrou como se quisesse que eu parasse de pensar. Parece que ele sabe no que eu penso. Olhei para ele, ainda com a mão no rosto, e desejei as piores coisas que podia desejar para ele. Nunca pensei que poderia torcer tanto contra uma pessoa como estou fazendo agora.

— E nós vamos ficar juntos. — Ele me aproximou dele com brutalidade, fazendo nossos corpos se chocarem com força até nossos rostos ficarem muito próximos. Ele segurou meu rosto com as duas mãos, me olhando como quem está apaixonado.

Então ele aproximou mais o rosto dele do meu e fechou os olhos. Ele vai mesmo me beijar?

Antes que eu pudesse pensar, cuspi no rosto dele. Eu sabia que isso só pioraria mais ainda as coisas para mim, mas o que eu poderia ter feito? Eu jamais o beijaria. Não me entregaria para ele nem em outras vidas. Patrick abriu os olhos e, com muita raiva, me empurrou.

— Você não deveria ter feito isso, Louisa.

— Eu sei. — Falei. Minha voz saiu surpreendentemente calma. — E quero mais que você se foda, Patrick.

Um sorrisinho brotou em seu rosto malvado como quem dizia "você vai se arrepender". E ele se aproximou de novo, com a mão erguida, e me atingiu com um tapa forte no rosto, onde ele havia machucado antes, e um grito escapou da minha boca. Fui para trás instintivamente e ele deu um passo para frente de novo, voltando a erguer a mão. Quando vi a mão correr no ar direto para o meu rosto, abaixei a cabeça e apenas senti o vento correr com a velocidade da mão dele.

E então eu dei as costas para ele e comecei a correr. Sabia que era inútil, mas mesmo assim eu estava tentando. Me esforcei para enxergar além da minha visão turva pelas lágrimas e percebi que ainda faltava um bom pedaço do beco para correr. Mas se eu me aproximasse o suficiente da rua eu conseguiria gritar... E talvez alguém pudesse me ouvir...

A mão de Patrick segurou meu ombro e me obrigou a parar. Fechei os olhos, pronta para receber outro chute ou tapa, quando ele me virou de frente para ele e não fez nada. Permaneci de olhos fechados, assustada, e ele me empurrou para o outro lado. Minhas costas bateram contra a parede gelada e dura do prédio imenso que nos cercava. Abri os olhos, vendo-o vir para perto de mim outra vez, tão furioso que eu pensei que seria naquele momento que ele me mataria.

Mas então eu notei, assustada, que a sua ameaçava cheia de promessas de acabar com a minha vida, não era voltada exatamente para um revólver. O que ele podia fazer comigo não era só me matar. E percebi a sua ameaçava: o que ele podia fazer comigo, também, era me bater até eu aprender o que ele queria. Ou talvez voltar a amá-lo na obrigação.

Não soube o que me esperava. Fechei os olhos de novo, pensando em minha mãe e no seu pavor que agora deve estar tomando conta do corpo dela, e me desculpei por ser tão desobediente, com se tivesse quinze anos. Se eu tivesse ao mesmo escutado ela... E desculpei-me também com Will. Acho que ele não me verá mais e isso vai ser torturante, mas, na verdade, eu não podia estar em outro lugar senão aqui.

Ou caso contrário a vítima estaria sendo Will.

Patrick segurou meu rosto com as duas mãos de forma que me machucou. Senti o sangue escorrer no meu supercilio e me perguntei até onde ele poderia me machucar. Com uma das mãos ele passou a segurar meus braços acima da cabeça e, assim, eu não tinha como sair. Nem tentar me defender. Eu não podia fazer nada além de ficar aqui deixando ele fazer o que queria de mim.

Senti sua mão livre subir por minha perna trazendo o vestido para cima. Não, não, não! Não me obrigue a fazer isso, supliquei por pensamento, mas neste momento eu estava completamente sem voz. Patrick gemeu baixinho no meu ouvido quando agarrou minha cintura com força, apertando os dedos ali, e senti vontade de vomitar. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Apertei os olhos e comecei a chorar em silêncio. Até quando isso vai durar? Eu só queria Will aqui para cuidar de mim. Para arrancá-lo dali e não deixa-lo me acariciar dessa maneira. Por mais que Patrick já conhecesse meu corpo eu não podia aguentar seu toque. Não depois de tudo o que ele fez. Não depois de ter conhecido William...

Permaneci ali, parada, chorando, sentindo o coração na boca, implorando para que aquele momento ridiculamente nojento passasse logo até notar que meus braços estavam livres. Abri os olhos, temendo que um revólver estivesse apontado bem para a minha cara, mas não foi isso que eu vi.

Havia dois corpos no chão em minha frente. Embolados. Brigando um com o outro. Entregando socos e mais socos. Não se ouvia nada além dos ecos dos socos batendo um no corpo do outro. Pisquei, abismada, e tentei reconhecer a outra pessoa, mas eu não fazia ideia de quem era aquele homem.

Então eu sequei as lagrimas do meu rosto rapidamente, vendo minhas mãos voltarem vermelhas com o sangue, e saí correndo em direção à saída do beco, sentindo meu coração quase sair pela boca. 

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