Capítulo 3

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— Pegou o currículo, Lou? — mamãe me perguntou enquanto eu passava a bolsa pelo ombro.

— Sim, mamãe. Está tudo aqui.

Papai apareceu no meio da sala e colocou as mãos na cintura.

— Você vai entregar meu currículo assim?

Seus olhos correram por meu corpo. Olhei para baixo. Não via nada de errado com meu vestido preto de bolinhas brancas e meus sapatos verdes-escuros. Eram confortáveis e era reconfortante saber que paguei nele apenas quatro dólares na lojinha do centro.

— Bernard! Ela está uma gracinha assim.

Meu pai riu. Mostrei a língua para ele. Estava acostumada com seus comentários e risadinhas ao ver meus looks diários. Ele sempre brincava com o meu...hm...jeito "exótico" de se vestir. Mas eu me sentia bem assim. Gostava da diferença e do colorido. Deixava-me alegre.

Beijei o rosto de vovô, que sorriu devagarinho e joguei um beijo no ar para meus pais, saindo pela porta. Hoje o dia parecia mais bonito. Ou eu estava mais feliz? Não sei. Apenas sei que algo me dava a maior vontade de sair saltitando pelas ruas.



O dia foi como todos os outros na cafeteria. Atendi os mesmos clientes e outros tipos diversos durante o dia. O movimento foi agitado e constante desde que abrimos as portas, até ao meio dia. E a tarde foi longa e exaustiva. Eu e Frank paramos apenas para tomar uma xícara de chá e comer alguma coisa. Depois passamos o restante do expediente nos revezando entre atender alguns clientes que entravam ali de vez em quando e carregando caixas de leite e pães do depósito para a cozinha. Aproveitei que hoje eu estava bem disposta e limpei a imensa máquina de chá, as vitrines e o chão da cozinha. Uma hora antes do meu horário normal de sair, eu me sentei um pouco na cadeira e respirei fundo. Frank me liberou para sair mais cedo. Era definitivamente o melhor patrão.

Então, com o coração batendo com um sentimento de alegria, ou talvez entusiasmo, peguei as minhas coisas e saí porta a fora. Peguei o primeiro ônibus que ia para o castelo. E senti o meu estômago embrulhar-se quando me sentei num dos bancos. Entendi o motivo de estar tão ansiosa e nervosa. Era porque tinha grandes chances de ele estar lá. E isso desafiava toda a minha autoconfiança e a minha facilidade de me comunicar com qualquer pessoa desse mundo. De alguma coisa, ele me afrontava. Afrontava os meus sentidos e, ao mesmo tempo, os aguçava. Era uma mistura louca dentro do meu interior. E eu não entendia a razão disto.

Caminhava tranquilamente pelo gramado verde, que parecia um tapete. Bom, eu pelo menos tentava parecer tranquila. Minha mão segurava forte a minha bolsa, fazendo com que os nós dos meus dedos ficassem brancos. Estava fazendo o mesmo trajeto que fiz com Treena no outro dia e desejei que ela estivesse aqui comigo para o caso de eu soar idiota demais, ela me apurar. Mas eu estava sozinha. Somente eu e a minha confusão por não entender mais nada do que estava acontecendo comigo. Logo eu, que sempre tive total controle de tudo em minha vida, nunca deixei me levar por sentimentos impróprios e... Irrelevantes. Essa era a palavra certa. Ou seria "impossível"? É, é impossível. Eu devo estar assim porque terminei meu namoro recentemente e ele é lindo demais, o que me chamou a atenção. Só pode ser isso. Tem que ser isso.

Antes de entrar na recepção, passei as mãos rapidamente pelo meu vestido, limpando uma poeira invisível. Pigarreei e ergui o queixo. Ok, eu sei o que estou fazendo. Está tudo sob controle.

Quando entrei, senti o ar quente cair sobre o meu corpo como um cobertor aveludado e cheio de pelinhos. A sensação era boa. O Sr. Traynor estava sentado na frente de um computador, com os olhos atentos enquanto digitava alguma coisa bem devagar, mostrando que não era muito experiente naquilo. Realmente, eles precisavam de alguém para ficar na recepção.

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora