Capítulo 2

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— Mais alguma coisa? — perguntei enquanto fingia segurar a caneta com firmeza no bloquinho de anotações. Eu já sabia que não. Era a senhora Dente-de-Leão e ela fez o mesmo pedido: ovos com fritas. Era sempre o mesmo de segunda à quinta, acompanhado com duas xícaras grandes de café que ela bebia de um jeito único enquanto lia o jornal do dia.

Fui até a cozinha e entreguei o pedido de Frank. Bons lugares da cafeteria estavam ocupados e meus olhos brilhavam enquanto eu o via cozinhar rapidamente de forma tão elegante que só ele sabia.

— Quer uma mãozinha aí? — perguntei, mais uma vez já sabendo que não. Digamos que posso ser considerada a pessoa mais desastrada de Stotfold. A primeira (e única) vez em que eu o ajudei coloquei açúcar no saleiro.

— Não, obrigado, Louisa.

Fui até a bancada com os pedidos prontos e peguei a primeira bandeja. Mesa onze, ocupadas por Kev e Angelo, os encanadores. Saí da cozinha e apareci no meio das mesas. O lugar cheirava bem. Fui até a mesa correspondente e, com um sorriso, coloquei na mesa os pratos com panquecas de frango e duas xicaras de café.

— Bem amargo — falei, colocando a xícara para Angelo, que sorriu educadamente. — E bem doce. — servi Kev.

— Gosto que você saiba como preferimos nosso café. — Angelo disse, sua quase careca reluzindo na luz da cafeteria. — Nem minha esposa sabe disso.

Eu sorri, sentindo-me grata. Isso foi um elogio. Bom, pelo menos pareceu.

— Pergunte a Frank de onde essa carne de frango veio — Kev perguntou, e caímos na gargalhada. Ele sempre brincava ao fazer essas perguntas para Frank, que ficava vermelho no mesmo segundo.

Coloquei a mesa sobre a bancada e me sentei atrás do caixa. Os burburinhos e o tilintar dos talheres me relaxava. Gostava do ambiente assim; cheio, com pouco barulho porque as pessoas ainda não estavam bem acordadas e, ao mesmo tempo, com todas sendo muito bem atendidas.

Eu estava observando todo o local quando algo me roubou atenção. Pelo lado de fora da vitrine de vidro da cafeteria eu vi uma pessoa passar. Mas não era qualquer pessoa. Era Patrick. Ele estava caminhando tranquilamente com as mãos nos bolsos da calça jeans. Pensei ter visto seus olhos reluzirem através da vitrine, mas não tenho certeza. Olhei no relógio. 09h02min. O que ele está fazendo andando por aí nesse horário? Até onde eu sabia nos últimos três anos, agora ele deveria estar correndo e treinando com seus outros amigos. Ele nunca perde tempo pela manhã, muito menos perde tempo para andar pelo centro de Stotfold. Então eu me dei conta; ele não estava apenas andando como qualquer pessoa normal. Ele nem sequer gostava de fazer isso porque sempre pensava que poderia estar correndo e perdendo muito mais calorias. Ele está passando aqui na frente de propósito. Maldito, pensei. Apesar de termos namorado por sete anos e eu ter pedido mais de uma vez para que nosso término fosse amigável, Patrick não parecia aceitar isso muito bem. Revirei os olhos.

— Está tudo bem, Louisa? — Frank me perguntou, colocando as mãos em minhas costas, me fazendo voltar ao mundo real. Balancei a cabeça, aturdida. Depois assenti. — Pode, por favor, servir a mesa treze?

Sem hesitar, fiquei de pé e fui atrás da bandeja. Quando voltei, vi que eram clientes novos. Não me lembro de tê-los visto qualquer outro dia aqui. Servi o prato com bolo de chocolate e chá de cana cidreira para a senhora e um prato e bacon e ovos para o senhor. Parecia ser um casal de velhinhos. Sorri para eles. Adorava esses clientes mais velhos. Quando eu ficava os observando, podia imaginá-los quando mais novos e tentava adivinhar quantos filhos deveriam ter. Meu tempo passava muito mais rápido.

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora