Capítulo 25

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Estico minhas pernas sobre a parede ao lado da cama assim como fazia na nossa casa em Stotfold. Treena está na faculdade e Thomas dorme no quarto ao lado. Eu e Will acordamos cedo e, com muita insistência, tomei café da manha com ele. Como Will tem uma reunião importantíssima na empresa e era tarde demais para adiar, Nathan me deixou no apartamento de Treena pouco antes das nove horas e, antes de descer, ele me disse que "O Sr. Traynor pediu para avisá-la que ele vai busca-la hoje às sete e meia".

E sentada aqui, neste sofá velho do pequeno apartamento, posso ouvir ao longe o barulho alto do tráfego lotado de carros e caminhões, todos com tarefas e uma vida para cuidar. Existe algo de reconfortante nisso; a ideia de pensar que as pessoas estão cuidando de suas vidas ao lado de fora dessas paredes. Todos... Menos eu. Não faço ideia de quanto tempo o destino leva para interferir na vida de alguém. No meu caso, demorou vinte e seis anos. Nunca esperei que algum dia eu estaria em Londres e, o mais assustador de tudo, com um homem que não fosse Patrick — para ser bem honesta, imaginei que ficaria com ele pelo resto da minha vida. Mas só que, apesar da mudança repentina na minha comodidade de Stotfold, eu sinto com se estivesse faltando algo... Algo que somente eu poderia preencher. Assim como Treena, Will também tem a vida dele e o que cuidar. Todos estão destinados a certas coisas, mas eu continuo aqui, dentro deste apartamento, e começo a aceitar que minha irmã estava certa: tudo o que eu tenho é medo de encarar o mundo lá fora.

A campainha toca e eu me desperto. Olho para o relógio ao meu lado. 14h35min. Estou esperando por alguém? Hum... Até onde sei, não.

Fico de pé e vou às pressas, atravessando o apartamento — agora decorado — da minha irmã. Não pergunto quem é e nem olho pelo olho mágico. Apenas abro, com uma esperança secreta de que, do outro lado, estivesse Will. Assim que abri a porta não vi nada. Pisquei. Olhei mais adiante, para o corredor, mas não havia ninguém. Somente quando dei um passo a frente, ainda procurando por alguma pessoa, meu pé bate contra algo no chão.

E ali está um balão de coração flutuando no ar, pregado à uma caixa de bombons. Meu coração pula no primeiro instante: eu sei de quem se trata. Me abaixo e, com uma felicidade de adolescente no inicio de uma paixão, pego os objetos e entro novamente no apartamento. Sei que Will gosta de surpreender, afinal, ele fez isso desde o primeiro dia, só que eu nunca fui surpreendida assim, espontaneamente e de forma tão doce.

Coloquei as coisas sobre a mesa e tentei manter minha respiração controlada. Queria fazer várias coisas ao mesmo tempo: pegar o celular imediatamente e agradecê-lo, contar para Treena e ler o bilhete que estava sobre a caixa. Com as mãos trêmulos, optei pela terceira opção. Peguei o pequeno pedaço de papel branco que estava dobrado delicadamente. Quando o abri, se revelaram letras do computador.

ESPERO QUE TENHA TE SURPREENDIDO.

É UMA HONRA AGRADÁ-LA.

MAS PRETENDO SURPREENDÊ-LA MAIS AINDA.

DAQUI HÁ ALGUNS DIAS, VOCÊ VERÁ.

WILL.

Pretende me surpreender mais ainda? Com o que? Um pensamento malicioso passou rapidamente por minha mente, mas eu o afastei. Ele está apenas sendo romântico, me convenci, mas, no fundo, eu queria que ele me surpreendesse com uma de suas maneiras de me enlouquecer: na cama, tocando em mim.

Balancei a cabeça, rindo, tentando me concentrar, e levei tudo para o meu quarto, deixando-os ao lado da minha cama. Amarrei gentilmente a corda do balão na cabeceira, vendo-o flutuar acima de mim.

Às seis horas Treena chegou em casa. E durante a tarde inteira, por mais distraída que fiquei com o presente inesperado que recebi, também me senti inquieta por não receber nenhuma ligação de Will. Aonde ele se meteu? Com quem estava até agora? Por que não pegou o celular e me mandou alguma mensagem dizendo que está vivo?

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora