Como eu era antes de você (Ho...

By geezerfanfics

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Ele era um pesadelo vestido de sonho. E ela sabia disso. Tinha um letreiro enorme escrito "problema" no rosto... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Segunda Temporada: Capítulo 1
Segunda Temporada - Capítulo 2
Segunda Temporada - Capítulo 3
Segunda Temporada - Capítulo 4
Segunda Temporada - Capítulo 5
Segunda Temporada - Capítulo 6

Capítulo 31

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By geezerfanfics

Quatro paredes pretas me cercavam. Eu estava sozinha e meu coração disparava com a ideia de estar em perigo. Um pânico crescente culminava em meu peito a medida que os minutos se passavam e eu não enxergava nada além de mim mesma. Era como se eu estivesse me vendo de fora; como se eu fosse a expectadora admirando meu próprio desespero. E então, de repente, Patrick surgiu ao meu lado. Eu o olhei e comecei a chorar no mesmo instante. Por quê? Por que você fez isso comigo? E então uma luz acendeu-se ao meu outro lado e eu me virei. A luz iluminava perfeitamente um ângulo circular. E ali, deitado no chão, remoendo-se de dor em meio a um sangramento infinito, estava Will. Ele me olhava e pedia silenciosamente por ajuda.

Sentei-me absorta na cama. Senti o suor escorrer por minha nuca. Minha respiração estava acelerada. Olhei em minha volta. Foi apenas um sonho, tentei me tranquilizar. Um sonho que refletia o meu medo mais sombrio: perder Will.

Eu estava sozinha no quarto de hóspedes. O relógio ao meu lado marcava 21h23. A cama ao meu lado estava bagunçada, indicando que Will esteve ali antes, e o resto da imensa casa permanece silenciosa. Treena e Thomas foram embora hoje mais cedo. Sei disso porque vieram se despedir de mim com um beijo na bochecha, enquanto Treena, mais ordenava do que pedia, para que eu continuasse deitada. Eu queria que eles ficassem. Seria bom ter algum conforto a mais por perto depois do pesadelo que vivi — e depois desse pesadelo em sonho.

Fiquei de pé notei que estava só de calcinha e sutiã. Senti minhas bochechas queimarem quando lembrei-me do motivo de eu estar quase nua: eu e Will fizemos amor antes de dormir. Falando nisso... Eu dormi o dia inteiro!

Me vesti com uma camisa de Will, que ficava quase como um vestido em mim, e desci as escadas. Esperei encontra-lo na sala, mas tudo estava vazio. Ele deve estar no escritório trabalhando — isso era no que eu queria acreditar. Mas, no fundo, sabia que ele estava colhendo informações sobre o possível paradeiro de Patrick.

Fui até a cozinha. Eu precisava fazer algo útil para me distrair. Será que Will já jantou? Penso em ir até ele, mas sinto medo de incomodar. Então fico na cozinha sozinha. Hum... O que eu devo preparar para agradá-lo?

Pego batatas, temperos, peito frango congelado e tomate. Vou fazer batata refogada e frango grelhado na frigideira. É algo simples e garanto que Will tenha provado isso — Charlotte, a empregada, sempre prepara os pratos mais requintados. Ás vezes uma comida caseira e simples faz bem.

Então comecei o meu trabalho. Descasquei as batatas e coloquei-as no fogo junto com alguns temperos — dica fatal de Josie Clark. E depois cortei o frango em fatias finas e coloquei-o na frigideira antiaderente, temperando-o direto enquanto já estava no fogo. A cozinha parece estranhamente uma caverna — não deveria, porque seus moveis a deixam completamente magnifica e moderna — mas cada som que eu fazia, tinha um eco ao fundo. Então fui correndo até a sala e peguei o iPod de Will. Coloquei os fones em meu ouvido e Toxic, da Britney Spears começou a tocar. Não pude evitar uma risadinha quando imaginei Will ouvindo isso. Logo ele, com seu gosto tão apurado e sereno para músicas.

E quando eu menos esperei, já estava dançando ao som da música enquanto me dividia para cuidar das duas panelas. Fiquei apenas alguns dias sem cozinhar e já me sentia uma novata na cozinha. Estava sentindo falta disso. Cozinhar me fazia se sentir em casa — mesmo que este lugar seja o triplo do tamanho da minha casa em Stotfold.

— Dont't you know that you're toxic? — Cantarolei a música, rebolando o bumbum. Pinguei uma gota do pouco molho que ficara na frigideira para conferir o sal do frango. — Hum... Hmmmm.... Hã, hã... Toxic? — Cantarolei no ritmo da música.

Desliguei o bico do fogão das batatas. O frango precisava só mais de alguns minutinhos. Estava ansiosa para ir até o escritório de Will, bater de leve na porta e dizer que o jantar estava pronto. Eu me sentiria um pouco mais útil.

Quando me virei com a panela na mão, pronta para servir as batatas nos dois pratos que separei sobre a bancada, Will estava recostado na parede ao lado da porta de acesso à cozinha. Ele sorria com os olhos iluminados. Por quanto tempo está aqui?

Tirei os fones de ouvido.

— Você dança muito bem, Clark. — Disse, aproximando-se de mim. Engoli em seco. Eu podia ficar com mais vergonha do que isso? Virei-me de frente para a bancada e comecei a servir as batatas nos pratos quadrados e estilosos da casa dele. E subitamente senti as mãos dele agarrarem com firmeza minhas duas nádegas. — E tem uma bela bunda também. Com um belo gingado. — Ele aproximou a boca da minha orelha, arrepiando-me, e soltei a panela sobreo balcão, completamente sem controle para continuar. — Ah, por que você nunca fez isso antes?

Acho que porque nunca precisei, de verdade, me distrair tanto.

— A ideia era ir até seu escritório. — Falei, desvencilhando-me de seu abraço nas minhas costas. Ficar longe daquele seu toque tão intimo me deixava triste, mas era a única forma de manter o controle. Coloquei a panela vazia na pia e peguei o frango, servindo um pedaço de bife para mim e dois para ele.

— Por que você está comendo tão pouco? — Me pergunta enquanto abre a geladeira, pegando de lá o vinho Bollinger, o nosso preferido, e serve habilidosamente duas taças, preenchendo-as com o liquido rosado.

Sento-me em um dos bancos altos da bancada e tomo um bom gole de vinho quando Will me alcança. Fico aliviada por minha vergonha estar se esvaindo. Ele se senta ao meu lado e começa a comer o que tem no prato. Desconfio que, enquanto eu dormi, ele não comeu nada.

— Hmm, Clark, você cozinha muito bem. Nunca vou me cansar de dizer isso.

— Obrigada, Sr. Traynor.

Pego um pouco da batata e como. Tomo o dobro de vinho.

— Como você está? — Ele me pergunta.

Olho para ele e suspiro.

— Preocupada. — Largo os talheres sobre o prato. — E sem fome. Você não comeu nada o dia inteiro?

— Estava esperando você.

Estreitei os olhos. Ele parou de me olhar, culpando-se e voltou a atenção para o prato. Estava com bastante fome.

— Você não tem que se preocupar comigo toda hora, Will. — Pedi. Eu queria que ele me ouvisse pelo menos uma vez. — E eu sei me cuidar. Patrick não vai vir atrás de mim.

— Nós não sabemos.

Senti que estava começando a estragar com o clima do jantar... Mas eu não podia continuar deixando com que ele permanecesse tão preocupado comigo. Ele tem a vida dele para cuidar. Engulo em seco quando penso em outra possibilidade.

— Está acontecendo algo mais grave com Nathan? — Indago, no fundo, sentindo medo da resposta. — Ele piorou?

— Não... Claro que não. Nathan está bem.

Ele está bem ou Will está só me dizendo isso para não me culpar mais ainda? Fiquei olhando para ele, comendo com vontade, bebericando o vinho só às vezes. Eu não conseguia comer mais nada. Estava sem apetite. Quando eu aprendi a me intrometer tanto assim na vida dos outros a ponto de deixa-los inquietos por minha causa?

— Amanhã quero visitar Nathan.

Ele me olhou. Tomei um grande gole de vinho. Estava com medo de ele negar. Assim eu saberia que Nathan não está nada bem.

Mas então Will sorriu.

— Tudo bem. Vamos à hora que você quiser.

Fiquei subitamente aliviada. Isso é uma boa pista. Ele não está tão mal assim. Se tivesse, Will não me deixaria ir até ele. Aliás, acho que ele nem receberia visitas.

Relaxei os ombros e voltei a terminar meu jantar, ouvindo meu estomago roncar no mesmo instante em que meu corpo se aliviava mais.

Laurence, o novo motorista temporário até a volta de Nathan, estacionou o Maybach Exelero na frente do Hospital de St. Mary de Londres. Will me explicou que Laurence seria nosso segurança enquanto Francis fazia ronda no prédio onde Will mora. Um calafrio percorreu minha espinha quando notei que estava quase vivendo um filme; seguranças nos cercam, prontos para deter qualquer pessoa que queira nos fazer algum mal.

O dia amanheceu chuvoso. Will quis tentar me convencer a vir mais tarde, mas eu neguei. Precisava tirar logo esse peso de sobre meus ombros. Preciso me desculpar pessoalmente com Nathan e lamentar o estrago que havia feito.

Laurence abriu a porta do carro, abriu um guarda-chuva e abriu a porta ao meu lado. Desci e esperei por Will, que pegou o guarda-chuva e me guiou para a recepção do Hospital. Laurence entrou no carro e estacionou-o no outro lado da rua.

Embora tenha a estrutura da idade média, o Hospital é muito bem conservado e bonito. Já na recepção há um balcão enorme de vidro e um piano preto, incrivelmente lustrado, numa espécie de palco, do outro lado. Um homem toca uma melodia calma e reconfortante. Algumas pessoas estão sentadas na sala de espera tomando café preto ou chá. Perguntei-me quanto seria o valor pago para ficar aqui e me incomodei ao imaginar que é Will quem está bancando tudo... E era eu quem deveria pagar — mesmo que não houvesse dinheiro suficiente para isso.

Will foi até a recepção e eu fiquei parada no mesmo lugar. Estava me sentindo congelada e sabia que não era pelo ar frio que a chuva causara. Era por saber que daqui há alguns minutos eu ficaria cara a cara com Nathan... Como ele deve estar?

Olhei para Will, para suas costas elegantes dentro da camisa social branca, que está por dentro da calça do paletó. Ele fala gentilmente com a recepcionista que lança sorrisos forçados demais para o meu gosto e que mexe muito mais que o necessário o rabo de cavalo. Ela está ficando vermelha a medida que presta atenção no que ele fala. Ah, Will, se você soubesse o tamanho da sua beleza... E embora entendesse-a completamente e soubesse o quanto aquele rosto bonito me deixa desconcertada, um ciúmes ardente cresce em meu peito. Pigarreio e vou até Will.

— Está tudo bem? — Pergunto a ele, parando ao seu lado, colocando a mão sobre a dele.

— Sim. Ela só precisa checar mais algumas coisas.

Fico contente por ele não notar o meu toque tão intuitivo em sua mão. Mas ela, pelo contrário, desviou os olhos da tela do computador rapidamente, olhou para nossas mãos e depois para meu rosto. Abri um sorriso forçado que não foi retribuído.

Gosto assim, pensei, satisfeita por ela agora saber que ele tem a mim.

Acho que nunca vou me cansar da satisfação que isso me entrega.

— Muito bem. Quarto 14. Segundo andar. — Ela disse depois de alguns segundos quando tirou os olhos do computador e fitou Will. Ficou vermelha de novo. — Aqui estão os crachás. Grudem na roupa de vocês.

— Obrigado.

E quando Will sorriu agradecendo-a eu quase pude ver um suspiro fugir da boca dela. Agarrei o braço de Will e saímos dali.

— Se você soubesse o quanto as mulheres se derretem quando você sorri, acho que não sorriria mais desse jeito. Não perto de mim.

Ele me olhou, rindo, descontraído, enquanto chamava o elevador.

— Eu sei o tamanho do estrago que eu causo, Clark.

Eu não deveria, mas derreti completamente quando ele sorriu de canto. Ah, você sabe, sim, Will. Ele fez pra provocar.

— Não vou entrar com você. — Ele disse, mudando repentinamente de assunto. — Sei que você precisa de um momento só para isso. Vou aguardar do lado de fora.

As portas do elevador se abriram. Entramos. Estávamos nós e duas senhoras de terceira idade, vestidas de camisolas de hospital. As duas conversaram alegremente, risonhas, ambas com curativos nos braços.

Will colocou o crachá de visitas dele no lado esquerdo do peito e depois virou-se para mim, grudando o crachá um pouco acima do meu seio esquerdo.

Comecei a ficar nervosa instantaneamente. Eu veria Nathan daqui há poucos minutos e nem faço ideia do que dizer a ele. Tentei ensaiar inúmeras vezes antes de sair, mas nada do que eu dizia era o suficiente. Engoli em seco.

Uma das senhoras se virou para nós, me surpreendendo.

— Você é o Traynor? William Traynor? — Ela perguntou. Seus olhos eram incrivelmente verdes em meio ao rosto rechonchudo. As unhas pintadas a deixavam charmosa, mesmo com a roupa de hospital.

— Sim, sou.

Ele sorria simpático.

A porta do elevador se abriu no segundo andar. Merda. Queria ouvir o que elas tem a dizer.

— Quarto 14. — Will disse, pegando na minha mão.

Comecei a caminhar para fora do elevador, com pressa, para não mostrar que eu estava interessada no que ela queria dizer. Mas quando passei por ela, senti sua mão em meu braço.

— Ah, querida, licença. — Disse, sorrindo. — Você é muito linda. Quero te dar os meus parabéns por conquistar este belo homem. Vocês formam um casal maravilhoso.

— Obrigada. — Agradeci.

Meu Deus. Meu Deus! Eu estou mesmo recebendo esse elogio de uma velhinha querida? Não pude evitar um sorriso feliz. Esta é a primeira coisa realmente alegre que eu ouvi nas últimas horas.

Ela apertou os dedos em meu braço quando fiz menção de continuar caminhando. Olhei para ela outra vez.

— E sinto muito pelo o que aconteceu.

Meu coração parou. Até onde isso tudo repercutiu? Olhei para ela, depois para Will, e fiquei sem ter o que dizer. Apenas balancei a cabeça e saí do elevador.

Minha mente estava em outro planeta enquanto apenas meus olhos procuravam pela porta 14. Então mais pessoas sabem do que aconteceu na festa de 10 anos da empresa. A coisa tornou-se grande. Estremeci. Deve ter sido por isso que Will ficara tanto tempo no escritório — e sem comer.

Parei quando enxerguei o número 14 em metal grudado na porta na altura dos olhos. Eu não sabia o que dizer a Nathan e agora, depois de saber que Londres toda sabe do que houve no Park Plaza Country Hall, tudo ficou ainda mais difícil. Mas eu precisava disso. Precisava me desculpar e saber que realmente tudo estava bem entre eu e Nathan — por algum motivo, eu gostava muito dele.

Respirei fundo e bati a porta. Ninguém respondeu nada, mas mesmo assim eu abri. Assim que o fiz, ouvi o som assustador de aparelhos medindo as batidas do coração. Estavam calmos, até onde eu entendia.

— Com licença. — Falei, colocando metade do corpo para dentro do quarto.

E não sei se nesse momento senti alívio ou desespero. Nathan estava deitado sobre a cama, o cabelo negro bagunçado, seu rosto jovem olhando para a luz do sol na janela, do outro lado. O ombro e o braço direito estavam completamente cobertos por uma faixa de curativo e alguns esparadrapos prendiam nos cantos. Ele estava aparentemente ferido — um ferimento enorme —, mas parecia bem.

Nathan virou o rosto para mim e sorriu gentilmente quando me viu.

— Srta. Clark. — Ele acenou levemente a cabeça.

Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim. Fiquei escorada ali. Meu coração palpitava rapidamente em meu peito. Eu sou a responsável por isso, falei por pensamento. Sinto-me culpada por ele estar aqui, machucado, enquanto deveria estar trabalhando. Mordi o lábio.

— Está tudo bem? — Ele perguntou, franzindo o cenho.

— Ah, sim, está. — Falei rapidamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Criei coragem para voltar a andar. Aproximei-me dele o suficiente para que conseguisse escorar a mão na grade de segurança ao lado do leito. — E você, está bem?

Minha voz soa vacilante. Sinto que estou com uma vontade imensa de chorar.

— Estou bem, sim. Sinto um pouco de dor no ombro, mas depois de algumas doses de morfina eu fico bem novamente. O médico disse que preciso só de mais alguns dias aqui.

Abri a boca para falar, mas não saiu nada. Morfina... Ele usa morfina.

— Srta. Clark, eu quero que você saiba que não é responsável por...

— Nathan. — Murmurei, interrompendo-o. Passei a língua pelos lábios, umedecendo-os, e respirei fundo. Senti as margens de meus olhos arderem. — Por favor, não tente não me culpar por isso... Se não fosse por mim nada disso teria acontecido...

— Louisa, você fez o certo. — Foi a primeira vez que ele me chamou pelo nome de batismo. — Você foi até ele, manteve a calma, e não teve medo.

— Mas eu deveria ter contado. Eu coloquei a vida de todos vocês em risco.

— Você sabia que ele seria capaz de tentar nos matar?

— Não.

— Então você não arriscou nossas vidas, Srta. Clark. Você não sabia de nada.

— Mas...

— Eu tomei o tiro porque me movi. Eu levantei do chão e tentei correr até ele. Vi que Will iria fazer isso; ele estava prestes a levantar. Patrick iria mata-la. Durante o tempo que estive no exército eu aprendi a reconhecer perfeitamente uma pessoa desestabilizada emocionalmente. E ele estava.

O que?

— Você está dizendo que... Que só levou um tiro porque tentou correr?

— Sim. A bala não era para mim e nem para o Sr. Traynor. Era para você.

Ah, merda, merda! Então isso explica tudo. Will não está só preocupado com a volta de Patrick, mas sim com ele querer continuar sua tentativa de me matar. E ele tentou... Ele tentou me salvar. Ele iria se sacrificar por mim antes de Nathan ser mais rápido. Por que ele não me disse isso?

Fico paralisada.

— E não me arrependo pelo que fiz.

— Nathan... Eu... — Minha voz estava embargada. Senti as lágrimas rolarem por meu rosto. — Ah, Nathan, obrigada! — Me atirei sobre o corpo dele antes que pudesse pensar duas vezes. Ele arregalou os olhos, sem entender, e soube que provavelmente ele nunca teve um contato assim com quem trabalhava. — Você... Você salvou a minha vida... E a de Will.

A essa altura eu já estava soluçando. Desde que vi Nathan pela primeira vez me impressionei com sua pouca idade, mas nunca iria esperar que este homem seria capaz de ser tão corajoso a ponto de colocar sua vida em risco para salvar eu e Will. Além do mais, ele não me considera culpada. Ele sabia que iria tomar aquele tiro.

Depois de alguns minutos, levantei a cabeça e me recompus. Ajeitei a grade de segurança ao lado dele e sequei as lágrimas em meu rosto.

— Srta. Clark, eu só lhe peço uma coisa. — Ele começou a falar baixinho, como se as paredes tivessem ouvido. — Não conte a Will que eu lhe disse essas coisas. Não era para você saber que ele iria levar o tiro por você... Mas eu não podia esconder isso. Não podia ser o herói da história sozinho.

— Tudo bem.

E a partir daí eu não soube mais o que dizer. Will não queria que eu soubesse disso; e ele não me contou por esquecer-se. Notei que eu parei de pensar e que a sala ao meu redor ficou subitamente em silêncio.

Estava sentada nas poltronas de espera ao lado de fora da sala 14. Will entrara lá há mais de meia hora. Depois do que Nathan me pediu eu não disse mais nada. Fiquei fora de mim. Tudo começou a zumbir em minhas orelhas e, aos poucos, fui tomando consciência de algo terrível.

Will iria sacrificar a vida dele por mim. E nem iria me contar isso. Ele simplesmente decidiu que morrer no meu lugar seria melhor. Sei que naquele momento eu estava decidida a fazer o mesmo, mas ao contrário dele, eu não tenho uma vida incrível que trabalhei muito para conquistar. Will sempre trabalhou para ter o que tem hoje; é muito inteligente, bem sucedido e pode encontrar quem quiser pelo caminho. E sei porque ele está tão preocupado ultimamente: ele tem medo de Patrick voltar. Deve ser por isso que não me deixa muito tempo sozinha. Acho que ele quer me salvar caso Patrick tente me matar outra vez... E isso significa que ele morreria por mim.

O pensamento me fez estremecer na cadeira. Fiquei em pé e fui até a janela, abraçando meu corpo com os braços. Eu não posso ser responsável por tirar a vida deste belo homem. Antes, quando eu não disse nada sobre as loucuras de Patrick, não fazia ideia de que ele podia ser tão perigoso. Mas agora eu sei do que ele é capaz e não posso permanecer sem fazer nada. Não quando a vida de Will está em risco. Eu já tinha essa sensação antes; o sentimento avassalador de pensar que ele havia morrido por culpa minha. E se eu continuar aqui, com certeza, isso vai acontecer.

Fitei a rua lá embaixo do hospital. Cinco ambulâncias estavam estacionadas, prontas para sair apitando quando alguma emergência acontecer. Outras duas estão viradas com as portas de frente para a sala de pronto-socorro, provavelmente entregando algum ferido. As pessoas caminham se protegendo da chuva; alguns com os casacos em cima da cabeça, outros dividindo o guarda-chuva com outra pessoa, e os mais preparados caminham tranquilamente de capa de chuva, apenas desviando das poças. Todas essas pessoas estão vivendo suas vidas e, mais uma vez, acho isso reconfortante. Apertei mais os braços ao meu redor. Será que algum dia eu poderia viver assim como elas? Todas parecem tão tranquilas e sem muitas preocupações. Será que alguém no andar debaixo está preocupado também em ser responsável pela vida de outra pessoa? Acredito que não. Eu não posso continuar aqui. Patrick quer a mim e estar ao lado de Will nesse momento é como ser uma granada. Nunca sei quando irei explodir. Mas de uma coisa eu tenho certeza: se Patrick me encontrar, Will fará de tudo para que a minha vida esteja a salvo. E como eu poderia viver tranquilamente depois, como as pessoas que estou vendo agora, sabendo que um homem inocente, belo, rico e sucedido na vida morreu para me salvar? Eu não posso aceitar que sou o alvo e depois simplesmente deixar ele se tornar o alvo no meu lugar.

— Oi, Clark. — Ouvi uma voz docemente familiar atrás de mim. Duas mãos grandes apertaram meus ombros. Fechei os olhos por um momento e suspirei. Virei-me e lá estava Will, com seus cabelos arrepiados e um sorriso terno no rosto. — Como foi a sua conversa com Nathan?

Descobri que você quer se sacrificar por mim, pensei, e isso me fez ter vontade de chorar. Respirei fundo. Eu não posso chorar agora.

— Foi... Boa. Ele me perdoou. Está tudo bem agora.

As palavras saíram de mim como se, lá no meu intimo, eu soubesse a coisa certa a se fazer, antes mesmo do meu consciente ter certeza.

Não, eu não contaria a Will que agora sei o que ele tentou fazer na noite da festa. E também não vou dizer que sei o que ele está pretendendo fazer agora. Se ele souber, não duvido que me tranque em algum lugar só para me manter em segurança.

— Que ótimo, querida. Ele parece muito bem, não é?

Ele sorria mais aliviado do que feliz. Fiquei olhando para seus olhos, enxergando meu reflexo em suas íris, e parei. Will foi se certificar de que Nathan não havia me dito nada, notei, assustada.

— Sim, ele está ótimo. — Abri um sorriso forçado. — Me contou que vai levar só alguns dias para receber alta. Isso é ótimo.

— Ele vai poder voltar ao trabalho assim que estiver totalmente recuperado. Não vai demorar.

— Isso é bom... Pensei o tempo todo que eu seria a responsável por, sei lá, tirar os movimentos dele.

— Você não é a culpada de nada, Clark, querida. — Ele me puxou para um abraço. Isso me surpreendeu. Essa é a segunda vez que Will é afetivo em público; a primeira foi na cerimônia da festa da empresa. Fechei os olhos enquanto ele me apertava calorosamente. — O culpado por tudo isso é Patrick. Mas ele vai pagar pelo que fez, não vai?

— Vai.

Minha voz saiu quase num sussurro... Talvez Will não só esteja preparado para salvar a minha vida em troca da sua, mas também, talvez, acabar com Patrick. O que resumiria na vida dele acabada também, pois, afinal de contas, o que uma pessoa ganha depois de matar a outra? Anos de prisão. A conclusão me desestabilizou. William realmente está pronto para me tirar fora de qualquer perigo.

Chegamos no apartamento de Will quase meia hora depois. Entrei rapidamente e fiquei grata por ele ficar conversando com Francis, na portaria. Antes de entrar ele disse que iria ficar mais algumas horas no escritório. Isso me daria tempo o suficiente.

Durante o trajeto de volta para casa eu não parei de pensar sobre Will, sua vontade insana de me proteger, e a sua coragem em fazer o que fosse preciso. Eu não consegui pensar em nada senão uma saída. E, com uma dor no peito, notei que não havia nada que eu pudesse fazer senão sair da vida dele. Tive que segurar o choro pelo menos três vezes quando olhava para o lado e o via ali, sério, mas sereno. Não sei se eu teria coragem de deixa-lo e, se tivesse, não faço a mínima ideia do que seria da minha vida sem ele. Will me ensinou muita coisa no tempo em que estivemos juntos — mesmo que fossem só dois meses. E eu me acostumei a ficar muito tempo com ele. Sei que não será fácil abandoná-lo e fazer como todas as outras. Mas o que eu poderia fazer? Não posso ficar aqui com ele com Patrick atrás de mim. Will tem uma vida muito boa e é jovem demais para estragar tudo. Pensei também no orgulho que Camilla Traynor e Steven Traynor sentem do filho e me senti muito, muitíssimo culpada por, talvez, ele ir parar até atrás das grades. Sei que William, se tivesse oportunidade, também iria ferir Patrick. E tive que balançar a cabeça quando imaginava os dois chorando com a perda do filho.

Eu preciso fazer isso, repeti para mim várias vezes, como um mantra. Subi a escada e fui até o quarto dele. Peguei minha bolsa e coloquei lá duas blusas que eu havia deixado lá, uma calça, minha escova de dentes e a camisa dele que vesti ontem quando acordei. Precisava pelo menos de alguma parte dele comigo, sentia isso.

Fui até o banheiro e lavei meu rosto na água fria da pia. Eu preciso ter coragem de sair daqui e não olhar para trás. Levantei a cabeça e me encarei no espelho. Eu parecia muito abatida — e nem tinha chorado ainda. Duas olheiras enormes estão abaixo de meus olhos e minha pele está esbranquiçada. Prendi meu cabelo num coque alto e não adiantou muita coisa na minha aparência. Voltei para o quarto, me certifiquei de que estava tudo na bolsa, inclusive minha carteira, e saí de lá.

Meu coração estava disparado e uma angustia crescente se instalou em meu peito. Obrigava minhas pernas a se moverem. Eu preciso fazer isso, repeti enquanto descia as escadas, sem olhar para a casa ao meu redor e tentando, várias vezes, disfarçar a consciência que eu tinha do quanto sentiria saudade de estar aqui com ele. Quando cheguei no andar de baixo, mesmo que eu tentasse, não consegui resistir a vontade de ir até a porta de seu escritório. Estava entreaberta. Sabia que qualquer movimento meu ali ele me veria e perguntaria aonde eu estava indo. E isso iria acabar com tudo.

Então tranquei a respiração e dei um passo a frente, inclinando a cabeça em direção a porta. Ele estava com um dos braços sobre a mesa enorme e cheia de papeis. Os olhos estavam fixos na tela do computador e, com a outra mão, ele segurava o telefone. Estava concentrado falando com alguém, o rosto impassível, como ele ficava quando estava preocupado. Senti meus olhos arderem pelas lágrimas e, sem minha permissão, elas começaram a escorrer por meu rosto.

Soltei o ar.

— Eu amo você, Will. — Sussurrei baixinho, tão baixo que eu quase não ouvi minha própria voz. — Eu sempre vou amar você.

E, com o coração pesado e as pernas bambas, eu me afastei. Eu preciso fazer isso, repeti. Eu preciso fazer isso. Não é qualquer coisa que está em jogo; é a vida dele. E eu preciso salvá-la agora que eu tenho chance de fazer isso.

Antes de sair abri minha bolsa e tirei o celular que Will me emprestou, deixando-o sobre a mesa de centro da sala. Suspirei. Ele não pode saber onde estou.   

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