Ele me puxou pelo braço até a moto enquanto eu olhava para trás onde Caique estava caído, ele colocou a mão no rosto e estava com uma expressão de confusão e choque, eu o encarei horrorizada. Assim que o Neythan parou eu puxei meu braço com raiva fazendo questão que ele percebesse.
— Que merda é essa? Qual o seu problema? — Ele arqueou uma sobrancelha por causa do meu linguajar inadequado, eu raramente xingava e ele sabia muito bem disso.
— Qual o meu problema? Aquele babaca vem dar em cima de você e quer que eu fique só olhando?
— O-O quê? Você só pode...
— Não tente negar a forma ao qual ele olha pra você, parece que quer te comer com os olhos. Não é a primeira vez, não tente negar porque eu escutei tudo.
Encarei Caique que levantou-se pegando suas coisas e saiu por um caminho contrario nos encarando.
— Não precisava ter feito aquilo. Ele só estava sendo sincero.
— Ele só queria pegar você. — Ele rebateu com ar de convencimento.
— Dá para parar com isso? Esse não é você, o que está acontecendo? Você anda tão explosivo ultimamente, parece que está sempre estressado, além disso, o que significa exatamente esse brilho nos seus olhos? Eu nunca vi essa cor antes, não antes daquele dia.
Eu me referia ao primeiro dia em que vi seus olhos brilharem daquela cor, e ele sabia exatamente do que eu estava falando, e exatamente por isso ele desviou o olhar do meu, o que consequentemente significava que ele estava escondendo alguma coisa de mim, eu o conhecia muito bem para saber disso.
— O que você está escondendo de mim?
— Não é...
— Não ouse mentir pra mim porque eu vou saber. — Eu o olhei no fundo dos olhos e ele não desviou o olhar dessa vez, apenas assentiu e eu tive a minha confirmação.
— Quer saber? Não tem nada de errado comigo tem com você. Parece que fica o tempo todo rodeada e eu me sinto ameaçado, esconde das pessoas o que sentimos um pelo outro e não gosto do sentimento por detrás disso. Parece que todo mundo fica tentando tirar você de mim — ele aproximou-se de mim ficando há um centímetro de distancia — e eu não vou deixar. Nunca!
Eu toquei o rosto dele delicadamente e ele colocou a mão sobre a minha como se esse gesto simplesmente doesse nele, tecnicamente eu sabia que doía mesmo, mas não de um jeito ruim.
— Porque você não entende que ninguém nunca vai me tirar de você? Eu te escolhi, Neythan. Dentre todas as outras pessoas, eu te conheci, me apaixonei por você e te escolhi. Eu escolheria outras mil vezes e nunca me arrependeria disso porque eu simplesmente te amo. Eu sei que você se sente inseguro as vezes, pensa que vão me tirar de você, eu também tenho essa insegurança. Quando te conheci eu era só uma garota estranha e insegura que não conhecia muitas coisas da vida, agora sou praticamente uma mulher. Eu cresci e amadureci e você me ajudou, sempre esteve comigo. Você é o meu porto seguro, eu sempre vou precisar de você. Eu sempre, em qualquer hora, qualquer lugar e qualquer século vou amar você. Só que... eu não vou conseguir continuar te apoiando se você nunca me disser o que está acontecendo, parece que tem medo de se abrir e expor o seus sentimentos, você guarda tudo pra você te sufocando e quando não aguenta explode, e o fato de você começar a guardar segredo de mim de coisas tão importantes está fazendo novamente a gente se afastar.
— Talvez você tenha razão. O problema é e sempre será eu. — Eu aproximei-me dele puxando-o para mim pela gola de sua jaqueta e o beijei.
— Não, o problema somos nós. Dois cabeças ocas que sempre procuramos problema onde não tem e não vê o que está na nossa frente.
Ele arqueou uma sobrancelha
— E o que seria?
— Somos completamente apaixonamos um pelo outro. — Ele riu retribuindo meu beijo.
— É! Isso eu não posso deixar de discordar.
Depois da nossa repentina reconciliação, de novo, eu fui para minha casa passar um tempo com os gêmeos e o Alam, na verdade fomos para outro ponto da cidade, o Alam conseguiu alugar um espaço para fazer seu atelier, onde continuaria criando seus modelitos, o que era um grande passo para ele, ele finalmente estava conseguindo tornar seus sonhos realidade e eu estava tão feliz com ele por causa disso.
— Você tem muito talento. — elogiou Lucianna — Que tal você desenhar alguma coisa pra mim? Algo que seja a minha cara sabe? Bonito, extravagante e sexy, algo Lucianna.
Eu ri com a referencia ao próprio nome dela, ela tinha confiança e muita. Ah, se eu tivesse a mesma confiança que ela.
— Consigo fazer isso. Dê-me uma missão e a considere cumprida. — Alam falou enquanto organizava algumas coisas em cima da mesa. — Agora a minha mais ilustre e renomada criação, uma das melhores até agora, modesta parte.
Ele encaminhou-nos para um canto do atelier onde tinha um manequim que estava coberto do tronco para baixo com um saco plástico preto, onde deveria ser a cabeça estava depositada uma tiara com um fino e grande véu branco com pequenos detalhes de renda em flores. Eu paralisei. Tinha exatamente uma ideia do que era.
— Alam... Você...
— É exatamente o que você está pensando minha querida. Você não tem ideia de como me senti terminando isso, falta ajustar muitas coisas ainda e você experimentar para que eu posso novamente fazer os ajustes, mas falta tão pouco... — ele parecia orgulhoso de si mesmo — É uma das melhores coisas que criei a mais especial de todas.
Eu não sabia como eu ainda conseguia fazer isso, mas estava fazendo, eu estava prendendo a respiração e só percebi quando pareceu que meus pulmões estavam sendo espremidos, claro que eu não morreria no processo com algo assim, mas voltei a respirar antes que desmaiasse.
— Eu não... Não sei o...
— Por que não diz alguma coisa depois de experimentar? Vamos! Não é como se você fosse casar agora, Mhylla. São só preparativos.
— Eu tenho certeza que ficará maravilhosa! — Ajudou Lucian erguendo a sobrancelha pra mim
— Ela é maravilhosa, Lucy — Ela falou.
Eles tinham o mesmo apelido?
— Ok. Vou experimentar.
Lucianna me acompanhou até o provador enquanto o Alam retirava o vestido e o levava até nós. Comecei a tirar a minha roupa, desabotoando a camiseta social azul-marinho, quando meu ombro começou a doer e eu travei sentindo dor, Lucianna me olhou confusa, e ficou atrás de mim ajudando-me a tirar a camiseta.
— Está tudo bem? Fez uma cara de dor. Como se alguém tivesse te dado um soco no estomago.
— Não é nada. Foi uma dor repentina.
Ela me encarou.
— Engraçado comentar isso. — Falou, parecendo estar falando consigo mesmo.
Coloquei o vestido e ela me ajudou arrumando os detalhes. Fiquei parada olhando-me no espelho completamente deslumbrada e extasiada.
O vestido era longo e rendado com detalhes que lembravam flores, ele tinha um detalhe que ia de ombro a ombro com uma facha branca detalhada de rosas de manga que ia até o cotovelo, ele descia em detalhe princesa acentuando a cintura, o detalhe no final era igual o do véu. Era lindo, completamente lindo e o tamanho estava perfeito. Como o Alam havia dito, faltava só alguns detalhes, mas ainda assim estava perfeito.
— Você é a noiva mais linda que eu já vi. — O Alam falou parecendo completamente emocionado. Era a primeira vez que eu o via assim.
— Senti até vontade de ser o noivo agora. — Lucian, falou — Cara de sorte!
O Alam começou a me rodear arrumando alguns detalhes e eu me perdi em pensamentos.
Na minha cabeça, não queria casar por achar não estar pronta e por causa de todo o trauma que tinha disso por causa dos meus pais, mesmo sabendo que no fundo eles se amavam, mas agora, olhando-me no espelho percebi que na verdade era medo, eu estava com medo de assumir algo maior, com medo que as coisas mudassem demais porque mudanças me assombravam, olhando-me ali, me senti bem, bonita e pronta, soube que era exatamente isso o que eu queria. Queria casar com o Neythan e passar o resto da minha vida ao lado dele, queria tornar nossa relação mais forte do que já era, queria realmente que todo o mundo soubesse disso.
Vizualizei-nos no altar, eu entrando acompanhada do meu pai, o Alam e minha mãe perto do altar, lado a lado, nossos amigos em volta nos olhando e tudo o que eu conseguia era prestar atenção no Neythan, que estava parado com um sorriso no rosto, todo de branco com uma rosa vermelha no bolso do paletó, eu aproximei-me e meu pai entregou-me à ele, que assentiu segurando a minha mão firmemente. E eu me sentia feliz, completamente feliz.
Algo tirou-me do transe quando senti novamente uma pontada no ombro, mas dessa vez mais forte que me fez perder o folego e cair, eu estava com dificuldade para respirar e a dor parecia querer rasgar meu ombro.
— Mhylla?! Meu Deus, você está bem? — Apavorou-se o Alam segurando na minha mão, — Oh, seu ombro.
Toquei meu ombro automaticamente olhando-me no espelho a minha frente quando vi, uma marca luminosa surgiu, ela brilhava em tons intensos de laranja, parecia que quando mais eu tentava respirar, mais o ombro doía. Começava a ficar completamente desnorteada quando a dor parou e pude novamente ver a marca no meu ombro.
Era a minha marca de nascença.
A mesma que tinha sumido após eu ter me sacrificado para salvar a vida do Neythan e quase morrer no processo. A mesma que estava aparentemente ligada com a maldição da cidade
Com a maldição de Nuvia
...
— E que comece o show! — A morena disse com um sorriso fatal no rosto, ela pegou sua taça de vinho e tomou delicadamente apreciando cada gota, como se fosse a última vez em que provaria algo assim, ou como se fosse a primeira, não importava a sequencia.
Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto, dessa vez todo alisado, ela continuava usando um decote em V profundo, mas dessa vez era uma blusa de seda, com uma saia colada ao corpo que acentuava ainda mais suas curvas.
Seu encontro com a garota na boate dera-lhe a certeza de que estava no bairro e no lugar certo.
— Oh, boys. A morte é tão linda! — E seus olhos brilharam .
...
— Eu não sei o que está acontecendo. Ela estava bem. — Ouvi alguém dizer
Parecia que todo o meu corpo estava doendo e sabia que era coisa da minha cabeça porque ultimamente eu dificilmente sentia dor, a rápida regeneração impedia qualquer coisa, mas naquele momento parecia que tinham me esmagado com alguma coisa.
— O quê aconteceu? Por quê ela está vestida assim? — Escutei o Neythan dizer. Alguém me segurava pelos braços, mas eu estava tão atordoada que não estava conseguindo distinguir nada.
— Desculpe querido, mas foi uma emergência. Você não podia ver o vestido da noiva ainda — Dessa vez foi Lucian quem disse.
— Não se preocupe, eu fiquei com a missão de tirar a roupa dela quando desmaiou. Ainda bem que ela tem um corpo pequeno, consegui vestir isso nela antes de você chegar.
Tirar a minha roupa? Do que eles estavam falando? Eu estava sonhando?
Comecei a me mover tentando ignorar a dor excruciante e abri os olhos, minha visão estava embaralhada e demorou alguns segundos até voltar ao normal.
O Neythan estava parado ao meu lado segurando-me pelos ombros, eu estava deitada em uma poltrona que ficava no canto do atelier; Alam, Lucianna e Lucian estavam à minha frente encarando-me com expressão de susto.
Olhei para minha roupa e percebi exatamente do que eles estavam falando. Eu estava enrolada em um roupão cor de vinho que batia acima dos joelhos, o vestido de noiva que eu estava antes de desmaiar já não estava mais a vista.
— O-o quê aconteceu com você? Está bem? — O Neythan perguntou preocupado e me abraçou com força, eu ainda estava confusa, todas as minhas energias tinham se esvaziado.
— Eu não sei o que aconteceu. Estávamos aqui conversando numa boa, eu estava experimentando o vestido e...
— Que vestido?
— De noiva — falei, e ele me encarou surpreso — O que o Alam desenhou pra mim
Eu não sabia se era impressão minha ou por causa do mal-estar, mas podia jurar que ele corou, eu não estava acreditando.
— Você... Você aceitou isso?
— Eu tinha que experimentar. Ele desenhou especialmente pra mim. — Eu o observei — É lindo!
— Estou ansioso para ver.
— Vocês querem privacidade? Porque a gente pode sair, sabe? — Comentou Lucian e começamos a rir
O Neythan ainda me encarava como se houvesse alguma coisa de errado comigo.
— Vamos deixar os dois conversarem sozinhos. Estaremos lá nos fundos se precisarem de nós, o que eu creio que não. — O Alam falou
— Eu vou ficar aqui. Quero fazer parte da conversa, Mhylla. — Lucianna bateu o pé no chão cruzando os braços e todos voltaram sua atenção à ela. — Não tem que esconder sobre a marca da gente, porque não há praticamente quase nada que não sabemos sobre você ou a cidade. Já chega desses joguinhos.
— É verdade. — o irmão dela ajudou
— Eu sei sobre a maldição de Nuvia, sei que descobriu sobre seus poderes Adorm, sei também que seu namorado pertence à uma linhagem direta dos Greenfilds, sei do "Alecxander" e também sei sobre o Alam. Simplificando sabemos tudo, até mesmo sobre a guerra que está por vir, por isso estamos aqui. Não quero ficar de fora de mais nada.
Eu e o Neythan encaramos os irmãos Malkovichs de sobrancelha erguida e surpresos, estávamos fazendo tanto suspense e tentando esconder isso deles, quando na verdade já sabiam de tudo. Eu só não estava tão surpresa, porque o Neythan contou a história dos Malkovich, que eles protegeram a Melissa e eram conhecidos como Guardiões.
— É Alexander! — Falei, ainda espantada
— O quê? — Falou, mais confusa que eu.
— Você disse Alec, é Alex. Alexander.
— Eu já desconfia que tinham noção de tudo. Estamos entrando em tempos difíceis e vocês apareceram. — O Neythan falou
— Nossa única missão é proteger a Mhylla e a cidade. Não somos conhecidos como protetores à toa — Lucian falou
— Quero saber sobre a marca no seu ombro. O que aconteceu? — Lucianna exigiu. Era a primeira vez que eu a via com uma expressão tão séria assim.
Ela estava determinada.
— Que marca? — O Neythan perguntou me encarando.
Olhei em direção ao meu ombro e ele capitou meu olhar, ele tocou meu ombro delicadamente puxando metade do roupão até deixar meu ombro exposto. A marca ainda estava ali, agora brilhava com menos intensidade quase se dissipando , ele ficou de boquiaberto.
— Como é possível? A marca sumiu. No dia do seu sacrifício a marca sumiu. Ela não deveria, isso não deveria...
— Só pode significar uma coisa. — Lucianna nos encarou e eu temi pelo que vinha a seguir — A maldição foi ativada. Nuvia vai ser destruída.
Não!
Não e não! De novo não.
— Sei que é fora de hora, mas o que significa os guardiões? — O Alam perguntou.
Estávamos saindo do atelier e ele estava em uma conversa com Lucian e Lucianna, já que agora sabíamos que eles sabiam tudo não havia nada para esconder, até mesmo o Alam sentiu-se mais à vontade perto deles. Obvio que ainda faltavam coisas para serem esclarecidas, tipo o fato de como ficaram sabendo tudo isso, claro que eles tinham informantes, mas eles sabiam detalhes demais, tipo o fato da minha marca de nascença.
Eu já havia trocado de roupa e agora estava com a mesma que cheguei ali.
— Você está muito pálida e fraca. — O Neythan me avaliou de cima abaixo — Quando foi a última vez que você comeu?
Eu tomei um susto, mas fiz questão de continuar seguindo em frente sem olhar pra ele. Eu não fazia ideia, fiquei tão concentrada no trabalho e nos assuntos dos últimos dias que nem prestei atenção nisso; se eu não me concentrasse na minha fome não percebia, eu tinha um metabolismo bom, tudo e qualquer coisa que comia já parecia me dar energia então não me focava tanto nas refeições. Percebi também que estava tomando cafeína demais e isso estava substituindo todo o resto.
— Está focando só no café, não é? Mhylla... Você sabe muito bem onde isso...
— Não vou ficar com anorexia de novo, Neythan. Eu estou prestando atenção, ou quase nisso e...
— Não mesmo. Porque agora você tem alguém pra cuidar de você. Vou cozinhar essa noite, não aceito não como resposta.
Eu sorri segurando na mão dele e encostando minha cabeça em seu ombro enquanto continuávamos andando em direção ao carro. Era obvio que eu aceitaria.
-----X-----
Yoo, como estão?
Lembrando à vocês que continuarei com o mesmo fluxo de postagens de capítulos especiais TEMPORARIAMENTE, vim só para adiantar esse capítulo para vocês.
Não esqueçam de comentar, vou adorar responder todos ^^
Vestido da Mhylla s2
Detalhe da manga
Detalhe do ombro
Véu