CAPÍTULO 25: DESPEDIDA

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As vezes você pensa que vai conseguir ser forte, que vai superar todos aqueles obstáculos que a vida lhe impõe e que não vai vacilar, vai ser aquela pessoas que todo mundo espera que você seja, mas você sabe, que em algum momento, você vai cair, vai cair e não vai querer levantar mesmo que queira. Mas ao seu lado terá aquelas pessoas que nunca deixaram você lá.

Parte de mim se quebrou quando Betty se foi, parte daquilo era minha culpa, eu poderia ter impedido que ela continuasse a investigação, poderia ter impedido-a de continuar com aquela matéria, eu sabia que eles poderiam ir atrás dela, que Os Nobres a encontraria, e ela também. Mas no fundo, mesmo que eu dissesse muitas coisas à Betty ela não me escutaria, ela era a melhor colunista da Behind, ela tinha um espírito valente, era forte e determinada, ela publicaria aquilo mesmo que eu, Caique ou qualquer outra pessoa dissesse que não. A verdade era o que a movia, no pensamento dela o pessoal de Nuvia merecia a verdade.

Em parte eu também, quero dizer, por décadas eles sofreram com a maldição, mortes inesperadas, loucos por poderes entre varias outras coisas, eles mereciam saber a verdade, o porquê estavam sofrendo tanto, mas se soubessem, poderiam enlouquecer, e levar todo o resto junto. Betty queria que a matéria fosse publicada, talvez devesse ser mesmo.

Chuviscava lá fora, no velório dela, todos estavam lá, todo o pessoal da Behind, Kenneth, Louis que eu sempre trocava o nome para Luís, Thomas, o marido e havia um carro parado a minha frente, uma senhora segurava um bebezinho no colo, era Mikhael, filho de Betty, até mesmo Lionel e Loren estavam ali.

O único que eu não vi que Betty conhecia era Caique, não o vi em lugar nenhum. Eu não o culpava, eu nem ao menos consegui descer do carro para prestar minha última homenagem, eu simplesmente travei dentro do carro.

Não conseguiria ir até lá e olhar para ela dentro daquele caixão, esse não era o tipo de imagem que queria que ficasse na minha cabeça sobre ela, Betty era uma mulher extrovertida e muito boa, ela não merecia ter morrido daquela forma, e quem fez isso com ela pagaria.

Com toda certeza pagaria.

De alguma forma eu tinha me apegado a ela, poderia não conhecê-la por mais de anos como a outras pessoas, mas considerava que já, estávamos próximas nos últimos meses, nós três formávamos uma boa equipe, brincávamos, riamos, trabalhávamos e tirávamos o melhor do nosso serviço. Não conseguia imaginar que voltaria a trabalhar e não a veria lá com aquele sorriso cativante, dando uma bronca em Caique ou cantando desafinadamente alguma música.

Eu simplesmente não tinha forças para descer do carro.

Senti um aperto na minha mão e olhei para o lado. O Neythan estava ali, me olhando, ou melhor dizendo, me confortando, ele acariciou minha mão e depois me abraçou, e as lagrimas que já estavam escorrendo pelo meu rosto multiplicaram-se transformando-se em soluços.

— Eu não... Eu não consigo.

— Você não tem que fazer isso agora. — Ele falou — Mas acredito que vá querer se despedir.

Ele não tirou os braços de mim enquanto falava, o que me fez sentir mais confortável apesar do buraco que ainda estava no meu coração.

Sabia que perder pessoas era inevitável, mas mesmo sabendo, ninguém nunca iria estar preparado para a dor. Vidas são perdidas em guerras, vidas preciosas, Nuvia provavelmente entraria em Guerra em breve, e eu nunca, jamais deixaria que mais alguém se machucasse.

Eu iria protegê-los, mesmo que dependesse da minha vida.

Eu iria vingar Betty.

Não conseguir descer do carro e dizer o meu adeus, não consegui nem pensar na imagem dela lá porque parecia ser demais pra mim, eu não estava acostumada a perder pessoas, então não sabia lidar com a dor. Quando me sentia triste eu me isolava, ficava em um canto quieta e completamente sozinha. Foi exatamente o que eu fiz.

TOQUE DE SEDUÇÃO 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora