Ceres - Agora o Inimigo é Out...

By erika_vilares

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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Os muros cinzentos que cercavam o castelo retinham a cruel realidad... More

Ceres - Agora o Inimigo é Outro
Messagem aos novos leitores
Prólogo
Capítulo Um Parte I
Capítulo Um Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete Parte I
Capítulo Sete Parte II
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Aviso
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete Parte I
Capítulo Vinte e Sete Parte II
Entrevista na Band
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Penúltimo
Último Capítulo - Parte II
Notas da Autora
PRÉ VENDA

Último Capítulo - Parte I

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By erika_vilares

Capítulo Trinta e Seis

Parte I

Savannah Campbell assistia o grande portão de madeira içar. E uma vez que ele cedeu a passagem, Savannah o atravessou em cima de sua égua e galopou o caminho de terra batida até o centro do pequeno vilarejo formado por inúmeros pavilhões. Uma vez que chegou ali, sentiu todos os olhares lhe seguirem enquanto ela ainda tentava controlar a agitada égua que como sempre se mostrava desobediente. Um homem, maior que os outros, se aproximou com postura e apanhou as rédeas do animal, fazendo-o se acalmar. Savannah observou ansiosa o homem que estava abaixo dela, era Zahari Christoff.

– Lembro-me de você. Era a companheira de viagem da princesa do Norte.

– E eu lembro de você. O homem que dá as ordens por aqui. – Ela disse com convicção enquanto desmontava de seu animal. – Eu gostaria de conversar a sós com o senhor.

Ele assentiu, chamando com um sinal o cavalariço que levou sua égua.

– Acompanhe-me.

Savannah se surpreendeu com a facilidade que foi recebida por Zahari, talvez a memória de ter estado ao lado da princesa do Norte, influenciou sua rápida decisão. Ela precisou ser persistente para chegar ali, não lembrava-se do caminho mais rápido que fizeram para encontrar o vilarejo, mas lembrava-se do rio que quase tirou sua vida. Fez uma longa viagem para o norte, depois seguiu o percurso do rio. Precisou esperar quase um dia inteiro para a correnteza abaixar e fazer uma travessia segura.

Quando encontrou o vilarejo de baixo da ALDA entrar não foi difícil, pois ainda sobrava-lhe alguns vilares para pagar sua entrada. Perguntou sobre Jared, mas ele não estava ali. Fora recebida por sua mulher, Danira. Avisou que precisava se encontrar com Zahari Christoff e que o assunto era de extrema urgência, entretanto era noite e subir a traiçoeira montanha no breu era muito arriscado. Danira a aconselhou ficar ali e esperar, mas Savannah lhe revelou não ter mais vilares para gastar e num gesto muito gentil, Danira a ofereceu um teto onde passar a noite com a condição de que ela deixasse a espada que carregava nos cuidados de Dani.

E agora, estava ali, ao pé de Zahari. Eles chegaram em sua tenda e Zahari lhe ofereceu algo quente para beber, Savannah aceitou pensando que lhe ajudaria sentir menos frio. Ele pediu para que se sentasse e lhe estendeu uma xícara de chá.

– Então, o que traz a senhorita para estas terras outra vez?

Ela estava cabisbaixa e ansiosa. Não sabia o que dizer. Não sabia como dizer.

– O que eu estou prestes a dizer soará loucura. Eu sei disso. Mas, eu estou aqui por causa de uma visão.

Ela estudou a figura de Zahari que se manteve imóvel como uma máscara.

– Quando eu tinha oito anos, eu estava pescando num rio próximo as grandes minas do oeste, eu tive um acidente, eu cai na água e me afoguei. Naquele dia eu quase perdi minha vida, e por algum motivo esse trauma apagou todas minhas memórias anteriores. Acreditava que era filha de algum pescador que se perdeu e nunca mais encontrou sua família. Mas por alguma razão, eu sempre sonhava com o Vale de Trinton, eu não encontrava a ligação das coisas. Cresci sozinha, nas ruas, até um dia ser jogada num orfanato no oeste onde eu encontrei uma garota, ela tornou-se para mim minha irmã.

Seu coração apertou e para ter uma pausa, ela tomou um gole de chá.

– Seguimos juntas até um dia encontrar a princesa, que nos levou para o Vale de Trinton, e ali tal como Jared, nós encontramos o Oráculo. Ele me mostrou uma visão. Uma jovem senhora tivera sua primeira filha, a qual nascera prematura. Por isso, essa jovem senhora subia com sua filha no Vale de Trinton, a cada lua nova, para buscar uma flor de leite. No início do outono, as duas sofreram um acidente depois de uma furiosa tempestade, a carruagem se desprendeu dos cavalos e derrapou na estrada. Ela foi arrastada para baixo batendo contra as árvores. Elena Berbatov segurou tão forte sua filha em seus braços conseguindo protegê-la...

Savannah segurava suas lágrimas, mas não podia impedir os arquejos escaparem de sua boca.

– Elena estava viva quando o irmão de seu marido chegou, ele somente a encontrou por seus gritos. Ela pediu primeiramente que tirassem sua filha dali, Vladmir Crawford o fez, mas talvez quando Elena viu sua filha em segurança, ela pôde partir em paz e não resistiu mias os ferimentos. Vladmir me carregava nos braços e os guardas se aproximavam, apenas um era de sua confiança. Ele ordenou que fossem em busca de reforços e chamou somente aquele quem confiava para perto, um homem que tinha apenas a metade do nariz. Me entregou em seus braços e ordenou que desaparecesse comigo, seria bem recompensado. Esse homem me levou para um primo distante que morava no oeste, era solitário e doente, me deixou ali, ele cuidou de mim até os meus oito anos.

– Você está me dizendo que você é Nália Crawrford?

– Você conhecia bem meu pai, Yavor Crawford? E a linhagem dele? – ela devolveu com duas outras perguntas.

Zahari anuiu.

– Então você sabe que sua linhagem era reconhecida por uma marca de nascença. Você sabe onde está marca se encontra?

Zahari assentiu com sua cabeça, silencioso.

Savannah suspirou, nervosa. Ela levantou-se e tornou suas costas para aquele homem que se mantinha observador. Com muita vergonha, ela retirou dos ombros sua grossa capa que apanhara na casa de Olívia e a pousou cuidadosamente sobre a cadeira. Evitando o contato visual com Zahari, pois tinha medo de hesitar. Ela olhou rapidamente para seu busto e devagar foi abrindo o espartilho que contornava seu corpo e em seguida abaixou a blusa de lã puida de fios esticados revelando os ombros nus. Ela recolheu o cabelo e logo ouviu o som do movimento de Zahari, se levantando e se aproximando, ela inspirou forte.

– Você tem a marca da águia de Sharwood – ele arquejou intrigado. Savannah recolocou a blusa de lã e virou-se frente à frente a Zahari. – É uma situação difícil para mim você chegar aqui quase duas décadas após o desaparecimento de Nália Crawford e me afirmar ser ela por ter uma marca de nascença. Entretanto, olho para você e consigo ver os olhos de Yavor, e os cabelos de Elena.

Ela sentiu seu coração bater forte e sua respiração já estava descompassada.

– Tudo que eu peço é um lugar onde morar e que me treine como seus arqueiros, senhor Christoff.

– Este lugar é a sua casa, Nália Crawrford. Você sempre será bem-vinda aqui.

II

Na fria alvorada, Amélia já se encontrava fora de sua cama. Tinha compromissos marcados pela rainha, entretanto a princesa não contava em comparecer em nenhum deles. As poucas horas de sono lhe trouxeram uma nova ideia, ela teria um encontro hoje. Durante toda a viagem, a princesa Norwood pensou em todas as formas nas quais ela poderia abordar a sua verdadeira avó. Deveria agir como antes, apenas cumprimentá-la, ou deveria fazer algo mais?

Cirelli sabia da verdade, e provavelmente não lhe contara para não ultrapassar a ordem do rei e acordar sua fúria, ela deduzia. Algo em seu coração fazia Mia acreditar que aquela senhora tinha um carinho por ela e talvez não visse a hora de agir como uma verdadeira avó, assim como ela ansiava para encontrar algo que perdera com a morte de Rosa. Ela olhava a paisagem que corria sob seus olhos: as robustas árvores que tentavam sobreviver no duro inverno silencioso do lado de fora.

Talvez Cirelli tivesse planejado tudo para lhe contar a verdade, por isso tinha planeado sua fuga no outono passado e lhe trazido até sua cabana. Não haveria outra explicação, porém elas foram interrompidas por Lydia... Sua verdadeira mãe. Seu pai a dissera que ela não a quis. Que nunca soubera se ela estava com seu tio por dinheiro e poder, talvez perder tudo aquilo a deixara raivosa como Mia se lembrava. Uma mulher bela, mas talvez infeliz. Seria possível que ela lhe carregou nos braços e ainda assim lhe entregou para um grupo de rebeldes e fora embora sem remorso algum?

Aquilo era difícil de digerir...

Aquele encontro seria diferente, ela pensou com aspiração. Cirelli poderia mencionar tudo que realmente aconteceu naquela época e lhe dizer algo que ela não conseguia acreditar. Deveria haver um motivo para o abandono dela e Cirelli sabia.

Amélia trazia consigo tudo que poderia fazer um encontro feliz, trouxera para o almoço salsichas, aspergers, batata, pães e diversos queijos, acompanhados de chá de frutas vermelhas, frutos como ameixas, morangos e geleias. Mia também mandara recolher as flores mais bonitas dos jardins de Skyblower para preparar seu buquê que entregaria a Cirelli. Sabia que ela era uma mulher simples e fizera seu máximo para que tudo fosse humilde, mas apetitoso e receptivo.

Ela tentava controlar a ansiedade, sem sucesso, o que tornou a viagem longa e cansativa. A longa paisagem da natureza morta passava por seus olhos contemplativos, o único tom escuro do lado exterior provinha dos troncos das árvores, às vezes negros, às vezes marrons, o resto era um vasto mar de brancura. A neve estava por todo lado espalhando uma beleza mórbida. Finos flocos caiam do céu e colavam-se sobre o vidro embaçado da carruagem. Seu coração se apertou quando uma lembrança invadiu sua mente. Mia respirou forte e tornou a encostar suas costas no couro do estofado. Ainda doía, ela pensou com rancor. Ela tentava não pensar, mas sempre havia algo para trazer a lembrança de volta.

Ela se entregou à um homem que agora conspirava contra ela. Arruinara seu relacionamento com aquele que lhe dava valor e tudo isso num curto espaço de tempo. Talvez estivesse melhor sozinha, tentou se convencer, mas sem razão, seu coração ainda doía cada vez que tinha uma lembrança de Berbatov. Parecia uma ferida incurável. Um amargo remédio de traição que lhe serviria como uma lição.

A carruagem parou e Mia fugiu de seus devaneios, inclinou-se à beira da janela e sentiu seu coração palpitar quando viu a aconchegante cabana de Cirelli. Não esperou que seu novo cocheiro viesse prestar seu serviço, ela abriu a porta e saltou sobre a terra úmida e fria. O cheiro daquele lugar era forte e memorável, da terra molhada, de flores específicas que rodeavam o terreno, Mia sentiu uma boa sensação invadir seu corpo. Ordenou que o cocheiro ali esperasse enquanto apanhava sua cesta de comida e se aventurou até a cabana.

Amélia se apressou para bater na porta e esperou pouco tempo para ser atendida. Um déjà vu lhe ocorreu, a ultima vez que viera visitá-la, Cirelli estava atrás da casa, e para lá Mia seguiu.

Ela andou calmamente até os fundos da cabana, segurando com uma mão a barra do vestido que se arrastava na neve. Nunca tinha ido para aqueles lados da casa. Ali ela encontrou um simples viveiro de madeira onde haviam galinhas, Mia notou um detalhe curioso, um saco de comida estava revirado no chão, talvez Cirelli estivesse ocupada nos últimos dias e deixou aquilo ali, para não ter trabalho com as aves. Entretanto a cabra solta pelo quintal da casa também chamou a atenção de Mia. Aquilo parecia abandonado.

Amélia retornou para a parte frontal da casa e bateu outra vez na porta. Nada respondeu. Por impulso, tentou abrir a porta e ela estava sem tranca.

– Cirelli? – Mia gritou ao entrar na casa. Tudo parecia comum.

– É a Mia! Eu vim te ver.

Mia revolveu entrar, não roubaria nada, não havia mal em checar. Cirelli era uma mulher com idade avançada, talvez estivesse surda. Ela adentrou a casa e observou diretamente à mesa na cozinha, haviam duas xícaras sobrepostas ao lado de um bule.

– Cirelli?

Mia viu que em uma das xícaras ainda estava meio cheia com uma erva diluída na água, fria. Estava há um bom tempo ali. Porém a neve que varria o assoalho da casa ainda parecia fresca, haviam pegadas pela casa inteira. Mia pousou sua cesta de comida sobre o balcão com cautela. Andou pela casa, examinando o local, tudo parecia estar em seu devido lugar. Seguiu até a casa de banho e seu estômago contorceu-se ao notar a madeira da porta arranhada por algo afiado. Ela tocou a superfície.

Mia invadiu o banheiro e teve dificuldades para respirar quando o fedor subiu ao seu nariz, seu coração descompassou e diante seus olhos viu um cadáver grudado contra a parede com uma flecha atravessada na cabeça. Era o cadáver de Cirelli .

Amélia caiu contra a parede e seu olhar pareceu somente ver sangue borrifado nas paredes a volta dela. Sua voz falhou e um som estridente correu de seus lábios, ela encarou estarrecida a visão horrenda do corpo de sua avó colado contra a parede por uma flecha.

Mia perdeu o ar ao reconhecer a seta que atravessava sua cabeça, prateada com respingos de tinta, era a flecha de Berbatov. Ela soluçou, em pânico, e desabou em um choro doloroso. Aquilo não podia ser real. Ela se encostou contra a parede vendo os reluzentes olhos de Cirelli agora sem vida. Sua avó tinha sido morta e pelas mãos de Berbatov?

Seu coração começou a se aquecer à medida que seus batimentos aumentavam, ela arquejava um ar quente, choramingando. Seu corpo estremecia. Mia tampou seu nariz e soluçou sem saber se devia continuar a olhar aquela cena traumatizante ou se devia fugir. Como alguém poderia fazer essa brutalidade com uma senhora?

Amélia depois de tanto soluçar, convenceu-se que não poderia deixar Cirelli daquela maneira. Ela se rastejou para perto do corpo, ela precisava ser retirada dali. Mesmo tremendo, ela tentou arrancar a flecha que perfurava a parede sentindo o sangue molhar suas mãos, viu o buraco na testa alargar-se é mais sangue escorrer. Mia se afastou com ânsia de vomito. Ela tornou a colocar suas mãos e puxou com força o cabo da seta e quando sentiu o tranco, o cadáver frio caiu sobre seu corpo e ambas tombaram sobre o chão.

Mia gemia dolorosamente enquanto aninhava sua avó em seus braços, sentia seu vestido ser encharcado com o sangue que escorria da parte de trás da cabeça do corpo.

– Eu sinto muito – ela choramingou, balançando seu corpo. – Eu sinto muito. Não era para nada disso estar acontecendo...

Aquele dia não deveria acabar daquela hedionda maneira. Deveria ser um grande reencontro, não aquilo. Mia abraçou o corpo gelado, arfante. Ela nunca teria a chance de conhecer sua verdadeira avó. Ela morrera sem razão, por covardia. Ela não merecia tal morte, mas por que ela? Berbatov nem ao menos a conhecia. Por que Cirelli?!

Amélia não conseguia tirar seus olhos da flecha cravada no crânio da cabeça, ela entrava por cima da sombracelha esquerda, porque havia sido disparada da porta do banheiro, na diagonal. Era impreciso demais. Lucky era minucioso com seus disparos, gostava de precisão neles. Mia olhou para a porta, com os olhos cheios de lágrimas. Mas aquilo não tinha diferença naquela hora.

Ela ouviu o chamado de seu cocheiro dentro da casa.

Amélia lembrou-se do doce sorriso que ela tinha, todo aquele tempo, Cirelli havia tentado protegê-la como pôde, havia tentado ser próxima dela da maneira que estava no seu alcance. Elas nunca poderiam ter um relacionamento de avó e neta como ela criara a esperança ao ir para ali. Aquele era um doloroso adeus de algo que não tivera nem mesmo a chance de ser. Amélia levou seus dedos até os olhos dela e os fechou com um grande aperto no peito. Era sua obrigação enterrá-la e cuidar que todos seus animais encontrassem um novo lar. Era o que Cirelli desejaria que ela fizesse .

III

A continuação para o reino de Wanderwell fora descontraída, diferente do clima anterior da viagem, e tudo isso era graças a Julieta. Ela era engraçada e extrovertida, bebia como um homem, mas sabia se divertir. A viagem com Emily e Elliot estava sendo uma tortura, a qual fazia Thor somente relembrar todos seus problemas. Porém desde que eles fizeram o acordo de que ele os acompanharia numa viagem para Verdon em busca da Arma Prometida, Julieta se ofereceu para acompanhá-los até Wanderwell e organizar os preparativos que provavelmente Thor não poderia se ocupar.

Julieta gostava de falar e de perguntar. Aquelas estradas foram construídas somente no propósito de facilitar o comércio entre a Cidade-Livre e Wanderwell, eram bem feitas, então Thor a conhecia muito bem para poder responder todas as perguntas do tipo:

– Se nós não nos cansássemos, nenhum momento sequer, em quanto tempo chegariam em Wanderwell?

– Wanderwell fica a mais de mil léguas daqui. Se fossemos cavalos super fortes, durante dois dias, sem parar, correndo, chegaríamos.

Durante duas noites, Julieta fora sua única companhia para partilhar o rhum. Fora na segunda noite que Thor lhe contou como o amor de sua vida estava confusa sobre seus sentimentos e era por isso estava ali, indo de volta para seu reino, Julieta bufara que não conseguia acreditar que um homem como ele estava esperando a decisão de outra mulher.

– O que você quer dizer com isso?

– O que eu quero dizer? – ela gritou, sem se importar com os outros que dormia. – Olhe para você Thor! Parece que saiu de algum livro de conto de fadas. Você é educado, respeitoso com as mulheres, romântico, bonito, alto, forte... provavelmente bom em outras coisas também, tem sangue real e é rico! O último homem que eu dormi, roubou minhas joias no outro dia para vender no mercado, homens como você não se encontram nos dias de hoje. E você está aí, sofrendo pela decisão de uma mulher. Se eu fosse você, eu já teria esquecido dela há muito tempo.

Eles riram, ela talvez já estivesse bêbada, Thor pensou. Gostava de Julieta por falar o que lhe dava na cabeça, sem objeções.

– Você é príncipe do reino do mar! Veja essa terra como um vasto oceano e você tem todas esses peixes esperando por você. Você não pode ficar preso a uma única mulher. – Ela aconselhou, olhando seus olhos.

Na terceira noite, eles chegaram ao feudo da casa Halászat, aliada há séculos de Wanderwell e ali, ele obteve hospedagem no próprio castelo da família. Durante o banquete, Thor tentou dar a devida atenção para as filhas de Quotar Halászat, que eram muitas e parecidas. Loiras pálidas com fundos olhos azuis. Ele ficou na mesa principal na tribuna com a grande família. Dali ele tinha vista para Emily, Elliot e Julieta numa outra mesa. Ela o olhava o tempo todo, e aquilo o deixou ansioso. Desejou estar ali embaixo, sem modos, apenas comer e beber. Há dias que não tinha uma refeição completa

Quando o jantar acabou, a parte mais descontraída começou com as danças e a bebedeira. Thor se juntou aos filhos de Quotar Halászat na bebedeira para saber se era verdade o rumor sobre o pai de Thor ter cedido mais terras para a família no norte do continente. O assunto era delicado então ele esperou todos, inclusive ele, estarem bem distraidos com o sabor da uva. Descobriu que não se tratava de um rumor, mas a bebedeira não parou e Thor acabou cambaleando até seus aposentos. No meio da noite ele recebeu a visita de Julieta em seu quarto.

– Você teve uma noite divertida, príncipe?

Thor fechou a sua porta e seguiu para a poltrona perto da lareira de seu quarto.

– Talvez não tanto quanto a sua.

– Eu vi você me olhando por muitas vezes – ela sussurrou.

Ele não podia negar.

– Por que você estava me encarando, príncipe?

– Nem mesmo eu sei o porquê – ele respondeu com sinceridade. Ele já se sentia ébrio demais, por isso preferia falar poucas coisas. Há muito tempo que não se dobrava deste modo a bebida.

Ela lhe lançou um olhar travesso e lentamente começou abrir seu espartilho.

– O que você está fazendo?

– O que você acha que estou fazendo? – no outro momento, estava nua. Julieta se aproximou e Thor pôde observar seu corpo, era demasiada magra, mas tinha um belo corpo que fazia seu sexo ficar rijo. Ela sentou-se em seu colo e lhe sussurrou que tinha frio.

– Então talvez devesse se vestir – ele sugeriu com humor, estava com muito álcool na cabeça para pensar numa resposta melhor.

– Eu até poderia, mas sei que é um cavalheiro e não permitirá que eu passe frio. Essas grandes mãos podem aquecer meu corpo.

Ela o beijou, fazendo Thor inclinar-se no encosto da poltrona. Ele tocou gentilmente seu corpo e sentiu sua suave pele. Ele fechou seus olhos e um clarão invadiu sua mente. Era a visão de Mia sentada nua em seu colo. Thor abriu os olhos e via a imagem de Julieta. Ele deixou-se levar novamente por seus beijos e uma vez relaxado, outra imagem de Amélia invadiu sua cabeça. Ele apertou o corpo dela contra o dele e a beijou com mais intensidade, e quando abriu seus olhos ainda era Julieta, não Mia.

Thor, confuso, a afastou.

– Eu não posso fazer isso. Não é justo com você – arfou, olhando em seus olhos cor de mel.

– Por que não? – ela acariciou seu rosto.

– Porquê quando fecho meus olhos, eu penso nela. Eu vejo Amélia. Você é uma linda mulher, isso não é justo com você.

– Não, não é – ela sussurrou com um fino sorriso. – Mas eu não me importo, estamos aqui para nos divertirmos, Thor. Pode dizer seu nome e pode imaginá-la se for preciso. Apenas relaxe comigo, você não se arrependerá.

Thor não teve reação de imediato. Mas ele não a parou por ter. Julieta abriu seu gibão dourado e o tirou. Ela o beijou todo o torso e depois abriu sua calça, colocou a boca no seu sexo duro e o chupou. Eram poucas as mulheres que tomavam a iniciativa de fazer aquilo, mas sua atitude também fez lembrar-se como Mia logo quis experimentar quando eles começaram a dormir juntos.

A boca úmida e a distração com outra mulher fez o clímax súbito quase chegar, mas Thor se segurou. Devia parar de pensar. Ele levantou Julieta em seus braços e revolveu tomar o controle da situação. Ela envolveu suas pernas e braços nele e Thor a penetrou, em pé, e Julieta gemeu. Ele a encostou na parede perto da lareira e lembrou-se de suas palavras estamos aqui para nos divertimos. Thor tentou afastar por um minuto a imagem de Mia de sua mente e se concentrou na expressão de desejo de Julieta, começou a tirar e colocar aumentando o ritmo a medida que os gemidos dela cresciam. Mas era inegável que eram os gemidos de Mia que seus ouvidos ansiavam em ouvir naquela noite.

No dia seguinte, eles partiram para Wanderwell, por terem tido uma boa comida e uma boa noite de sono, fizeram uma boa caminhada que os sujeitou a apenas mais um dia de viagem. Quando eles atravessaram a ponte e o pedágio, se depararam com a grande cidade costeira de Reynes. Há muito tempo Thor não via aquela soberana vista do mar no fundo de sua cidade, e mesmo o mau clima não o impediu de se sentir bem de estar em casa.

Eles desceram as altas depressões e subiram outras, o grande mercado do Peixe já se via lá de cima no centro da cidade onde um grande pelourinho se localizava no centro, metros mais à frente já se encontrava o grande Porto de Syrene aberto para o vasto mar azul.

Eles se direcionaram para a fortaleza de Wanderwell que ficava numa ilha próxima do continente. Uma imensa ponte de pedra fazia a ligação das duas terras onde do outro lado encontravam-se duas grandes estátuas de golfinhos, de frente um para o outro, formando um grande arco. E o grande castelo estava lado de lá, erguido sobre seus aros pontiagudos que seguravam o imensa fortaleza de Wanderwell fora da água. Thor lembrava-se que quando era mais novo imaginava aqueles arcos se partindo e uma catástrofe acontecendo com seu castelo se desfazendo nas furiosas ondas de Wanderwell. Mas os anos o fizeram confiar naquelas grandes pedras borrifadas pelas fezes das gaivotas que sobrevoavam a costa.

O castelo tinha uma grande torre principal apelidada de Cardeal Norte, depois outras torres ponteagudas que eram nomeadas com os outros pontos cardeais. Do alto, o castelo tinha o formato de uma Rosa dos Ventos. As flâmulas do brasão com o tritão e a âncora prateada de Wanderwell esvoassavam no cinzento céu no topo de cada torre. Grandes janelas de vidraçaria colorida enfeitavam-as, as únicas responsáveis pela fortaleza fugir das cores escuras. Suas construções eram expressivas, formada por largos arcos, grandes colunas e torres altas. Bem de perto, via-se que as pequenas janelas tinham o formato de tritões e sereias, assim como outras esculturas que enfeitavam a fortaleza, tudo relacionado ao oceano. Os orientais eram um povo do mar, dizia-se, primeiro aprendiam a nadar em suas águas gélidas depois aprendiam a andar. Era um belo castelo, o mais bonito que Thor conhecera, entretanto parecia-lhe que estava muito descuidado. A tendência era piorar.

No último ano, uma mudança climática atingira os oceanos e as pescas foram amaldiçoadas. A pesca é o pilar de maior importância na economia do reino, mas no início o sal e as lãs comercializadas mantiveram o equilíbrio. Entretanto, segundo o que seu pai dizia, enquanto a mãe de Thor estava no controle de Wanderwell, ela criou uma desavença com a casa Sozott, a principal fornecedora de sal. A rainha aparentemente humilhara o herdeiro da casa e o deixara preso por uma noite, o que enfurecera a família. Isso fizera a produção de sal parar levando uma outra falha no sistema econômico. O problema aparentemente não tinha resolvido desde então. A fábricação de peles, couros e lãs eram altas, mas estavam sendo insufiencientes para levar a economia do reino.

Thor estava ausentado um bom tempo àquela altura. Ele não sabia como as coisas estavam se desenvolvendo por ali nem o que o esperava, mas não estava nada ansioso para voltar a lidar com seu velho pai.

Thor não precisou de anúncio, assim como conhecia quase todo mundo, todo mundo também o conhecia na fortaleza do Leste. Ao atravessar o Arco dos Golfinhos, uma ponte desceu abrindo alas para seu reino. Rapidamente empregados apareceram e Thor pediu para tomarem conta de seus convidados enquanto ele iria ao encontro do rei. Ele foi recebido por seu velho amigo Jeff, um velho homem que por toda sua vida teve como função cuidar de Thor no castelo, levá-lo para reuniões, aulas, festas. Jeff lhe acompanhou até o escritório do rei Edvard, fazendo o favor de informar Thor sobre tudo que estava acontecendo em Wanderwell.

Seu pai parecia esperá-lo quando ele adentrou a sala, pois estava sentado em sua mesa sem fazer nada.

– Acreditei que precisasse de um novo herdeiro para este maldito reino já que o único que aquela mulher me dera estava desaparecido por estações! – Ele rugiu no mesmo instante em que seus olhos de desagrado pousaram no filho.

– Acreditei que recebera meu falcão da Cidade-Livre, o qual dizia que eu estava a caminho – Thor respondeu seu rei num tom calmo.

– Recebi! Do que aquilo me serviria?! – ele questionou, de maneira contraditória.

– Saberia que eu não estava desaparecido.

– Saber que você não estava desaparecido eu sabia! Um falcão chegou de Skyblower a dois dias. A princesa Amélia retornara ao castelo, sem você. Queria saber quais malditos lugares você andara já que tivera a audácia da abandoná-la longe do Norte.

– Ela chegou bem?

– Não graças a você! O que você tinha em mente? Envergonhar-me diante todo o Norte?! Mostra-se incapaz de cumprir qualquer missão ordenada?!

– Eu cumpri minha missão – Thor retrucou, impaciente. – Berbatov está onde o rei queria, no Norte!

– Eu não sei onde enfureci tanto os Deuses para ter um filho tão imprestável e tão estúpido quanto você, Thor! O falcão mensageiro era claro: Amélia chegou no Norte sozinha! Você deixou uma mulher encarregada da sua missão, do seu dever, e veja no que resultou! Você falhou novamente, me humilhou novamente tal como fizera ano passado quando se comportou como uma donzela em perigo nas mãos dos Venatores! – ele cuspiu com um olhar fulminante.

– Você falha de novo e de novo! Não cansa de ser um perdedor e trazer vergonha para família, tal como a vádia da Isobel trouxe?!

Thor atirou seus dois punhos sobre a mesa fazendo-a troar e levantou-se bruscamente, queimando seu pai com seu olhar.

– Não suje o nome de minha mãe nessa imunda boca! – ele bradou.

Seu pai o encarou com um olhar raivoso pelo tom agressivo de Thor, tinha certeza que sua mão coçava para acertar-lhe um murro no rosto, era exatamente isso que esperava: apenas uma razão para revidar sua raiva em seu maldito pai.

– Quanto a Drazhan? – ele continuou.

– Está morto.

– Aposto também que você não fora o autor de sua morte. Porque você veio para esse mundo apenas para me dar desgosto.

– Não. Eu não fui o responsável por sua morte. Queria trazê-lo até Wanderwell para ter um justo jugamento. Entretanto eu preferi perder a vida dele ao perder a vida da bruxa Winston.

Seu pai deu um riso sardônico, levantou-se de sua cadeira e se serviu de um vinho tinto.

– Nem mesmo todas aquelas surras fizeram de você um homem. Eu criei duas princesas.

– E o que você tem feito pai? Procurando a solução de todos os problemas do reino em bordéis? – Thor mostrou seu desdém em seu olhar.

– Eu tenho tomado conta de um reino!

– Eu percebi. As ruas de Wanderwell estão um caos! Há muitas pessoas morrendo de fome lá fora!

– Em tempos de crise, pessoas morrem, Thor! E essa crise poderia estar sendo evitadada se você tivesse se casado com Amélia no início do outono.

– Para você extorquir seu reino também?

– Não é porque eu deixei de dar-lhe boas sovas que você ousará falar assim comigo.

– Eu estive na casa dos Halászat. Fui muito bem recebido por Quotar Halászat e pudemos falar da sua imensa generosidade em ceder terras do norte para sua casa. Terras que pertenciam a casa Sozott.

Seu pai lhe encarou com um ar tedioso.

– Não foi minha mãe que causou uma discórdia entre nosso reino e a casa Sozott, foi você. Você começou esta crise e eu aposto que toda essa generosidade com Quotar Halászat é somente para receber suas filhas em suas festas particulares!

– Eu sei o que eu faço. Se eu tomo ou dou terras para uma casa é porque eu sei quais merecem por sua lealdade e quais não. Estas terras pertencem a mim!

– De acordo com suas necessidades e interesses sexuais. Você me enoja, pai. Há pessoas sofrendo as consequências de seus atos no mercado do Peixe, nas ruas de seu reino! Elas não têm o que comer porquê muitas famílias dependem da comercialização do sal!

– Você tem dó dessas pessoas? Quer ajudá-las? – seu pai perguntou com um olhar sádico. – Sabe o que fazer, peça a mão de Amélia em casamento!

IV

Somente levando aqueles longos dias de viagem com completos desconhecidos, Emily Winston pôde fazer algo que não fazia há algum tempo. Apreciar a natureza. Ela tinha decidido partir de Wanderwell. Prometera para Mia que cuidaria de Thor e Elliot na viagem de volta para o reino do leste. E ela o fizera. Os dois haviam chegado sem imprevistos e se instalaram rapidamente no castelo.

Elliot estava tentando vencer sua tristeza, no início ficara isolado em seus aposentos, mesmo depois dos curandeiros do reino fazerem uma verdadeira prótese para que ele não mancasse mais. Então Emily o aconselhou exprimir seus sentimentos em atividades que o interessavam. O príncipe tentou, e aos poucos se integrou com a realeza de Wanderwell frequentando os eventos de teatro, poesia, música. Ele não parecia mais tão solitário quanto antes.

Já o príncipe Meszaros estava muito ocupado com os problemas de seu reino. Resolvendo problemas políticos que seu pai não parecia se importar como a fome que se alastrava pelo leste. Thor lançou projetos de investimento em návios de pesca, abriu novos terrenos para caça e ampliou os recursos para a agricultura. Ele estava se esforçando, mas era um inverno díficil que não trazia muitos resultados instantâneos. Seu pouco tempo livre ele gastava com Julieta e sua viagem secreta para Verdon.

Na sua última noite em Wanderwell, numa noite fria, ela cruzou com Thor indo para seus aposentos. Exausto. Thor por algum motivo deveria estar se sentindo mal por passar pouco tempo com ela, abandonando-a naquela fortaleza, e a convidou para tomar cervejas especiais de Wanderwell num salão de uma das torres onde eles tinham a visão para um amplo céu negro com inumeras estrelas. Enquanto apreciavam as cervejas, Thor explicou tudo que ele e Julieta conversaram e as pessoas que conheceram na Cidade-Livre.

– Você confia neles? – ela perguntou.

Thor levou seu tempo para responder.

– Eu não tenho que fazer nenhum investimento. Tudo que eu preciso é ser eu e viajar com eles para outro continente.

– Você fala como se o dinheiro fosse mais importante que a sua vida – ela rebateu num tom gentil.

Thor sorriu, tímido, e suspirou.

– Eu não tenho muita coisa para perder Emily. Meu pai é um homem miserável, mas muito saudável e forte. Se eu continuar por perto, receio por acabar por matá-lo – Thor disse com humor. O rei Edvard era de fato um homem odiável. Eles já tinham tido várias reuniões juntos em Skyblower, cruzados caminhos diversas vezes. Mas, ele somente fingia conhecer Emily quando ela estava perto do rei de Skyblower ou da princesa, nas vezes que cruzaram-se em Wanderwell, ele ignorava sua existência.

– Minha pequena irmã cresceu, e ser princesa é o que ela mais ama. Vive em reuniões, eventos, bailes conservando o nome da família Meszaros, fazendo outros acreditarem que nossa família ainda tem alguma estrutura. Meu pai é amargo, mas ela faz o trabalho que ele acha que uma mulher deve fazer. Então ele não é muito duro com ela. Provavelmente em breve se casará...

Thor bebeu sua cerveja. Era uma cerveja doce que Emily realmente apreciara.

– Com o resto da minha família eu não sou muito próximo. – Ele pareceu querer falar algo mais, Emily tinha quase certeza que era sobre Mia, mas ele não continuou. Apenas levantou os ombros e declarou: – Sou um homem livre.

Emily anuiu.

– Você não confia nela? – ele perguntou com cautela.

– Não sou eu quem viajará com ela. Então, o que isso importa?

Thor ergueu seu olhar que lhe pareceu um pouco ébrio.

– Eu confio em você. Então sua opinião importa para mim.

Ela sorriu.

– Você está bêbado, Thor.

– Um pouco – eles riram olhando por um bom tempo o céu estrelado.

– Apenas tenha cuidado – Emily pediu. – Você pode não ter família ou amores que lhe prendam aqui, mas você tem amigos.

Thor assentiu com um sorriso.

– Me lembrarei disso.

– Eu estou voltando para Skyblower amanhã. – Ele pareceu surpreso. – Você está ocupado com seus problemas de príncipe, Elliot está começando a se recuperar de seu trauma, então eu preciso voltar para meus reais deveres ao lado da príncesa.

– E sua irmã, Emily?

– Não há muito a fazer agora. Eu estou esperando – ela mentiu e em seguida se calou.

Sentia-se sufocada desde sua visão no Vale de Trinton. Eliza Winston estava viva e era prisoneira de Gardênia. Sua velha irmã por quem Emily tinha lutado todos esses anos. A ideia de que ela era uma prisoneira doia mais do que pensar na ideia que conviveu todos aqueles anos de que sua irmã estava morta.

Emily precisava salvá-la a qualquer custo.

Por isso fizera algo imaginável.

A primeira vez que Emily esteve na Cidade-Livre, ela fora visitar uma grande escola de feiticeiros que ouvira falar muito tempo atrás. Antes de ir para Skyblower, Emily tentou ter acesso a biblioteca deles, entretanto foi proíbida de entrar pelo único motivo de ser uma bruxa. Uma mesquinha rivalidade que os bruxos e os feiticeiros mantinham entre si.

Essa rivalidade teve início por parte do Clã das Bruxas que não aceitavam pessoas quaisquer brincando com magia, somente aqueles que nasceram com o dom. Então os feiticieiros decidiram criar seu próprio Clã, o que não aconteceu realmente, mas abriram uma escola que crescera rapidamente na Cidade-Livre, aprender magia enchia os olhos das pessoas mesmo que em troca tivessem que pagar. Apesar da escola ter começado com objetivos medíocres, ensinar magia sem responsabilidade, ela pôde se expandir, reunir grandes livros de magia e enriquecer uma grande biblioteca.

Na noite em que Thor saiu com Julieta. Emily seguiu até o Jardim Prateado, com ajuda de sua magia, ela invadiu a biblioteca da escola e roubou um livro. Quase fora pega, porém conseguiu se safar sem que ninguém descobrisse. Ela nunca tinha roubado nada, mas aquele roubo tinha sido um sucesso. O exemplar roubado era nada mais do que um livro sobre a arte da comunicação a distância. Emily já o lia há alguns dias, mas ainda não tinha encontrado nenhum feitiço que lhe realmente ajudaria.

– Permita-me então pedir para que dois guardas a levem numa carruagem – Thor dissera.

Ela tentara recusar, porém ele insistiu. Disse que era sua retribuição por ela ter sido amaldiçoada em viajar do noroeste ao leste com dois homens azedos e mal-humorados como ele e o Elliot. Aquela noite foi a última vez que Emily vira Thor Meszaros e desejou que sua viagem para o continente verdonico corresse bem.

Já haviam se passado dias que viajava para Skyblower e na quarta lua estava próxima do reino de Amarílis. Os dois soldados que lhe acompanhavam ao mando de Thor eram jovens e educados. Tentavam puxar assunto com ela algumas vezes, porém Emily não levava nenhum assunto muito longe enquanto estudava os feitiços do livro que roubara. Com o cair do crépusculo, dois pavilhões foram montados. O maior e mais confortável era onde Emily dormia. Viajar com tantas regalias daquela maneira era muito mais prático fazer viagens, ela não deveria se preocupar com quase nada porque o cocheiro tratava dos cavalos, os guardas da comida, da lenha, da segurança e ainda montavam o pavilhão que ela dormiria.

Durante a fria noite, Emily aquecia-se a beira de sua pequena lareira enquanto decidira tentar fazer um dos feitiços que encontrara no livro. Emily não poderia se comunicar com ela, mas havia uma possibilidade de vê-la se ele funcionasse. Ela não tinha todos os recursos necessários, não tinha nada que pertencia a sua irmã, mas pensou que talvez o sangue poderia ajudar.

Emily sentou-se no centro do pavilhão. Colocou uma vela branca no meio de seu pequeno altar feito com uma pena, flores, pedras e cristais brancos, incenso, conchas e uma vela vermelha. Ali ela também pousou a adaga do Clã das Bruxas para atrair energias, mas antes certificou-se de purificá-la no sal. Diante a vela branca ela posicionou três outras menores e castanhas e acendeu-as todas ao mesmo tempo, a bruxa apanhou uma flor de alecrim e a queimou, meditando.

As cinzas da flor foram jogadas no cálice de metal preenchido com água. Emily com a adaga fez um pequeno furo em seu dedo e derramou seu sangue sobre o cálice e fechou seu olhos.

– Magna Dea, volo video mei soror.

Emily respirou fundo e de repente toda sua concentração erradicou-se ao ouvir um grito. Ela abriu os olhos, assustada, e viu algo cair contra o pano de seu pavilhão. Ela levantou-se num pulo e Ludmilla entrou em seu aposento, de forma solene.

– Olá Emy.

– O que você fez com os guardas?

– Eles estão mortos – ela pareceu dizer com remorso.

– Você mata inocentes agora?

– Não fui eu que matei-os, Emily.

Outra pessoa adentrou o pavilhão, com passos pesados e com uma flecha apontada para Emily. Os cabelos castanhos e o olhar amarelado fez seu coração bater com mais força após ver o próprio Berbatov pronto para atacá-la.

– Lucky, você não pode...

– Entregue sua adaga – ele exigiu com um olhar frio.

– Eu não vou.

– Emily, nós somos três, e nós dois somos os mais bonzinhos. A pior está lá fora. Vamos acabar com isso sem nos machucarmos, eu não quero ter razões para matá-la. Porque se eu precisar, eu terei que fazê-lo.

– Então, faça! – Emily fez uma forte ventania levar Ludmilla e Lucky para o outro lado do pavilhão, atirando-os contra o chão. Ela correu para fora e se deparou com os cadaveres dos dois soldados e o cocheiro, mortos por flechas.

A distração fez com que Emily recebesse um ataque surpresa de Nádia que surgiu das sombras, o aço de sua espada provocou um corte no seu braço. Em seguida, Nádia desferiu um chute em seu peito fazendo Emily cair no chão. Antes que a estrela atacasse novamente, Emily repeliu-a para trás com seu poder e ela foi arrastada pelo vento. Ela sentiu seu braço arder.

A bruxa levantou-se, por reflexo viu Berbatov sair do pavilhão. Ergueu suas mãos e fez uma ventania crescer maior e mais forte, içou apenas com o controle do vento Nádia e Lucky no ar . As rajadas raivosas do vento impediam eles de respirar e em segundos ambos começaram a sufocar-se. E talvez pela primeira vez, Emily quis assistir a morte de alguém.

Uma grande luz surgiu atrás dela e Emily foi atirada agressivamente para o chão fazendo cair sobre a terra úmida.

– Eu a avisei – Ludmilla sussurrou.

Emily tentou rolar no chão frio pronta para atacar novamente, porém sua antiga amiga não permitiu. Ludmilla apontou sua mão e Emily sentiu sua cabeça queimar. Ela não poderia desistir daquela maneira, por isso colocou-se sobre seus joelhos e tentou esquecer-se da dor para poder atacá-la.

– Eu salvarei o Clã das Bruxas – ela continuou.

Vendo sua persistênte resistência, curvou os dedos e então Emily sentiu como se inumeras facas perfurassem sua cabeça ao mesmo tempo. Emily gritou. Pensava que a qualquer momento seus olhos saltariam de suas órbitas, que sua cabeça explodiria em pedaços. Ela berrou, mas Ludmilla continuou a fechar lentamente seu punho. Emily aos poucos perdeu todos seus sentindos e tudo que sentia era dor latejante consumir sua mente. Ela não conseguia mais reagir, era o fim.

Um impacto atingiu seu peito e subitamente a dor na cabeça cessou. Emily viu somente o reflexo no fogo da flecha de aço ultrapassada no seu ombro, detrás para frente, e sem mais forças, ela caiu no chão.

Seu olhar turvo viu a forma de Lucky aparecer no seu campo de visão escuro, segurando seu reluzente arco. Ele abaixou-se, Emily tentou reagir, porém seu corpo não parecia mais obedecer aos seus comandos. Lucky Berbatov roubou a adaga de sua cintura e declarou em voz alta:

– Acabou... A flecha fará ela perder todos os movimentos do corpo graças ao aço, ela vai apodrecer aqui.

Como ele podia? Emily perguntou-se.

– Eu não deveria fazer isso, ela foi minha amiga. Deveria ter uma morte digna – Ludmilla disse.

– Com sua magia? – Lucky rebateu, de forma sádica.

– Era no passado. Não é mais – Nádia declarou.

– Ela traiu as bruxas, e você quer ser misericordiosa? – Berbatov questionou com crueldade.

– Vamos, temos um longo caminho até Wanderwell – Nádia deu a palavra final.

Emily ficou estirada no chão, com dificuldades para respirar, aguentando as dores no seu ombro. Ela observava os guardas e o cocheiros mortos, debaixo das árvores mortas. Ela piscou lentamente e ouviu gritos. Ela abriu os olhos e nada estava gritando. Emily fechou novamente seus olhos pesados e ouviu os brados aterrorizantes de seu pai. Por favor pai, não faça isso, ela gritava nos seus pensamentos.

Emily abriu os olhos e tudo a sua volta estava sereno, calmo e profundamente silencioso. A alvorada parecia ter chegado numa fração de segundos.

Ela fechou os olhos e viu seu pai segurando bruscamente seu braço com o de seu irmão. Gritando que aquela família não seria envergonhada novamente. Emily abriu os olhos, arfante. Quando fechou-os outra vez, seu pai jazia morto no chão. Ela não deveria se lembrar daquele terrível pesadelo.

Emily rolou no chão gelido vendo a brancura da neve que a cercava. O frio a fazia sentir-se viva. Seus olhos se fecharam e ela viu a imagem turva de suas pernas banhadas de sangues escuro e denso, um natimorto jazia entre elas mergulhado em seu sangue. Ela chorava alto e dolorosamente por seu pequeno filho assassinado. Nós devemos ir, Soraya repetia agarrando seus ombros, ela pedia que ela abandonasse seu bebê. Ele era a única coisa que restara em sua vida. E ele tinha sido tirado dela. Você precisa ser forte Emily, Soraya gritava apertando-a. Você precisa ser forte!

_________________________________________________
Primeira Parte do Último Capítulo do segundo livro da série As Adagas de Ceres.
7494 PALAVRAS

Dedico a @EdlayneChagas, obrigada por acompanhar essa história e ser tão observadora! Acho maravilhoso a maneira que você consegue estudar os personagens! Obrigada por estar aqui <3

AVISO IMPORTANTE DO PRÓXIMO CAPÍTULO:
1º O capítulo sairá dentro de uma semana.
2º O capítulo esta grande! Se você não gosta de interromper a leitura, espere um dia que você tenha algumas horinhas livres para ler. Não se importem de fazer pausas a cada vez que virem um número romano. O capítulo está divido em 10 partes.
3º As músicas escolhidas para o último capítulo algumas só podem ser encontradas no YouTube, caso vocês já queiram a lista, mande mensagem no inbox.
4º Preparem os corações porque o último capítulo tá fervendo!!!!!!

Instragram: erika_vilares

À la prochaine,

Erika Vilares

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