O Labirinto dos Elfos

By GabyOmetto

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Quatro amigos faziam trilha, quando decidem sair dele e se embrenhar na mata e busca de uma aventura, mal sab... More

Imaginação
PREFÁCIO
PARTE UM 1. - A GRUTA
2. - RECONHECIMENTO
3. - DESCOBERTAS NA CASA DA AVÓ
4. - PRIMEIRO DIA NO LABIRINTO
5. - NOCTE VERMES
6. - MURBULG
7. - SEPARADOS
9. - ATAQUES
10. - DAMES BLANCHES
11. - IGNIS
12. - O FINAL DO LABIRINTO
13. - A BATALHA CONTRA UZURG
SEGUNDA PARTE -14. - O REINO ÉLFICO
15. - TREINO
16. - O BEIJO
17. - PLANOS DE FUGA
18. - FLASHAVAL, O DRAGÃO DO AR
19. - GRIFO
20. - O REINO D'ÁGUA
21. - O FESTIVAL
22. - DARGAR, O DRAGÃO D'ÁGUA
23. - O REINO DA FLORESTA
24. - GUERRA NA COZINHA
25. - AO REDOR DA FOGUEIRA
26. - UM ERRO
27. - RUSHOX, O DRAGÃO DE METAL
28. - O REINO DE FOGO
29. - DIA DE PRINCESA
30. - TRESSRI, O DRAGÃO DE FOGO
31. - O BAILE
32. - O REINO DO ESPÍRITO
33. - CHRYSUL, O DRAGÃO DO ESPIRITO
34. - O RETORNO DA ESCURIDÃO
35. - ESTRATÉGIAS DE GUERRA
36. - O ATAQUE FINAL
37. - O RETORNO
EPÍLOGO
Como foi escrever o labirinto dos Elfos
PRIMEIRO ENCONTRO
VALE DOS PEGASUS
Outras histórias
AGRADECIMENTOS

8. - CYAN

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By GabyOmetto


Respiro fundo tentando controlar o sentimento de desespero que tomava conta de mim. Talvez eu conseguisse achá-los, essa esperança acalma minha mente, mas primeiro tinha que me levantar. Já totalmente recuperada de qualquer ferimento, comecei a me levantar, mas parei assim que fitei o chão que tinha caído e gritei, o chão não era irregular, eu havia caído em cima de esqueletos. Me apressei em me levantar, recuei assustada até a parede de frente aos ossos.

Não dava para saber a causa da morte, eram quatro esqueletos, pelo seu traje, pareciam ser da idade média, os esqueletos vestiam armaduras que um dia foram prateadas, em seu peito havia um brasão que eu não conseguia definir o que era, devido ao desgaste, tudo estava coberta de pó. Mas consegui ver que em suas cinturas havia cintos de couro, onde pendiam as bainhas.

Tive uma ideia, eu odiaria executá-la, mas mesmo assim me aproximei, eu estava tremendo, não sei o porquê do medo, talvez tivesse medo de que eles avançassem sobre mim, nesse labirinto eu não duvidava de nada. Me agachei perto de um dos esqueletos e fui até a bainha ver se tinha algo a mais. Sorri apesar do medo e do nojo, ao sentir o cabo de uma espada. Com todo cuidado, retirei o cinto esqueleto, tirei um pedaço da lâmina para fora para poder analisá-la, parecia estar afiada e em ótimo estado, repeti o processo com os outros três. Todos tinham espadas, isso significava, que tínhamos uma espada para cada um de nós, seria mais fácil se defender com mais armas.

Tirei meu cinto e o coloquei na bolsa, peguei um dos cintos que pertenciam aos esqueletos e o coloquei, tentando ignorar o cheiro de morte que exalava dele, guardei os restantes da melhor maneira possível dentro da minha bolsa, a maior parte ficou para fora, mas estavam seguros o bastante.

Resolvido esse pequeno contratempo, passei para meu grande problema, meus amigos estavam perdidos em um labirinto. Tentei manter a calma, estava um pouco difícil, mas lembrei que tínhamos uma precaução caso no perdêssemos. Havia trazido quatro Ock Tocks, para caso nos separássemos pudéssemos, pelo menos nos comunicar para acharmos uma maneira de nos encontrar novamente. Antes que pudesse ligá-lo, tive um sobressalto, alguma coisa vermelha passou perto de mim.

Tirei a espada da bainha e me coloquei em posição de ataque como havia aprendido na aula de kendo, olhei por todo lugar a procura da coisa que passou por mim, quando finalmente o encontrei, atrás de uma rocha, fiquei surpresa, ele era muito fofo, depois de tudo que vi no labirinto, e no diário, estava surpresa por existir algum ser tão lindo como ele aqui.

Ele se parecia um cachorro vermelho com olhas dourados como ouro, seu peito era branco assim como algumas partes da cabeça, e nas patas, o final o rabo eram amarelas, assim como símbolos intrincados por suas costas, em sua cabeça, havia um bigode vermelhos com as pontas da cor de fogo, ele também tinha uma coisa parecida com um par de chifres, porem pareciam serem macios como seu pelo, ao redor de seus olhos negros haviam uma linha cor de fogo contornando-os, parecido com delineador, bem no meio da sua testa, havia um símbolo que me lembrava uma chama da cor amarelo.

Era do tamanho de um poodle, poderia pegá-lo no colo facilmente. Queria muito me aproximar e afagar atrás de sua orelha como sempre fazia com os cachorros, mas me detive, ele era um ser do labirinto, e queria me matar, assim como todos os que eu já havia encontrado, embora ele não parecesse ter uma vontade assassina, ele olhava para mim como um velho amigo.

— Vamos procurar alguma informação sobre você! — Disse para mim mesma pegando o diário.

Comecei a procurar, sabia que tinha visto de relance em algumas das páginas sobre os monstros do labirinto, olhei todos com atenção, não havia nenhum desenho parecido com o que eu tinha na minha frente, todos eram feios e seus olhar pareciam assassinos, mas aquele ser era diferente, havia ternura em seu olhar. Tentei olhar nas páginas do meio, onde não havia dado muita atenção, e fui lá que eu achei um desenho dele, retratado nos mínimos detalhes, olhando com mais atenção, vi que ele estava com a cabeça deitada em um pé, que usava uma sandália igual à da minha avó.

Assim como os desenhos que eu já havia visto, este também tinha algo escrito perto, dizia "Cyan, talvez ele seja o único amigo verdadeiro que eu tenha. "

Não estava escrito exatamente o que ele era, mas parecia ser amigo, pelo menos foi para a minha avó, olhei de relance para ele, que estava sentado com olhos os negros fixados em mim, parecia que ele sabia que eu estava tentando descobrir se ele era perigoso ou não, e estava esperando a minha decisão.

Meu estômago roncou, toda a minha corrida me deixou com mais fome que o normal, peguei uma barra de cereal da mochila e a abri dando uma mordida. Olhei novamente para o Cyan, acho que esse é seu nome, ele continuava a me fitar, decidi que iria confiar nele, tirei um pedaço da barra, me agachei no chão e coloquei o pedaço na minha mão e esperei que ele viesse.

Ele não veio.

— Vem Cyan, comer essa comida gostosa! — Incentivei com minha voz de conversar com cachorro.

Devagar ele foi até a minha mão e pegou o pedaço com delicadeza, aproveitando que ele estava com a boca cheia e fiz carinho atrás da sua orelha, ele inclinou a cabeça sobre minha mão pedindo mais, sim, definitivamente ele era inofensivo, estava louca para mostrar para os outros.

"Droga"

Me esqueci que deveria ter feito contato com eles, deveriam estar preocupados, peguei o ock tock meio desajeitada, e o liguei, nenhum som foi emitido, um pouco vacilante falei:

— Tem alguém na escuta?

— Krystal? Você está bem? Estava morta de preocupação por você não ter entrado em contato, achei que aquele bicho tinha ido atrás de você. — Gritou Makenna,

Levei o aparelho para longe, tentando evitar danificar minha audição, o chilique dela acabou assustado Cyan, que deu vários passos para trás. Estiquei meu braço em sua direção, que veio sem hesitar para receber carinho.

— Desculpa, acabei achando algumas coisas interessantes e acabei me esquecendo de poderiam estar preocupados comigo.

— Que tipo de coisa? Você está bem? — Perguntou Lian preocupado.

— Estou bem, posso mostrar o que eu encontrei quando nos encontrarmos, aliás, onde vocês estão?

— Perto da encruzilhada, nós voltamos para cá depois que percebemos que aquela criatura não estava nos seguindo. — Disse Makenna.

— E quanto a Will? — Perguntei com medo.

— Ele ainda não deu notícias, suspeito que aquele bicho tenha o perseguido, tenho medo de pensar no que pode ter acontecido a ele! — Disse Lian com pesar na voz, eu sabia que no fundo no fundo ele tinha uma certeza do que algo tinha acontecido com o primo.

— Ele está bem! — Falei querendo acreditar em minhas palavras. — Ele estava armado, não estava!?

— Estava, mas nunca se sabe. — Disse Lian tristonho.

— Não seja pessimista! — Repreendi-o. — Vou encontrá-los daqui a pouco, não se movam!

— Pode deixar, mas deixe o ock tock ligado, não quero perder contado outra vez! — Disse Makenna.

— Tudo bem. — Disse colocando o aparelho no bolso. — Agora como vou achar o caminho de volta? — Perguntei baixinho para mim mesma.

O mapa não poderia me ajudar, não sabia onde estava para poder me guiar por ele, suspirei, não tinha a mínima ideia de como voltar.

Cyan começou a andar, se afastando de mim, quando viu que eu estava parada no lugar, ele parou também e olhou para mim com seus olhos negros, queria que eu o seguisse? Comecei a andar alguns passos, ele voltou a andar, só então vi que ele estava cheirando o chão, ele iria me guiar através do me cheiro.

"Eu estou começando a amar esse bichinho! "

Precisei de trinta minutos de caminhada para voltar para a encruzilhada, assim que apareci no corredor, Makenna veio correndo em minha direção de braços a abertos, mas parou um metro longe de mim com uma cara assustada. Segui seu olhar, estava encarando Cyan, que agora estava sentado perto de mim como um bom menino.

— Este é o Cyan, ele me ajudou a encontrar o caminho até aqui. — Expliquei, Makenna ainda o olhava desconfiada, mesmo depois da minha explicação. — Ele é inofensivo! — Garanti a ela, para provar me abaixei e fiz carinho nele.

— Tem certeza? — Disse ela ainda desconfiada. — O que diz no seu livro?

— Tenho toda certeza! Está escrito que ele é amigo.

— Krystal, você voltou. — Disse Lian se aproximando. De repente ele parou assustado. — O que é isso perto do seu pé?

Suspirei, teria que explicar sobre o Cyan de novo, e ainda teria que falar para Will.

Expliquei rapidamente sobre ele, enfatizando a parte de ele ser inofensivo. Assim que terminei, Lian foi correndo pegar sua câmera para tirar algumas fotos de Cyan. Que pareceu gostar de ser modelo, Lian tirou várias fotos, uma mais fofa que a outra.

— Krystal, que é isso preso no seu cinto? — Perguntou Makenna me analisando com os olhos brilhantes, parou na minha mochila.

— Achei antes de encontrar o Cyan, são espadas. — Respondi retirando a minha da bainha. — Uma para cada um de nós!

Makenna ficou animada com a novidade, ela sempre gostou de espadas, adorava filmes sobre a idade média por esse motivo. Entreguei uma para cada um, deixando a espada de Will na minha mochila.

— Onde você encontrou exatamente? — Perguntou Lian, colocando seu novo cinto. — Elas estão fedendo.

— Você não vai querer saber. — Sorri inocentemente.

— Quem se importa com isso, temos espada, isso vai nos ajudar a sobreviver. — Disse Makenna dando golpes no ar. — Estão afiadas.

— Will já fez contato? — Perguntei.

— Ainda não, estou começando a ficar preocupada. — Disse Makenna guardando a espada.

— Acha que devemos procurar por ele? — Perguntei com um peso enorme no coração, será que conseguiria viver com o peso da morte de um amigo?

— Melhor não, não sabemos que direção ele tomou. — Disse Lian.

— Está sugerindo deixar ele para trás? — Perguntei descrente.

— Que opção nós temos? — Perguntou ele exasperado. — Ele pode estar morto, e nós também podemos estar caso esperarmos aqui.

— Como pode dizer uma coisa dessas!? — Disse brava, eles eram primos.

— Estou sendo realista Krystal! — Gritou Lian.

— Parem de brigar! — Disse Makenna autoritária. — Vamos esperar até amanhã para ver se Will não volta, depois veremos o que fazer.

Lian e eu concordamos, uma hora se passou, a cada dez minutos alguém fala do ock tock, mas não havia nenhuma resposta. Eu estava começando a perder a esperança, Will tinha uma arma, mas e se ela não fosse o suficiente para matar aquele monstro? E se outro tivesse surgido?

Coloquei as mãos na cabeça tentando expulsar esses pensamentos.

— Makenna, Krystal, Lian tem alguém me ouvindo.

Todos pararam o que estavam fazendo, era a voz de Will. Nós três nos levantamos com pressa, fazendo com que Cyan saltasse do meu colo, saímos correndo para a direção da voz de Will. Chegamos até a encruzilhada ele estava mancando, e sua calça estava muito resgada na perna direita, dando para ver sua perna musculosa e morena.

Eu me joguei meus braços em volta dele e o apertei com toda a minha força. Estava aliviada, ele estava de volta. Minha consciência já estava pesada por não ter notícias dele.

— Estou tão feliz que você está bem! — Disse ainda abraçando ele.

— Pode me soltar um pouco? Vai terminar de me matar. — Disse ele meio sufocado.

— Desculpe! — Falei soltando-o. — Todos ficamos preocupados, por que você não se comunicou pelo ock tock? — Dei um tapa fraco nele, parecia que ele já tinha apanhado muito naquele dia. — Achei que você tinha morrido!

— Desculpe, posso explicar tudo, mas antes, posso sentar? Estou exausto.

Levamos Will até onde estavam nossas coisas, me sentei de frente para ele, Cyan deitou-se no meu colo, Will olhou para ele de forma interrogativa, expliquei rapidamente sobre nosso novo companheiro de viagem e como consegui as espadas.

— Agora pode explicar o motivo de você não ter falado conosco, depois que nos separarmos, havíamos combinado sobre o que fazer caso isso acontecesse! — Disse Lian bravo, mas percebi o alívio que sentia em ver o primo a salvo, nem parecia o homem que queria deixar o companheiro para trás.

Will procurou algo em sua mochila, depois entregou algo a Lian.

— Foi por isso que não cumpri com o combinado, o Wendigo me jogou contra a parede, tudo o que poderia quebrar, foi quebrado.

Lian mostrou o que tinha na mão, era os restos mortais de um ock tock.

— O que é um Wen... alguma coisa? — Perguntou Makenna.

— Wendigo. — Respondeu Will. — Essa criatura faz parte da mitologia do povo indígena norte americano, dizem que o Wendigo é formado a partir de um humano qualquer, que passou muita fome durante um inverno rigoroso, e para se alimentar, comeu seus próprios companheiros. — Ele fez uma pausa. — Parece que essa história é real, estudei sobre ela e outras criaturas mitológicas no último semestre

— Você o matou? — Perguntou Makenna.

— Eu não estaria vivo, caso ele ainda vivesse. A única maneira de matá-lo é com fogo!

— Onde você achou fogo? — Perguntei confusa, sabia que ele tinha um isqueiro, mas isso não era capaz de matar um monstro.

— Com o conhecimento obtido em todos meus anos em que frequentei banheiros escolares, sabia que se juntar um isqueiro e um desodorante aerosol, consegue-se um lança-chamas muito louco, então fiz um e o queimei! — Disse com um sorriso maroto.

— Que tipo de coisa vocês, garotos fazem em banheiros? — Perguntei.

— Coisas que você nunca imaginaria! — Respondeu Will misteriosamente. — Voltando a história, antes que eu tivesse essa brilhante ideia, o Wendigo me jogou numa parede, quebrando várias coisas da minha mochila, e a mim.

Ofereci silenciosamente meu cristal, que ele declinou, também em silêncio. Decidimos que ficaríamos por ali, já que Will estava cansado, este naquela noite, não ficaria de vigia, por esses motivos.

Depois do nosso jantar, cada um ficou no seu canto, Makenna limpava sua espada, Lian brincava com Cyan e vez ou outra tirava algumas fotos, Will teve que ir em outro corredor trocar a calça rasgada, por sorte trouxemos algumas roupas extras.

Will já estava deitado, mas ainda estava desperto, enquanto eu relatava todo o ocorrido do dia no diário de viagem, vez ou outra perguntando algum detalhe a Will.

— Vai me contar o que garotos fazem no banheiro? — Perguntei num tom divertido.

— Não, isso apenas os portadores do alelo Y podem saber. — Disse ele continuando com o mistério. — E o que as garotas fazem?

— Nada comparado a um lança chamas, geralmente fofoca, os ou falamos coisas de garotas. —Disse sem tirar os olhos do meu diário.

— A vida de garota é chato! — Caçoou Will.

— Uma vez Makenna e eu fizemos uma guerrinha de água! — Disse lembrando do terceiro ano.

— Foi aquele dia que sua blusa ficou toda molhada marcando muito!? — Perguntou Will num tom sonhador, mas ainda sim brincalhão.

— Você olhou seu pervertido! — Disse jogando uma borracha nele.

— A grande pergunta é quem não olhou? — Disse Will num tom reflexivo. — Apesar de não ter muito o que olhar! — Disse num tom ainda mais brincalhão, misturado com deboche.

— O quê? — Perguntei gritando.

Ouvi Makenna segurando fracassadamente a risada, assim como Lian.

— É melhor calar a boca, ou termino de te quebrar! — Ameacei.

Ele ficou em silêncio, acabando por adormecer, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Menino esperto.

(...)

Meu turno estava quase acabando, por sorte nada anormal aconteceu, dei uma olhada em Will, que dormia profundamente. Sentei no chão, perto de seus pés e esperei o tempo correr atenta a qualquer som estranho.

Depois de um tempo Will começou a ficar inquieto, o iluminei com a lanterna, tomando cuidado para não acordar ninguém. Ainda estava dormindo, mas estava se debatendo, que não era normal para Will, pelo que reparei nos últimos dias, também tinha sono pesado, devia estar tendo um pesadelo. Decidi acordá-lo.

Nas pontas dos pés fui até ele, e coloquei a mão em seu ombro, tirei rapidamente, estava quente, coloquei minha mão em sua testa, ele estava ardendo em febre, rapidamente peguei minha mochila, de lá tirei uma toalha e uma cantil de água.

Coloquei a toalha molhada sobre sua testa febril e abri seu saco de dormir para que pudesse entrar mais ar, não sabia se poderia ajudar, foi a única coisa que pensei em fazer naquela hora. Makenna deveria ter um remédio para febre, fui até sua mochila e procurei, havia vários remédios, mas nenhum para febre.

Will gritou, fui até ele a tempo de ver ele rasgando sua camiseta, deixando todos seus músculos morenos a mostra. Seus olhos se abriram, suas púpilas estavam dilatadas, em seu olhar não havia vestígio de sanidade, ele parecia possuído por uma força maior. Gritei para que Lian e Makenna acordassem.

Ele começou a se levantar, via no seu olhar a urgência de sair dali, embora não tivesse nenhum motivo aparente, tentei impedi-lo com as mãos, mas era impossível, ele era mais forte que eu, dei uma rápida olhada para meus amigos, eles ainda estavam muito sonolentos para que eu pudesse contar com eles, tive uma ideia, eu ia me odiaria por fazer isso, mas não poderia deixar que Will saísse de perto de mim.

Passei uma perna para cada lado do peitoral dele e sentei, prendendo seu corpo junto com os braços. Ele tentou se levantar mesmo com o meu peso, não que eu fosse gorda, mas o manteve preso ao chão. Ele tentou de novo com mais força, e conseguiu um pouco, fazendo com que eu escorregasse, indo para perto de sua virilha, um péssimo lugar para se parar. Gritei novamente para Makenna e Lian, enquanto travava uma briga com Will, ele parecia cada vez mais enfurecido, sua boca estava aberta, soltava gritos de agonia.

Me doía vê-lo assim, esse não era o Will que eu conhecia, e não sabia como traze-lo de volta.

— O que está acontecendo? — Perguntou Makenna assustada e totalmente alerta.

— Eu não sei, Will está delirando, eu acho. — Respondi prendendo os braços de Will novamente.

— Will não é de ficar doente. — Refletiu Lian assustado remexendo os óculos.

Não era uma doença, pelo menos uma doença normal, ninguém teve nenhum problema a não ser ele, e a única coisa que ele foi exposto diferente de nós, foi que somente ele teve contato direto com o Wendigo.

— Lian, pegue o diário e procure o desenho de um Wedingo, talvez ele tenha algo a ver com o estado de Will. — Gritei sem fôlego devido minha luta com Will. — Makenna, segure os braços dele.

Ela fez o que eu pedi, mas parecia que sua aproximação só serviu para deixar o insano Will ainda mais enfurecido, se debatendo cada vez mais, cada vez com mais força, não sabia de onde ele retirava tanta. Makenna e eu não conseguíamos contê-lo, soltei todo o meu peso sobre ele, mas não adiantou muita coisa.

— Achei! — Disse Lian depois de um tempo.

— Traga até mim. — Pedi sem ar.

Lian foi aos tropeções até mim e colocou o diário diante meus olhos, não tinha condição de segurá-lo, assim que localizei a figura comecei a ler o mais rápido que eu conseguia quase aos gritos:

— "Após perpetuar atos canibais por muito tempo, este monstro ganha muitos atributos para caçar e se alimentar, tais como imitar a voz humana, escalar árvores, suportar cargas muito pesadas, e além disso tem uma inteligência sobre-humana. Para destruir um Wendigo é preciso queimá-lo, pois se regenera de qualquer tipo de ferimento. O Wendigo ainda é capaz de espalhar uma espécie de doença conhecida como Wendigo Fever. Ele libera um odor para a vítima, que só ela pode sentir, depois, a pessoa que inalou aquele cheiro, começa a ter terríveis pesadelos à noite e, ao acordar, começa a sentir uma dor lancinante nas pernas e nos braços, além de sentir seu corpo queimar em febre, que se torna tão intensa e desesperadora que a pessoa em um surto de histeria acaba saindo dos aposentos gritando de modo alucinado, e retirando suas roupas ao longo do caminho"

— Will deve estar com essa febre. — Concluiu Lian. — Não tem nada sobre a cura?

— Não. — Respondi ficando desesperada.

Will estava tentando se levantar com mais força, estava cada vez mais difícil de segurá-lo, a cada solavanco meus joelhos batiam contra o chão, sorte por estar com o cristal que logo os curavam.

O cristal! Com certeza isso o curaria.

— Lian, segure a cabeça dele levantada! — Instrui.

Da melhor forma que consegui, tirei o colar e o coloquei no pescoço dele, que começou a se debater com uma força sobre-humana, precisou-se de nós três para segurá-lo. Numa última tentativa de se levantar, ele jogou Makenna e Lian para trás, e fechou os olhos, parando de se mexer, apenas seu peito subia devagar devido sua respiração,

Suspirei aliviada, havia acabado.

— O que você está fazendo aí em cima? — Disse Will. Olhei para ele parecia um pouco sonolento, estava todo suado, assim como eu. — Nunca imaginei ver você fazendo isso na calada da noite, ainda mais comigo, um cara imprestável, que só usa as garotas.

— Não é nada disso que você está pensando! — Disse tentando explicar a situação, senti minhas bochechas ficarem quentes.

— Você nesta posição. Não consigo ver outra explicação. — Disse com um sorriso safado.

Dei um soco na boca do estômago dele, que resultou num gemido de dor. Saí o mais rápido possível de cima dele. Lian e Makenna já haviam se recuperado do tombo, estavam todos bem.

— Por que estou com seu colar? — Perguntou Will já sentado, estava segurando o cristal em uma das mãos.

— Você não se lembra de nada? — Perguntei.

— A última lembrança que tenho é que foi dormir e quando acordei, você estava em cima de mim. — Disse dando uma piscadela cheia de segundas intenções.

Senti vontade do chutá-lo por sua impertinência. Mas me segurei, enquanto Lian explicava o que havia acontecido.

— Então Wendigo Fever é real. — Refletiu ele.

— Você tinha alguma dúvida? — Perguntou Makenna. — Ainda não reparou o que tem acontecido conosco nesses dias.

Não ouvi a resposta que Will deu, estava exausta, dei uma olhada no relógio de Lian que estava ao meu lado, meu turno já havia acabado a um tempinho.

— Vamos dormir, é melhor. — Sugeri indo para o meu saco de dormir.

— Pode deixar que eu fico como vigia. — Disse Will.

Ninguém se opôs, estavam todos cansados, exceto ele, parecia que havia recuperado toda a sua energia milagrosamente. Assim que Lian e Makenna deitaram, eles pegaram no sono.

— Se quiser pode ficar fazendo companhia, pode subir em cima de mim sem a interrupção de nossos amigos. — Disse Will malicioso.

— Vai para o inferno Will, na próxima eu deixo você sair por ai enlouquecido! — Cuspi as palavras me sentando para olhar em seus olhos.

Ele suspirou. E veio até mim. Seu olhar parecia triste.

— Obrigado por me salvar! — Disse colocando o cristal no meu pescoço, em seguida me deu um beijinho na testa e voltou para o lugar onde estava.

Deitei ainda confusa pelo ocorrido. Minha cabeça estava á mil tentando entender o porquê do beijo e por que onde ele tocara seus lábios estava formigando, eu adormeci sem encontrar uma resposta.


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