Nubladamente

By gabicassini

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Escrever é a arma de quem sente e vê tudo. Por Gabriela, todos os direitos reservados © More

Eu mentiroso
Andrômeda
Carta da Mamãe
Amarodiamar
O que elas trazem
Radioativo, quem?
Lado Belo pt. I
Nósduas
Como eu vejo você
Simplesmente
Eu
Eu vivo porque você não vive.

Sobre eles

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By gabicassini



Ela cochichou

No ouvido dele

O quanto ele era importante

E depois o beijou na bochecha, vendo-o

Fazer aquele sorriso

Que só ele sabia fazer

Quando estava envergonhado

Ou quando não sabia o que fazer.


Ele a abraçou por trás

Inesperadamente

Enquanto os dois esperavam para pagar

Um produto

Na fila do caixa do mercado

E repousou a cabeça em seu ombro

Sentindo aquele perfume

Que era tão dela.


Ela timidamente estendeu a mão

Quando estavam sentados lado a lado

Dentro do metrô,

E seus dedos ficaram entrelaçados

Fazendo carinho uns nos outros

Enquanto as estações passavam

Por janela a janela.


Ele trouxe café

Mesmo sem ela ter pedido.

Aquele café fraquinho que ele odiava

Mas que ela amava tomar quentinho

Enquanto o frio batia à porta

Todas as noites

E eles dormiam juntinhos.


Ela também no frio

O cobriu com outra coberta

No meio da noite

Enquanto apenas uma

Não aplacava

O frio que ele sentia.

Bem, ela nunca entendeu o porquê

Dele sentir tanto frio.


Ele ficou a observando falar:

A boca meio rosada e carnuda,

Olhos expressivos,

Nariz fino

E rosto com traços suaves.

As palavras eram melodias, mesmo

Que ele não estivesse entendendo nada.

A voz dela era maravilhosa.

Mas ela brigou com ele quando perguntou

Se estava prestando atenção,

E constatou que passou vários minutos

Falando sozinha.


Ela notou que ele franziu o cenho

E respirou fundo

Quando o amigo dela não parava de olhá-la

De forma diferente

Na festa que haviam ido juntos.

Viu que estava com ciúmes

E sorriu, porque ele não era de demonstrar

Essas coisas.

Então pediu para que fossem embora

Porque queria ficar apenas com ele

Na casa deles.


Ele pediu desculpas

Porque sabia que tinha agido errado

Ao alterar a voz para falar com ela

Daquela maneira.

Ele sabia que a culpa não tinha sido dela

Do seu dia ter sido uma porcaria.

E então, no final da noite

Não a levou flores, mas sim

Livros,

Que era o que ela mais gostava de fazer: ler.

E ela sorriu aquele sorriso

Que acendia

Algo nele

Mas que não sabia explicar.


Ela também pediu desculpas

Por ter sido grosseira certa vez

Quando eles não concordaram

Em um assunto.

Ele era cabeça dura, mas ela também era.

Porém, ele não tinha sido grosseiro.

Ela sim.

E então, à noite, tentou fazer uma boa comida

E um jantar romântico.

E no final, eles riram dessa falha tentativa

(só da comida ser boa, porque a noite foi

Realmente

Romântica)


Ele ofereceu seus ouvidos

Para escutá-la

Enquanto ela, irritada, falava das coisas

Que haviam acontecido no trabalho.

Segundo ela, cada absurdo pior que o outro.

Mas que para ele, só via a necessidade de abraça-la

Enquanto esperava que a raiva

Se dissipasse.


Ela perguntou

Como tinha sido o dia dele

E se interessou pelas coisas

Que ele estava dizendo.

De vez em sempre ele ficava rindo

Porque que ela sempre o fazia rir.

E assim iam indo.


Ele riu sozinho

No trabalho

Se lembrando de como era difícil

Acordá-la

Pela manhã.

E depois, com um sorriso bobo,

Se lembrou de maneira fofa que ela

Se espreguiçava.

E o arrepio na espinha o tomou

Quando ele lembrou da voz rouca dela

Lhe desejando um bom dia.

Mas logo voltou a rir, lembrando do cabelo

Bagunçado que só, mas

Que ela fazia questão de cuidar

Com todo o amor e carinho,

Assim como cuidava dele.


Ela lhe disse para levar um guarda-chuva

E ele não o fez.

Ela brigou assim que o viu todo encharcado

Chegar em casa.

O mandou a trocar de roupa porque pegaria

Um resfriado.

Ele sorriu: ela só queria seu bem.


Ele acariciou sua bochecha

Enquanto eles, deitados frente a frente,

Apreciavam simplesmente

A presença

Um do outro.

Ela fechou os olhos, parecia gostar.

E ele sentiu algo dentro dele

Crescer.

Percebeu o quanto a amava.

O quanto precisava daquele sorriso

Satisfeito

Que ela fazia

Naquele exato momento.


Ela o observava de longe

Enquanto ele escrevia algo.

Ele usava óculos.

E ela pensou o quanto ele ficava

Ainda mais bonito assim.

Pensou que sorte a dela

De ter o encontrado.

Mas quando ele perguntou qual era

O problema

Com toda aquela preocupação,

Ela ruborizou,

E balançando a cabeça,

Voltou a ler.


Ele estendeu a mão

Para segurar a dela

Enquanto ela andava divinamente

Com um salto igualmente divino.

Ele se aproximou, e com um sorriso

Disse que ela estava

Toda maravilhosa.

Sua princesa.

E a observou morder os lábios

Com os olhos sorrindo para ele

Da forma mais sapeca

Que ele já tinha visto.


Ela chorava

Porque tinha perdido

Um ente querido.

E ele, sem saber exatamente o que fazer,

Apenas a abraçou,

Querendo que toda a dor que estivesse sentindo

Se transferisse

Para si,

Só para ela não sofrer tanto.


Ele chorava

Escondido

Na madrugada

Aflito

Porque havia sido demitido.

Suas olheiras embaixo dos olhos haviam

Crescido,

E ela, sem saber exatamente o que fazer,

Apenas o abraçou,

E disse que tudo iria ficar bem,

Que era para ter fé.

E deixou ser sobrecarregada com tudo

Para que ele se aliviasse.



Ela sorria novamente

Dizendo que

Tudo iria ficar bem

Enquanto eles passavam mais um mês

Comendo só arroz e feijão

(Às vezes nem isso).

Ele parecia acreditar

Mas ela não confiava muito nisso.

Só queria vê-lo bem.


Ele enviou uma mensagem

Pedindo desculpas

Por não ter ligado mais cedo.

Perguntou como estava do resfriado

Que ela havia pegado

E lhe indicou uns remédios

E repouso

Mesmo sabendo que ela provavelmente

Não cumpriria.

Então riu sozinho.


As pessoas viam e...

Não era uma relação muito melosa?

Ouvi dizer outro dia que eles brigaram.

Ouvi dizer que ele fora demitido.

Ela não era muito estressada com ele?

Ele não era muito feio para ela?

Ela chegou tarde do trabalho hoje... será que...?

Ele estava chorando essa semana.

Ela estava...

Ele fez...


Ela

Ele

Eles

Viviam só eles

Com as coisas deles

Sem se preocupar com aqueles

Que não queriam

O bem deles,

E assim continuaram vivendo

A relação que agora havia mais de meses

E meses.


Estavam juntos e gritavam

Para todos

O quanto se amavam

De tempos em tempos

Todas as vezes.

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