Andrômeda

68 8 12
                                    



Andrômeda estava atrasada.

Ela já era para estar pegando

O ônibus das oito e meia,

Mas lá estava Andrômeda

Sonhando acordada


Ela, que tinha os cabelos lisos

De quem não cuida

Os olhos fundos

De quem não dorme

O rosto abatido

De que não vive

E a cabeça cheia

De quem só pensa


E Andrômeda pensava,

Enquanto escovava seus dentes,

Que hoje iria usar maquiagem

E um batom daqueles bem bonitos.

Um daqueles

Que ela mantinha

Escondido no armário.


Ela pensava, passando a escova

Por dentro da boca

Que não iria usar maquiagem

Coisa nenhuma,

Que todas as pessoas que diziam para ela

Se arrumar mais, na verdade estavam

Todas enganadas.


E Andrômeda pensava,

Que talvez elas estivessem certas,

Que talvez ela deveria cuidar mais de si,

Esquecer um pouco do trabalho

E marcar uma hora naquela manicure

Super gente boa

Do outro lado da rua


Ela pensava, ainda limpando seus dentes

E olhando seu reflexo no espelho

Que não nasceu para agradar ninguém

Que apenas seu trabalho

Era o suficiente

NubladamenteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora