O Labirinto dos Elfos

By GabyOmetto

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Quatro amigos faziam trilha, quando decidem sair dele e se embrenhar na mata e busca de uma aventura, mal sab... More

Imaginação
PREFÁCIO
PARTE UM 1. - A GRUTA
2. - RECONHECIMENTO
3. - DESCOBERTAS NA CASA DA AVÓ
5. - NOCTE VERMES
6. - MURBULG
7. - SEPARADOS
8. - CYAN
9. - ATAQUES
10. - DAMES BLANCHES
11. - IGNIS
12. - O FINAL DO LABIRINTO
13. - A BATALHA CONTRA UZURG
SEGUNDA PARTE -14. - O REINO ÉLFICO
15. - TREINO
16. - O BEIJO
17. - PLANOS DE FUGA
18. - FLASHAVAL, O DRAGÃO DO AR
19. - GRIFO
20. - O REINO D'ÁGUA
21. - O FESTIVAL
22. - DARGAR, O DRAGÃO D'ÁGUA
23. - O REINO DA FLORESTA
24. - GUERRA NA COZINHA
25. - AO REDOR DA FOGUEIRA
26. - UM ERRO
27. - RUSHOX, O DRAGÃO DE METAL
28. - O REINO DE FOGO
29. - DIA DE PRINCESA
30. - TRESSRI, O DRAGÃO DE FOGO
31. - O BAILE
32. - O REINO DO ESPÍRITO
33. - CHRYSUL, O DRAGÃO DO ESPIRITO
34. - O RETORNO DA ESCURIDÃO
35. - ESTRATÉGIAS DE GUERRA
36. - O ATAQUE FINAL
37. - O RETORNO
EPÍLOGO
Como foi escrever o labirinto dos Elfos
PRIMEIRO ENCONTRO
VALE DOS PEGASUS
Outras histórias
AGRADECIMENTOS

4. - PRIMEIRO DIA NO LABIRINTO

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By GabyOmetto


O sol estava brilhando, era um dia perfeito para um sorvete. Estava numa mesa ao ar livre tomando sorvete de limão com calda de chocolate ao leite. Passe todo o domingo ponderando sobre as vantagens e desvantagens de encarar a morte sozinha ou acompanhada. A covardia venceu o bom senso, iria convidar meus amigos a ir junto, por isso os chamei para a nossa sorveteria preferida, passamos bons momentos ali, talvez isso ajudasse no que tinha que dizer, e nas respostas dos meus amigos.

De longe vi Will e Lian chegando, depois de pegarem seus sorvetes, eles se juntaram a mim.

— Oi! — Disse Will roubando minha a cereja, fuzilei-o com o olhar, eu queira a minha cereja de volta, estava deixando-a por último. — O que você quer? — Ele colocou a cereja na boca devagarzinho com prazer ao ver como eu estava irritada.

Tomara que engasgue.

— Vamos esperar a Makenna! — Disse fingindo indiferença.

— Estou curioso. — Disse Will com um sorriso provocativo. Ele não se engasgou. Que pena.

— Esqueceu que Makenna iria entrar no labirinto nesse final de semana! — Sussurrou Lian, era perceptível que estava preocupado com a segurança dela. — Você falou com ela? Eu liguei para ela, mas deu caixa postal.

— Não, mas algo me diz que ela não foi para lá! — Respondi lembrando das palavras da vovó.

Assim que falei, Makenna apareceu, como os garotos, ela pegou seu sorvete e se juntou a nós, pelo excesso de chocolate e pela cara de bunda, ela estava de mau humor.

— Não era pra você estar numa aventura? — Provocou Will.

— Cala a boca! — Disse ela ranzinza. — Aconteceu algo estranho, não consegui achar o caminho, segui as marcas que Will deixou, mas elas acabaram e não havia nada além de árvores comuns, nada de flores, clareira, ou uma gruta.

— Você devia esquecer essa história, está ficando cada vez mais estranho! — Aconselhou Lian olhando para mim em busca de apoio.

"Não desta vez amigo. " Pensei com meus botões.

— Acho que devíamos voltar lá, nós quatro e explorar o labirinto! — Disse. Três pares de olhos surpresos me encararam, nenhum deles acreditavam no que haviam ouvido, me encolhi um pouco na cadeira diante seus olhares.

— Porque mudou de ideia? — Perguntou Lian. — E por que quer nos arrastar junto?

— Sou covarde demais para ir sozinha, mas entendo que vocês não queiram! — Disse disfarçando o ponta de irritação na minha voz, ele não precisava ter jogado isso na minha cara!

— Por que mudou de ideia? — Pressionou Lian, acho que ele queria me matar, quando finalmente havia uma chance de Makenna tirar aquela história da cabeça, eu incentivo.

— É complicado. — Me encolhi ainda mais, só de pensar em contar aquela história maluca. Mas se eu queria que arriscassem a vida, então um pouco de honestidade era necessário. — Eu meio que achei a parte de cima do vestido que encontramos na clareira.

— Onde? — Disseram três vozes em omissório.

— Vai parecer estranho, mas estava num baú, no sótão da minha avó!

— Não brinca! — Disse Will, seus olhos estavam arregalados, a colher cheia de soverte de morango parou no meio do caminho até sua boca.

— Ela já esteve no labirinto? — Perguntou Makenna entusiasmada. Assenti em resposta. — O que tem do outro lado?

— Elfos! — Respondi baixinho com medo da reação dos amigos.

Eles ficam em silêncio enquanto digeriam o que fora dito por mim, o primeiro a falar foi Will, um pouco hesitante:

— Com todo respeito, mas sua avó não parece estar muito bem da cabeça.

— Vou fingir que não ouvi seu comentário sobre minha avó. — Fiz uma pausa respirando para manter a calma. — Sei que isso parece loucura, mas vi e ouvi coisas que me fizeram acreditar.

— E o que foi? — Perguntou Lian ajeitando seus óculos.

— Se eu contasse me internariam num sanatório! — Disse fazendo careta com esse pensamento. — Preciso ver o que está no outro lado daquele labirinto. Eu não irei obrigar que venham comigo, mas ficaria grata se viessem.

— Quem garante que vamos achar a clareira novamente? — Perguntou Makenna, pelo seu tom de voz ela ainda estava irritada com o fato de não ter achado o caminho sozinha.

Refleti sobre a resposta, se eu falar que tinha sangue élfico iria dificultar as coisas, isso já era honestidade demais.

— Vamos ter que arriscar. — Fiz uma pausa. — Quem está comigo?

— Eu já queria ir, com a minha melhor amiga vai ser ainda mais divertido! — Disse Makenna animada.

Lian desviou o olhar, não queria fazer contato visual comigo, estava na cara que estava dividido, decidi dar um tempo para ele refletir, não iria pressionar.

— Acho que vocês vão precisar de dois homens valentes para protegê-las. — Disse Will cutucando Lian. — Vamos primo?

— Vai ser divertido! — Incentivou Makenna.

Pobre Lian, eu não o pressionei, mas não posso falar o mesmo que Makenna e Will.

— Ok. — Murmurou Lian relutante. — Mas o que vamos falar para os nossos pais? Não acho que eles vão aceitar muito bem nós irmos para um labirinto subterrâneo!

— Podemos dizer que vamos acampar por um longo tempo, tecnicamente não estaremos mentindo! — Disse Makenna. — Nós encontramos amanhã bem cedo, às oito, não quero que ninguém se atrase!

— Mas por hora, vamos aproveitar nosso sorvete! — Disse Will.

— Ótimo, nosso último dia de vida. — Disse Lian melancólico.

Tive pena de Lian, eu sou uma péssima amiga.

Enquanto os amigos conversavam alegremente, até mesmo Lian, eu estava em uma guerra civil dentro de mim. Estava feliz que meus amigos iriam me acompanhar nessa loucura, isso tornaria a viagem um pouco mais animada e menos assustadora, por outro lado, estava me sentindo culpada por arriscar a vida deles por algo fútil, como descobrir minhas verdadeiras raízes, e ainda não estava sendo totalmente sincera com eles.

E para finalizar, continuava com o mal pressentimento de que essa aventura iria acabar mal, na maioria das vezes eu sempre acertava, isso era o que eu mais temia. Mas havia uma parte de mim que não temia, que ansiava por volta naquele lugar. Eu queria enterrar esse sentimento, mas não conseguia. Era forte demais.

Lembrando de todas as vezes que meus pressentimentos estavam corretos, suspeitei que isso era influência dos elfos, magia. Mas não tinha certeza de nada, imaginava o que poderia fazer, e quanto do meu eu poderia ser influência do sangue dos elfos. Quais coisas eu era boa por puro esforço, quais eram influenciadas por essa descendência?

(...)

Ainda faltava uma hora para o horário combinado e eu já havia chegado ao ponto de encontro, um carvalho velho e robusto, joguei minha mochila pesada no chão e me sentei ao lado.

Olheiras marcavam o contorno dos meus lindos olhos, passei a maior parte da noite lendo o diário da vovó, não era muito um diário como os de hoje, tinha anotações sobre encantos, nomes estranhos, compromissos que ela teria que comparecer, a vida dela parecia corrida. Mas não havia nada muito útil sobre o labirinto. Consegui ler umas trinta folhas, era cansativo lê-las, as páginas estavam velhas e muito amareladas que davam um contraste com as pequenas letras caprichosas negras.

Decidi continuar a leitura enquanto esperava meus amigos, peguei o livro na minha mochila.

Nas bordas da maioria das páginas estavam rabiscadas com seus compromissos. Havia vários encantos na página que me encontrava, elas falavam principalmente sobre a natureza, mais especificamente sobre o fogo. Eu estava curiosa, será que esses "encantos" eram feitiços como os de bruxas ou apenas poemas que falavam sobre coisas belas?

Queria testar, mas tinha medo, depois de muitos filmes mostrando os desastres que poderiam acontecer caso não pronunciasse corretamente um feitiço, achei melhor continuar a leitura silenciosamente.

— Bom dia!

Tive um sobressalto ao ouvir a voz de Lian, estava tão concentrada na leitura que não havia percebido sua presença. Recuperada do susto, tentei numa tentativa frustrada esconder o livro, mas não havia lugar, então o fechei e o pressionei contra o peito, torcendo para que Lian não se interessasse pelo seu conteúdo.

— Bom dia, dormiu bem? — Perguntei cordialmente.

— Você está de brincadeira! Como alguém dorme sabendo que no dia seguinte ele pode morrer, ou se existem elfos entre nós, o que vem depois? Dragões?

A tristeza tomou conta de mim, só naquele momento, eu percebi olheiras tão marcadas quantos as minhas nos olhos de Lian. Isso era o que eu fazia com o meu amigo? Convidá-lo fora uma péssima ideia, devia ter sido corajosa e ter ido sozinha, mas infelizmente, agora já era tarde, ele poderia voltar para casa, mas Will e Makenna nunca desistiriam da ideia.

— Desculpe, eu não queria meter você nessa loucura!

— Tudo bem, sei que, por mais que você não o diga, tem o bom motivo para nos pedir isso! — Disse compreensivo.

— Só sou covarde demais para ir sozinha! — Disse cerrando os pulsos com raiva de mim mesma.

— Mas qual é a razão disso, eu te conheço, sei que não cometeria uma loucura dessa sem um motivo! — Não respondi, Lian percebeu que eu não iria falar nada. — Pelo menos posso ver o livro que está lendo?

Pensei no assusto por um instante, decidi que era o mínimo que poderia fazer, e ele não iria entender o que estava escrito. Relutante, estendi o livro para Lian, que o pegou avidamente. Livros eram umas das paixões dele, só perdia para Makenna e a fotografia.

O livro foi folheado por Lian cada detalhe memorizado enquanto eu olhava para as nuvens pensativa.

— Tenho duas coisas importantes para te dizer. Primeira, desde de quando você sabe ler em latim?

— Não sabia que estava escrito em latim! — Respondi um tanto confusa, eu realmente não havia percebido isso, para mim era apenas uma língua estranha.

— Como pode ler em uma língua que não conhece? — Perguntou Lian desconfiado.

Pensando rápido desviei a atenção dele.

— E a segunda coisa?

— Você poderia ter dito que havia achado um mapa do labirinto, isso me livraria algumas horas temendo pela minha vida!

— Temos um mapa do labirinto? — Perguntei surpresa, eu deveria ter pelo menos folheado o livro todo.

"Sou uma burra. " Pensei com raiva de mim mesma.

— Parece que sim, o desenho me lembra um labirinto. — Disse Lian ressabiado. — Olhe para ver se não há algo escrito, já que inexplicavelmente, consegue entender uma língua totalmente estranha a você!

— Sei que se eu contasse o porquê, você ligaria em um manicômio para me internar! — Resmunguei pegando o diário que Lian havia estendido em minha direção.

— Você alega que existem elfos vivendo no subsolo! Para mim isso já é motivo pra te internar.

— Vai por mim, o que estou escondendo é pior. — Disse desesperada para mudar de assunto. Comecei a ler rapidamente a página anterior ao desenho do labirinto. — Aqui diz que esse desenho foi copiado de um livro chamado, na nossa língua de "Plano das Cidades". Parece ser realmente um mapa.

— Isso é um alívio, agora não preciso ficar preocupado em nos perdemos, só temos o risco de existir monstros e armadilhas, e eles nos matar!

— Não seja tão pessimista! — Repreendi carinhosamente. — Temos um tempinho antes de Makenna e Will chegar, vamos aproveitar para estudar o mapa!

— Ótima ideia!

Nós dois se esprememos para que ambos conseguissem examinar a página do livro. O labirinto fora desenhado com elegância e talento. Um traço fino e negro delineava o os corredores, havia apenas duas palavras escritas na página, ostium e exitus, um delicado traço escarlate ligava ambos.

Ostium é a entrada e, exitus é a saída. — Traduzi. — Mas acho que no nosso caso é ao contrário.

— Como assim? — Perguntou Lian confuso arrumando os óculos.

— Esse diário veio do outro lado do labirinto, ou seja, nossa entrada é a saída deles, e visse versa.

— Tem certeza? — Perguntou ele com a testa levemente franzina.

— Não. — Disse encostando a cabeça no tronco da árvore.

Há essa altura não tinha certeza de nada, todas as minhas crenças foram destruídas uma a uma, não sabia mais quem era ou do que era capaz de fazer. Sem falar nesse pressentimento que venho tendo.

— Podemos verificar isso quando entrarmos no labirinto. — Disse Lian pensativo. — Para nossa sorte as duas aberturas são bem diferentes, vamos perceber qual é nossa entrada assim que entrarmos no labirinto! — Ele fez uma pausa para refletir se deve fazer a próxima pergunta. — Está escrito nesse diário que tipos de criaturas vamos enfrentar, se é que tem alguma?

— Ainda não o li por completo, não sei nada relacionado ao labirinto. — Disse timidamente.

— Você só pode estar de brincadeira! — Disse Lian um pouco exasperado. — Você lê mais livros que eu, numa velocidade incrível. Como pode não ler o livro que é provavelmente, o mais importante de sua vida, que por acaso, pode salvar nossas vidas!

— Desculpe, não faz muito tempo que estou com esse diário e, minha cabeça tem estado muito cheio. — Disse com os olhos marejados de lágrimas, o que não era normal, eu nunca chorava. Desde que haviam encontrado a gruta, estava uma pilha de nervos, as vezes não conseguia me reconhecer.

— Tudo bem, não precisa chorar! — Disse Lian quase em desespero. — Você sabe que lágrimas femininas me apavoram!

— Desculpe. — Disse me recompondo, limpando as lágrimas que escaparam dos meus olhos. — Minha vida tem estado um tanto confusa.

— Temos tempo pra ver... — Lian parou no meio da frase. — Esquece, Makenna e Will então vindo, não acho que seja uma boa ideia eles verem o livro agora, irão encher você de perguntas, e não serão tão compreensíveis como eu!

Com agilidade, guardei o diário na bolsa, antes que eles chegassem perto o bastante para vê-lo.

— Bom dia! — Disse Will sorridente. — Estão prontos para a aventura?

— É bom que estejam! — Disse Makenna quase pulando de animação.

Lian e eu assentimos em resposta.

— Ninguém esqueceu de nada? — Perguntou Will mais sério do que o normal. Ele não estava com jeito de quem iria fazer rodeios, não havia o tom brincalhão em sua voz. — Isso é diferente de tudo o que já aprontamos, pode custar nossas vidas!

— Trouxe tudo o que havia comprometido a trazer! — Eu disse "E um pouco mais", acrescentei mentalmente.

— Eu também! — Disse Makenna quase saltando de animação.

Eu invejava um pouco o entusiasmo de Makenna, perecia que era intocável pelo medo, mesmo que o perigo esteja explícito, ela parece inabalável, ansiosa por aventura! Enquanto a mim, estava numa guerra civil, uma parte de mim queria sair dali o mais rápido, enquanto outra queria entrar no labirinto e descobrir todos os seus segredos, infelizmente, essa parte estava ganhando.

— Conferi diversas vezes, não esqueci nada! — Disse Lian pouco confiante, mexendo mais uma vez nos óculos.

— Não esqueci nada também. — Disse Will autoritário, odeio quando ele fica assim, acaba ficando menos suportável que o normal. — É melhor começarmos nossa caminhada antes que pessoas comecem a aparecer, muito movimento irá nos atrapalhar, vamos!

Se esperar resposta alguma, Will começou a caminhar em direção ao começo da trilha com Makenna em seu encalço quase saltitando de entusiasmo, Lian me ajudou a levantar e caminhamos juntos devagar, ficando mais afastados do grupo.

— Lian, Krys fiquem junto do grupo, não quero que ninguém se perca! — Repreendeu Will estreitando os olhos castanhos.

— Garoto autoritário! — Resmunguei, levemente corada pelo uso exclusivo do apelido de Will. — Ainda estamos na trilha, não há como se perder!

— Parece que temos um líder, Will está ligado no modo alfa! — Disse Lian enfezado, quase bufando.

Will era muito superprotetor com os amigos, ele ficava agindo como um guarda costas em lugares que julgava perigoso, ou nas baladas que íamos juntos, quando a faculdade permitia, ele não deixava nenhum homem chegar perto de Makenna ou de mim. Por mais que seja irritante, gostava de quando ele expulsava os chatos para mim.

Nós dois apressáramos o passo para parear com nossos amigos, estava um pouco difícil de manter um ritmo, minha mochila estava muito pesada com tudo que iriamos precisar, para provocar o "alfa", propositalmente passei na frente dele, que não ficou pra trás, me ultrapassando. Apertei o passo novamente ficando na frente dele.

Olhei para trás desafiando-o, mas me surpreendi, nunca o viu daquela maneira, seu rosto estava sério, o sorriso nos seus olhos que sempre estiveram presentes, não estava lá, o que era muito raro, sua expressão era como de um soldado inglês, que não importava o que fizesse ele continuava impassível.

Continuei andando, ainda com os olhos fixados em Will, sua serenidade acabou por prender meus olhos nos dele, vi que ele apontou para frente e abriu a boca pra começar a dizer algo, não houve tempo, tropecei e fui de cara no chão, porém Will foi mais rápido, agarrou-me pela cintura puxando-me pra si, chocando o meu corpo com o seu.

— Tome Cuidado Krys! — Disse Will suavizando sua expressão severa. — Tente não se matar antes que chegarmos ao labirinto.

Bufei frustrada, mas não pelo ato de Will.

"Em todos os filmes e livros que vi, elfos são seres com grande equilíbrio. Por que eu tropeço numa miséria pedra e quase caio? Será que essa parte élfica eu não peguei? Que mundo injusto! "

Tentei soltar-me, mas Will estava segurado com força. Só consegui, por quê atingi meu ombro com toda força no queixo dele, as vezes apelo para a agressividade. Avancei alguns passos à frente e dei uma olhadela para trás com um pouco de raiva nos olhos, ele me olhava enraivecido massageando seu queixo, provavelmente dolorido.

"Bem feito! " Pensei sorrindo um pouco, mas logo voltei para uma expressão séria, não era um momento propício para isso.

Voltamos a caminhar, todos nós estávamos em silêncio, imersos em nossos pensamentos, Will foi na frente enfezado, dava para perceber no seu jeito de andar, chutando pedras para longe a cada passo que dava.

Eu seguia mais afastada fuzilando-o com o olhar, embora ele não soubesse disso, desde que nos conhecemos, Will sempre pegou no meu pé, sempre me irritando, ele dizia que não havia segundas intenções, isso às vezes me irritava, não a parte das segundas intenções, mas pelo menos ele escolhia os momentos certos para me provocar, ele tinha seus momentos como o amigo carinhoso, como quando eu havia levado um fora do meu primeiro namorado, ele ficou ao meu lado ouvindo eu difamar meu ex, concordando comigo quando eu inventava defeitos no maldito, mesmo sendo um grande amigo dele, ele até havia comprado sorvete e chocolate. Ele era um ótimo amigo quando queria, mas eu nunca iria querer que ele tivesse sentimentos além de amizade por mim.

Coloquei os fones no meu ipod que estavam pendurados pela minha camiseta e liguei a música, caminhei olhando para os pés, imaginando várias formas, que nunca faria, de me vingar de Will, algumas envolviam cera quente.

Em meio aos meus devaneios, senti uma mão no meu braço puxando-me para trás, me virei para ver quem é. Adivinha quem era, Will. O fulminei com o olhar, ele não estava segurando com muita força, mas me irritava do mesmo jeito. Vamos esquecer o que eu disse sobre o Will saber os momentos certos para me provocar.

— O que pensa que está fazendo? — Perguntei exasperada.

— Se você não reparou, está passando da nossa entrada. — Disse ele com petulância.

Fiquei levemente vermelha, envergonhada com meu mini ataque de fúria, desta vez Will não o merecia.

— Não tinha reparado! — Disse fingindo não estar constrangida, reuni todo meu orgulho e fui andando confiante de cabeça erguida até onde Makenna e Lian estavam.

— Eu percebi. — Resmungou Will irritadiço. — Só fique atenta Krys!

Assenti em resposta. Will liderou o nosso grupo para fora da trilha, nós éramos os únicos naquele trecho, ninguém nos viu sumir entre as árvores robustas.

Nós conversamos sobre assuntos leves, totalmente alheios ao que pretendíamos fazer. Will continuou agindo como um líder, o que não era comum, quando o assunto era aventura, Makenna sempre comandava, mas desta vez ela estava logo atrás de Will, estranhamente resignada com sua nova função.

Depois do que pareceu séculos, chegamos a clareira, o ânimo de nenhum se alegrou, ou contrário, piorou. Parecia que ninguém estava com vontade de adentrar aquele labirinto, nem mesmo Makenna, que cinco minutos antes estava animada, mas agora estava calada.

Mas nós quatro éramos teimosos, não iriamos desistir, estávamos esperando a desistência de Lian, que era o mais ajuizado naquele momento. Porém, às vezes a emoção sobrepõe a razão, ele estava determinado a mostrar para Makenna e para si mesmo, que era um homem corajoso e aventureiro, conseguia ver isso nos seus olhos azuis. Ou seja, como ninguém ousou desistir, vamos ter a maior aventura de nossas vidas, vou apenas dizer que está não foi a melhor das escolhas que eu fiz.

— Que estranho, agora o lugar está aqui. Por que quando vim sozinha não o encontrei? — Perguntou Makenna para si mesma, em voz alta.

— Talvez você tenha errado o caminho! — Sugeri, que assim com os outros, ouvira claramente o que foi dito por ela.

— É provável que eu não sou o único que marca árvores com canivetes. Deve haver outros lugares com árvores marcadas.

— Não é isso, eu segui o mesmo caminho que fizemos hoje! — Disse Makenna.

— Você está querendo dizer que o lugar sumiu magicamente? — Perguntou Will irônico.

— Não, isso é impossível! — Disse Makenna desconfortável com a situação. — Eu não sei, tem algo nessa história que ainda não foi revelado.

As palavras da vovó vieram à minha cabeça, parecia que ela estava certa, isso era assustador, será que era realmente culpa do meu suposto sangue élfico?

— Vamos deixar isso para lá, é inútil ficar discutindo isso! — Disse Lian sereno, lançando um olhar cheio de significados, provavelmente ela suspeitava que eu tinha algo a ver com esse mistério.

Makenna e Will se calaram, seguindo em silêncio para perto da gruta.

— Só por garantia, tudo o que precisamos está aqui? — Perguntou Will quebrando o silêncio. Todos assentimos em resposta. — Tudo está seguro contra a água?

— Bolsas impermeáveis! Lembra!? — Disse ainda irritada, "O que há de errado comigo? Não sou tão grosseira assim. "

— E para garantir embalamos tudo em sacos plásticos, também impermeáveis. — Disse Makenna começando a se animar novamente, ou talvez fosse um fingimento, temos um garoto que está no comando de tudo, um que quer provar que é corajoso, uma garota que está descontando tudo em todos, precisávamos de alguém animado para nos fazer dar mais um passo.

— Certo, acho que podemos mergulhar! — Disse Will com calma.

Agilmente peguei meu ipod e os fones colocando-os num saquinho dentro de minha bolsa. Pelo canto do olho vi Makenna jogando uma máscara de mergulho para Lian. Sorrio comigo mesma, pensando em bancar a culpido, talvez essa loucura sirva para aproximar os dois.

Feito os últimos preparativos, entráramos na água, que estava numa temperatura refrescante, mesmo naquele horário, fomos até o mais próximo possível da entrada, quando Makenna disse de repente:

— Lembre-se, mantenham a calma, se apavorar pode ser perigoso!

Dita essas palavras, ela mergulhou para dentro do buraco, o segundo a tomar a iniciativa foi Will, Lian foi o próximo, insisti que ele fosse primeiro, tinha medo que ele entrasse em pânico e se machucasse. Decidi então ficar por último, assim poderia socorrê-lo caso precisasse.

Por sorte, meu socorro não foi necessário, o mergulho ocorreu sem grandes problemas, apenas alguns cotovelos e canelas ralados por batidas nas pedras. Foi feita uma pausa para que as roupas pudessem secar um pouco. Estávamos todos perdidos em pensamentos em um mundo próprio.

Me afaste um pouco dos meus amigos, estava encharcada, meu cabelo preso por um rabo de cavalo estava todo grudado na minha nunca, formando um bolote de fios loiros. A temperatura do lugar estava abafada, fazendo com que me sentisse um pouco estranha, devido a pele molhada.

Quando tive certeza que todos estavam concentrados o bastante para não perceberem minha escapada, fui até a entrada do labirinto o mais silenciosa possível, peguei o diário e o desembrulhei abrindo rapidamente na página do mapa. Olhei para passagem que indicava a entrada, logo no início tinha um corredor seguido por uma encruzilhada, já na saída do mapa, tinha um corredor um tanto longo e depois uma curva para direta.

Olhei nervosa para o labirinto real que estava logo a minha frente, estava com medo do mapa ser de outro labirinto ou, qualquer outra coisa. Para meu alívio, tinha diante de mim um corredor de uns três ou quatro metros e uma curva a direita. Tive vontade de gritar de felicidade, era o mapa certo, estava invertido, mas não havia importância. Peguei um lápis e indiquei a entrada e a saída correta.

Vendo que já havia ficando tempo o bastante, voltei silenciosamente para junto dos meus amigos, que não haviam sequer percebido meu afastamento, sentei um pouco mais afastada deles e me recostei numa pedra fechando os olhos.

Onde havia me metido? O arrependimento me atingiu, começava a suspeitar que isso foi uma terrível ideia, mas era tarde, eu tinha certeza que se sugerisse que eles fossem embora, Will e Makenna se recusariam a ir.

— Acho que já podemos ir! — Disse Makenna.

Abri os olhos e me levantei rapidamente num pulo, batendo a cabeça numa pedra próxima com força suficiente para formar um galo.

— Ai! — Gemi levando a mão a cabeça.

— Você está bem? — Perguntou Will parando o que estava fazendo e a olhando com preocupação.

— Sim, tenho a cabeça dura! — Disse tentando fazer graça.

Meu peito começou a esquentar levemente no lugar onde o cristal de vovó estava. Eu havia colocado por baixo da blusa para que ninguém o visse, também estava com o punhal, escondido no cós da minha calça, era confortável, achei que iria me incomodar, mas estava errada, não sentia o punhal contra minha pele, ás vezes colocava a mão no cós só para ter certeza de que ainda estava lá. Minha cabeça onde batera começou a formigar e ficou um pouco mais quente, logo estaria curada.

— Tome mais cuidado! — Disse Will.

— Ok, você já falou isso mais de dez vezes hoje! — Disse com petulância.

— Então porque ainda não me ouviu? — Perguntou exasperado cruzando os braços fazendo com que seus músculos ficassem ainda mais salientes com a camiseta molhada.

Desviei o olhar do seu corpo, dei ombros de forma indiferente.

— Tentem parar de brigar vocês dois, parecem duas crianças! — Repreendeu Makenna. — Vamos recapitular nossas funções!

— Já que ninguém mais tem câmera profissional, sou o fotógrafo! ­ — Disse Lian tirando sua câmera embalada cuidadosamente de dentro da mochila.

— Vou relatar o que vai acontecer com a gente! — Disse um pouco animada. Mesmo com medo e arrependimento do que aconteceria dentro naquele labirinto, comecei a ficar animada com a ideia da aventura, mas nunca admitiria isso aos amigos, mas iria aproveitar ao máximo as experiências que iria adquirir nessa loucura. — Talvez eu devesse começar a rezar para sairmos vivos daqui. — Completei com um humor mórbido.

— Sou o líder! — Disse Will.

— Quem te colocou no comando? — Perguntei arqueando uma sobrancelha.

— Eu mesmo! — Respondeu se aproximando de mim, fazendo ter que olhar para cima, já que ele era uma cabeça maior que eu. — Alguém contra?

Lian e Makenna se mantiveram em silêncio, não tinham nada contra Will ser o líder, porém, não tive a mesma postura que meus amigos.

— Eu tenho algo contra! — Desafiei fazendo a pose mais altiva que consegui.

Devo esclarecer que, quando estou estressada, acabo implicando com alguém sem motivos, é minha forma de extravasar, geralmente minha vítima é o Will, apesar que hoje estar um pouco pior que o normal.

— É mesmo? O quê? Deve ser um ótimo motivo! — Disse Will desafiando-me com um olhar enraivecido.

Abri a boca para responder, mas não disse nada, a reputação de Will ou sua chatice, esses motivos que não eram tão bons. A expressão de raiva foi substituída por um lindo e radiante sorriso, igual à de uma criança que acaba de ganhar do amigo numa brincadeira boba.

— Vai ficar de boca aberta e não responder nada? — Continuei sem ação, apenas fechei a boca, o que fez o sorriso de Will ficar ainda mais largo. — Parece que ninguém tem motivos para que eu não seja o líder!

— Porque eu não posso ser a líder? — Questionei cruzando os braços.

— Se a escritura estiver certa, não podemos imaginar que tipos de criaturas nos aguardam. Sou o mais forte, não quero que ninguém se machuque, por isso eu serei o líder, se algo aparecer, vou ser o primeiro a ver e a agir, as chances de você se machucar serão menores. — Disse Will fitando os meus olhos, que apenas assenti, os motivos dele eram muito altruístas.

— Sabe que habilidade está acima que força, não sabe? — Perguntei estreitando os olhos para Will, até que se tornassem apenas duas fendas azuis cobalto.

— Belo discurso! — Disse Makenna de repente, deixando minha frase sem resposta. Will tirou os olhos de mim e voltou sua atenção para Makenna. — Vamos?

— Acho que estamos prontos, alguém quer dizer algo antes de entrarmos? — Pergunta Will.

Liam lançou um olhar penetrante para mim, que significava "Fale agora! ". Ele tinha razão, era o momento certo para falar sobre o diário, em partes, não iria revelar tudo sobre ele.

— Eu tenho. — Falei vacilante. Will olhou-me pronto para um novo round de discussões. — Eu achei um livro, bem velho que contém um mapa deste labirinto.

— Deixe-me ver. — Pediu Will. Tirei o diário da bolsa e entreguei relutante a ele. — Tem certeza que o mapa está certo?

— Não, mas é melhor que entrar no labirinto às cegas.

— Tem razão, usarei este mapa para atravessar o labirinto. — Disse Will determinado.

— Aí sim estaremos às cegas! — Disse Makenna irônica.

— Não quero acabar com sua moral, mas você é péssimo com mapas! — Disse Lian. — Krystal é a melhor para se orientar com mapas, acho que ela deveria ficar com o mapa!

— Isso significa que vou na frente! — Disse com um sorriso triunfante de vitória passando na sua frente.

— Não vou deixar que você corra esse risco! — Disse Will exaltado me pegando pela jaqueta e me puxando para trás.

— Tem alguma ideia melhor? — Desafiei erguendo o queixo olhando no fundo dos seus olhos, me concentrando no fino círculo dourado que ficava em volta de sua íris castanha.

Will pensou por alguns momentos, não havia muitas opções, ele era realmente péssimo com leitura de mapas, ao contrário de mim. Não tendo opção, ele optou pela mais fácil, ser teimoso.

"Como eu odeio ele! "

— Você não vai na frente!

— Que tal vocês dois irem lado a lado, Krystal seguindo o mapa e, você protegendo-a? — Sugeriu Lian entediado com a nossa briga. — O labirinto é largo o baste para que dois consigam ficar lado a lado, Makenna e eu cuidamos da retaguarda.

— Por mim tudo bem! — Disse Will.

— Então vamos! — Disse ranzinza indo para a entrada do labirinto, as paredes eram feitas de pedras lisas meio acinzentas, já estavam muito gastas, algumas partes já caíram há muito tempo atrás, cristais azulados estavam cravados nas paredes iluminando nosso caminho.

Will teve que acelerar um pouco o passo para ficar ao meu lado, entramos no labirinto seguidos por Makenna e Lian.

Os cristais fincados nas paredes do labirinto proporcionavam iluminação suficiente para que o mapa pudesse ser seguido sem uma lanterna. Vacilante dei o primeiro passo dentro do labirinto, não aconteceu nada, para meu alívio. Imaginava que assim que colocasse os pés no labirinto, apareceria um monstro horrendo do estilo filme de terror.

Nunca fiquei tão feliz por estar errada.

Com um pouco mais de confiança avancei pelo corredor, sempre com Will ao meu lado pronto para enfrentar qualquer coisa. Nunca iria admitir isso, mas estava agradecida por ele estar ao meu lado, estava sentindo-me segura, como se a chance de eu morrer fosse menor só por sua presença.

Chegando ao final do corredor virei para direita, assim fomos por um longo tempo, durante o trajeto fizemos diversas curvas, sem parar para descansar, nem comer, o peso de nossas mochilas tornava o avanço um pouco mais lento e difícil de manter e fazia com que minhas costas doessem um pouco, mas nós estávamos indo bem. Conversávamos sobre assuntos aleatórios e engraçados tentando esquecer uma pouco onde estávamos e a incógnita do que poderia acontecer conosco.

Estava totalmente alheia a conversa dos amigos, as vezes concordava sem saber o que foi dito apenas para que eles não se preocupassem. Eu estava determinada a atravessar o labirinto o quanto antes, mantinha o passo mais rápido possível e uniforme.

— Não aguento dar mais nenhum passo, preciso descansar! — Disse Lian sentando-se no chão. — E um pouco de comida.

Parei ao ouvir a reclamação dele, só então percebi que estava exausta, com as pernas queimando e formigando, faminta e com as costas doloridas, estava tão concentrada que havia esquecido do bem-estar dos meus amigos, inclusive o meu.

— Desculpe, eu esqueci deste detalhe. — Confessei envergonhada passando a mão no meu cabelo.

— Só você para esquecer algo tão importante quanto comer e descansar. — Provocou Will.

Desta vez deixei passar, já brigamos o suficiente por um dia, ou será que já era noite? Não sabia dizer, os cristais não estavam tão brilhantes quanto antes.

— Já são seis e meia, acho que podemos parar por hoje. — Disse Lian olhando para o relógio preto que estava em seu pulso, o único inteligente o bastante para trazer um.

— Então vamos ficar aqui essa noite? — Perguntei um pouco ressabiada de ficar num local desprotegido.

— E por acaso tem um hotel 5 estrelas por aqui? — Provocou Will. — Eu não sabia que você era tão fresca.

— Não sou fresca, apenas acho esse lugar muito aberto, ficamos desprotegidos. — Expliquei mudando o meu peso de uma perna para outra desconfortável com a situação.

— Krystal tem razão, não temos proteção contra nada. — Disse Makenna. — Acho que devemos fazer turnos para vigiar.

— Isso não vai nos deixar cansados? — Perguntou Lian ainda sentado.

— Um pouco, mas é melhor prevenir. — Disse Will. — O primeiro turno é meu. — Ele fez uma pausa e olhou diretamente para mim. — Alguém tem algo contra?

— Não, pode ficar acordado, eu te apoio com veemência. — Disse provocativa enquanto me sentava no chão ao lado de Lian. — Eu posso ser a segunda.

— Terceira! — Disse Makenna empolgada.

Que tipo de pessoa, fica empolgada por acordar no meio da noite e ficar acordada sem um motivo concreto. Com a exceção de Makenna, ninguém. É por isso que eu amo essa garota, apesar de que as vezes querer matá-la.

— Acho que o quarto turno é meu. — Disse Lian desanimado.

Viu, esse é a emoção esperada, ninguém quer ficar acordado sozinho num lugar velho e cinzento.

— O que temos de jantar? — Perguntei depois que meu estômago fez uma exigência por comida, um tanto barulhenta.

— Barra de cereal! — Respondeu Will se ajoelhando no chão procurando por algo em sua mochila.

— E o que mais? — Perguntei.

— Só tem barra de cereal, é um alimento nutritivo e indicado para situação como essa. — Disse ele sem me olhar.

Gemi, eu gostava de barras de cereal, mas... passar um tempo indeterminado só comendo elas, é pedir demais.

— Não é tão ruim assim, poderia ser pior! — Disse Makenna sentando-se numa pedra achatada, que estava próxima de nós.

— Pegue! — Disse Will estendendo uma barra de cereal de mel e sentando-se ao meu lado. — É melhor do que nada.

Ele jogou uma pra Lian e outra pra Makenna, e pegou uma para si. Abri relutante meu "jantar" e dei uma mordida. Gosto era maravilhoso, porém não seria tão gostoso comendo isso várias vezes ao dia. Após terminar a minha perguntei:

— Tem mais?

— Sim, mas você não pode comer, vamos fazer a comida e a água durar o máximo de tempo possível, não sabemos quanto tempo isso vai durar. — Disse Will.

Eu ainda estava com fome, mas ele estava certo, devemos estocar o máximo possível. Com um suspiro de resignação, peguei meu caderno de capa de couro novinho, que havia comprado especificamente para essa ocasião, e uma das minhas várias canetas pretas, e fiz um relato breve sobre os acontecimentos que se passaram, por mais detalhes que coloquei, meu relato não teve mais que uma folha, não aconteceu nada de interessante, enquanto Lian dava uma olhada nas fotos que fez durante o dia, ele tirou poucas, já que não achamos nada demais.

Conforme o tempo foi passando, os cristais foram se apagando cada vez mais. Suspeitava que isso significasse que era noite na superfície, uma rápida conferida no relógio de Lian, mostrou que eu estava certa, os cristais estavam sincronizados com o horário lá de cima.

— Acho melhor nós arrumarmos para dormir, vamos andar bastante amanhã! — Disse Makenna saindo da pedra em que estava sentada. — Vamos procurar um cantinho para dormir.

Dei uma olhada rápida no mapa, havia um beco sem saída próximo, sugeri que fossemos para lá, todos aceitaram, seria mais fácil de vigiar. Pegamos nossas coisas e nos dirigimos para lá.

Aquele beco sem saída até que era agradável, levando em conta onde estávamos era limpo com apenas algumas pedras caídas ao redor, havia vários cristais. Por algum motivo, Makenna achou que não devíamos levar barracas, perderíamos tempo montando-as e desmontando-as. A única coisa que tínhamos eram sacos de dormir.

Cada um escolheu um cantinho para dormir, mantínhamos uma certa distância um do outro, mas não muito. Eu estava entre Makenna e uma parede. Will já havia tomado sua posição como vigia, estava sentado numa pequena pedra lisa, seu saco de dormir já estava arrumado perto de seus pés.

Eram oito horas, tudo estava escuro, iriamos acordar às oito da manhã, cada um tinha 3 horas de vigilância. Todos foram se deitar, menos Will. Eu tinha receio que não conseguisse dormir, estava um pouco assustada, o labirinto estava totalmente silencioso, pode parecer estranho, mas esse silêncio me dava ainda mais medo, sentia que algo estava se escondendo entre as sombras, pronto para nos dilacerar.

Enquanto divagava sobre osilêncio do labirinto, meus olhos acabaram ficando pesados e eu adormeci.3Z0!bih~ճc

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