Camila Velay
— Tem certeza que não vai querer alisar seu cabelo, querida? — o cabeleireiro pergunta mais uma vez, enquanto massageia meu couro cabeludo com uma habilidade impressionante nos dedos, estou quase pegando no sono.
— Tenho — confirmo confiante.
Gosto dos meus cachos e de como eles balançam quando o vento bate. É uma das únicas coisas que tenho da minha mãe, tia Lílian me mostrou uma foto antiga dela de quando era criança, onde seus cabelos são o destaque da fotografia. E desde que vi quis mantê-lo em sua memória.
Minhas unhas foram feitas, minhas sobrancelhas foram tiradas, meus cabelos foram hidratados... Estou me sentindo outra pessoa diante desse espelho. É a primeira vez depois de muito tempo, que eu me sinto muito bonita, embora sem nenhuma maquiagem. Meus cabelos estão mais sedosos e com menos volume e a cor parece estar mais viva e reluzente.
— Você e o Cooger já transaram? — minha amiga pergunta descaradamente enquanto anda ao meu lado pelo shopping.
— Ally! — a repreendo, sinto minhas bochechas queimarem, desvio o olhar na hora.
Tive que inventar um monte de coisas pra carregar minha amiga pelo shopping comigo. Sei que ela não havia caído na mentira do "eu guardei dinheiro e quero ir no salão antes do jantar", porém pelo menos ela não esta me interrogando pra tirar a verdade de mim.
— O quê é? Vocês estão tendo um lance, certo? Garotos como Mason não são do tipo que ficam só em beijos. E você sendo virgem deveria se preparar.
— Eu sei, mas só estamos tendo um lance. Nem é nada sério — cochicho morrendo de vergonha que alguém escute nossa conversa.
Varro os olhos pela loja inteira, não há nenhum vestido que combina comigo e muito menos com o jantar que eu imagino que vai ser. É tudo muito cheio de brilho e nudez.
– Aham. Nada sério? Camila ele convidou você pra ir com ele em um evento da Esmeltin!
— É, eu sei.
— Esses vestidos são o olho da cara, onde você está arrumando tanto dinheiro? — ela indaga e olhando ao redor da loja.
— Eu já disse que Mason vai pagar pelo meu vestido — ela levanta uma das sobrancelhas — Agora me ajuda a escolher um vestido, se não eu vou explodir de tanta ansiedade.
Abro a porta de casa devagar provocando nenhum ruído, meus passos são lentos e silenciosos, pois tenho medo de fazer algum barulho que me entregue. Já passa do horário que normalmente chego do meu serviço e minha tia deve estar pensando que estou no meu quarto. Achei que ela estaria deitada no sofá da sala, mas estava enganada, não tem ninguém no cômodo.
Escuto alguns cochichos vindos da cozinha me fazendo tomar um susto, me aproximo com cautela um pouco da porta da cozinha e reconheço a voz da minha tia de relance e mais a de um homem, eles parecem estar brigando pelo tom de voz e com toda certeza tia Lílian esta brava.
— O garoto está na cidade e se ele vê-la pode reconhe...
Um silêncio domina todo lugar, me inclino mais um pouco, ignorando a parede fria ao meu lado que já toca minha pele nua provocando leves arrepios, para tentar ouvir algo, porém não escuto nada, nem um mero ruído.
— Camila, que bom que chegou! — a cabeça da minha tia surge na porta da cozinha me fazendo recuar alguns passos para trás.
— Oi tia — passo por ela curiosa para saber quem era o homem e se eu o conhecia, ignorando todas as etiquetas e a educação.
O homem esta encostado na parede da cozinha de braços cruzados. Ele está vestido com um terno preto que aparenta ser caro. Seus cabelos são um tom mais claro que o meu, sua pele é clara e seus olhos tem um tom castanhos e profundo. Tenho sensação de que eu já o tinha visto antes, mas onde? Ele parece ter muito dinheiro, o que será que ele faz com minha tia?
Seus olhos encontram os meus, o fazendo o mesmo se inclinar o corpo um pouco para trás, demostrando seu susto ao me ver. Seu rosto tem uma expressão estranha, tenho a impressão que seus olhos estão arregalados. Espero que minha tia não tenha me vendido como nos filmes, porque depois do namoro de mentira, acredito que o meu destino resolveu copiar as telinhas.
— Desculpe atrapalhar — não tem arrependimento nenhum dentro de mim.
— Você nunca atrapalha querida — minha tia diz, seu tom de voz é simpático e amoroso ao contrário do que é diariamente.
Seu olhar amoroso se fixa no homem que nós observava até então, que ainda continua na mesma posição.
— Foi bom revê-la — ele se despede passando por mim, praticamente correndo.
Quando escuto a porta batendo da sala, viro meu corpo na direção oposta da minha tia. Preciso de um banho quente para relaxar meus músculos e tentar acalmar meu nervosismo para o jantar.
— Chegou tarde... — paro de andar no mesmo segundo.
Droga. Qual desculpa eu inventaria sem gaguejar na frente dela?
— Seu chefe ligou novamente, — viro meu corpo para encará-la — disse que você pediu demissão — ela pega uma caneca de chá que estava em cima da mesa e leva até os lábios.
Engulo em seco.
Como vou falar que pedi demissão, pois entrei em um namoro de mentira, com um garoto que eu mal conheço e ele vai praticamente me bancar por uns 3 meses? Estou completamente perdida.
— Já tinha preparado meu discurso até que vi da janela até que vida você descendo daquele carro — ela ri enquanto saboreia mais um pouco do chá — O que é? Acha mesmo que traria um amigo em casa e não ficaria a tenta a hora que você chegasse? — seu olhar denunciava sua irá e eu sinto todos meus membros serem queimados por ele.
— Carro? Mas aquele carro é de Ally, tia! — meus lábios tremem.
— Não se faça de tonta Camila. Eu sei muito bem que você está saindo com um ricaço. Venho te observando a dias.
— Ele é só meu amigo! — me altero e seus lábios se formam em um enorme sorriso.
— Hmm. Por enquanto, querida — seu semblante e seu sorriso é de pura malícia.
Seus olhos descem para a sacola preta em minhas mãos e ela alarga o sorriso.
— Espero que tenha feito a escolha certa — seus olhos ainda estão fixos na sacola.
Eu também espero que tenho feito a escolha certa... Afasto os pensamentos da minha cabeça e resolvo abrir minha boca:
— Como é? — dou um passo para trás, com medo.
— Homens rico você não se apaixona, você arranca o dinheiro dele.
Franzo o cenho incrédula.
— Seja esperta, criança, e valorize o teto que você tem ainda pra morar — ela deixa a chocará na pia, e eu dou mais um passo para trás encolhida, como um bicho assustado — Ah, e eu quero saber tudo sobre ele. Não posso deixar minha doce sobrinha sozinha — acrescenta, dando uma piscada enquanto passa do meu lado me deixando ali, com o coração na mão e os olhos cheio de lágrimas.
Eu realmente não conheço mais minha tia e agora tenho certeza que o meu destino está assistindo muita tv.