Gisele
Meus desvaneios
Já me chamaram de loira maldita,loira dos fios fatais, dona encrenca,maluca, a filha ingrata e a ex arrependida. Tem outros,só não consigo me lembrar. Eu bato o record de adjetivos. Sou dona de uma personalidade forte, gênio difícil como meu ruivo já me afirmou, mas o coração é mole.
"A maldita tem coração".
Não sei quantas vezes já ouvi o Nícolas me falar isso. Perdi as contas. Confesso que gosto de ser vista como a mulher sem coração. O escondo pra me tornar ruim,ruim com quem é ruim pros outros e com a minha família. Hoje posso dizer que os amo incondicionalmente. Já os odiei. É duro ser irmã postiça da mulher que divide a cama com o homem que eu era perdidamente apaixonada. Era difícil vê ele cuidando dela,tomando pra si a filha de outro homem. Era irônico, o Erick me abandonar pra ir correndo atrás da morena que se envolveu com um homem comprometido. Ele parece ser bom moço, na verdade ele é, mas eu queria que ele fosse um canalha. Gritasse comigo,me puxasse pelo braço e me trouxesse pra casa. Depois me enfiasse debaixo dele na cama,e me amasse sem pudor algum. Ele nunca fez isso. Ele apenas conversava comigo e me deixava livre pra fazer o que eu bem entendia. Eu odiava isso nele. Eu não sou mulher de ser bem tratada. Eu sou uma mulher de ser desafiada.
É duro perceber que se perdeu no caminho, e que quem você amava se soltou de você e não te suportou o suficiente pra te levar pro rumo certo novamente. Eu me sentia assim,perdida,sozinha e abandonada. Tentava ser forte e mostrar o quanto era auto-suficiente , mas por dentro era vazia,e cheia de feridas abertas. Primeiro foi a perda do meu pai. Como eu o amava. Ele era meu herói. Meu espelho. E foi quebrado,com a morte dele todo sentimento bom que eu tinha. Eu não soube lidar com essa partida dolorosa. Um abandono sem volta. Me apeguei no Erick,e ele acabou se tornando meu segundo abandono. Esses acontecimentos só me amarguraram. Me enfiei na bebida, saia pra me divertir,curtir a vida e esquecer que era um desastre humano. Uma louca sem papás na língua . Fiz da vida dos Saldanha um inferno. O Erick fingia não me ver. A Fernanda o ocupou e eu continuei sendo apenas uma sombra na vida dele. Virei a enteada do sogro dele. Irônico, não acham? Minha vida é uma completa aberração. Minha libertação veio com aquele ruivo. Ele me aceitou do jeito que eu era,louca de pedra,e mesmo assim se apaixonou por mim. Me esticou a mão no momento que eu mais precisei. Não pensou duas vezes em dividir a casa comigo,sabendo que eu também o pertubei. Eu sei que ele várias vezes, já matutou um modo de me matar mentalmente. Eu fiz da vida dele o inferno e mesmo assim,ele me quis por perto.
Olho pra trás e sorrio com satisfação por estarmos juntos por mais de uma década, e mesmo assim o fogo do amor continuou acesso. Aindo me derreto com ele ,e não preciso mais ficar na vontade. Durmo com aquele pedaço de mau caminho todas as noites,e agradeço ao Erick por ter me dado um pé na bunda. Ele me abriu as portas do coração para um amor novo ,pra amar um ruivo gostoso que me colocou o cabresto,mesmo sabendo que o Artur vive dizendo que foi ao contrário.
A Gisele menina se foi,e deu lugar pra uma mulher cheia de intensidade e que não mede as palavras,seja com quem for. Debochada eu? Imagina. Só digo a verdade ,a verdade que pra mim convém no momento. O que era antes pra mim um problema,hoje se tornou meu bem mais precioso. Sabe quando eu me apaixonei de verdade por aquele homem metido,que tem mais ciúmes do carro dele do que de mim? Quando o vi,sendo carinhoso com a menina que ele quis ferrir um dia. A filha dele. A menina arteira mais linda que já existiu nesse mundo. Ela tem mais dele,do que da mãe dela. Ela tem um pouco do Erick também. Os Saldanhas até que são boas pessoas, o gênio ruim vem dos morais e intercala nos Sarkozys. Já os Garcias... Esses só exalam amor. Não existe pessoas melhores do que eles. Nossa menina não podia tá rodeada de pessoas melhores do que a nossa família. Se o Sidney é furioso e o Erick raivoso,eu sou a maldita que vira leoa pra defender a menina dos fios vermelhos que tem por filha,da mesma forma que ama os bichinhos da vida dela,e com a mesma intensidade que não vive sem o homem da vida dela,e ele atende pelo nome mais lindo. Nícolas Sarkozy. Meu marido e futuramente pais de nossos filhos. Quem sabe nasce uma Gisele Mirim,com fios dourados e espoleta como a mãe, ou um menino ruivo como o pai. Bobão, que não se importa se o querem longe ,ele é persistente e sempre consegue o que quer. Ou um pouco de nós dois,e o mais importante, que nos una, e que o nosso amor seja eterno enquanto dure,e que dure pra sempre.
Alguns anos depois
Gisele
Lidar com dois adolescentes não é uma tarefa nada fácil. Ainda mais, quando eles são teimosos iguais ao pai,e a tia,não é?O Nícolas que o diga!
- Tia Gi,que horas vamos ao parque?
- Perguntou-me o Miguel,pela quinta vez. E eu bufei.
- Assim que o seu tio Nícolas chegar em casa. - Lhe afirmei mais uma vez,e logo voltei a preparar o achocolatado das pestes,digo,dos meus rebentos.
- Tia Gi,cadê o controle da televisão?
- Gritou a Pérola,da sala.
- O controle deve estar por ai,ué.
- Só consegui dizer isso,sem me descontrolar de vez,já que eu estava uma pilha de nervos pela demora daquele desalmado do meu marido.
- Já procurei,e não achei!
- Gritou de volta,e eu Grunhi.
- Ele já está chegando! - Repeti isso algumas vezes para mim mesma,enquanto tentava me controlar. - Miguel,onde você enfiou o controle?
- Me virei para olha-lo e o questionei pausadamente e ele finjiu não me ouvir. - Miguel,cadê o controle? - Voltei a questiona-lo e ele deu de ombros.
- Gisele,ele só está tentando testar os seus setenta vezes sete. - Repeti comigo mesma,referindo-me em perdoar conforme nos orienta as escrituras sagradas.
- Miguel,eu quero ver filme,cadê o bendito controle? - Esbravejou a Pérola,vindo até a cozinha atrás do pequeno encrenqueiro.
- Eu que devo saber?
- Murmurou ,e logo voltou a sua atenção ao meu celular que estava em suas mãos.
- Quem deixou você pegar isso?
- Esbravejei irritada já tomando o aparelho de suas mãos.
- Ei,eu estava jogando!
- Murmurou se fazendo de desentendido.
- Eu quero o controle! - Retrucou a Pérola irritada.
- Problema é seu.
- Instigou o Miguel.Eu fechei meus olhos,respirei fundo e comecei a contar até dez.
- Um...Dois... - Tentei mentalizar coisas boas.
- Miguel,anda. - Gritou a Pérola cutucando o irmão. - Vai pegar o controle! - Ordenou a minha menina, a ele.
- Três... - Respirei fundo mais uma vez. - Quatro... - Continuei a contar.
- Nananinanão. - Fez birra,o pobre garoto.
- Cinco... - Fiz uma breve pausa.
- Seis... - Os encarei.
- Ai que saco! - Esbravejou a Pérola.
- Eu te ordeno ir busca-lo pra mim. - O garoto gargalhou.
- Quem você acha que é,pra mandar eu fazer alguma coisa? - Zombou ele da irmã mais velha.
- Tia Gi! - Gritou-me a Pérola.
- Sete...Oito...Respira fundo,o Nícolas já está chegando. - Mentalizei repetindo a mim mesma,inutilmente. Eles eram umas pestes. - Nove....
- Tia Gisele. - Chamou-me os dois,na verdade gritaram o meu nome e eu não me segurei mais.
- Calem a boca vocês dois!
- Ordenei,totalmente sem paciência.
- Mais tia... -Indagou a minha pequena.
- Mais nada! - Gritei e eles me olharam espantados.Respirei fundo ao me tocar que aqueles pares de olhos estavam arregalados e assustados em minha direção.Tentei voltar a me controlar.
- Pérola,vai ver Tevê,no meu quarto.
- Ela me olhou irritada e tentou balbuciar algo. - Anda,vamos. - Ela continuou a me olhar,sem se mexer do lugar.
- Vai logo. - Ordenei e ela finalmente se moveu e seguiu pisando firme em direção ao quarto. - E você,seu pestinha! - Cerrei meus olhos pra ele ,e ele os arregalou pra mim.
- A culpa é toda da Pérola.
- Tentou se esquivar da bronca.
- Ata,agora sou cega,muda e surda!
- Zombei e ele riu.
- Ainda sim,seria a cega,muda e surda mais linda que
conheço. - Eu ri,o menino era um excelente aprendiz de Gisele Morais.
- Miguel,pelo amor de Deus,sente-se lá na sala e fique quieto.
- E o chocolate?E o passeio?
- Cruzou os braços e parou de andar e cerrou os olhos para mim.
- O chocolate está quase pronto,e o Nícolas, logo vai chegar!
- Bufei,e o empurrei para se mover e seguir para a sala.E ele se foi.Respirei fundo e gritei.Gritei mesmo,eu precisava liberar essa angústia de alguma forma.
- O que houve? - Indagou-me o Nícolas ao entrar na cozinha pela porta dos fundos,depois quase me matar de susto.
- Não faça mais isso! - Pedi.
- Isso o que? - Colocou sua pasta em cima da mesa e veio até mim. Me abraçou pelas costas e depositou leves beijos em meu pescoço.
- Me largar sozinha com esses dois!
- Murmurei irritada e ele riu.
- Me desculpe,o trânsito não estava nada fácil. - Beijou minha nuca de forma suave.
- Por pouco não aconteceu um assassinato. - Ele riu.
- Você sabe que eles te amam,não sabe? - Susurrou em meu ouvido.
- Por isso ainda estão respirando.
- Constatei enquanto eu virava para ele, para que eu pudesse focar meus olhos aos deles.
- Eu devo lhe agradescer por isso?
- Eu assenti,e logo beijou rapidamente meus lábios.
- Tio,finalmente você chegou!
- Murmurou o Miguel,parecendo na cozinha mais uma vez.
- Pai! - Esbravejou a Pérola,e ele me soltou e a abraçou. - Já podemos sair? - Ele riu,e eu me encostei na bancada da pia.
- Acho que teremos uma mudança de planos. - As crianças resmungaram,e o Nícolas se desgrudou de sua pequena.
- Eu aturei a Tia Gi brava pra nada!
- Resmungou o Miguel e eu gargalhei.
- Dê graças a Deus por ainda está vivo. - Ele arregalou os olhos.
- Você não viu nada ainda.
- Imitei a risada dos filmes de terror e ele me deu lingua.
- Que tal irmos ao Gregos?
- Sugeriu meu esposo querido, e eu revirei os olhos.
- Que tal pedimos umas pizzas?
- Sugeriu o esfomeado do Miguel.
- Ah,pai.Eu não tô afim de ir pro seu trabalho. - Falou a minha pequena serelepe. - Vamos dar uma volta na praça? - Animou-se e o Miguel bufou.
-Que tal levarmos os mostrinhos pra casa? - Os dois me deram lingua e eu ri.
- Já vi que não vão se decidir.
- Murmurou o Nícolas,puxando uma das cadeiras da cozinha para se sentar.
- Aguenta,agora. - Beijei sua bochecha rapidamente. - Eu vou tomar uma ducha,já volto.Ah,o achocolatado está pronto. - Ouvi uns aleluias vindo do Miguel.
- Graças a Deus! - Falou o Miguel,já indo em direção ao fogão,eu segui para o meu quarto deixando-os sozinhos com o meu ruivinho.Assim que abri a porta do quarto,me joguei na cama.Respirei mais aliviada por ter meu ruivinho já em casa.Eu amo aqueles pequenos mais tem horas que não os aguento.Logo me lembrei do real motivo deu estar tão triste e impaciente.Me sentei na cama,e olhei pra cômoda que estava ao meu lado.Me estiquei para tentar alcançar a gaveta,e assim que consegui, a abri.Respirei fundo e logo peguei o objeto que joguei ali dentro mais cedo. O exponho ,e vejo o resultado que me desvastou mais uma vez.Negativo.Assim estava mais uma vez,o resultado do teste de grávidez. Ainda não foi dessa vez,infelizmente.