Yonara narrando
Termino de fazer um sanduíche, pois foi única coisa que eu realmente consegui fazer. Faço para mim e um enorme para Victor, que não demorou vinte minutos já estava batendo na porta aqui de casa.
-Esse grandão é pra mim?
-O que você acha? -Retruco, franzindo a testa.
Ele rir e pega o sanduíche e vai para a sala. Pego os copos de suco e deixo em cima da mesa de centro, em frente ao sofá. Sento ao seu lado e deixo o meu celular de lado, provavelmente teria várias mensagens inadequadas.
Quando voltei a olhar para Victor ele estava devorando o sanduíche em uma bocada só. Bati em seu braço, mas mantinha um sorriso enorme no rosto. A forma que ele comia chegava ser engraçada, parecia até que nunca havia comido um sanduíche.
-Está muito gostoso. Você é a melhor cozinheira. -Disse me enchendo de elogios.
-Victor, eu não fiz nada demais. Só peguei alface, tomate e o recheio para o sanduíche, nada demais. -Bebo um pouco de suco. -Isso não é cozinhar.
Victor puxou o meu queixo bruscamente e colou nossos lábios. Senti o gosto do patê de frango na minha boca e a língua insaciável dele cruzando com a minha.
-Victor! -Resmungo entre o beijo e o empurro pelo peito de forma brincalhona. -Seu nojento.
Ele rir e dá mais uma mordida no sanduíche.
-Melhor sanduíche. -Elogiou mais uma vez.
-Mentiroso.
-Claro que é, foi a minha Barbie que fez. -Falou de boca cheia.
Ligo a televisão e ponho na netflix, coloco na minha série favorita, que também é a série favorita do meu gostosão, Grey's Anatomy. Deixo o sanduíche de lado e me aninho nos braços de Victor, ouvindo o batimento do seu coração.
Ficamos assim por mais de quatro episódios e cada vez mais agarradinhos, até minha mãe chegar e flagrar a gente. Outras mães ficariam surtadas, no entanto minha mãe faltou dá pulinhos de alegria.
-Boa noite sogrinha. -Disse Victor, com as bochechas coradas. Ele nem precisava sorrir para deixar claro a sua felicidade.
-Boa. E que noite hein?! -Cumprimentou mamãe.
Revirei os olhos assim que a vi toda feliz ao ver nos dois juntos, quase achei que ela já iria chamar o padre e me colocar num vestido branco para me casar.
-Vou para o quarto Yonara. Fica a vontade Victor. -Disse levando o meu sanduíche intocável.
-Vai logo mãe. -Falo, dando de ombros e antes de sair da sala, beijou minha cabeça e saiu sorrindo.
-Viu? Até sua mãe fica feliz em nos ver juntos.
-Nos ver junto é uma coisa, agora a gente ficar junto é outra né? -Retruco cruzando os braços.
-Lá vem você de novo com essa historia...
Dou pausa no episódio que acabara de começar, de braço cruzado, viro-me para encarar Victor que já sabia o rumo que toda essa conversa levaria.
-Do que adianta estarmos juntos agora como um casal se na verdade nem isso é? -Questiono. Ele passa as mãos no rosto e suspira fundo.
-Eu já te pedi em namoro de novo umas mil vezes... e qual foi a sua resposta? Ah já sei. ''Não''. -Disse imitando o meu jeito.
Passo a língua nos lábios e desço o olhar. Depois de uns segundos, volto a olha-lo.
-Porque você não tem ambição. Você não se preocupa com o futuro, ou seja, não se preocupa com nós. -Falo, em seguida mordo o lábio de tanta raiva.
-O que ter ambição tem haver com nós, Yonara? -Indagou, estendendo as mãos para o ar. -Yonara, eu amo você e, eu sei que temos que nos preocupar com o futuro, mas eu estou dando o meu melhor. Estou trabalhando, logo estarei fazendo um curso técnico de mecânico e poderei até abrir a minha oficina... -Seus olhos brilhavam ao falar.
-Mas quanto a mim? A onde que eu entro nessa historia? Eu não quero morar aqui, não quero ser mais uma infeliz...
-Infeliz? Por que infeliz?
-Eu quero ser rica. Quero poder ter tudo o que eu quero sem me preocupar se farei contas ou se no final do mês terei dinheiro para pagar. Eu quero viajar, conhecer lugares bonitos...
-Você é deslumbrada, Yonara. Esse é o seu problema, acha que pode ter tudo assim num estalar de dedos...
-E eu posso! -Digo com determinação. Seu olhar fica semicerrado, quase desconfiado. -Quer dizer, é só ter um plano. Uma meta e conseguiremos.
-Eu tenho uma meta.
-Ah é? Qual? Porque a única coisa que eu vejo você fazendo é se desgastar naquela oficina suja. Trabalhando igual um condenado. E ganhando um mísero salário que mal sustenta sua família.
Ele fecha a cara assim que eu termino de falar e vira o olhar.
-Yonara, você não sabe como a vida pode ser dura.
-Eu sei como a vida é dura, Victor. Mas você acha que ficar só sentado lamentando algo vai mudar? Não! A mudança começa por você.
Ele nega com a cabeça, inconformado.
-O que quer que eu faça? -Indagou curioso. -Que eu deixe o meu emprego estável para ir atrás de algo que é imprevisível? -Perguntou dessa vez com o olhar cravado no meu. -Yonara, eu tenho família para sustenta, como você bem diz. Minha mãe, meu irmão e meu avô contam comigo para eu dar o que comer a eles. -Falou com a mandíbula rígida. -A vida não é um conto de fadas, tu bem sabe disso.
Passo as mãos no rosto, frustrada.
-Já pedi umas quinhentas vezes para você tentar fazer uma faculdade. Você é bom com números, talvez pudesse até ser contador, ou quem sabe um físico, engenheiro... Tantas oportunidades, Victor. Você sabe o quanto você é talentoso, inteligente e bom no que faz. Você pode ser muito mais do que é. Pra quê desperdiçar tanto talento numa oficina suja?
-Yonara! Você já parou para pensar que se eu trabalho nessa ''oficina suja'' é porque talvez eu goste? Porque eu gosto e amo o que faço. Meu Deus do céu. -Sua voz se alterou.
Era quase difícil acreditar que uma pessoa normal possa gostar de trabalhar naquele chiqueiro que se diz ser uma oficina. É impossível. Victor só pode estar brincando com a minha cara.
Nego com a cabeça boquiaberta.
-Eu sei que você quer uma vida de conforto, e talvez eu possa dar... -Sua voz ficou mais suave. -Case comigo. Vamos morar juntos, eu arrumo um cantinho para nós dois e um vai ajudar o outro...
Levanto-me atordoada. Passo a mão nos cabelos e penso em rir diante daquele convite que mais parecia um pesadelo.
-Você acha mesmo que eu quero ser uma pessoa fútil? Uma mulherzinha que só serve para cuidar da casa e parir filhos? Não, de jeito nenhum. Eu quero muito que você fique ao meu lado, o meu desejo é que você seja o homem que cresça ao meu lado. Mas, no entanto, não quero o mesmo que você quer. -Termino de falar e noto o quanto ele ficou magoado.
-Você me impressiona cada vez mais. Eu tento, juro que eu tento não dar ouvidos o que as pessoas falam de você, mas agora vejo o quanto tu é egoísta, interesseira e além do mais muito deslumbrada. É melhor você pensar no que você realmente quer e se de alguma forma eu estiver nos seus planos, me avise. -Ele diz e logo se levanta do sofá. -Obrigado pelo sanduíche. -Falou sem olhar nos meus olhos.
-Victor, eu só quero que você me entenda. Pense um pouco em nós, ou melhor, na sua família. Você não quer dar um futuro melhor a eles? Ao Nícolas? Uma boa escola? -Questiono e cito o nome do seu irmão caçula.
Ele dá uma risada forçada, e com a cabeça balançando de forma negativa, seu olhar paira no meu.
-Você só ficaria ao meu lado se eu tivesse bem de vida? É isso, Yonara? Só ficaria comigo se eu tivesse grana?
Paro um pouco para pensar sabendo que praticamente estou em um campo minado e qualquer movimento em falso, tudo explode.
Respiro fundo e engulo em seco.
-Claro que não! -Falo, sinceramente. -Mas se você tivesse força de vontade de mudar as condições que você se encontra hoje ficaria mais fácil para eu decidir. -Admito.
Ele passa a língua nos lábios, joga a cabeça um pouco para trás e fecha o punho.
-Eu tenho uma casa. Graças a Deus nunca me faltou nada, por isso agradeço tudo o que tenho, e ainda assim você acha que é pouco? Tem gente que nem isso tem...
-MAS VOCÊ PODE TER MAIS. Você pode melhorar isso. Meu Deus! -Altero a voz, irritada com tamanho comodismo. -A vida é muito mais do que uma casa, uma casa que nem lá é essas coisas. Você não consegue entender que eu quero só o seu bem?
-O seu bem pode ser diferente do meu bem. A sua ambição em crescer está te cegando, Yonara. Um dia esse será o seu pior erro. -Ele se vira de costas para mim, pronto para sair. -Ter você ao meu lado já seria a minha maior vitória, mas acho que não estamos na mesma sintonia, infelizmente. É melhor você pensar um pouco e pôr na sua cabeça de uma vez por toda que se continuar dessa forma, ambiciosa e interesseira, poderá me perder para sempre. -Finalizou, pegou a sua jaqueta e saiu dramaticamente, sem olhar para trás.
Mordo o lábio e a primeira coisa que faço é jogar o prato de vidro contra a parede em uma tentativa frustrada de aliviar a raiva que eu transbordava. Sinto as lágrimas descerem lentamente pelo meu rosto.
Olho ao redor da sala e tento entender como isso tudo terminou assim.
Primeiro, por que ele tem que ser tão cabeça dura?
Eu sou ambiciosa sim, porque sei que tenho futuro, tenho talento e posso ser muito mais do que sou hoje. Por acaso é errado querer uma vida de conforto? Uma vida financeira estável?
É claro que não!
-Filha? -Ouvi a voz da minha mãe logo atrás de mim, a mesma estava parada perto do corredor com o semblante de pura preocupação. -O que aconteceu?
-Aconteceu que eu tentei mudar a cabeça medíocre daquele idiota, imbecil do Victor, porém é uma missão impossível. Ele é um idiota que vai apodrecer naquela oficina suja. -Digo com ódio nos olhos.
Se eu fosse rica ao menos, poderia quebrar todos os copos e pratos de vidros, até mesmo o vaso que minha mãe comprou no brechó, contra a parede, mas não, eu sou pobre e no máximo só posso quebrar um prato para descontrair a minha raiva.
-Eu o odeio! -Grito inutilmente. -Odeio você, Victor! -Olho para a porta, como se ele estivesse ali ainda.
-Eu ouvi a conversa e acho que ele está certo, Yonara. Você não pode pôr a carroça antes do burro. É tolice querer ser mais do que você é.
O ódio que eu sentia se multiplicou mil vezes. Fuzilei minha mãe com sangue nos olhos.
-Olha quem fala, uma mulher medíocre que preferiu largar os estudos pela metade para se casar um com bêbado, cachaceiro, e agora olha para você. Uma empregada que mal consegue criar a sua filha com o salário que ganha.
Noto os olhos cheios de lágrimas da minha mãe e só depois de falar, percebo a dureza nas minhas palavras. De qualquer forma, estou certa. Não tenho culpa se todos aqui pensam com o cérebro do tamanho de uma azeitona.
Antes que eu fale mais alguma coisa, pego o meu celular e vou para o quarto pisando fundo. Só faltava sair fogo pelas minhas narinas de tanta raiva.
Tranco-me no quarto e me jogo na cama. Mesmo estando com raiva, choro. Choro de soluçar. Nunca pensei que voltaria a chorar assim de novo, mas olha o que o paspalho do Victor fez comigo. Ele não me ama o suficiente, pelo contrário, quer que minha vida seja uma coisa medíocre e normal. Quem ama luta pelo melhor e eu o amo tanto que sempre penso no seu futuro, nas coisas brilhantes que ele poderia fazer se voltasse a estudar, trabalhasse em algo melhor.
Mas não. Ele quer continua nessa pobreza, nessa vida miserável e cheia de lamentações.
Não quero ser igual a minha mãe. Não quero ser igual essas meninas que casa e se esquece até mesmo da própria vida só para cuidar do marido e dos filhos catarrentos.
Enxugo as lágrimas e deito em posição fetal. Mesmo que essa vida que levo não me leve a nada, farei o meu melhor. Estudarei e serei alguém a ser respeitada. Por onde eu passar todos abaixará a cabeça para mim, nem que pra isso eu perca todos que eu ame... Até mesmo Victor, que por sinal já fez a sua escolha.
-Eu prometo diante de mim mesma que farei todos os meus sonhos se realizarem. Todos.
Um dia, poderei ajudar a minha mãe e ela jamais precisará fazer faxina na casa de ninguém, nem mesmo passará humilhação.
Eu vou ter tudo o que quero. Tudo
***
Genteeeeeeee, que DR. MEU DEUS!
O que vocês acharam?
Quem está certo nessa discussão toda? Hein?
Sei que demorei a postar, mas graças a Deus consegui ter ideias, talvez saia mais um capítulo ainda hoje. HEHEHE.
Imagem da mídia é uma demonstração.
Beijos, Lara <33333333