Teotónio
A noite estava tão agradável, mas quando o Paulo se aproximou deixou de estar. Não que eu estivesse com ciúmes, afinal nem tinha nada com a rapariga, mas ele atirou-se de unhas e dentes à febra.
- A Mia é muito gira! – Exclamou.
- Sim. – Confirmei.
- Tem namorado?
- Não sei, mas é capaz. – Respondi, percebendo as intenções dele.
- Vou tentar a minha sorte, até já. – Falou, sem me dar tempo para responder. Não queria que ele me pedisse a mão dela, mas um pouco de simpatia para comigo não lhe ficava nada mal, visto que estávamos agarrados quando ele apareceu.
Teotónio, não és namorado dela, nem quase amigo és!
Demoraram até aparecerem, e enquanto isso lá apareceu a Margarida, sóbria, por enquanto, queixosa da vida infeliz que tinha. Era culpa dela, não minha. Mas não lhe ia dizer, não era assim tão maldoso e cruel para lhe espetar isso na cara.
- Margarida! – exclamou Paulo ao chegar perto de mim. Cumprimentou-a com beijos e abraços, e vi a Mia aparecer com uma cara nada famosa. Espero que ele não lhe tenha feito nada.
- Parece que nós interrompemos alguma coisa. – Comentou fingindo-se desinteressada, mas eu conseguia ver que ela não gostava da Margarida, principalmente desde da conversa de hoje à tarde. – Só viemos dizer que vamos embora. – Espera vão onde? Eu ouvi bem "vamos"?
- Vão embora? – Pergunto. – Os dois juntos? – Questionei, sem dar tempo de eles responderem à minha outra pergunta. Desde quando é que eles têm esta intimidade? Já se conheciam?
- Sim. – Respondeu o Paulo, abraçando-a.
- Tens a certeza? – Perguntei-lhe, para ter a certeza de que não estava a fazer nada contra a sua vontade.
- Sim. – Sorriu. - Vamos só lá a cima ver como estão as coisas por lá e depois vamos andando. – Respondeu-me ainda sorridente.
- Então vamos os quatro um pouco lá a cima. – Sugeri e sem esperar por uma resposta e comecei o caminho para a parte de cima da associação de estudantes, esperando que eles me seguissem. Não os ia deixar sozinhos, pelo menos enquanto conseguir.
A diferença de corrente de ar fez-se sentir no meu pescoço. Enquanto lá em baixo estava abafado, ao ar livre sentíamos a força do vento em todo o nosso corpo.
Ouvi-o a murmurar alguma coisa ao ouvido dela, e vi-a corar, e admito não gostei nada. E sim eu sei que não temos nada, que não tenho de sentir ciúmes, mas não é ciúmes, é preocupação. Eu conheço o meu amigo, sei bem o que a casa gasta. É uma versão do Joel disfarçada. Enquanto o Joel não esconde o que é tanto de dia como de noite, o Paulo de dia parece um betinho certinho e à noite revela-se um galanteador.
- Então... – Interrompi, tossindo para clarear a minha garganta, que já não estava no seu melhor estado. - Mia, onde está a Patrícia? – Perguntei tentando fazer conversa.
- Ou está no bar ou já foi para casa com o Gabriel. – Explicou, fazendo-me rir. O Joel não vai gostar nada.
- O Joel vai ficar lixado. – Comentei.
- Da ultima vez que o vi estava entretido com o Alex. – Disse. Coitado do rapaz não vai ter muita sorte, provavelmente o Joel só o está a usar para beber à borla.
- Teo!? – Chamou-me Margarida. – Estou aborrecida. – Lamentou-se – Dança comigo.
- Agora? – Perguntei.
- Sim. – afirma levando-me para mais perto da mesa do DJ. Não tive tempo de reação, e também não é preciso dizer que os perdi completamente de vista, e que não gostei nada disso.
A música não parava e eu continuava ali a tentar dançar com a Margarida, que teimava em não me largar. Eu sei que a vida dela estava uma merda, mas tinha que lixar a minha?
- Obrigada. – Falei irónico.
- Que foi? – Perguntou, separando o meu corpo do dela e olhando para mim com um ar sério.
- Perdi-os de vista. – Respondi.
- Estás interessado no Mia? – Perguntou começando-se a rir. – Não me digas que estás.
- Ninguém está a falar nisso, estou preocupado com ela, conheces bem o Paulo. – Desculpei-me.
- Conheço bem melhor do que pensas, e se ela for para a cama com ele vai adorar! – Exclamou divertida.
- Goza...
- Não estou a gozar. – Respondeu, voltando ao ar sério. – E quanto a estares interessado nela também não. Quando começas com essa "preocupação" é porque estás interessado em mais que amizade. – Falou, tentando ser assertiva, mas alguma me dizia que já tinha bebido.
- Isso não quer dizer nada, também me preocupo contigo e não quero ter nenhuma relação amorosa com a tua pessoa! - Exclamei. – E já agora não podes beber nada.
- Porquê? Porque um gajo engravidou-me? – Falou levantando o tom de voz.
- Fala mais baixo. – Pedi.
- Todos vão ficar a saber quando a porcaria da barriga crescer, pode ser que ele se acuse! – Exclamou. Ela não tinha bebido tão pouco como eu pensava, tenha-se encharcado em álcool sem pensar nas consequências dos seus atos.
- Faltas-te às aulas de biologia? – Perguntei, ignorando as suas queixas. – Isso faz mal ao feto.
- Pára Teotónio! Deixa-te dessas cenas. - Falou afastando-se de mim. Ainda tentei puxar-lhe o braço, mas ela desviou-se e eu não insisti. Se calhar devia tê-lo feito, mas ia falar com ela mais tarde, quando o efeito da bebida já tivesse acalmado.
Fui buscar mais um fino, e dei umas voltas pela associação para ver se avistava a Mia e o Paulo. Estava preocupado com ela, não sabia porquê, mas estava. Vi a Liliana numa cadeira sentada com uma garrafa de água à frente. A noite já terminou para ela. Fui ao seu encontro, sentando-me ao seu lado.
- Então o que se passa? – Perguntei, encostando-me na cadeira.
- A minha vida é uma merda. – Respondeu, bebendo um gole de água.
- Joel? – Testei.
- Claro, o que poderia ser mais.
- Pensei que o tivesses substituído. – Falei, e vi-a rir.
- Podes substituir alguém na tua cama, na cozinha, mas demora a fazê-lo no coração. – Falou, e ri-me.
- Não conhecia a tua veia emotiva quando estás bêbada. – Gozei.
- Vê o que aquele cabrão me faz. – Resmungou.
- Pensei que nunca mais o quisesses ver à frente...
- Também eu, mas quando o vi com Patrícia deu-me uma revolta ao estômago. Raio o que é que ela tem que eu não tenho? – Perguntou. Estava nervosa, eu conhecia-a bem, tínhamos sido colegas de curso, e éramos amigos desde esses tempos felizes.
- Tens tudo. Ele é que fez merda, não tu, Lili. – Respondi. – Ele não te merece, e eu sei o que digo. – Falei. Podia ser o meu melhor amigo, mas ela também era. Conheço as biscas de cor, e apesar de eles serem perfeitos juntos, o Joel fez muita merda para merecer perdão da parte dela. – Se ele viesse ter contigo, tu aceitavas-o de volta?
- Não sei. – Respondeu, e eu suspirei.
- Parte para outra.
- Já tentei. – Falou desanimada.
- Téo!? – Chamou a Patrícia, aproximando-se de nós, e fazendo a Liliana revirar os olhos. – Sabes da Mia?
- Foi embora mais o Paulo. – Respondi.
- Sua safada! – Exclamou. Já estava podre de bêbada, notava-se em Marte. Atrás dela apareceu o Joel, que a abraçou por trás, dando-lhe beijos no pescoço, deixando a Liliana mais que furiosa, e ele sabia disso.
- Então o Gabriel? – Perguntei.
- Não sei, bazou da minha vista, e eu não espero por ninguém. – Respondeu. – Vamos embora, Jo? – Ouvi a tosse, da minha colega do lado, bem forte, e deu-me vontade de rir.
- Vamos Patty. – Respondeu o Joel.
- Boa noite. – Desejei.
- Vai ser! – Exclamou o Joel, piscando o olho.
- Que morram numa valeta! – Exclamou a Liliana sádica.
- Calma! – Falei.
- Merecem bem pior.
- Não sejas assim.
- Vou beber queres alguma coisa? – Perguntou o rapaz com quem ela tinha estado.
- Sim, algo forte.
- Não trabalhas amanhã?
- Só às 13h, por isso tenho muito álcool para beber. – Respondeu-me. – Espera, eu vou contigo. – Gritou, fazendo o rapaz esperar por ela. – Boa noite Teotónio!
- Boa noite.
E lá voltei a ficar sozinho. À minha volta os meus amigos eram uma confusão, e o pior é que me arrastavam para elas, sem que eu desse conta. O Joel constantemente me metia em situações difíceis entre ele e a Liliana, ou tomava partido do meu melhor amigo de infância, ou das melhores pessoas que conheci nesta cidade, era extremamente difícil. Mas ele nunca saberá. Para ele é fácil passar de rapariga em rapariga sem deixar estragos, fez isso durante muito tempo, antes de conhecer a Lili. Pensei que ela tivesse conseguido domar a fera, mas foi por pouco tempo, porque sem todos darmos conta, ele fez merda mais uma vez. Lidar com a vida dele e com a minha, que na altura também estava um caco, não foi tarefa fácil.
Os meus pensamentos foram cortados pelo vibrar do meu telemóvel. Tirei-o do bolso e vi a mensagem da Margarida a fizer que eu lhe tinha estragado a noite, e que ia para casa, ainda perguntei se ela queria boleia, mas recusou. Ela precisa de estar sozinha.
A minha noite estava estragada também, por isso, levantei-me e saí em direção ao carro, a minha cama esperava-me. Devido à falta de estacionamento no centro da cidade, tinha deixado o carro bem longe. Da próxima vez venho a pé. Passei em frente ao Jardim da sereia, e sorri, adorava aquele lugar, fazia-me sentir em paz, e em comunhão com a natureza, algo que há muito não estava. Tenho de voltar rapidamente.
Vi uma rapariga sentada no chão perto do meu carro, pensei em passar sem dizer nada, mas o seu rosto ao longe não me era desconhecido. À medida que me aproximei comecei a ouvir os seus soluços. Coitada. Pensei em ir falar com ela, afinal poderia precisar de ajuda, e qual não foi o meu espanto quando me aproximei e reparei que a conhecia.
- Mia!? – Chamei, vendo-a em prantos. O que é que aquele cabrão fez?
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Olá! Então como foi essa Páscoa?
Mais um capitulo do ponto de vista do Teo, será que ele está finalmente a ter algum interesse na Mia? Ou nem por isso? E o que será que aconteceu com a Mia?
E a Liliana e o Joel? Será que a Patrícia resolveu meter-se no meio para ficar?
Vai aqui um grande trinta e um.
Na foto acima é a atriz que interpreta a Liliana, a Filipa Maia. (Curiosidade: A Filipa foi realmente namorada do Pedro Sousa (que faz de Joel) na vida real)
No meu Tumblr podem conhecer mais de todas as personagens.
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Beijinhos & Boas Leituras
Liliana