Capítulo 39 - Estarei eu a ser raptada?

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Mia

Sinto os meus sentidos a retomar aos poucos e uma dor agonizante percorre o meu corpo como se de uma corrente elétrica se tratasse. Os acontecimentos de à pouco navegam turvos na minha mente confusa, deixando-me deveras desorientada.

Consigo distinguir duas vozes a conversarem, mas não me é fácil identificar de quem se trata.

"É difícil esquecê-lo." - Ouço uma das vozes, que me parece feminina ou deveras fina para pertencer a um homem. - "Estivemos noivos e mesmo depois da merda que ele fez, eu continuo a gostar dele." - Com cuidado decido abrir os olhos e os mesmos demoram uns momentos para se habituar à falta de luz do local. Parece que estou num carro, mas porquê? A última memória que me aparece é a de uma rapariga, Daniela se não me engano, a colocar-me algo na boca.... Será este o seu carro? Estarei eu a ser raptada? Uma onda de pânico acaba por se apoderar de mim e tento manter a cabeça baixa para não dar nas vistas... Não quero que saiba que estou acordada. - "Mas vamos deixar de falar de mim, como é que tu e a Mia estão?"

"Somos amigos." - Ouço a outra voz a responder. Estranhamente ambas as vozes me soam familiar, mas esta segunda causa um maior impacto.

Sinto a minha cabeça a latejar e acabo por soltar um grunhido involuntário, que felizmente acaba por passar por despercebido pelos dois indivíduos que continuam a sua conversa normalmente. Não acredito que isto me está a acontecer, tudo o que eu queria era uma noite de paz e de namoro, mas, em vez disso acabo na parte traseira de um carro com pessoas que não conheço e indo para sei lá onde. Que sorte a minha...

"Mas está sempre a aparecer, antes de ela ser "quase raptada" pela Daniela, chateámo-nos por causa dele. Aquele cabrão aparece em todo o lado." - Ouço o rapaz preferir e as peças do puzzle começam a juntar-se na minha cabeça. Se assumir que estão a referir-se a mim as coisas acabam por fazer mais sentido, estás duas pessoas devem ter-me salvado das mãos da Daniela. Não estou a ser raptada, mas sim salva.... Tendo esta revelação decido abrir os olhos e espreitar com cuidado quem se encontra no banco da frente.

"Ignora-o quando o vires, é o melhor." - Aconselha a voz feminina. Não acredito no que estou a ver, e ainda não sei se não será efeito da droga que a outra me deu, mas sou capaz de jurar que na parte da frente do carro, mesmo ao lado do banco do condutor, estava sentada a Liliana. A mesma Liliana que se foi embora, que tinha tirado umas férias para se afastar de tudo é de todos. A rapariga que ainda há pouco tempo atrás me tratou como se fosse lixo, elogios que eu fiz o favor de retribuir... Será que ela me ajudou? Após tudo o que se passou, ainda se preocupa comigo?

"Não consigo. Ele começa a provocar e não me consigo controlar. Apetece-me matá-lo." - Responde Teotônio, possivelmente a falar do Leo. Talvez para alguém de fora, ouvir uma resposta destas, pensaria que não passava de uma ameaça infundada, no entanto a forma como as suas mãos apertam o volante, eu não tenho assim tanta certeza....

"Mas não vale a pena, e ele é que fica como coitadinho." - Infelizmente tenho de concordar com ela. Normalmente quem é agredido é que fica como vítima, mesmo que tenha provocado. - "Agora parte para outra e aproveita para avançares com ela. Ela irá acordar em breve, pelo menos seguindo as linhas dos filmes." - Realmente desde o início que a minha vida foi um cliché, acho que isso é coisa que nunca vai mudar.

"E o que lhe vou dizer?" - Pergunta e vejo-o a brincar com os dedos como se fosse um tique nervoso. Acho que está na hora de eu intervir....

"E que tal a verdade?" - Comento fazendo-os sobressaltar ambos. Estou farta de mentiras, fingimentos, desilusões, para quê isto tudo quando a vida é tão frágil? Do que vale tanta maldade quando no final da vida valemos todos o mesmo?

Notice Me|| ft. awritersnightmareOnde as histórias ganham vida. Descobre agora