Lia
Observo Louis lendo seu livro novo. Ele está tão focado na leitura, que nem percebe quando eu me aproximo da sua poltrona.
- Louis? - o chamo com calma.
Seus olhos se erguem do livro para me olhar.
- Fala - diz.
- Já que nossas mães sairam, poderíamos fazer algo né? - entorto o canto da boca.
A mãe do Louis, e a minha, nos deixaram sozinhos na casa dele, enquanto foram ao mercado. Nós somos vizinhos, mas não tão íntimos um do outro. Na verdade só falamos o necessário como "oi" e "tudo bem?" Mesmo estudando na mesma sala de aula. Mas a culpa não é minha, Louis que é anti social, e só sabe ler livros.
- Estou fazendo algo já - ele olha para o livro novamente.
Rolo os olhos, e tiro o livro de suas mãos.
- Já chega! - Exclamo trazendo o olhar raivoso do Louis para mim. Ele se levanta da poltrona rapidamente, ficando de frente para mim.
- Me devolve - pede, mas eu não obedeço.
- Não, você já leu demais, e eu quero fazer outra coisa. - Aperto o livro contra meu peito.
- Mas eu não quero!
- Eu não ligo. E se você não fizer o que eu pedir, eu digo para sua mãe que você quebrou o vaso dela. - Ameaço.
- Que vaso? - ele franze o cenho confuso.
Nesse instante olho para a mesa de centro da sala, e vejo um vaso de cristal em cima dela. O pego e o arremesso no chão, voando estilhaços por todo lado.
Os olhos de Louis arregalam quase saindo da sua cara.
Eu sei que estou sendo baixa, mas não quero ficar olhando ele lendo o dia todo. É tediante.
- Tá, o que você quer fazer? - ele pergunta tirando seu olhar pasmo dos cacos do vaso no chão.
- Primeiro vamos jogar video - game - digo largando o seu livro em cima do sofá.
- Eu não tenho um - Louis avisa.
- Você é um tremendo bobo. - Bufo. - É rico e não compra um video - game se quer?
Louis sorri, me surpreendendo por ser o seu primeiro sorriso desde que entrei em sua casa. Ele segura no seu suspensório vermelho que prende na calça jeans bege, e fica movendo seus dedos para cima e para baixo nele.
- E qual era o outro plano? - pergunta.
- Eu não tenho...pensei que você iria ter um video - game em casa. - Reclamo inconformada.
Louis é o garoto riquinho da nossa escola, ele tem tudo o que quer, mas parece que a única que se interessa são os livros. Eu não entendo, sinceramente.
- Podemos ir na minha biblioteca - ele começa a dizer.
- Você tem uma biblioteca? - franzo minhas sobrancelhas.
Como um garoto de 17 anos tem uma biblioteca? Às vezes Louis me assusta.
- Tenho - ele ri da minha cara. - Vêm comigo. - Louis sai andando para o corredor que leva aos quartos, e eu o sigo.
Ele chega até uma porta no final do corredor, e a abre. Me deparo com prateleiras cheias de livros cercando todas as paredes da sala. Eu sabia que Louis era rico, mas ter uma biblioteca desse tamanho em sua própria casa, é algo que eu jamais imaginei.
- Meu Deus - digo boquiaberta caminhando para o meio daquela sala. As estantes cobrem todas as paredes, deixando o centro do lugar vazio. Eu poderia patinar aqui dentro, de tão grande que é.
- Gostou? - Louis sorri me olhando.
- Tá brincando? - eu olho para ele. - Eu que leio menos que você estou encantada, imagina o que as pessoas que são compulsivas por livros pensariam ao ver esse lugar?
- Eu comecei a fazer essa biblioteca quando eu tinha oito anos de idade - ele fala, olhando para as prateleiras.
- Você já leu todos que estão aqui?
- Cada um. - Ele responde e ri ao ver meus olhos arregalados. - O que?
- Eu sabia que você era louco por livros, mas não tanto - sorrio. - Ser riquinho ajuda também né.
- Ei - Louis reclama.
Eu sei que ele detesta que eu o chame de rico, - mesmo ele sendo - porque ele não se considera um.
- Se você parar de me chamar assim, eu te dou um livro. - Ele propõe.
- Qualquer um? - arqueio uma sobrancelha interessada.
- Qualquer um.
- Feito. - Aperto a sua mão, tirando um sorriso de Louis. Aquele mesmo sorriso de quando ele está prestes a me chamar de louca.
Caminho para perto de uma das prateleiras lendo alguns títulos. Percebo que seus livros são separados por ordem alfabética, o que não me surpreende nada.
Louis me observa ao meu lado, enquanto tento encontrar algum livro que me interessa. A maioria são sobre ficção científica, e particularmente eu gosto dos romances.
Depois de alguns minutos, um título me chama atenção. Puxo o livro e leio o nome dele em voz alta:
- Como Beijar Uma Garota?
Olho para Louis com um divertimento em meu rosto, vendo que ele perdeu a cor de uma hora pra outra. É tão engraçado ver ele com vergonha.
- Er...isso não é meu - ele coça a nuca e tenta tirar o livro da minha mão, mas eu me afasto.
- Claro que é Louis - sorrio me deliciando com toda essa situação. - Por que teria esse tipo de livro?
- Por nada... - ele abaixa os olhos para os próprios pés, enquanto move os dedos para cima e para baixo em seu suspensório vermelho.
Observo Louis em silêncio, tentando entender porque ele leria esse tipo de livro, está completamente longe do seu padrão normal. A não ser que...
Não.
Claro que não.
Louis pode ser anti social e tudo mais, porém ele é bonito, inteligente e assumo que até divertido. Qual é, ele tem 17 anos, que pessoa nessa idade nunca beijou?
- Você não é bv, é? - me arrisco a perguntar, esperando logo um não, ou alguma risada mostrando que eu estou errada. Mas nada disso vêm. Na verdade o silêncio continua absoluto.
- Louis...
- Sou. - Ele murmura.
Sei que está errado toda essa vergonha dele. É raro, eu sei. E eu nunca conheci alguém que ainda fosse bv. Mas não se deve ficar tão envergonhado por algo assim. É só um beijo.
- Tá tudo bem Louis, isso é normal - tento fazer com que ele não se sinta tão constrangido, e me viro para devolver o livro. Porém a mão de Louis me impede, segurando firme em meu braço.
- Você poderia me ajudar - fala levantando seu rosto para me olhar.
- Como? - franzo a minha testa.
- Sabe...Você é mais experiente com isso...poderia me ajudar e sabe... - ele se embola para falar, mas eu já entendi o que ele está tentando dizer.
Eu jamais pensei que fosse receber uma proposta assim. Quer dizer, é o Louis Tomlinson. O garoto bonito, rico, e que só vive em função dos livros. Essa é a sua personalidade, e toda a escola o conhece e sabe disso.
- Eu não sei como funciona para os meninos, mas a maioria das garotas preferem que esse momento aconteça com quem a gente gosta, e não com qualquer um. - Pauso - E você não precisa fazer isso agora por se sentir pressionado, eu já disse que está tudo bem e não vou contar para ninguém.
Seria errado eu beijar o Louis só por beijar. Qual é, o primeiro beijo dele não precisa ser assim.
- Mas eu gosto de você - ele fala, me fazendo congelar no lugar. - Eu não esperava te dizer isso agora, mas acho que é o momento.
- Do que você está falando Louis?
Meu Deus, o que está acontecendo?
- Você é irritante, muito irritante na verdade. E fala muito, quer sempre fazer algo, e é totalmente oposta do que eu gosto, mas Bella eu me apaixonei por você. - Ele suspira e continua: - Todas as vezes que minha mãe vai para algum lugar, eu peço para que ela chame a sua para ir com ela, e assim você fique aqui comigo. Mesmo que não façamos nada, só de ter você ao meu lado me deixa tão feliz. - Ele sorri - Você me deixa tão feliz, e não faz nenhum esforço para isso.
Seus olhos azuis esverdeados me olham vidrados, como se ele não quisesse jamais esquecer do meu rosto.
Minhas pernas estão fracas, e nem sei como ainda estou em pé.
Louis acabou de se declarar para mim. Ele é apaixonado por mim. Ele...oh Deus! Ninguém vai acreditar nisso quando eu contar para os meus amigos.
- Para de graça - tento sorri em negação ao que ele disse. Só pode ser uma brincadeira.
- Eu estou sendo sincero - Louis põe uma de suas mãos sobre a minha mandíbula. - Eu nunca fui tão sincero na minha vida. - Murmura com o rosto tão próximo ao meu, que a vontade em beijar ele me aparece subitamente.
- Porque nunca me disse isso antes? - sussurro lentamente com os olhos focados em seus lábios vermelhos.
- Não sei - ele suspira - por medo, insegurança...Você é tão popular na escola, todo mundo gosta de você. Tendo qualquer garoto aos seus pés, se torna difícil logo eu ter alguma chance.
- Eu não tenho... - ele me corta.
- Você tem sim, só que não percebe.
Eu tenho muitos amigos e conhecidos na verdade, mas não me considero uma pessoa popular, muito menos que tenho qualquer garoto aos meus pés.
- Você tem certeza que quer isso? - pergunto voltando com a atenção para o que realmente importa ali: o fato de Louis ser apaixonado por mim, e querer que eu o beije.
- Tenho. - Ele responde com convicção e seus olhos tão fixos aos meus, me provam que ele realmente quer.
Com suavidade eu seguro em cada lado do seu rosto trazendo ele para mais perto do meu, e vejo os olhos vidrados de Louis em expectativa. Eu sorrio para ele na tentativa de o deixar mais calmo, e grudo meus lábios nos seus.
O selinho dura alguns segundos antes que eu abra a minha boca e deslize minha língua pelos lábios de Louis, que os abre me dando acesso para sua boca. Beijo - o devagar, não querendo deixar as coisas apressadas demais, e Louis segue o meu ritmo parecendo já ter pego um pouco da manha.
Na minha cabeça só se passa as palavras que Louis se declarou para mim. O que me deixa cheia de uma certa pureza que transmito para o beijo.
Após alguns instantes, eu me afasto de Louis devagar, e vejo - o de olhos fechados e com um sorrisinho desenhado no rosto. Eu sorrio enquanto o observo. Louis é lindo demais, demais, demais.
Acaricio a sua bochecha com meu polegar, e dou um selinho demorado em seus lábios, antes de me afastar completamente.
- É sempre assim? - Louis abre os olhos e me fita.
- Assim como?
- Eu fui ao céu e voltei. - Ele diz, me deixando tão contente com suas palavras.
Eu fiz com que Louis gostasse do seu primeiro beijo, ao menos ele não se lembrará desse momento como algo ruim e desastrado, mas sim bom e memorável.
- Bom assim - digo e sem saber o que fazer ou falar, eu me viro para voltar para as prateleiras, mas a mão de Louis se aperta em volta do meu braço, me virando para ele.
- É só isso? - pergunta.
- O que?
- Você me beija e fica por isso mesmo? Sem mais? - ele parece confuso e até me deixa também.
- O que mais você quer? - Eu pergunto franzindo meu cenho para ele. Louis só nesses minutos que estamos aqui, já me surpreendeu por meses. Quem iria adivinhar que ele era apaixonado por mim? Ou que ele nunca beijará uma garota antes?
- Eu quero tentar algo a mais...quero ser tipo...seu namorado. - Ele morde o lábio inseguro e mostrando que está nervoso.
Louis está me pedindo em namoro? Eu namorando o Tomlinson?
Uma vontade de sorrir toma conta de mim, mas me mantenho firme para não perder o controle.
- Namorado?
- Sim - Louis coça a nuca. - Quero namorar com você...eu sempre quis, agora mais do quê nunca. - Suas mãos sobem e ficam em volta do meu rosto. Minha vontade de sorrir evapora, e eu só consigo pensar em como tudo o que está acontecendo é louco. Em como do nada, Louis e eu nos beijamos e agora estamos em meio à um pedido de namoro.
- Você tem certeza? Eu sou bem irritante e insuportável às vezes...
Louis ri.
- Eu sei disso. Mas eu gosto. - Responde pondo sua testa encostada na minha. - Só resta saber se você vai querer ter um relacionamento sério comigo. - Sussurra com seus olhos claros me olhando em expectativa.
Um filme se passa pela minha cabeça, em momentos que estive com Louis. Quase todos não foram tão divertidos assim, mas aqueles em que eu consegui tirar Louis da sua zona de conforto, e fazer ele se divertir comigo, valeram a pena e me deixaram feliz.
Mas tudo isso é o suficiente? Eu sou o suficiente para ele? Eu sei que nossas vidas são completamente diferente uma da outra, mas será que vai dá certo?
Olho Louis em silêncio por alguns segundos, e eu não o respondo, mas sim o beijo, sabendo que ele já deve ter uma idéia da minha escolha.
Talvez as coisas podem dá certo para nós dois. Talvez eu seja o suficiente. Talvez tudo seja o suficiente.
Fim.
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