Cruel: uma volta no tempo (sp...

By TheBiancaRibeiro

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Publicado originalmente em 2017, "Cruel: uma volta no tempo" é um spin-off do grande sucesso do Wattpad, "Cru... More

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Parte 7
Parte 9
Parte 10
Parte 11
Parte 12 - FINAL

Parte 8

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By TheBiancaRibeiro


Consigo sair de trás das cortinas sem ser vista, mas me perco nos infinitos corredores idênticos do palácio. Ouço, ao longe, gritos de ódio e dor e o tinir de espadas, o que faz com que eu me apresse para encontrar uma escapatória.

Há alguns dias, rumores malucos correram entre as damas da corte e os servos sobre um grupo rebelde revolucionário que estaria planejando invadir o palácio e matar o príncipe herdeiro, que assumirá o trono em breve. Esses rumores não serviram para deixar a guarda real mais atenta, pois ninguém acreditou que podiam ser verdade. Porém, vendo como conseguiram invadir, a ameaça era mesmo real. Rei Otavius está doente, mas não é permitido dizer uma palavra sobre isso - embora todas na Casa das Damas saibam que é apenas uma questão de tempo até que ele sucumba à doença de uma vez por todas. Talvez seja por isso que ele cobra tanto do príncipe, que é o único herdeiro legítimo, e por isso os rebeldes invadiram.

Amanhã, príncipe Theo poderá ser coroado, uma vez que se case com a princesa Sunsung, e a nação terá um novo rei. É óbvio que os rebeldes querem impedir que isso aconteça.

Enquanto corro pelos corredores sem fim, penso no envolvimento do Capitão DeVil em tudo isso e na decepção do príncipe Theo quando disse que o melhor amigo se aliou aos inimigos. Capitão é um rebelde? Ele era um espião esse tempo todo? Eu pensei que ele fosse um homem bruto e agressivo, mas sempre foi muito atencioso e até amável comigo. É difícil digerir a ideia de que ele pode estar por trás de uma emboscada para tirar a vida de um amigo por quem eu tenho certeza de que tem grande consideração.

Chegando ao fim de um corredor, trombo em um guarda armado e caio de joelhos no chão.

- O que está fazendo aqui? - ele indaga, alarmado.

- Eu...

- Estamos sob ataque! Fuja imediatamente!

- Ajude-me - eu suplico. - Por onde posso sair?

O guarda me indica uma saída e eu finalmente deixo a morada do rei, respirando o ar fresco da noite como se estivesse lá dentro há anos. Tropeço e caio várias vezes na grama, pois está escuro e as nuvens cobrem a luz da lua. Começa a chover, o que torna ainda mais difícil me localizar. Ergo minha saia e corro até chegar à Casa das Damas, onde o alvoroço não é muito menor do que na sala do banquete. A Casa está praticamente em chamas e eu vejo as damas gritarem e espernearem enquanto são tiradas de lá de dentro à força por homens usando mantos negros.

Tarde demais, eu me dou conta do que está acontecendo e me viro para fugir, mas alguém agarra meu braço. É um dos homens encapuzados. Ele me puxa para ele e me joga por cima do ombro como se eu fosse uma trouxa de roupas. Eu grito e me contorço, suplicando para que ele me solte.

- Ela não! - ouço uma voz familiar ordenar.

Procuro por seu rosto em meio à balbúrdia chuvosa e finalmente a encontro.

Dama Agatha.

Ela está parada diante do rebelde, o rosto parcialmente coberto por um capuz marrom. Não parece temer os homens. Na verdade, é quase como se ela estivesse no comando.

- DeVil a quer para ele - diz ao homem, sem olhar para mim. - Vamos levá-la conosco.

Olho paralisada para ela, em choque. Não só o Capitão, mas Agatha também. Os dois estão aliados aos rebeldes. Céus, as coisas ficam mais confusas a cada segundo e eu não sei de mais nada. Será que estou sonhando? É um pesadelo?

O rebelde resmunga alguma coisa que não entendo para Dama Agatha e me leva para o lado oposto de onde ele caminhava antes, numa direção que eu não conheço e que não posso enxergar direito por causa da chuva. Eu choro e bato nas costas dele. Estou assustada e a única pessoa que quero ver agora é o Capitão. Ele prometeu me ajudar. Ele prometeu me tirar desse caos. Ele precisa me encontrar.

Um relâmpago ilumina o caminho por um segundo e eu vejo para onde estou sendo levada: a saída. Não a saída do jardim ou a saída de alguma da moradas da família real. É a saída do palácio. É tudo o que eu mais quero desde o primeiro dia em que coloquei os pés aqui dentro. Estou prestes a deixar esse lugar e, ainda assim, meu coração dói.

O que vai acontecer com o príncipe Theo? O que vai acontecer com as outras damas da corte? O que vai acontecer com os servos? O que vai acontecer com cada uma das pessoas que foram gentis comigo e me trataram bem? Não, o que vai acontecer com todas as pessoas que estou deixando para trás?

O rebelde atravessa os portões do palácio - e eu creio que sejam os dos fundos, pois não são tão imponentes como os que me lembro - e me carrega até uma carruagem parada debaixo de uma árvore. Ele abre a porta e me empurra para dentro. Só então noto que Dama Agatha e mais três rebeldes estão atrás de nós. Ela também entra na carruagem e se acomoda ao meu lado, sem dizer absolutamente nada. A carruagem balança e poucos segundos depois começa a andar. Meu coração dispara.

- Dama...

- Você deve se considerar sortuda - ela me interrompe, baixando seu capuz.

- O que está acontecendo? - eu choro. - Por que estamos aqui? O que vai acontecer com as outras que...

- Você sabe quem eu sou, Rose de Vallahar? - Dama Agatha me interrompe novamente, olhando para mim.

- Nã-ão - gaguejo.

Ela suspira.

- Bem, eu estaria com problemas se soubesse. - Ela ajeita a saia e limpa a garganta. - Não sou apenas Agatha, a chefe das damas da corte, Rose. Eu sou irmã do rei Otavius, fruto das aventuras proibidas de nosso pai com uma dama. Em poucas palavras, sou a filha indesejada que foi banida para o bem do reinado do meu irmão.

Arregalo os olhos.

- O quê?

Ela olha pela janela.

- Acho que temos tempo para conversar com calma - diz. - Gostaria de ouvir uma história interessante?

Mordo o lábio.

- Eu...

- Passei grande parte de minha vida amargurada e derrotada depois que me exilaram do palácio - ela começa a dizer. - Eu tinha apenas doze anos quando minha mãe foi morta e meu pai decidiu que eu não era nada para ele. Meu irmão, o agora rei Otavius, estava prestes a ser coroado e não queria que a irmã bastarda atrapalhasse sua ascensão ao trono - ela dá um sorriso triste -, então... ele tentou me matar.

Arquejo.

- O rei tentou te matar?

- Otavius sempre foi perverso, desde que éramos crianças. Sempre teve a ideia de que o mundo deveria girar em torno dele e eu não era uma exceção. - Dama Agatha faz uma pausa, relembrando. - Só não fui morta por causa da estupenda misericórdia de meu pai, que era muito supersticioso e temia que o espírito de minha mãe viesse assombrá-lo se algo me acontecesse. Portanto, ele simplesmente me rejeitou e me expulsou para longe com ouro suficiente para que eu pudesse planejar minha vingança.

Sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo e me abraço.

Então a Dama Agatha está por trás de tudo? Para se vingar do irmão?

- Eu fiz bom uso desse ouro e me casei com um homem brilhante - Dama Agatha suspira. - Um revolucionário com sonhos muito maiores do que os meus e que seria um parceiro digno de derrubar meu irmão do trono comigo. Quando fui até ele com minha ideia de vingança, ele não me condenou. Como eu, estava cansado da opressão de Otavius e queria dar um fim ao seu reinado de terror.

- Ma-mas, Dama Agatha...

Ela olha fixamente para mim.

- Nós tivemos um filho - seus olhos faíscam. - Um garoto extremamente forte e talentoso que veio como um presente dos céus para completar meu plano. Ele cresceu, trabalhou duro e finalmente chegou ao ilustre posto de...

- Capitão da Guarda Real - eu concluo, estupefata.

Dama Agatha sorri e confirma com um aceno de cabeça.

- Você é esperta.

Cubro a boca com uma das mãos e olho para a janela da carruagem. Ainda chove bastante. A mulher ao meu lado, que eu achava que conhecia, parece uma pessoa completamente diferente. O que ela pretende me trazendo junto com ela? O que ela quer de mim?

- Por que eu estou aqui? - pergunto, sentindo minhas mãos tremerem.

Dama Agatha me encara e franze a testa.

- Não ouviu o que eu disse mais cedo? - revira os olhos.

- É muita coisa para digerir tão... de repente.

- Eu disse que você é sortuda, Rose. Você teve a sorte de salvar a vida do meu filho e conquistar a afeição dele. DeVil sempre teve um fraco por coisas indefesas e creio que isso se aplica à mulheres também.

- Mas... mas e todas as outras damas? E os servos?

Dama Agatha desvia o olhar e engole em seco.

- Nenhuma causa é ganha sem sacrifícios - sua voz soa rouca e melancólica.

Não consigo dizer mais nada. Estou tão perplexa com tamanha reviravolta que nada do que eu disser fará o menor sentido. É tudo muito repentino e assustador. Capitão DeVil é filho da Dama Agatha, que na verdade não é uma dama da corte e sim filha exilada do falecido rei e quer vingança. Céus, que loucura.

Parece que estou cada vez mais distante de voltar para minha vida antiga.

Dama Agatha não diz mais nada e eu também não, até que a carruagem finalmente para. Estremeço quando um trovão ribomba no céu. A porta é aberta e um dos rebeldes que eu vi acompanhando a Dama Agatha estende a mão para ajudá-la a descer. Não me movo.

- Venha, Rose - ela chama por mim, voltando a colocar o capuz sobre a cabeça. - Vamos vestir roupas secas e tomar um chá. Ainda temos muito que conversar.

Eu aceito o convite dela - enquanto ainda é um convite - e a sigo para fora da carruagem por uma escada de tijolos que leva até uma grande porta dupla de madeira. A chuva me encharca e me impede de enxergar com precisão o lugar onde estamos. Parece uma torre bastante fortificada, mas não há como ter certeza. Dama Agatha e eu somos escoltadas para dentro e eu me surpreendo com o luxo do lugar. Essa deve ser a casa dela. Ainda não sei o que estou fazendo aqui, mas decido segui-la - preciso mesmo de roupas secas.

O lugar parece bastante com o palácio, mas em menores proporções. Imagino que Dama Agatha quis fazer se parecer com seu antigo lar, do qual foi expulsa. Fico surpresa ao ver que os rebeldes a obedecem e que ela tem vários criados, como se fosse a rainha de sua própria torre.

Ganho um banho, vestido e sapatos novos e até mesmo enfeites para meus cabelos. As criadas sussurram sobre mim e me olham com curiosidade. Quando terminam de me aprontar, me conduzem até um cômodo onde Dama Agatha está sentada à mesa, pronta para tomar o chá de que falou mais cedo.

- Dama Agatha - paro diante dela.

- Oh, Rose, não precisa mais me chamar dessa forma. - Ela baixa sua xícara de chá e gesticula para que eu me sente.

Assumo o lugar na cadeira ao seu lado.

- Como quer que eu chame a senhora?

- Como bem quiser - ela sorri.

Assinto. Uma criada se aproxima e me serve chá com pães e biscoitos. Não costumo tomar chá tão tarde, mas estou faminta e não recuso. Observo cada movimento da senhora Agatha com cuidado, pois não me sinto segura perto dela. Ao lado do marido e com a ajuda do filho, ela invadiu o palácio muito bem guardado para vingar-se de um rei implacável - não é o tipo de coisa que qualquer mulher faria.

- Você está encantadora nesse vestido - senhora Agatha comenta, entre um gole e outro de seu chá.

- Obrigada - sussurro.

- Precisarei deixá-la sozinha por um momento para resolver algumas questões - ela se levanta. - Coma e beba do que quiser e avise as criadas quando estiver pronta para dormir.

- Mas...

- Você deve ficar aqui por enquanto - seus olhos encontram os meus. - Para seu próprio bem.

Engulo em seco.

- Entendi.

Ela abandona o cômodo apressadamente, deixando-me só. Apoio os cotovelos na mesa e respiro fundo várias vezes, enquanto revivo os últimos acontecimentos da noite numa tentativa de colocar tudo em ordem. Meu coração está disparado e minhas mãos suam. Eu quero tanto voltar para casa que essa ânsia me causa uma dor física. Lágrimas escorrem por meu rosto e pingam no pires, onde vejo meu reflexo.

De repente, num estrondo, as portas do cômodo onde tomo chá se abrem e eu ouço passos apressados virem em minha direção. Ergo a cabeça e vejo o rosto suado e ferido do Capitão DeVil. Seus olhos azuis lampejam, arregalados, e vejo seu peito subir e descer conforme ele respira. Nós nos encaramos. Ele está mesmo aqui ou estou delirando?

- Dama... - sussurra, num arquejo.

Coloco-me de pé. É ele. É mesmo ele.

- Senhor...

Corro ao seu encontro e o Capitão me toma em seus braços. Ele me tira do chão e me gira, num abraço apertado, enquanto eu lanço meus braços ao redor de seu pescoço. Estou eufórica. Nunca pude imaginar que ficaria tão feliz e aliviada em ver alguém.

- Você está bem, você está bem... - ele repete inúmeras vezes. Então me coloca no chão e me afasta para olhar para mim.

Vejo um corte feio em sua testa e sangue em um dos cantos de seu lábio inferior. Toco seu rosto.

- O senhor está ferido...

Ele segura minha mão e a apoia em seu peito.

- Estou bem.

- Preciso de água limpa, toalhas e curativos para...

- Tem ideia do quanto eu estava preocupado? - Capitão sacode a cabeça, olhando para mim com angústia.

- E o senhor? - rebato. - Sabe o quanto isso tudo me deixou aterrorizada? E-eu achei que... achei que fosse morrer ou... que o senhor fosse um...

- Não deixarei que nada de mau aconteça a você - sua mandíbula fica rígida.

Sinto minhas pernas bambas. Estou exausta.

- Por quê? - pergunto, encarando-o com firmeza. - É porque o senhor está interessado em mim? É porque me deseja?

Capitão DeVil franze a testa, parecendo confuso.

- Eu...

- Tudo o que eu quero, Capitão, é voltar para casa - lágrimas inundam meus olhos e eu começo a soluçar. - Não quero mais... que outras pessoas me obriguem a fazer coisas que eu não... não quero...

- Shh - ele apoia as mãos em meus ombros. - Ninguém vai obrigá-la a nada.

Olho para ele, sentindo as lágrimas escorrerem.

Ele vai. Capitão DeVil já disse que acredita que eu sou parte de seu destino e ele parece ser obstinado o suficiente para se prender a isso com todas as suas forças. Como os pais, ele é poderoso para me fazer ficar aqui se quiser. Ele vai me forçar a ficar, como príncipe Theo me forçou, simplesmente porque ele me quer.

Pensar nisso parte meu coração porque, bem lá no fundo, parte de mim sente que quer ficar junto dele.

- Nem o senhor? - soluço, atraindo seu olhar surpreso novamente.

- Eu? - ele franze o cenho.

- O senhor não vai me obrigar a ficar?

Suas mãos deixam meus ombros devagar e ele dá um passo para trás.

- Vá descansar - desvia o olhar. - Você deve estar exausta.

Mordo o lábio.

Eu sabia. Ele vai me manter presa aqui como o príncipe me manteve no palácio.

- Como quiser, senhor - trinco os dentes e viro-me para sair.

- Acorde cedo amanhã - ouço sua voz atrás de mim.

Paro e olho para trás.

- Por quê? - pergunto.

A tristeza nos olhos do Capitão DeVil é inexprimível.

- Porque vou levá-la para casa.



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