Male Escort - Hiatus

By kittyours

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Desde que era apenas um garoto consciencioso tentando seguir as regras de seus pais à risca, Alec Lightwood n... More

Chapter 1 - Our Gentle Sin.
Chapter 2 - The Dark Side Of The Moon.
Chapter 3 - Yellow Diamonds.
Chapter 4 - Grumpy Cat.
Chapter 5 - Reverence To The Queen.
Chapter 6 - Action And Reaction.
Chapter 7 - Pro Bono.
Chapter 9 - Burning Red.
Chapter 10 - Jailhouse Rock.
Chapter 11 - This Is Where It All Begins.

Chapter 8 - The New Letter.

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By kittyours

Hello, advinha quem demorou bastante com uma atualização? Sim, eu mesma. Mas precisei focar no final de Green Golden and Blue, tirar um tempo de folga depois do último capítulo e estabelecer um pouco mais alguns pontos para essa história aqui. Quais pontos? O desenvolvimento deles, certos caminhos que levarão até o propósito real, ao plot do assassinato e coisas assim. As atualizações de ME vão voltar ao normal a partir de agora, então tenham um pouquinho de paciência comigo, belê?

Boa leitura e até as notinhas finais :-)

. . .

Williamsburg costumava ter semelhanças com uma longa camada de misturas. Uma hora era tudo muito movimentado, e no momento seguinte a quietude prevalecia, mas Magnus não esperaria ou gostaria de morar em qualquer outro lugar. Ele gostava de perambular pelas ruas, sentindo o ar beijando suas bochechas carameladas, os cabelos oscilantes com a brisa e o ruído do metrô ao longe. Sempre fora um bom momento para passar na cidade que sempre aparentava estar acordada.

Magnus quase não se lembrava como a cidade de Houston era, não com a grande Nova York disputando sua atenção e, em momentos como esse, ele quase se esquecia do Texas. Não que assuntos relacionados ao Texas fossem agradáveis na maior parte do tempo, no entanto sempre reaveriam memórias boas a recordar.

Caminhando sobre as calçadas do bairro agora, movimentando a cabeça para um lado e outro, após deixar o departamento de polícia de Nova York, logo ele adentrou o loft o qual dividia com Ragnor e Helen, abandonando o clima acalorado ao lado de fora.

— Você viu Helen em algum lugar? — o sotaque inglês de Ragnor soou não muito perto, e Magnus, virando-se na direção de seu melhor amigo, lhe pegou deitado no sofá da sala, vestindo uma camiseta simples, azul-marinho e de mangas pequenas, verificando algum programa de TV irritante que acabara de começar. — Acho que ela não apareceu por aqui ontem.

Magnus franziu o cenho. Era normal que Helen desaparecesse durante a semana para fugir até o Bronx e visitar o irmão mais novo, então ele realmente não notara nada de errado acontecendo nos últimos dias, entretanto, a julgar pela expressão preocupada no rosto de Ragnor, talvez ele não pensasse exatamente o mesmo. O homem mais velho tendia a ser um protetor, como um verdadeiro irmão mais velho, verificando se Helen e Magnus estavam respirando e longe de possíveis conflitos destrutivos. Acontecimentos como esse não era uma situação nova, mas não havia motivo para fazer alarde, certo?

— Ela não foi visitar o irmão? — disse Magnus, empurrando os dedos no cabelo escuro e puxando a camisa para cima, jogando-a sobre o braço do sofá no qual Ragnor estava. Ele lhe disparou um olhar de repreensão, como só um pai tentando castigar o seu filho rebelde faria, o que também não era uma situação nova. Ragnor às vezes era muito exigente quando o assunto era desorganização, mas não era como se Magnus não estivesse constantemente o irritando com o mesmo tópico. — O quê?

— Não vou te dizer novamente que odeio quando as suas roupas ficam em cima das coisas — falou Ragnor, apontando o dedo indicador. — Elas me irritam, e você não quer me ver irritado!

— Você sabe que se comporta como um pai, certo? Mas eu nunca fui o tipo de filho obediente, amigo — e então Magnus jogou-se sobre o sofá menor, que tinha três almofadas sobre o estofado fofo. Ragnor rolou os olhos. O próprio Magnus sabia o quão estressante era dialogar contra suas sentenças, o que significava que seu melhor amigo o conhecia muito bem para saber desse fato; Ragnor tinha a plena noção de que era uma extensa perda de tempo e oxigênio.

— Como foi no departamento de polícia? Você foi um perfeito estúpido como sempre?

Magnus riu, não pelo comentário, ou pelo fato da voz de Ragnor soar tão mal-humorada, mas sim pela lembrança que a menção do departamento de polícia lhe trouxera sem hesitar. A estrutura física de Alec brilhou como uma silhueta iluminada pelo sol em seus pensamentos, trazendo-lhe as memórias recentes em uma enxurrada. Foram poucas vezes as quais Magnus simpatizara com pessoas à primeira vista, porém Alec Lightwood acabara por tornar-se uma linda, confiante e corada exceção. O homem era curioso, e Magnus sempre tivera um fraco para descobrir coisas escondidas, coisas não transparentes se olhadas de maneira certa.

— Qual o motivo do sorriso estúpido? — a voz de Ragnor soou novamente. Magnus piscou, o rosto de Alec sumindo como fumaça entre as lacunas de sua mente.

— A conversa com o detetive foi realmente um momento inoportuno. Mas tenho que admitir que nada foi tão ruim quanto eu pensava, estou considerando os créditos dados a você na noite passada. Obrigado por me dizer que não seria bem um filme de terror tão tremendo, você estava certo.

Ragnor ergueu uma sobrancelha. — Isso tem algo a ver com aquele advogado que você pediu ajuda? Que coisa estúpida você fez dessa vez?

— Por que você sempre me pergunta isso? — Magnus parecia quase ofendido. — Sou uma pessoa fadada a cometer feitos estúpidos?

Sem hesitar, pensar, ou sequer se preocupar, Ragnor disse:

— Sim.

— É surpreendente o tamanho da fé que você deposita em mim — Magnus falou em um resmungo. — E, não, eu não fiz nada estúpido. Me colocaram como suspeito de um assassinato, fui até Alexander e ele me ajudou com a situação, simples assim. Fim da história.

— Alexander? — Ragnor suspirou, mordeu o lábio e balançou a cabeça. — Você dormiu com o advogado, Magnus? Quantas vezes vou ter que te dizer que se você dormiu com alguém, esse alguém deve ser esquecido no momento seguinte? Evita que você cometa erros que não pode lidar, ou decepções as quais não pode curar. Mas por que ainda falo isso? Você sempre faz o contrário.

Magnus revirou os olhos, sentando-se sobre o sofá, encarando Ragnor com uma expressão despreocupada. — Você tem muita moral para falar coisas como essas para mim, não é? Não é como se você estivesse dormindo com aquele detetive que aparece no clube...

Ragnor travou o maxilar, e Magnus detectou o desconforto instalado em sua feição. — Eu não estou dormindo com Raphael, seu idiota. Ele não é assim. Nós não somos assim, somos amigos. É isso.

— Então acredite em mim quando digo que Alexander e eu não cometemos erro algum — retrucou, deixando que seu corpo caísse sobre o chão gelado, colocando as mãos esticadas à altura dos ombros. Levantou e abaixou em um ritmo calmo, flexionando o corpo em seus exercícios que, dentro de sua cabeça engenhosa, lhe deixava muito mais relaxado e com o humor uma porcentagem mais elevada. — Não estou apaixonado por ele. Pare de ser tão você por um minuto, Ragnor, você se estressa por muito pouco. Sério, isso vai te render diversas rugas no futuro.

Ragnor apenas revirou os olhos, apoiando um punho fechado abaixo do queixo. Magnus virou-se, iniciando a sessão de abdominais que para ele era como andar de bicicleta. Já se acostumara em praticar aqueles tipos de exercícios no centro da sala, com o cabelo pendendo no rosto e o suor descendo na pele, pingando em torno do pescoço e dos músculos dos braços, contornando as têmporas, as tatuagens e os cílios.

— Chegou uma correspondência endereçada a você — foi o que Ragnor disse alguns segundos depois, quebrando o silêncio que havia se instalado no ambiente. A TV agora encontrava-se desligada, e o rapaz mais velho pegara um exemplar do The New York Times na intenção de visualizar as novas notícias políticas arrumadas entre as colunas em preto e branco. Magnus girou a cabeça de encontro a ele, logo recebendo um envelope lançado sem cerimônias na direção de seu rosto.

— Você é tão delicado — Magnus zombou, encarando a correspondência com um olhar curioso e surpreso. Ele geralmente não recebia cartas há muito tempo, não quando se mudou para o Brooklyn na tentativa de desaparecer de sua cidade natal sem qualquer resquício ou comprovante do fato de ainda respirar e caminhar na parte superior da terra. Mordeu o lábio, franzindo um pouco o cenho e abrindo o envelope áspero nos dedos.

Um Valete de Espadas.

Sim, era uma carta de baralho. Havia a metade do corpo de um homem em uma ponta, assim como uma outra metade duplicada na outra ponta, espadas surgindo nas costas e cores mortas cobrindo todo o material. Magnus sabia o suficiente sobre cartas de Tarô, assim como o baralho normal, não era à toa que possuía tatuagens a respeito do assunto, mas isso não lhe sobreviera como um bom pensamento agora. Espadas era um naipe desfavorável, associado ao azar, a violência e desgraças em geral na vida de um ser humano. O Valete, em especial, significava um homem perigoso, atraente, sedutor, mas egoísta e traiçoeiro. Um criminoso.

Uma fralde.

Magnus encolheu os ombros, de repente sentindo uma onda de medo atravessando seu estômago, percorrendo sua coluna e disparando em algum lugar de seu coração. Era uma carta aleatória? Se sim, então por que seu nome estava escrito no envelope em letras firmes e uma caligrafia desconhecida? Por que ele tinha um pressentimento ruim sobre isso?

— Você acha que ela tá bem? — Ragnor perguntou, sua voz soando distante na cabeça bagunçada de um Magnus procurando por respostas convincentes e quebra-cabeças montados sem hesitações ou peças faltando. — Helen, quero dizer. Ela nunca passa tanto tempo sem nos dá notícias, Magnus. Estou falando sério agora.

Conduzindo o Valete para dentro do bolso da calça, forçou um sorriso reconfortante, empurrou os cabelos mergulhando na testa e fingiu que seus pensamentos não eram saturados por questões que lhe diziam que algo impensável estava prestes a explodir como um confronto de tragédias naturais.

— Acho que ela só não conseguiu entrar em contato conosco, amigo. Não deve ser nada. Você vai perceber que estamos nos preocupando sem motivos.

. . .

Helen apertou os dedos no edredom suave que cobria parcialmente seu tronco protegido por uma camiseta preta e fina, encostando a coluna contra a cabeceira da cama. Ela suspirou, os cabelos loiros amarrados no topo da cabeça e os olhos fixados nos cantos do compartimento iluminado por pequenos raios de sol através das cortinas elegantes.

Não conseguira dormir noite passada, ou nas noites anteriores, o cérebro ardendo com os inúmeros acontecimentos dos últimos dias e o corpo dolorido pela falta de postura. Mark, seu irmão, estava deitado sobre um amontoado de travesseiros de cetim descansados sobre o chão logo mais à frente, o notebook prata ainda apertado contra um de seus braços e os pés descalços. Helen engoliu em seco, girando o olhar para encarar o corpo adormecido ao seu lado.

Estava com os olhos fechados, a expressão facial um pouco mais relaxada e os ombros alinhados. Os cabelos escuros descansavam acima da colcha acetinada em fios empurrados e lisos, os lábios levemente ressecados e as olheiras explícitas à mostra. Um sentimento de impotência e medo transcorreu por suas veias, comprimindo seus sentidos ao máximo. Helen queria protegê-la, mas não sabia como ou o porquê de necessitar fazer isso. O ar continuava a escapar dela como uma guilhotina, como uma tempestade espreitando o céu limpo do verão.

Respirando pesadamente e se movendo abaixo do cobertor, Aline Penhallow abriu seus olhos puxados para ela; as íris afetadas por um brilho obscuro e, ao contrário da noite anterior, a vermelhidão estava um pouco menos visível. Helen retribuiu o olhar, a intensidade da culpa de Aline batendo contra seu rosto pálido como porcelana abaixo do sol escaldante de um deserto sem fim. Aline não se parecia com a mulher de negócios falada no ramo empresarial, ou a mulher apontada como a esposa de Sebastian Morgenstern nos noticiários recentes; ela parecia encurralada, alguém que esperava notícias ruins na velocidade da luz.

Parte de seu coração se aqueceu negativamente com a situação, e Helen não conseguiu fazer outra coisa senão a agarrar pelos ombros e deslizar os dedos no couro cabeludo dela, fornecendo o máximo de conforto que era capaz de encontrar em algum lugar escondido dentro de si.

— Por que eu não consigo lembrar de nada, Hels? — Aline perguntou em um sussurro abafado, deitando a cabeça mais confortavelmente na curva do pescoço da mulher que a segurava. Helen apertou o queixo contra os cabelos dela, deixando um beijo rápido e leve acima dos fios macios. — Por que ele me disse tudo aquilo? O que eu fiz depois?

Um tremor encaminhou-se por sua garganta, fazendo-a fechar os olhos como se as palavras de Aline estivessem a machucando na pele, arrancando sangue de suas correntes sanguíneas e a cortando em todo o lugar.

— Nós vamos resolver isso — disse Helen, esperando que seu tom de voz soasse destemido e firme. — Você me ouviu? Vamos resolver isso, sem danos.

— Por que é tão difícil acreditar nisso? Eu deveria saber de algo, ou o motivo de ter acordado no dia seguinte aqui... com as roupas e as mãos sujas de sangue. — Ela engoliu um grito, balançando o nariz na tentativa de não chorar novamente. — Em breve, terei de falar com a polícia. O que eu vou dizer? Vou dizer que cheguei em casa com o sangue de Sebastian no corpo? Vou dizer que não lembro de nada? Vou dizer que ele descobriu sobre a minha traição?

Helen parou o processo de acariciar os cabelos de Aline, de repente sentindo o quarto a sufocando sem educação ou vontade de parar. Ela sabia que traição não era algo bom em qualquer que fosse a circunstância, mas ela também sabia que o casamento de Sebastian e Aline era uma fachada, um compromisso familiar e por conveniência. Então, analisando todos esses fatos, por que se sentia culpada no exato instante? Por que ela queria fugir? Talvez estivesse se apoiando em um motivo banal, no entanto também não era justo da parte de Sebastian Morgenstern ter exigido qualquer que fosse o termo de sua esposa.

Além disso, Aline sabia o que estava fazendo quando cruzou as portas do Pandemonium Nightclub oito meses atrás; ela sabia o que estava fazendo quando correspondeu aos flertes de Helen em uma das mesas do clube, ela sabia o que estava fazendo quando respondeu em frenesim aos beijos de Helen em lugares escondidos e espalhados pela cidade. Não importava se Sebastian Morgenstern era um idiota que ansiava exibir a imagem de um homem respeitado, poderoso e casado na frente da população de Nova York e do mundo, o casamento era apenas uma mentira para ambas as partes. Então, agora, tomando impulso para sair da cama e esticando as pernas para tocar o chão com os pés, Helen se sentiu descontente e acuada.

— Eu não quis dizer que amar você é um erro, Helen — falou Aline, se sentando e amarrando os cabelos em um coque firme no topo da cabeça. Helen desviou o olhar, cruzando os braços sobre o peito. Exaustão atingindo seu subconsciente e o corpo implorando por um bom descanso.

— Eu sei, tudo bem. É só que... parece que você se culpa diariamente por isso. Desde a morte dele, desde a noite em que tudo mudou. Eu estive aqui para você o tempo inteiro, chamei meu irmão para procurar uma explicação para essa amnésia repentina. Uma resposta. Mas você só se culpa por Sebastian ter descoberto que nós duas estávamos tendo um caso atrás das costas dele. Na verdade, por que você se importa? Não é novidade que ele fazia o mesmo com você.

Ela estava soando friamente, o cansaço atingindo suas cordas vocais e o incômodo surgindo como uma estátua grudada no mais profundo lugar no qual suas emoções eram descarregadas todos os dias, todas as horas e em todos os segundos. Aline caminhou até ela, parando ao seu lado e exalando uma longa respiração.

— Sebastian estava tentando obter ajuda de alguma forma para seus problemas atuais — ela disse em resposta, e sua voz ecoou abatida. — Ele estava tentando fazer as coisas de forma correta, mesmo que nosso casamento não girasse em torno de sentimentos reais. Descobrir a traição foi um golpe que rompeu o nosso acordo de paz.

Helen piscou, guardando dentro de si a vontade de proferir uma frase nada gentil. Ela era compreensiva, sempre fora, mas Sebastian Morgenstern não merecia sua compreensão. Ele não merecia nada, na verdade. Não merecia piedade, não merecia qualquer tipo de entendimento ou pena. Sabia bem o que ele era capaz de fazer, sabia que um homem merecedor de piedade, entendimento ou pena, não faria acordos como os que Morgenstern fazia. Mas Aline sempre tentava encontrar o lado bom das pessoas e, embora esse detalhe de sua personalidade fosse a sua maior qualidade, também era o seu pior defeito.

— Eu acho que preciso ir — Helen murmurou, apontando o dedo indicador na direção da porta. Para ser sincera consigo mesma, já passara tempo o suficiente na casa de Aline. Era a hora de puxar Mark pelo braço, percorrer o caminho de volta até o Bronx, engolir o próprio orgulho e fingir que estava tudo maravilhosamente bem. Era a hora de deixar Aline lidar com os próprios conflitos causados pelo assassinato de Sebastian Morgenstern.

Fugir sempre era sua melhor escolha.

Foi exatamente por isso que ela não quis manter contato com a família de seu pai, foi por isso que ela decidiu se mudar de Los Angeles e arrastar Mark com ela. Desde que sua mãe, Nerissa, decidiu perambular pelo mundo como se não tivesse dois filhos precisando dela, Helen havia se tornado a única figura materna que seu irmão tinha. Ela sabia que poderia ter encontrado refúgio no restante da família Blackthorn, no calor do abraço de seus irmãos por parte de pai, no entanto a sombra de sua mãe sempre estaria presente para atormentá-la, para lembrá-la da expressão triste de Eleanor Blackthorn ao saber da traição do marido — a traição que resultou no nascimento de Mark e o da própria Helen.

Nerissa sempre seria aquela quem colocou dois filhos no mundo sem planos, sem estabilidade e sem noção de como agir com a responsabilidade de ser mãe. Casos assim eram comuns por todo o planeta, mas a pressão às vezes tornava tudo um pouco menos sustentável para o indivíduo que tinha de verdadeiramente lidar com o assunto. Sua mãe era como uma estranha, alguém que Helen esperava que nunca chegasse a tornar a olhá-la cara a cara em algum infortúnio causado pela vida. Ela era uma maldita bêbada que não se importava com nada, ela lhe trouxe escuridão quando tudo o que precisava era luz, então fugir disso não era um feito difícil. Fugir era muito melhor do que insistir em ficar.

Tudo o que queria era chegar no loft localizado no Brooklyn, abraçar Magnus e Ragnor enquanto os três assistiam America's Next Top Model e Project Runway, comendo uma porção considerável de batatas fritas e um pote de sorvete de pistache. Talvez isso ajudasse seus nervos a voltar para o lugar, e talvez ela até esquecesse um pouco o assassinato de Sebastian Morgenstern.

Aline estreitou os olhos, tocando o pulso de Helen, impossibilitando sua tarefa árdua de rumar o próprio corpo na direção de Mark para acordá-lo. Olhou-a um par de segundos que se propagaram em um pesar enevoado, os olhos castanhos e os olhos azul-esverdeados batendo uns contra os outros.

Helen reprimiu a vontade de tocá-la no rosto, agarrando a curva de seu maxilar com a mão firme, tocando toda a extensão de pele macia. Ao invés disso, um sorriso de lado surgiu e a mulher loira afastou-se do toque. Era muito para segurar, muito peso, muita culpa e muitos pensamentos correndo por sua mente confusa. Helen estava cansada, exausta, se sentia esgotada. Achava que Aline merecia o esforço, mas agora era ela própria quem precisava de um pouco de espaço.

Piscando, continuou com a tarefa de caminhar em passos largos até seu irmão, acordando-o de maneira nada sensível. E, por um momento, Helen realmente tentou esquecer do olhar tristonho de Aline caindo sobre ela.

. . .

A sala de reuniões emanava um ar diferenciado do restante do prédio espaçoso, ao mesmo tempo em que as janelas altas de vidro exibiam a cidade de Nova York coberta por raios amarelos ocasionados pelo sol das três horas da tarde.

Jace apertou a gravata vermelha, pensando em girar o próprio corpo na cadeira giratória na qual estava sentado. A boca tinha gosto de café, canela e bolinhos de queijo, os dedos firmes sobre uma pasta cor de creme descansada acima da grande mesa de carvalho posta no centro da sala inundada pelo frio do ar-condicionado. As mangas de sua camisa social branca haviam sido arrastadas até os cotovelos, o relógio conhecido no pulso e os olhos dourados mergulhando sobre qualquer ponto do lugar cromatizado na maior parte por cores escuras. Um círculo de pássaros negros rodeava a letra H encontrada na tela de ângulo reto inserida na parede ao fundo, girando, girando e girando mais uma vez.

Às vezes, Jace achava a Herondale Association extremamente entediante, principalmente quando Imogen insistia em reunir todos os advogados e detetives particulares que faziam parte da equipe. Seja como for, ele não estava aqui para reclamar.

Provavelmente, foi por esse motivo que Alec pisou em seu pé de propósito por baixo da mesa, lhe dando um olhar acusatório e um sorriso falso que dizia 'estúpido, estúpido e estúpido'. Jace emitiu um gemido de desaprovação, mas deixou o corpo congelado quando percebeu que sua avó estava enviando um olhar mortal na direção dele. Não era uma novidade que sua cabeça permanecera em um lugar distante da galáxia ao decorrer dos minutos anteriores, e até mesmo Sherlock Bones, seu Pastor Alemão de dois anos e muita disposição, passara por sua mente vazia e inclinada em não prestar atenção em nada do que acontecia ao seu redor.

O que, sinceramente, fora um feito idiota, a julgar pelo fato de o furacão Imogen Herondale estar o olhando como se o próprio demônio estivesse sussurrando ao pé de seu ouvido de forma astuta. Jace quase conseguia escutar os sussurros: Jogue seu neto pela janela! Jogue seu neto pela janela!

Ele era jovem demais para morrer.

— Eu concordo — foi o que disse, na tentativa de fingir que estava prestando atenção na reunião que acontecia há alguns minutos. Ele também conseguiu ouvir o barulho mínimo da palma da mão de Alec batendo contra a testa, assim como os suspiros repressores preenchendo a mesa.

Acima de sua cabeça, invisíveis e desdenhosos, anjos cantaram versos e dançaram em seus cabelos como dançarinos profissionais em um palco da Broadway:

"Roses are Red

Violets are blue

If I had a brick

I'd throw it at you."

"Roses are Red

Violets are blue..."

— Você concorda com o fato de tirarmos o caso de Lily Chen das mãos de Alec Lightwood? — Imogen ergueu uma sobrancelha, interrompendo o musical mental lhe culminando, expondo toda a força que ela possuía dentro do corpo. Jace sabia que sua avó não se importava com o fato de ser sua avó, ela não fazia diferenças entre sua corporação de soldados perfeitos e servidores da lei, não importava se alguns desses funcionários fossem parte da sua própria família.

Os ombros de Jace caíram e, olhando para Alec, que estava sentado ao lado dele, percebeu que havia aberto a boca para falar as frases erradas. Afinal, Imogen não tinha o direito de tirá-los do caso, certo?

— Não, eu concordo com o fato de nos mantermos no caso — retrucou, assumindo uma postura mais séria. — Eu sei, falta pouco tempo até a apresentação no Tribunal de Justiça, mas agora temos uma pista. Temos uma forma de ganhar perante o júri. Alec trabalhou muito todas essas semanas para conseguir isso, e todos nós sabemos que ele é capaz de ganhar.

Imogen apoiou as mãos sobre a mesa, a expressão a tornando uma camada de gelo tão dura quanto o Iceberg que afundara o Titanic. Ela era uma mulher de sessenta e um anos bastante intimidadora, com olhos muito cinzentos e cabelos loiros aplanados; formada na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, com um mestrado em Direito e um doutorado em Relações Públicas e Administração, além de falar alemão, francês, espanhol, inglês, irlandês, português, coreano, russo, mandarim e italiano. Sim, o currículo dela também era algo bastante intimidante.

Quando era criança, Jace costumava jogar lama dentro da casa de seus avós apenas para irritá-la, embora ele soubesse que em algum lugar, na mais profunda ala encontrada dentro de seu coração negro, Imogen Herondale era uma pessoa espirituosa e simpática.

Talvez fosse a profissão, já que a maior parte dos cidadãos que escolhiam o curso de Direito como foco era exatamente daquela mesma forma. Alguns eram arrogantes, alguns acabavam adquirindo olheiras abaixo dos olhos por noites sem dormir, alguns faziam escolhas erradas e alguns apenas acabavam desistindo no meio do caminho longo. Jace não saberia explicar o motivo pelo qual se acostumara com aquele lugar, com a pressão de vidas inocentes dependendo dele, mas era o que sabia fazer no final de tudo.

Era o que sabia fazer de melhor.

— Isso é verdade, Sr. Lightwood? — disse Imogen a Alec, o corpo agora erguido para encarar a todos de cima. Cerca de dez ou treze pessoas estavam presentes, as roupas elegantes de tecidos caros e engomados.

Alec se mexeu sobre o assento, encarando os olhos focados de Imogen, apertando uma caneta entre o polegar e o dedo indicador. Ele estava perfeitamente vestido com um terno azul escuro, combinado com a gravata cor de vinho e o relógio visível no pulso direito. Os cabelos raramente eram arrumados, o que significava que esse fato não era diferente agora, e sua barba rala já estava surgindo no rosto, por cima da pele pálida. Jace nunca o vira abaixar a cabeça, encolher os ombros ou apertar o maxilar quando a situação se tratava do trabalho. Alec estava sempre pronto para responder, pronto para falar e rebater, uma vez que os limites de sua zona de conforto não fossem rompidos.

— Sim, senhora — esclareceu Alec. — Estamos trabalhando em uma nova pista. Não vou compartilhar isso com vocês pela minha política de privacidade nos casos que pego, mas tirar a mim e o Jace do caso Pontmercy não seria uma boa opção agora, levando em consideração que o julgamento vai acontecer em tão pouco tempo. Sei que tudo isso levou mais tempo do que o esperado, mas nós temos certeza que vamos obter uma boa resposta.

Jace reprimiu um sorriso orgulhoso, fitando o homem, que olhava Alec com uma expressão quase ditatorial e estava prestes a fazer a ele uma pergunta, parado logo à frente. Ele tinha cabelos ruivos e olhos castanhos, a pele bronzeada e braços fortes; o terno marrom abraçava seu torso com eficiência.

Era Frankie Caster. Esnobe, arrogante, criminalista e formado em Harvard. A característica bônus? Ele era especialista na arte de ser um sublime babaca.

— Me desculpe, Sr. Lightwood, mas como você sabe que vai obter uma boa resposta? — questionou Caster. — Não é uma novidade que Caroline Connor está em cima desse caso com todas as forças. Você sabe que, se perder, a empresa será bastante prejudicada pela pressão que a promotoria tem jogado em nossas costas. Não seria mais inteligente passar o caso para outra pessoa?

Alec sequer piscou, unindo os lábios cor-de-rosa juntos e fechando os dedos de ambas as mãos por cima da mesa. Inclinando um pouco a coluna, disse:

— A promotoria está fazendo seu trabalho, Sr. Caster. Não é de hoje que o Ministério Público luta contra nossas defesas em um tribunal. É para isso que nós somos pagos. Não entrei no caso Pontmercy para perder, ou para deixá-lo largado. E, só para que você saiba, eu não tenho medo de Caroline Connor.

Jace resistiu à vontade de rir da expressão raivosa que Caster tentou esconder, porém Alec já não estava prestando atenção o suficiente para captar o momento exato em que o sorriso do rapaz ruivo vacilou em seu rosto, desaparecendo como mormaço. Alec não fazia coisas assim de propósito, ele não sabia como sua segurança incomodava seus colegas de trabalho, não tinha a real noção de como tudo parecia um jogo de quem era o melhor, quem colocava a lei no topo com mais rapidez. Para Alec, o valor verdadeiro era que a justiça seria feita; o significado de se estar focado em um caso difícil, a recompensa por inúmeras horas sem dormir após uma busca incessante por pistas e pontos cegos.

Ele era um homem altruísta, justo e sincero. Se tivesse de escolher um bom exemplo profissional, Jace o escolheria. Não pela amizade que ambos tinham, mas pela fé que Alec depositou nele anos atrás, quando todos o olhavam dentro daquele lugar como se ele fosse um intruso mimado; alguém prestes a correr até a saída, até o casino mais próximo, até a vida bagunçada e sem sentido. Alec acreditava nele, acreditava no seu potencial, e Jace realmente fazia o mesmo. Talvez fosse por isso que, sim, a certeza de uma boa resposta com o caso Pontmercy não era como um tiro no próprio pé. Eles iriam ganhar.

Foram longos minutos de monólogos sem fim até Christopher Makepeace começar a expor sua opinião sobre os casos recentes que estavam sendo trabalhados dentro da equipe, o sotaque perceptível de Melbourne, sua cidade natal, ecoando em volta.

— Eu acho que sei quem pode nos ajudar com o caso Pontmercy — a voz de Alec soou baixa ao seu lado, enquanto ele se inclinava ligeiramente apenas para que Jace pudesse ouvir.

— O que você tá esperando para me contar? — murmurou em resposta, a curiosidade e a adrenalina direcionando um curto choque até sua espinha.

Os dois trocaram um olhar conhecido, e Jace soube que, após saírem daquela reunião aborrecida, eles finalmente colocariam um plano em prática.

. . .

— Então a nossa salvação tá dentro dessa boate em algum lugar? — perguntou Jace, saindo do Audi vermelho que Alec acabara de estacionar, enrolando alguns fios de cabelo em seus dedos cravejados e longos; os cachos dourados estavam começando a crescer, emoldurando o rosto corado.

A fachada brilhava em azul, preto e vermelho, como na primeira vez em que estivera ali, feito vagalumes dançando ao redor banhados por luzes cintilantes. E, quando Alec marchou frenético para acompanhá-lo lado a lado, travou o automóvel e mordeu o lábio inferior, assentindo com a cabeça, Jace retornou a tagarelar:

— Quer me dizer quem é logo de uma vez? Não quero ser chato, cara, mas é difícil conter o meu instinto curioso no momento. É sério.

Você já o conhece, Alec disse apenas em pensamento, resolvendo jogar um pouco mais com a paciência e a diligência de seu amigo.

Olhou meticulosamente na direção da entrada, batendo sua atenção sobre a fila que levava até uma margem desconhecida por seu panorama concentrado. Fumaça de gelo-seco escapava por entre as pequenas brechas da porta dupla, assim como o resquício de uma música dançante, rolando com o vento ameno da noite de estrelas arrumadas em seus devidos lugares e uma lua cheia fixada no topo mais alto e esplendoroso do céu limpo. Os olhos dele vagaram um pouco mais nos desconhecidos entregando convites aos seguranças altos que possuíam tatuagens extensas nos braços fortes e protegidos por um conjunto de tecidos opacos.

— Você vai descobrir quem é, Jace. Só... não seja um idiota, tudo bem? — falou, limpando a garganta e apertando os olhos entre o beco escuro ao lado do clube e a fachada vibrante. — Nada de comentários estúpidos. — Apontou o dedo indicador. — Não preciso de comentários estúpidos.

Jace levantou ambas as mãos em um gesto rendido, se afastou alguns passos e estudou a entrada como Alec estava fazendo. Os carros parados em volta eram abundantes, em diversas cores e diversos modelos, enfileirados como peças de dominó.

Após explicar o básico de seu plano ao único Herondale amigável presente nos limites de seu círculo reduzido de pessoas apropriadas para conversar socialmente todos os dias, eles decidiram ir até o Pandemonium Nightclub em busca de respostas. Jace ficara animado com a notícia e, talvez, Alec tivesse adquirido um pouco mais de confiança na missão que, honestamente, era um tópico, no exato momento, bastante idiota para início de conversa. O plano consistia em Magnus lhe fornecendo informações sobre os irmãos Pangborn, sobre os segredos que com certeza eles esconderam quando foram interrogados algumas semanas atrás pela polícia de Nova York. Informações importantes que o faria convencer o júri; que o faria convencer a si mesmo sobre o fato de realmente conseguir vencer aquele caso em específico.

Mas e se Magnus não pudesse ajudá-lo? E se a ida até o clube acabasse por ser apenas uma grande perda de tempo?

— Hum, e o que você tem em mente? — questionou Jace, enquanto caminhava na direção da entrada, os ombros se movendo devagar. — Qual o nosso próximo grande passo?

— Entrar ali dentro? — disse Alec, apontando o lugar protegido pelos seguranças com a cabeça, cerrando um pouco o maxilar. — Da última vez que estive aqui, não tinha uma fila desse tamanho na entrada. — Passou a mão na nuca, comprimindo os lábios. — Merda, como vamos entrar?

Jace, por sua vez, apenas se certificou de lhe arremessar um olhar confuso, dourado-escuro e recriminador.

— O quê? — indagou Alec.

— A última vez que você esteve aqui? Espera, desde quando tá frequentando lugares assim? Achei que você fosse alérgico a ambientes barulhentos e cheios por fumaça, odores de bebidas alcoólicas... Estou ofendido. Quando você começou a não me contar as novidades, Alexander Lightwood? Eu ainda sou seu melhor amigo, não sou?

Rolou os olhos azuis em resposta. O vento passeava por seus cabelos penteados de maneira desalinhada pelas pontas de seus dedos, esfriando o suor mínimo que havia descido no pescoço por baixo do colarinho da camisa de algodão.

— Nada de comentários estúpidos, lembra? E depois você ainda me pergunta o porquê de sempre falar a mesma coisa. Tem a sua resposta.

Fez-se dois minutos de silêncio. Tempo esse que Alec gastou mordendo o canto da boca, pensando em uma possibilidade de adentrar o clube sem um convite ou uma explicação boa o suficiente. Ele não tinha muitas opções no contexto atual, não tinha uma forma de caminhar à frente do Tribunal de Justiça e proclamar a incompetência em conseguir provas convincentes e culpados reais. Sua única saída era Magnus Bane, que talvez sequer soubesse da existência dos irmãos Pangborn, e, por mais que nada daquilo lhe rendesse uma direção positiva, ainda era considerada a sua melhor escolha.

Catástrofe.

Era isso que resumia sua situação presente, uma tenebrosa catástrofe. Dependia do conhecimento de Magnus, de suas informações; e Alec nem ao menos conseguia processar mentalmente o que poderia vir depois. E se Magnus aceitasse ajudá-lo, o que lhe garantia que tudo ocorreria como Jace e ele esperavam? Sua cabeça sofreu uma pontada de cansaço, o obrigando a caminhar mais rápido, os sapatos de couro batendo contra o asfalto da rua movimentada da boate.

Inclinou a cabeça após chegar até um canto pouco iluminado à frente do lugar espalhafatoso, Jace respirando de modo resfolegado ao seu lado, facilmente pegando toda a extensão da rua para seu ponto de vista, assim como a quantidade de pessoas enfileiradas. A garganta foi limpa, alguns fios de cabelo insistindo na tarefa de estabacar-se pela testa e as íris azuis atentas ao movimento da minúscula multidão.

— Foi em um dia de frustração. Eu vim até aqui para tirar um pouco o meu estresse ocasionado pelos últimos acontecimentos — proferiu Alec em um longo suspiro, a voz um grau mais rouca. — Satisfeito, Herondale?

Algo incógnito lampejou nos olhos minuciosos de Jace.

— Dessa forma que conheceu a nossa fonte secreta?

Afirmou com a cabeça. Não adiantava negar, já que Jace estaria cara a cara com Magnus em alguns minutos caso eles conseguissem, primeiramente, uma maneira muito inteligente e eficaz de passar pelos seguranças. Gesticulando com as mãos, respondeu:

— É, foi meio isso.

— Sou seu melhor amigo, não sou?

Alec revirou os olhos.

— Por que ainda aguento você?

Jace sorriu.

— Porque nós somos uma ótima dupla.

— Você tem uma oportunidade de me provar isso agora — retrucou, o timbre da voz mais baixo, com a intenção de que só Jace pudesse escutá-lo: — Tá vendo os seguranças guardando a entrada? Consiga uma forma da nossa passagem ser liberada, então vou pensar no seu caso.

Os lábios de Jace foram providos em um sorriso pretensioso e, ajustando o cabelo louro em um penteado mais disperso e pressionando o punho da camisa sob a ponta dos dedos da mão esquerda, deu passos objetivos até a porta de entrada, como se fosse um supermodelo deslocando-se acima de uma passarela escoltada por câmeras e glamour. Alec, por sua vez, ficou parado no mesmo lugar e assistiu o rapaz de cabelos claros movimentar uma mão, enquanto falava com um dos brutamontes estáticos guardando o estabelecimento, e resistiu à vontade de gemer em consternação quando Jace virou-se e quase correu para alcançá-lo outra vez.

— E então? — indagou, erguendo a sobrancelha que tinha uma pequena falha vistosa.

— Ele me mandou para um lugar nada agradável. Achei ofensivo.

— Droga — Alec grunhiu.

E tudo estava perdido. Não existia uma maneira de ultrapassar os seguranças, não existia uma maneira de obter as informações que queria. Talvez tivesse feito a escolha errada quando decidiu não optar pelo acordo proposto por Caroline Connor. E, talvez, Lily Chen fosse condenada por um crime o qual não cometeu. Uma inocente, uma garota que tinha um futuro inteiro logo ao virar da esquina–

Alec olhou literalmente ao virar da esquina, que levava até uma viela inexplorada, percebendo algo que não havia sido captado atentamente por seu cérebro antes: existiam desconhecidos adentrando o clube por outra entrada, e eles estavam todos fantasiados de alguma forma. Eram fantasias ridículas, é claro, mas ainda eram fantasias. Olhos escondidos por máscaras brilhantes, lentes de contato vermelhas, amarelas e verdes iluminadas pela luz noturna, saltos em um tilintar mínimo e cabelos coloridos espreitando sua visão. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas, felizmente, e também não se encontrava ansioso para conhecer, mas ele já estava aqui e se aproveitaria da situação.

Com um punho fechado no cotovelo de Jace, e ignorando o suspiro surpreso que escapou dele, arrastou o rapaz mais baixo até o dito beco, se pleiteando em averiguar o movimento. Uma porta de ferro comprida e aberta se elevou para eles, e Alec não conseguiu pausar a própria imaginação. A entrada recém-descoberta lhe surgiu como um portal até um mundo subterrâneo secreto, com raios fantasiosos escapando pelas laterais. A magia momentânea, no entanto, foi cortada quando uma garota mascando chiclete de morango impediu que eles entrassem. Usava uma camisa apertada, jaqueta, calças de couro e botas pontudas. E ela parecia quase entediada quando falou:

— Se vocês não fizerem parte da equipe de dançarinos, a saída é logo–

— Somos — Alec a interrompeu, dando uma cotovelada ligeira nas costelas de Jace quando ele estava prestes a rebater. O que estava fazendo? Provavelmente algo muito, muito ruim, mas não era como se não existisse um benefício no final do túnel. Engolindo em seco, mentiu: — Somos da equipe de dançarinos.

A garota parou o processo de mascar o chiclete, cedendo espaço para que os rapazes passassem, rolando os olhos e anotando algo em uma prancheta a qual segurava. Alec não a olhou nos olhos, assim como Jace, mas quando os dois estavam prestes a se embaralharem com o restante dos seres humanos desmiolados lá dentro, a voz feminina e aborrecida ressoou:

— Vocês esqueceram isso — e então ela jogou um par de máscaras pretas para Alec, que lhe deu um sorriso falso e arrastou Jace para o lado interior do clube. Ele entregou uma das máscaras ao outro, enquanto ajustava a sua própria na face; a fisionomia tornando-se hermética.

— Estamos parecendo uma versão mascarada de MIB, Homens de Preto — observou Jace, e também colocou a máscara no rosto; os cachos loiros despencaram um pouco sobre o material ríspido e as orelhas, o transformando semelhante a um leão dourado. Se pudesse assistir a cena do alto de uma cobertura, estudando os respectivos ternos, gravatas e relógios, talvez pudesse concordar com a menção de seu amigo a Kay e Jay, mas ele não estava aqui para conversar sobre os personagens interpretados por Tommy Lee Jones e Will Smith.

Encolheu os ombros e resmungou:

— Cala a boca, Jace.

A pista de dança estava lotada, braços se balançando vestidos de peças de couro, fantasias e jeans, pernas nuas esticadas sob luzes de néon, o suor e o odor de álcool prevalecendo além da fumaça inconveniente. Assemelhava estar duas vezes mais barulhenta e mais cheia desde a primeira e última vez a qual estivera caminhando entre as colunas do clube estrondoso, no qual casais se beijavam despreocupados e bebidas eram servidas em taças de todos os tamanhos. My anaconda don't want none, o verso da música alta incomodou sua audição, causando uma careta perfeitamente visível em suas feições devido ao barulho intenso e estridente como agulhas perfurando seus tímpanos. Unless you got bunz, hun.

Um rosto familiar o chamou a atenção.

Não vestia uma camisa, exibindo o torso desnudo em glória. Uma gravata borboleta preta no pescoço, a tiara com orelhas negras e brilhantes de coelho na cabeça, a calça de couro apertada, os suspensórios e as botas curtas fechadas. Usava glitter prateado nas pálpebras, e os cabelos, apontados para cima, tinham mechas azuis. Ele dançava, erguia um copo de bebida na altura no ombro, sobre uma espécie de palco redondo circunvalado por pessoas no processo de embriaguez ao fundo do ambiente sobrecarregado. Oh my gosh, look at her butt.

Look at, look at, look at. Quando Magnus Bane girou outra vez, movendo os quadris e sorrindo, Alec levou a palma da própria mão até o rosto, porque, sim, o caso de Lily Chen agora estava nas mãos de um maluco dançando de forma desavergonhada sobre um palco, vestindo a fantasia de um coelhinho da Playboy.

E era verdade o que todos diziam, afinal: não há nada tão ruim que não possa piorar.

. . .

Certo, esse capítulo não teve Malec, mas é importante que vocês tenham uma visão de tudo que tá acontecendo para que o sentido da história seja compreendido depois. Esse é o motivo para ter pontos de vistas diferentes espalhados ao longo de cada capítulo, não só os de Magnus e Alec. Então prestem atenção; cada ponto de vista tem uma importância.

Me digam o que vocês acharam, sim? Isso estimula minha criatividade.

Obs: No próximo capítulo vocês irão finalmente saber o que irá acontecer com o Sr. Bane-coelhinho-da-playboy e o Sr. Lightwood com relação ao caso da Lily. É isso? É isso.

Obrigada pela leitura e até a próxima atualização!

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