Paixões Gregas - Opostos (Deg...

By MnicaCristina140

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Da série Paixões Gregas. Essa é a história de July, filha de Nick Stefanos. July Stefanos é uma jovem rica... More

Capítulo 1
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

Capítulo 2

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By MnicaCristina140

   Pov – Tyler

Ela aqui? Depois de todo esse tempo me infernizando a cabeça está no meio da minha casa com uma mamadeira na mão como se tivesse algum direito de estar aqui?

Não tem como não sair do sério. Eu sei onde estou, que minha vida está uma droga como sempre, pior que isso, sei que estou no fundo do poço, mas não vou me dobrar a essa mimadinha e suas vontades. Se veio rir de mim se deu mal. Muito mal.

Dulce está balançando Bárbara no colo quando chego. Eu a retiro de seus braços. É minha irmã. Não tem culpa de nossa mãe não valer nada e estar morta. Eu coloco a mamadeira em sua boca e ela suga faminta.

─Obrigado por ter vindo Dulce. Cuido delas agora. – Domo o humor para não ser grosso com a garota que tem me ajudado nas últimas semanas.

─Ei. – A voz suave me chama atenção. Ela ainda está aqui. Me viro e July Stefanos está parada na porta do quarto me olhando feio. – Por que acha que pode me ofender e simplesmente me dar as costas?

─Por que é minha casa e não é bem-vinda aqui. – Aviso sem medo de represália. Não tem como minha situação piorar e que se dane se aquele libertador de bandidos tentar me intimidar.

─Tyler! – Minha avó se ofende. Seu tom severo me faz encara-la. – Peça desculpas a moça agora mesmo! É minha casa. Não decide quem entra e quem sai.

─Não sabe o que está dizendo vovó.

─Sei sim. Sei que July é bem-vinda sempre que quiser.

─Está tudo bem dona Manoela. – July diz sem desviar os olhos claros dos meus. Ela é tão linda. Parece uma princesa dessas de filmes. Toda delicada com voz de anjo, mas não me engana. De jeito nenhum. – Eu já estou de saída. Vai comigo Dulce?

─Sim. Até amanhã. – Dulce diz muito constrangida com meu comportamento. Eu as vejo deixarem a casa e só quando escuto a porta da frente bater é que olho para minha avó.

─Ninguém tem culpa das coisas que nos aconteceram Tyler. Ninguém. Essa moça foi um anjo.

─Não sabe de coisa alguma vovó. – Barbara adormece com a mamadeira na boca e a coloco na cama. – Está com fome?

─Precisa acabar com esse seu medo de se mostrar Tyler. Não tem problema confiar em pessoas.

─Como aconteceu com a minha mãe? O que ela ganhou?

─Sua mãe se perdeu sozinha. Ela sempre foi difícil, escolheu aquelas pessoas.

É inútil, minha vó não entende que ela nunca teve escolha, que eu não tenho, nem ela ou Barbara tem. Deixo o quarto, abro armários em busca de algo para comermos. Encontro alguns pacotes de macarrão instantâneo. Depois de comer minha avó vai para cama. Confirmo se Barbara dorme bem e depois sigo para o sofá onde sempre dormi desde que me conheço por gente.

O pequeno quarto sempre foi de minha avó e mãe, agora ela divide com minha irmãzinha. Me encosto fechando os olhos. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer daqui por diante. Não tenho muita saída para me livrar das dívidas que minha mãe deixou.

Se não fizer o que essa maldita gangue quer eles acabam me matando. Eu sabia que não estavam pagando o enterro dela por bondade ou culpa. Aqueles malditos só queriam me enredar em uma armadilha para me obrigar a trabalhar para eles.

Nem bem o corpo de Raul esfriou e Juan assumiu seu lugar com mãos de ferro. Se não me render a eles, Barbara e minha vó acabam em perigo.

Alguém bate na porta. Fico de pé um tanto alarmado. O caminho até a porta é feito com total tensão. Abro e Miguel está lá de pé com seu olhar perigoso e ameaçador.

─Qual é garoto? Acha que pode deixar Juan te esperando?

─Eu o procuro amanhã. – Não demonstro minha preocupação. Quanto mais se dobra mais eles abusam.

─Agora! – Ele diz pegando meu braço. Me solto furioso. Encosto Miguel na parede de corredor segurando seu colarinho.

─Amanhã. Estou com a minha avó e irmã. Amanhã procuro Juan.

Sinto o clique da arma e o cano frio em meu abdômen. Meus dedos relaxam em seu colarinho.

─Não sei de onde tirou que dá as cartas. Vem comigo agora. Não é um convite.

Eu o solto. Engulo o ódio. Respiro para buscar algum controle. Adoraria ser eu mesmo a acabar com ele. Com todos eles. Nunca quis fazer parte de droga de gangue nenhuma. Minha mãe é responsável por essa droga também.

─Preciso avisar minha avó. – Solto Miguel e sigo para dentro. Vó Manoela já chegava a porta com olhos assustados. – Volte para cama vovó, eu tenho que sair.

─Tyler... Não faça isso meu filho, fique em casa. É tarde para me deixar sozinha com a Barbara.

─Não me demoro. Prometo. – Beijo sua testa e saio antes que ela veja Miguel. Pegamos seu carro. Só de estar no mesmo carro que ele já é um risco, ainda acabo com um tiro na testa ou preso. Aí sim minha irmã acaba num maldito orfanato.

Ele dirige com o som no último volume, acelera fazendo ultrapassagens perigosas, felizmente não demora cinco minutos e estamos onde a gangue se reúne.

Minha avó é mexicana assim como minha mãe. Meu pai era americano, por isso os mexicanos nos têm como parte de sua família, por isso minha mãe acabou enfiada no meio deles.

─Ele te espera. – Miguel aponta a porta e não tenho escolha. Quando atravesso vejo um pequeno grupo tomando cerveja e jogando cartas, uma pistola sobre a mesa, nenhum deles parece preocupado com minha presença.

Atravesso a sala e caminho para os fundos. Juan está sentado atrás da mesa que um dia foi de Raul, armas e drogas se espalham sobre a mesa. Uma garota loira está em seu colo.

Mais de uma vez vi minha mãe no mesmo lugar, só que com os braços de Raul em torno dela.

─Não tem medo? – Juan me diz depois de tragar o cigarro. Mantenho meus olhos firmes em sua expressão. – Mandei vir e achou que podia se recusar?

─Não tenho interesse em fazer parte de sua gangue.

A risada de Juan ecoa pela sala pequena e mofada. Depois ele dá um leve empurrão na garota em seu colo. Me olha longamente, fico ali, de pé, sem outra coisa a fazer se não aguardar sua decisão.

─Me deve dois mil dólares.

─Dois mil? – Quase grito. De onde ele tirou essa dívida?

─Sua mãe andava bem frenética. Consumiu muito nos últimos tempos. Paguei o enterro dela também. Sabe que protegemos a comunidade.

─E cobram alto por isso. Não tenho como pagar.

─Eu sei. Por isso tenho uns trabalhos para você.

─Trabalhos? Quer que faça parte...

─Você não tem escolha. Para começar eu quero deixar claro sua posição. Tony está aqui. Sobe lá e tatua a marca do nosso povo.

─Está maluco!

─É jovem, uma boa aquisição. Não quero outra gangue tentando te convencer e quero que entenda onde está. Quando começar a fazer os trabalhos para mim preciso que as pessoas saibam de onde você vem. Assim não vai ter risco de você me entregar.

─Juan eu pago. – Não sei como, mas não posso aceitar o que ele me exige.

─Não vai achar emprego, não quando eu espalhar que não é permitido.

─Dou um jeito.

─Já dei um jeito. Tony! – Ele grita. – Tony! – O homem com o corpo todo tatuado e cara de poucos amigos invade a sala. – Leve o Tyler. Faça a caveira. No braço. Quero que fique visível. Bem-vindo Tyler.

Acompanho Tony, não tenho escolha. Penso na minha vó e em Barbara. Dou um jeito depois.

A máquina de tatuar é ligada. Tony me entrega uma garrafa de vodka que aceito, é bom afogar a dor e junto a raiva. Isso é muito mais que uma marca. É uma prisão. Começo a beber, um longo gole que leva metade da garrafa. Depois deixo a dor me dominar. Mais bebida, mais ódio destilado.

Não sinto quando acaba, a bebida amortece a dor e a memória. Tony me cutuca me fazendo ficar de pé. Me sinto tonto e confuso. A garrafa de vodka se foi inteira. Ele ri quando tropeço em minhas próprias pernas tentando andar.

─A caveira em negro no braço como todos nós. – Tony mostra seu próprio braço, o símbolo do dia dos mortos. – Tem o M também. Agora está batizado.

Queria dizer qualquer coisa, a mente embaralhada me impede de falar. A língua parece grudar no céu da boca. Não tenho ideia de que horas são. Tony me entrega mais uma garrafa.

─Vai garoto. Não esquece de onde você vem e quem está do seu lado.

─Não tem ninguém do meu lado. – Pego a garrafa e ganho as ruas com passos lentos. No meio do caminho, entre um gole e outro eu me sento na calçada. Me encosto na parede cinza e suja de um prédio velho qualquer, fecho os olhos tomando o resto do liquido que já não queima mais minha garganta.

A raiva me domina quando me lembro que vou carregar essa maldita marca no corpo. Como bois marcados nas fazendas do sul. Apenas mais um animal a caminho do abate. Um soldado sem importância. Um pião pronto para morrer sem uma causa que mereça tal ato.

Atiro a garrafa no meio da rua. Ela estilhaça no asfalto e o som se expande. Cachorros latem e luzes se acendem.

─Vão para o inferno! – Grito antes de me deixar apagar ali mesmo.

Buzinas e pessoas passando em volta de mim me despertam. Abro os olhos e me dou conta de onde estou. Dormindo numa calçada suja. A luz do dia me ofusca a visão, a cabeça lateja junto com o braço e me lembro da noite e o que ela significou.

Me ponho de pé sem olhar para ninguém em especial, sigo para casa de cabeça baixa pensando em minha irmã. Não vai ter como salva-la de acabar em um orfanato. Nunca vou ser capaz de cuidar dela e talvez seja melhor para ela.

Assim que abro a porta minha avó está sentada próxima a mesa com Bárbara nos braços e um olhar acusador. Com oitenta anos eu não tenho como faze-la entender.

─Olhe para você. Que decepção. – Isso machuca mais do que ela pode entender. – Está fedendo a bebida.

─Comeram? – Pergunto enquanto vasculho uma gaveta em busca de um comprimido. Engulo sem água mesmo. Vejo quando ela coloca minha irmã no carrinho. Tiro a camiseta e me atiro no sofá.

─Tyler o que significa isso no seu braço?

─Chegou ao país com quinze anos vovó, sempre viveu no bairro. Você sabe o que significa. – Não escuto o que está a caminho, apago na mesma hora.

─Dulce está resgatando um gatinho abandonado Dona Manoela e me pediu para trazer a Bárbara. – A voz dela vem de longe. Começa baixa e depois ganha força. Não é possível que ela esteja de volta aqui. – Eu trouxe essa sopa para ela jantar. Adoro cozinhar e fui eu mesma que fiz.

Me sento vestindo a camiseta apressado, ela tem o rosto corado e posso ver seu constrangimento, os olhos sobre a tatuagem me fazem sentir ainda mais raiva do mundo.

─Obrigada linda. – Minha avó diz pegando a sopa. Barbara ainda está no colo de July. Ela não sabe como agir. Está de pé, próxima a porta, dou uns passos em sua direção me sentindo completamente inapropriado, ela toda bonita, perfumada e eu cheirando a álcool e todo sujo de dormir na rua como um sem teto.

Assim que pego Bárbara meus dedos tocam os dela, nossos olhos se encontrar e ela cora ainda mais. Desvio meus olhos.

─Vem minha linda. Me ajuda com essa sopa. – Minha avó puxa July pela mão, ela a segue obediente, eu fico sem reação. Quero manda-la embora, mas como posso fazer isso quando ela está ali ajudando minha avó?

Levo minha irmã para o quarto enquanto as duas ficam na cozinha. Escuto a conversa leve de minha avó elogiando o perfume da sopa e os cabelos dourados de July.

Me sento na cama com a pequena resmungando que quer deixar meu colo, eu a coloco na cama. Ela engatinha até a boneca de pano que minha avó costurou.

─Me ajuda a dar a sopinha para ela e vamos ver o que ela acha. – Minha avó entra com sua dificuldade de andar. July carregando um prato com sopa. Ela tenta disfarçar os olhos sobre mim, mas mais uma vez nossos olhos se encontram.

─Eu acho que é melhor...

─Pega ela ali. – Minha avó pede a July que obediente mais uma vez vem em minha direção. Eu entrego o bebê. Logo Bárbara ganha beijos na bochecha.

─Que menina mais linda. Está com fome pequena? Já quer é dormir. – Ela se senta com Barbara no colo e minha avó vai oferecendo colheradas que Barbara aceita sem reclamações. – Ela está é com sono! – July brinca limpando a boca de Barbara.

─Ela dorme muito cedo mesmo. – Olho para o relógio. Seis da tarde. Começa a escurecer. – Tyler vai se arrumar, depois quero que leve July em casa.

─Não é preciso, eu pego um taxi. – Claro que a riquinha pega um taxi. Nem me dou ao trabalho de dizer não, ela mesma já disse.

─Vai demorar um mês para um taxi passar nessa nossa rua. Ele te leva até um taxi.

Eu as deixo ali, no fundo minha avó tem razão. Se algo acontece a uma Stefanos vão dar um jeito de me culpar. Tomo um banho rápido, Me visto e escovo os dentes. Dormi o dia todo. Depois volto para o quarto. July balança minha irmã e cantarola uma canção de ninar com os olhos fixos nela.

July coloca a pequena na cama. Beija sua testa e depois se volta para minha avó.

─Tenho que ir dona Manoela. Obrigada por me receber. – Ela beija minha avó. Sou obrigado a admitir que ela é gentil com ela.

─Leva ela até um taxi Tyler. Não deixa ela pela rua.

Em silencio eu caminho para a porta. Abro e dou espaço para ela passar. July desce em silencio. Quando chegamos a calçada ela me olha.

─Posso caminhar sozinha. Não tem problema.

─Acha que gosto disso? – Pergunto começando a caminhar. São três quadras até a avenida onde ela pode pegar um taxi.

─Se não gosta pode voltar.

─Não quero problemas com seu pai. Ele não vai bater em minha porta atrás de você. – Ela desvia os olhos chateada.

─Meu pai é um homem bom e justo, não acusaria você de nada.

─O trabalho dele é proteger culpados.

─Não sabe nada dele ou de mim, é um preconceituoso babaca.

─Ah! É isso que acha? Que eu sou o preconceituoso? E você? Toda mimada!

─Meu pai ganhou seu dinheiro honestamente, não tenho vergonha disso. – Ela diz de queixo erguido, mais bonita que nunca. Ficamos em silencio quase uma quadra toda.

─Não pode andar por aí a noite, então se for a minha casa não fique até tarde. Nem na Dulce deve ficar.

─Agora sou bem-vinda? Disse que não me queria lá.

─Elas gostam de você. Além disso minha avó é inocente para perceber onde está se metendo.

─O que eu te fiz? O que minha família te fez? – Ela para de andar e ficamos frente a frente.

─Eu devia contar.

─Devia mesmo. Assim para de me acusar injustamente. Todo mundo tem direito a defesa. – Tem todo tipo de gente passando de um lado para outro.

Ficamos nos enfrentando. Ela é bonita de muitos modos. Me incomoda. Me traz lembranças de como fiquei feito um bobo encantado com ela quando a vi pela primeira vez, até sonhar com ela eu sonhei. Tinha uma mistura de raiva e desejo dentro de mim, porque ela era tudo que eu jamais poderia ter.

─Quer ouvir? – Ela afirma. Olho em volta. Que se dane. Vou contar a essa patricinha minha história. É bom que ela saiba onde está e assim corra para longe do sangue dos Bowen.

Não vou contar ali. No meio da rua, olho em volta. Podemos subir no telhado do prédio onde Raul morava. Usamos a escada de incêndio e não vai ter problemas. Sempre subi ali escondido e nunca fui pego.

─Vem comigo. – Ela não pensa duas vezes em me seguir. Puxo a escada e começamos a subir. São quatro andares e não demora a estarmos lá em cima.

Assim que chega ela para na ponta da escada. O peito sobe e desce num acesso de falta de ar que me assusta um pouco. July remexe a bolsa e retira um inalador. Aspira e continua ali mais um longo momento até se acalmar.

─O que está acontecendo? – Não quero me preocupar, mas não consigo evitar.

─Asma. Já estou bem. – Seguimos até o parapeito onde um muro na altura da cintura nos protege de uma possível queda. – Quem mora aqui?

─Ninguém que eu conheça. – Ela se espanta.

─Isso é invasão.

─Ninguém se importa. – Dou de ombros.

─Por que tem tanta raiva da minha família?

─Acha que tudo é perfeito como no seu mundo, não é. Vou contar para que depois possa sair daqui e nunca mais voltar.

Ela suspira, puxa os cabelos e os torce nos dedos, eles parecem sedosos e refreio o desejo de tocá-los.

─O que tem para contar? Vamos Tyler. Conta e me deixa decidir.

─Minha mãe conheceu meu pai muito nova. Nasci quando ela tinha dezesseis anos. Minha avó Manoela é quem praticamente me criou. Meu pai morreu num acidente de trabalho. Eu nem o conheci.

─Sinto muito. – Ela me diz como se isso a entristecesse.

─Minha mãe começou a sair muito, quando eu era ainda pequeno ela sofreu um abuso. O filho do Raul abusou dela. Isso mesmo, o cara abusou dela, sabe o que aconteceu? Nada. Absolutamente nada. Raul proibiu minha mãe de denunciar, Deu dinheiro a ela.

─Eu não sei como minha família pode ter culpa nisso.

─Teve um assalto. Eu e todo mundo por aqui sabia quem tinha feito o serviço. Não era ele, mas eu achei que seria boa ideia dizer que sim e fiz uma denúncia anônima. Ele foi preso. O cara não era melhor que os malditos que assaltaram, ele tinha que ter ficado preso. Todo mundo queria isso. Não roubou, mas fez pior.

─O que? – Ela me pergunta interessada.

─Seu pai defendeu ele. Sabia que ele não tinha participado do assalto e conseguiu livra-lo da cadeia.

─Meu pai não sabia. De todo modo ele não podia deixar um homem pagar por um crime que não cometeu.

─Agora não faz mais diferença. Ele morreu. Raul queria os filhos na universidade, aquele infeliz vivia como um riquinho mimado e achava que podia tudo, não estava envolvido nos trabalhos do pai.

─Morreu como?

─Como o pai. Ele se meteu em uma briga num bar, depois fugiu da polícia e acabou morto.

─E culpa meu pai por ele não estar preso?

Ouvindo agora parece uma grande tolice e então eu a encaro um longo momento sem resposta.

─Acha que a culpa é do meu pai?

─Já disse que não importa mais.

─Se não importa mais porque me hostiliza? – Por que é linda e inalcançável, por que acha que o mundo é colorido e perfeito e ele é cinza e perigoso.

─Depois disso, minha mãe acabou envolvida com o pai dele. Teve a Barbara, se meteu com drogas, assaltos, entregas, se afundou e acabou morrendo com ele. Minha família, esse lugar, nada disso é seu mundo, então fique longe.

─O que sabe do meu mundo?

─Vi você na sala do seu pai na associação, pedindo dinheiro, preocupada com essas tolices de cabelo e maquiagem. Esse é seu mundo.

─Você é muito... – Ela se cala. – Não sabe nada sobre mim, aquilo foi há muito tempo e não importa o que faça já entendi que tem suas opiniões. Fique com elas. Meu pai nunca faria nada de mal, pelo que sei ele ajuda as pessoas do bairro, sempre ajudou. Eu também, já você que podia tentar algo fica só reclamando.

─Minha casa não é lugar para você. Minha avó não é boa companhia. Eu quero que fique longe.

─Vai culpar meu pai por fazer parte de uma gangue também? Vi a tatuagem. Isso sim é burrice.

─Isso é minha vida e não tem nada com isso. Se sabe que pertenço a uma gangue é mais um motivo para ficar longe. Bem longe. Vamos, eu vou levar você para casa.

Nem espero por sua resposta, começo a descer apressado. Quando chego na calçada ainda preciso espera-la. Ela tem a respiração ainda mais alterada. Tudo que queria era dar as costas a ela e desaparecer. Mas me aproximo preocupado.

─Por que foi subir se não aguenta nem respirar? Eu digo que é uma mimada. – Ela remexe a bolsa ansiosa, puxa o ar para encher os pulmões e angustiado eu tomo a bolsa, abro e sem dificuldade encontro o aparelho. Ela o usa apressada. – Melhor?

─Sim. Tenho que ir. Minha mãe vai ficar brava com a demora.

─Vou levar você. – Ela anda lentamente, os olhos baixos e a respiração ainda difícil.

─Os bichinhos na casa da Dulce me prejudicam um pouco e mais essa escadaria. Acho que vou ter que ir ao médico quando chegar em casa.

Dou sinal a um taxi, ele para e entro junto com ela. Se a garota tem um treco no carro sozinha o que vai acontecer?

─Levo você e depois volto caminhando. – Ela não reclama. Só procura respirar.

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