Male Escort - Hiatus

By kittyours

28.3K 1K 1.3K

Desde que era apenas um garoto consciencioso tentando seguir as regras de seus pais à risca, Alec Lightwood n... More

Chapter 2 - The Dark Side Of The Moon.
Chapter 3 - Yellow Diamonds.
Chapter 4 - Grumpy Cat.
Chapter 5 - Reverence To The Queen.
Chapter 6 - Action And Reaction.
Chapter 7 - Pro Bono.
Chapter 8 - The New Letter.
Chapter 9 - Burning Red.
Chapter 10 - Jailhouse Rock.
Chapter 11 - This Is Where It All Begins.

Chapter 1 - Our Gentle Sin.

3.2K 140 151
By kittyours

Eu estava tenso, quero me soltar

Eu estava sonhando com coisas maiores

E quero deixar minha vida para trás

O som era ensurdecedor dentro da boate brilhante em vermelho, preto e azul, mas ele se encontrou caminhando sobre o chão escuro e lamacento do beco ao lado. Aqui — sob o céu noturno e sem estrelas — o frio cortava sua pele e balançava seus cabelos platinados.

A fumaça subia em direção aos prédios, manchando sua visão. Ele usava um terno fosco, que apertava os músculos quando seus ombros se moviam; um relógio prateado brilhando em seu pulso. Os dedos longos e a expressão vazia. Ela havia mentido sobre muita coisa. Ela não confiava nele. Não mais. Ele se perguntava se ela havia confiado algum dia, puxando a chave do carro com agilidade.

Amanhã, ele a destruiria e tudo cairia, mas sua imagem não seria afetada. Vivendo em um mundo repleto de mentiras, ele aprendeu que ser um mentiroso era fácil. Derrubar seus inimigos era fácil, principalmente quando a decisão era tomada por um sentimento tão maquiavélico quanto a traição.

Sentou-se no banco do motorista, fitando os próprios olhos no retrovisor; suas pupilas pareciam espelhos sem reflexo, quebrados em um local abandonado e coberto de poeira. Ele sorriu um sorriso assustador, lembrando de tudo o que já havia conquistado até aqui; todas as pessoas que pagariam no dia seguinte. Uma lista de alvos surgindo em sua mente, ao mesmo tempo em que ele respirava fundo e deixava uma amostra fantasiosa da vingança se instalar em algum lugar profundo de seus pensamentos.

No dia seguinte, ele faria questão de expor sua descoberta e assistiria o declínio dela. Mas a felicidade de pensar em tudo isso como um show se dissipou quando uma mão apertada cobriu sua boca, impedindo-o de completar qualquer tipo de movimento. Ele não gritou por ser impossível, mas sua garganta liberou um ruído de horror; os olhos arregalados na direção do retrovisor interno.

Um relâmpago transpôs sua espinha, o choque furtando sua expressão anterior. Ele viu um sinal de silêncio refletido, tremendo com a lâmina afiada sendo direcionada até sua garganta pálida. O ar correu para longe, seu estômago pesando. Pela última vez, ele encarou o retrovisor interno, ouvindo uma risada abafada ecoar muito próxima de seu ombro.

Ele viu olhos conhecidos e o pânico aguçou sua voz, ao mesmo tempo em que o som alto da boate parecia extremamente distante. Na verdade, agora, o mundo inteiro estava longe demais para ser realmente alcançável.

Você? — Questionou em um sussurro. Ele não obteve tempo para perguntar qualquer outra coisa.

Mais tarde, corpos suados, pessoas curiosas, jornalistas e policiais rodearam o local. O banco do motorista era banhado em sangue, vidros quebrados e o corpo sem vida pendendo para o lado. Os olhos dele ainda estavam abertos; paralisados com horror. Cabelos platinados com respingos em carmesim.

A morte pairava sobre ele como uma névoa silenciosa e secreta, enquanto os familiares eram informados e a imprensa anunciava que o CEO da Construtora Morgenstern — Sebastian Morgenstern — havia sido assassinado.

. . .

O único paraíso para onde serei enviado

Vai ser quando eu estiver sozinho com você

Posso ter nascido doente, mas adoro isso

Mascando o chiclete de morango e fixando os olhos no espelho, Magnus Bane corrigiu as sobrancelhas, admirou a sombra brilhante em suas pálpebras e balançou a cabeça para um lado e outro no ritmo da música que soava da cozinha.

Se sou um pagão dos bons tempos

Minha amante é a luz do sol

Os cabelos escovados e lisos caindo em seus olhos verdes, o batom roxo criando um reflexo brilhante e a camisa apertada revelando seu peito bronzeado. Ele ofereceu uma piscadela a si mesmo e sorriu.

— Você é muito irresistível — falou, fechando o zíper das botas de combate; os anéis ao redor da maioria dos dedos longos. Miniaturas tatuadas de flores, cigarros, estrelas e cartas eram encontradas no centro de cada dedo, fazendo com que todos os anéis parecessem joias em uma fila de desenhos negros. — Quero dizer, irresistível é apenas um eufemismo, você é a definição da oitava maravilha do mundo.

Leve-me à igreja

Louvarei como um cão no santuário de suas mentiras

Ragnor Fell, que encarava sua performance 'flertando para matar' com uma expressão tediosa, rolou os olhos negros. — E como você sugere que a pessoa reaja a algo tão imbecil?

Glitter foi distribuído abaixo de seus olhos, iluminando o rosto como uma noite de fogos de artifício; Magnus sorriu maliciosamente e fitou as unhas pintadas de preto.

— Querido, a pessoa em questão estará muito ocupada desfrutando do seu charme para realmente reagir de forma normal. — Apontou o dedo indicador. — Lembre-se, flertar para matar é o caminho. No final de tudo, você acabará ao lado de alguém interessante na cama. Minhas dicas são as melhores possíveis.

— Não confie nele! — A voz de Helen soou do quarto ao lado, fazendo-o revirar os olhos. Ela sempre parecia insistir em falar na hora errada. — Magnus só conquista as pessoas com conversas idiotas e muitas bebidas. Não faça isso, Ragnor! No final de tudo, você acabará em uma cama ao lado de um bêbado vomitando e falando em um apocalipse de unicórnios malvados.

Ele ignorou aquilo com um balanço de cabeça, lançando o chiclete pela janela. O Brooklyn era cheio de fumaça, odor de lixo e gritos dos vizinhos malucos, mas era um lugar parcialmente agradável. Além disso, aquele apartamento em questão, que nos últimos meses havia sido o lar de Ragnor, Helen e ele próprio, era muito perto da boate Pandemonium — conhecida oficialmente como seu local de trabalho fixo.

Nada de mestres ou reis quando o ritual começa

Não há inocência mais doce do que nosso suave pecado

Não se importava em dançar, servir bebidas, conversar ou dormir com estranhos. Às vezes, Magnus chegava a ponderar que a vida que levava era um pecado, mas ele realmente não era o tipo de pessoa que achava atraente o arrependimento ou a rendição de todo o caos apreciado nos últimos anos. Se fosse um pecado, então era um pecado benevolente de qualquer maneira.

Ragnor, jovem e mal-humorado como nunca outro, costumava chamá-lo de profissional em libertinagem, embora Magnus não se importasse com o apelido ou com as crises egocêntricas de Ragnor sobre suas maneiras de lidar com os seres humanos.

Helen, doce e amarga ao mesmo tempo, discordava de tudo o que Magnus falava; sobre a vida ou a arte de entender o comportamento humano, alegando que ele tinha um cérebro tão decente quanto gelatina.

— Helen, eu desejo do fundo do meu coração que você vá para o inferno — respondeu, afinal, os dedos balançando com desdém. Felizmente, ela estava em outro cômodo e não conseguia visualizar o resquício de carinho que se movimentou em seus olhos vibrantes.

Uma risada feminina e irritante ecoou. — Eu também te amo tanto, Magnus. Você realmente não imagina.

Rolou os olhos, caminhando até a escada dos fundos sem se despedir de Ragnor, que havia se esgueirado até a cozinha — provavelmente para atacar um pote de sorvete —, ou Helen. Desceu os degraus, tomando o cuidado suficiente para não fazer qualquer barulho; empurrando outro chiclete na boca.

Na loucura e imundície desta triste cena mundana

Só então sou humano, só então me torno puro

O frio noturno cobriu a pele de seu pescoço, enquanto seus passos tornaram-se lentos e graciosos. A rua era escura, os postes piscando como pisca-pisca no natal e as nuvens brancas acima. Ele lembrou da risada de Helen, o olhar afiado de Ragnor, sua tática de flertar para matar e sorriu para o nada.

. . .

Alexander Lightwood — ou somente Alec — admirava a vista que tinha de seu escritório. Ele era um reflexo sério e perfeitamente coberto por um traje formal nos vidros extensos, refletindo seu corpo em ondulações.

Ver Nova York dali era como voar sem sair do chão, e ele simplesmente adorava apreciar as filas incontáveis de prédios, a ponte do Brooklyn ao longe e o trânsito absurdamente movimentado, mesmo que fosse absolutamente tarde. Às vezes, tudo parecia tão parado dentro dele mesmo que suas pupilas tinham a necessidade de observar a vida dos outros sem hesitar. Como se isso fosse adiantar de alguma forma, mas olhar aquela bela visão era bom. Ele gostava.

O escritório ao redor dele era uma grande bagunça, repleto de papéis e anotações em cima da mesa. Fotos e estatísticas espalhadas pelos quadros. As janelas gigantes de vidro refletiam seus ombros caídos e o turbilhão de questões que tinha para resolver. O pequeno espaço de trabalho tão limpo quanto desarrumado com paredes brancas e pretas, jarros vazios e incontáveis filas de pastas.

A sensação era como estar preso dentro de uma prisão de responsabilidades e afazeres, mas Alec ainda conseguia enxergar um pouco de fé naquela vida agitada que tinha, a rotina totalmente chata e a agenda mais do que lotada. Mesmo que, de vez em quando, sua cabeça se transformasse em um amontoado de dores e seu humor não fosse um dos melhores.

Mesmo que, de vez em quando, ele recorresse ao velho hábito de ficar apenas parado olhando a vida em Nova York acontecer.

Parecia que tudo havia acontecido há muito tempo, mas também tão rápido quanto Alec esperava. Ele realmente não havia imaginado que o tempo passaria tão vertiginoso assim.

Quando finalmente começou a trabalhar ali, perseguia seu sonho de subir cada vez mais as etapas que precisaria para atingir o máximo. Afinal, Alec gostava de se superar cada vez mais. No trabalho isso não seria em nada diferente. Aos poucos, em acontecimentos tensos ou gloriosos, foi entendendo como era aquele mundo e como tudo funcionava.

Se dedicou ao máximo e surpreendeu a todos com sua capacidade e inteligência. Esse era o motivo pelo qual Alec Lightwood era considerado um dos melhores advogados criminalistas de Nova York, e todos dentro daquela empresa gigante reconheciam isto. Todavia, às vezes as coisas pareciam desandar, como se nada daquilo fosse certo. Como se a glória e o reconhecimento não fossem o suficiente.

Embora fosse bastante satisfatório por outro lado, considerando que ser um advogado renomado era uma forma de explicitar o quão seu pai estava errado sobre ele.

De vez em quando, a própria sociedade acabava lhe nomeando popularmente como 'defensor de criminosos', mas o que poderia ser feito contra isso? Não era como se Alec fosse começar a explicar que passava mais da metade de seu tempo agindo como um detetive, procurando por provas reais e tentando aplicar a lei de forma retificada.

Alec olhou para o céu estrelado, com uma xícara de café na mão, e admirou a lua; toda a grandeza que dela emanava, florescente como um raio cortando o horizonte. Então alguém bateu em sua porta e logo entrou, após Alec murmurar um 'entre' firme, com o gosto de café amargo na boca. Ele ainda estava virado olhando a cidade quando ouviu a voz conhecida de seu assistente — mais como um aprendiz e companheiro de trabalho, quase advogado — Jace Herondale.

— Você ainda está aqui, Lightwood? — perguntou, sua voz soando cansada e acusatória. — Já está tarde. Vá para casa, a empresa não sairá correndo. Garanto.

Os olhos azuis de Alec caíram sobre o rosto do louro. Ele sempre parecia preocupado, tentando colocar Alec em caminhos diferentes, para não parecer tão atarefado ou inundado pelo cansaço, tentando limpar o peso do mundo de suas costas. Jace era nobre, leal e totalmente considerado como uma das poucas pessoas em que Alec confiava. Alguém que ele não hesitou em depositar admiração e bons sentimentos, sendo uma das poucas pessoas que constantemente entendiam como ele se sentia. O que era raro, considerando que seu círculo social era bastante curto.

Possuir problemas de confiança parecia algo comum no ramo da lei e da justiça. Lidar com pessoas mentirosas e hipócritas era como um brinde no pacote, e ele estava acostumado o suficiente para não reclamar.

Alec suspirou. — Estava revisando algumas coisas sobre casos antigos e atuais. Você sabe como tudo tem ficado louco e terrível ultimamente. Essa cidade é um caos. Além disso, preciso aprofundar meus pensamentos no caso dos irmãos Pangborn.

— Revisando casos como os prédios da cidade, por exemplo? — disse Jace, com uma dose moderada de sarcasmo na voz. Alec apenas repousou a xícara que segurava em cima da mesa e rolou os olhos. — Os irmãos Pangborn são culpados, mas colocaram a culpa na pobre garota encontrada na cena do crime. É tão claro. O júri só não vai enxergar se não quiser.

Encolhendo os ombros, Alec concordou com a cabeça. — Como o detetive Santiago falou, não é uma questão de considerar quem é culpado ou não, Jace. A inocência de Lily Chen depende de provas concretas.

Uma pontada dolorida balançou seu cérebro. Não era justo que uma inocente pagasse por homicídio doloso, classificado como dolo direto, enquanto dois assassinos profissionais continuassem perambulando por Nova York como se nada estivesse incomodando a aura de paz rodeando a cabeça de ambos, mas provar era diferente de apenas supor. E provar era um problema quando tudo apontava na direção de Chen, consequentemente, aumentando as dúvidas do júri e da promotoria.

A garota era apenas alguém buscando por melhorias consideráveis, fugindo de seus pais, entrando em um mundo novo de possibilidades, colocada em um lugar errado e na hora errada. Chen lhe lembrava um pouco sua situação há anos atrás e, talvez, fosse por isso que Alec estivesse tão preocupado em provar a inocência dela.

— Alguma novidade sobre as digitais encontradas no estabelecimento do Sr. Pontmercy? — perguntou, apontando o queixo na direção de seu assistente. — O NYPD entrou em contato?

— Me recuso a falar qualquer coisa sobre esse caso agora — ressoou Jace, convicto e inquestionável. — Vá para casa, cara. Todos já foram. Aposto que sua cama será bem mais confortável do que uma cadeira de escritório.

Alec inclinou um pouco a cabeça, batendo a ponta dos dedos sobre os arquivos escuros depositados na mesa à sua frente; etiquetas em vermelho nas bordas.

— Talvez eu fique mais um pouco, não se preocupe.

Cerrando os olhos dourados, Jace assentiu.

— Tudo bem, então — disse, um pequeno sorriso de lado. Jace sempre respeitava seu espaço, mesmo que não estivesse feliz com suas escolhas deprimentes e estivesse disposto para questionar sobre o assunto, e Alec apreciava isso nele. — Já estou indo. Boa sorte com o que quer que esteja fazendo.

E então ele saiu, batendo a porta em seguida.

Alec agarrou a pasta transparente jogada no meio da papelada e, segurando a borda com a mão direita, admirou a sala ao redor.

A pasta continha arquivos sobre os irmãos Pangborn; informações pessoais, ligações com tráfico de drogas, endereços importantes e antecedentes criminais. Duas fotos sem cor alguma estavam ao lado de uma cópia da imagem original da cena do crime, onde era possível visualizar dois corpos e fitas amarelas ao redor. O sangue envolto do corpo de Jeremy Pontmercy era abundante, manchando o piso branco e extenso.

Ele puxou ar para os pulmões e teve a impressão de que, com certeza, não gostaria de olhar para si mesmo parado no meio daquele ambiente. O advogado passou uma das mãos no cabelo escuro e sentiu seus ombros caírem, o cansaço e a exaustão queimavam seu sangue e transformavam seus ossos em líquido.

Alec realmente parecia miserável, inclinado demais em sua obsessão com o escritório e a revisão de um caso que já havia sido revisado diversas e diversas vezes durante a semana. Ele lembrou da reunião naquele dia em específico, sobre o quão estressante a Herondale Association poderia parecer. Sobre o quão cansado e sobrecarregado ele parecia nos últimos meses.

Você parece uma mula estressada prestes a cair para trás, sua mente gritou para ele imediatamente.

Era sempre assim, quando Alec se encontrava sozinho e encurralado com o estresse, ele realmente começava a discutir com sua própria cabeça e repassar imagens e frases que aconteciam ao longo do dia. Era o sinal vermelho para parar e reconsiderar suas escolhas atuais. Repensar sobre o quão exausto ele estava, bruscamente preso e comprometido com a empresa e sua vida profissional. O Departamento de polícia de Nova York não estava sendo colaborativo nos últimos tempos, assim como os clientes que nunca diziam toda a verdade. Para completar, a promotoria sempre parecia inclinada demais em testar seu trabalho como podia, o que não era exatamente uma surpresa.

Olhos azuis cansados e apagados pelas noites de sono perdidas. Mãos trêmulas pela tarefa constante de assinar papéis e dedilhar páginas e mais páginas. Lixeira cheia de rascunhos de discursos que precisaria fazer no tribunal nos próximos cinco dias. Silêncio incrivelmente perturbador, bagunçando seu cérebro turbulento. Apenas o ar condicionado fazia algum ruído, inundando a sala como um pequeno resquício da vida existente ao lado de fora. Coluna completamente dolorida.

Era assim que Alec se sentia após um longo dia de trabalho cansativo e estressante em uma cadeira de escritório.

Passar o tempo todo trabalhando não era para qualquer um, especialmente quando você tinha Imogen Herondale gritando em seus ouvidos.

Eram reuniões constantes sobre o declínio da empresa, clientes furiosos ou decepcionados, incessantes telefonemas para atender e chamadas para retornar. Tudo conseguia ser terrivelmente irritante. No final de tudo, a única certeza que fornecia alguma felicidade era que o pagamento era realmente bom e ele também estava ultrapassando limites e provando que poderia ser melhor. Provando que ele poderia ser um profissional de sucesso para todos aqueles que haviam duvidado dele no passado.

Sua mão esquerda massageava seus próprios cabelos, na falha tentativa de relaxar. Quando cogitou fazer faculdade de direito em Oxford, não pensou que fosse ser tão cansativo assim. No entanto, bem, ele também sabia que ser um advogado criminalista reconhecido era bastante trabalhoso.

Talvez as pessoas normais achassem que o trabalho de um advogado era feito apenas na empresa, mas não era exatamente assim. Não para Alec, que acabava levando todo o estresse para casa, simplesmente por não conseguir retirar o foco inicial.

Mesmo não sendo uma pessoa tão gentil ou sociável com os outros, por raramente manter vínculos com qualquer pessoa ou alimentar qualquer tipo de afeição por estranhos, sentia-se mal ao se deparar com diferentes e bizarros casos para resolver. Isso significava que sua mente era incapaz de desligar das cenas repassadas durante o dia, os depoimentos revistos, a verificação dos arquivos empilhados, a dor, o luto e a perda habitual.

Vá para casa, cara. Todos já foram.

Aposto que sua cama será bem mais confortável do que uma cadeira de escritório.

Encarando sua pasta negra com um olhar investigativo e, ao mesmo tempo, fitando os arquivos seguros nas mãos, Alec deixou-se ser convencido pelo conselho de Jace. Já era bastante tarde, entretanto o escritório não correria para longe, afinal.

Apagou as luzes e trancou a porta depois de dez minutos se questionando sobre o assunto, indo em direção ao elevador do décimo andar, para seguir até seu apartamento e enterrar a cabeça pesada no travesseiro. Ele não saberia dizer como era estressante seguir a mesma rotina todos os dias, mas ainda assim, quando um caso era resolvido e a justiça era feita, o desfastio de seus clientes compensavam alguma coisa. Era como se Alec tivesse o poder de reiniciar a vida de alguém, dando-lhe novas oportunidades e uma nova chance de refazer seus passos.

Mesmo que o estresse fizesse parte de sua vida, ele ainda sabia que ser um advogado era tudo o que queria ser. Não imaginava que pudesse exercer qualquer outra profissão, não atualmente.

Era o mais próximo de um herói que ele já havia chegado.

Dirigindo na Meserole Avenue, deslizando os dedos sobre o volante, Alec se permitiu respirar fundo e amassar o próprio cabelo com uma das mãos. Era final de verão, o que explicava as mudanças drásticas de temperatura. Não era surpreendente que o dia fosse quente, irritantemente caloroso, e a noite fosse fria; era tão normal quanto seu hábito matinal de correr sem rumo pelas ruas de Nova York.

O toque aparvalhado de seu telefone interrompeu a conversa mental sendo reproduzida em seus pensamentos estranhos, fazendo com que Alec parasse o carro em qualquer lugar do Brooklyn. Ao longe, era possível enxergar carros de diversas cores e tamanhos, um amontoado de pessoas sorridentes e uma fachada brilhando — Pandemonium Nightclub — em preto, azul e vermelho.

— Alec falando — enunciou, segurando o telefone com firmeza, após deslizar o dedo indicador sobre a tela e atender a chamada de um número desconhecido.

— Oh, Sr. Lightwood, eu gostaria muito de falar com você sobre o caso de Jeremy Pontmercy — o desconhecido noticiou com uma voz masculina enrouquecida, que Alec tinha a ligeira impressão de conhecer. — Eu sei que provavelmente deveríamos conversar em seu escritório, mas preferi ligar em primeiro lugar.

Ele balançou a cabeça. — Sim, é o apropriado. Bem, no momento não estou no escritório, mas talvez você possa agendar algo com minha secretária.

O desconhecido emitiu um ruído estupefato. — Tudo bem. Deixarei um recado em nome de Victor Aldertree.

Alec assentiu com a cabeça novamente, o olhar caindo sobre a gravata abandonada no banco ao lado. As luzes piscando no retrovisor do carro e em seus olhos azuis. Aldertree era alguém importante no sétimo andar da Herondale Association, envolvido em investigações privadas, embora o advogado não pudesse se lembrar qual era o trabalho do homem em questão.

— Me desculpe por ligar agora, mas achei que você ainda estivesse no trabalho, considerando que uma vida social para nós é muito difícil. Especialmente para o criminalista prodígio da Imogen.

Alec franziu o cenho. — O quê?

— Você, garoto — Aldertree falou, o tom de voz brincalhão como se ele estivesse contando uma piada muito engraçada; Alec definitivamente não estava rindo. — Trabalho é sua única preocupação, Imogen já falou sobre isso. Quero dizer, bem, é diferente ver alguém tão jovem como você se dedicar tanto assim em termos profissionais, mas é igualmente gratificante. Você é uma raridade, Lightwood. Devo mencionar que sou um bom admirador.

Aldertree estava dizendo que ele não possuía uma vida social? Até Imogen Herondale, que sempre parecia bastante irritada com a vida dos pobres mortais ao redor dela, já havia falado sobre isso também? De repente, a insatisfação corroeu seus sentidos e lhe fez jogar um olhar desacreditado na direção do telefone. Era nisso que seus colegas de trabalho acreditavam?

Não que fosse mentira no final de tudo, mas ainda assim não era um assunto para outras pessoas comentarem.

Ele permaneceu pensando no assunto por três minutos seguidos, balançando a cabeça para um lado e outro, após Victor Aldertree lhe desejar um boa noite e desligar. Apertou os próprios lábios, reclinando a cabeça sobre o volante do carro. O Pandemonium Nightclub continuava piscando no retrovisor como um holofote, chamando-o com as luzes.

Trabalho é sua única preocupação, Imogen já falou sobre isso.

Trabalho é sua única preocupação.

Alec bufou de desgosto e, colocando a gravata novamente, saiu do veículo após estacionar em qualquer lugar mais apropriado.

Antes que a música estrondosa atingisse sua audição por inteira, ele ouviu diversas vozes e risadas emboladas. Avistou muitos garotos e garotas, rindo, com copos de bebida nas mãos. As risadas ficavam cada vez mais altas à medida que Alec simplesmente aproximava-se ainda mais da entrada brilhante do clube desordeiro.

E então as risadas cessaram quando ele passou pela porta.

Chegando até o bar, o rapaz percebeu que só queria se embebedar até que fosse preciso alguém levá-lo até o hospital mais próximo.

As luzes fortes incomodavam seus olhos. Cada vez que piscava, via estrelas brilhando por baixo de suas pálpebras. Haviam muitas pessoas quase grudadas, se mexendo de forma estranha, ou fazendo o que provavelmente chamariam de dançando. Sentou-se lentamente e pediu a bebida mais forte que existisse no lugar ao bartender de cabelos longos e mechas azuis. Ele não entendia muito sobre essas coisas. Ao seu ver, eram apenas bebidas coloridas com nomes óbvios e sabores idênticos.

Em meio as luzes hiperbólicas sobre os corpos dançantes, sua atenção foi imediatamente puxada por um amontoado de pessoas erguendo copos no ar, balançando as mãos e cantando a música alta que soava. Ele observou com um interesse mínimo, ao mesmo tempo em que o bartender lhe entregava a bebida marrom; a expressão desconfiada indicava que ele estava perguntando para seu próprio cérebro o que Alec poderia estar fazendo aqui. Talvez as pessoas tivessem razão, afinal. Ele não tinha uma vida social e até um desconhecido sabia disso.

Trabalho é sua única preocupação.

Empurrou o líquido de uma só vez para dentro de sua boca, fazendo uma careta durante o processo.

O ambiente era definido por música alta, luzes coloridas quase resplandecentes, rostos pintados com tinta neon brilhando no espaço escuro. Pessoas se beijando, provavelmente sem nunca terem se visto na vida. Piso grudento devido ao doce das bebidas derrubadas durante a noite, roupas extravagantes e fumaça.

O grupo anterior que chamara sua atenção por um instante, brilhou como a luz do sol no amanhecer, revelando uma garota loira dançando em cima do palco em roupas pretas apertadas e botas exageradamente altas. Logo em seguida, um homem surgiu; cabelos negros batendo contra os olhos fechados; o sorriso aberto e o corpo bronzeado oscilando em movimentos sensuais.

— Essa é para você — proferiu Alec em um burburinho sarcástico, hasteando o segundo copo de bebida na direção do teto, pensando em como seu pai ficaria irritado por isso.

Na humilde opinião de Robert Lightwood, naturalmente, o clube seria como o próprio inferno na terra; talvez o rapaz sexy e asiático dançando em cima do palco fosse considerado como um demônio — talvez um príncipe infernal — levando a humanidade até um nível alto de decadência.

No terceiro copo, sua inteligência voltou a funcionar e ele percebeu que beber não era exatamente uma saída prudente, especialmente não em uma noite de terça-feira. Quem frequentava clubes noturnos em uma terça-feira?

Talvez Jace pudesse cogitar a ideia de cometer esse delito, embora Alec considerasse que Imogen Herondale não ficaria em nada feliz sabendo que seu neto frequentava lugares como esse durante a semana. Ele encarou o copo intocado com uma expressão pensativa, empurrando o queixo no punho fechado.

— Pensando em uma outra realidade, garoto bonito? — A voz masculina, puxando as vogais em uma canção peculiar, soou ao seu lado.

Alec olhou com uma expressão confusa para o homem. Os olhos puxados mesclados a maquiagem e o glitter, que brilhava junto as cores do arco-íris à medida que as luzes do teto se moviam para seu rosto. Era o mesmo rapaz sexy e asiático que estava dançando e, com a proximidade, Alec finalmente decidiu que o desconhecido era ainda mais atraente.

Ele não conseguia se ajudar, mesmo se tentasse. Talvez o universo fosse seu inimigo.

— Na verdade, eu estava decidindo se beber é o caminho certo — respondeu simplesmente, erguendo as sobrancelhas.

— Hum — grunhiu o outro, observando o copo seguro em uma das mãos de Alec. — Eu sugiro que você comece a apreciar a tequila.

— Você é do tipo profissional em bebidas?

— Seria um ultraje se não fosse — respondeu com um sorriso brilhante. — Então, qual é o seu nome, bonitão?

— Eu vim aqui para esquecer até o meu próprio nome com álcool e você está tentando fazer o meu plano ser arruinado.

O homem desconhecido, brilhante e asiático estava balançando a cabeça negativamente.

— Oh, isto é ruim. — Ele deu um sorriso torto enquanto encarava a gravata de Alec. — Hum, médico?

Alec negou com a cabeça.

— Dono de alguma empresa de computadores?

— Não.

— Dono de uma fábrica de bonecos sexuais?

Alec olhou para ele como se estivesse encarando um verdadeiro louco. — Pior ainda.

— Hum, deixe-me ver. — Observou por alguns segundos, os olhos verde-dourados queimando sobre seu corpo. — Você se veste como um homem de negócios, mas não é exigente com marcas. Tem uma expressão cansada muito preocupante, olheiras, ombros não relaxados, péssima postura e um olhar investigativo. Eu diria que você é um policial, mas policiais geralmente não frequentam o clube. A chave do seu carro está pendendo para fora do bolso, o que significa que você não teve preocupação com ela. — Ele semicerrou os olhos. — O que também significa que não era um plano entrar aqui ou se embebedar até esquecer o próprio nome. O que também pode significar que você é um servidor da lei. Já sei! Advogado?

— Sim — concluiu Alec, impressionado com a resposta detalhada do outro. — Sou criminalista. Você, por um acaso, é um detetive disfarçado procurando por respostas em uma casa noturna?

— Na verdade, não. — Um sorrisinho surgiu em seus lábios. — Só é fácil ler as emoções das pessoas. Meus amigos me diziam que eu era um bom entendedor, observador e todas essas coisas.

O bartender caminhou até eles quando o homem asiático acenou para ele com dois dedos balançando no ar.

— O meu amigo aqui precisa de uma boa tequila, Meliorn.

Alec observou o tal Meliorn caminhar para um lado e outro, não questionando o homem ao seu lado, e deixando dois copos de tequila perfeitamente parados à frente de ambos; seus olhos eram ilegíveis, até mesmo para alguém que estava acostumado em procurar as histórias das pessoas através das pupilas delas. O bartender era como um livro desabastado de palavras.

— Se eu não estivesse tentando esquecer o meu próprio nome com o álcool, diria que me chamo Alexander Lightwood — ele disse, afinal, voltando-se para o rapaz de olhos verdes e curiosos. — Alec.

— Meu nome é Ryan — falou, contornando a borda do copo em suas mãos com a ponta do dedo indicador. Ele escondeu um sorriso de diversão, desviando o olhar por um segundo.

Alec piscou rapidamente.

— Seu nome não é Ryan — disse, sua voz soando baixa e a música alta que tocava no local girando em sua mente. — Desviar o olhar é, em noventa por cento das situações, uma ação que indica que a pessoa mentiu. E, como consegui observar, você não havia desviado o olhar em nenhum outro momento.

— Impressionante, Sr. Lightwood — ecoou com um ceticismo famigerado. — As pessoas quase nunca percebem.

Alec sorriu sem exibir os dentes. — Acho que ganhei a cortesia de saber o seu nome real?

— Magnus — respondeu, um brilho de desenfadamento em seus olhos e o sotaque peculiar soando como música. Ele apontou com o queixo na direção do copo nas mãos de Alec, segurando o próprio copo no ar. — Um último brinde?

— O último — murmurou Alec, batendo ambos os copos juntos, sentindo a bebida queimando em sua garganta no segundo seguinte.

. . .

— E então ele me disse que eu não tinha uma vida social — ressoou Alec, rindo como um idiota bêbado, fitando o... quantos copos ele já havia bebido mesmo? Magnus havia perdido as contas. Ele fez uma expressão emburrada. — Magnus, eu não tenho mesmo vida social. Aldertree sabe disso. Meu pai me dizia que minha vida profissional era importante e que, por eu ser gay, não seria nada fácil. Talvez nunca conseguisse. Eu nunca seria um homem completo, mas agora sou considerado um dos melhores criminalistas da cidade. — Ele riu novamente. — Não é legal?

Com isso, Alec passou a beber uma dose atrás da outra. Magnus estava começando a ficar inquieto. Era verdade que o rapaz de olhos azuis tinha uma expressão cansada, como se o mundo estivesse depositado em suas costas, mas que tipo de ser humano corria até uma boate em busca de acabar com a própria vida? Não era mais fácil se jogar na frente de um carro? Pular de um prédio?

Percebendo os pensamentos que estavam começando a rondar sua mente, Magnus reprimiu uma careta.

— Você é casado ou mantém algum relacionamento romântico?

Alec amassou o próprio cabelo. — Namoro a minha profissão e sou casado com a empresa em que trabalho. E, talvez, o meu carro seja o meu amante.

— Que vidinha desgraçada a sua — disse Magnus, mesmo pensando que não era o apropriado, não contendo a vontade de franzir o cenho em reprovação. — Você sabe fazer outra coisa além de trabalhar?

Alec balançou a cabeça de um lado para o outro, parecia estar atordoado com algo. O barulho, Magnus supôs em pensamento.

Eu não tenho mesmo vida social. Aldertree sabe disso. Bem, era verdade de qualquer forma, não era?

— Nunca pensei em fazer nada além disso.

— Não devia beber desse jeito — avisou Magnus, assinalando o copo cheio outra vez com o dedo. — Você vai entrar em coma alcoólico se continuar assim.

Ele aparentava ser jovem — entre 22 e 28 anos —, mas emanava preocupação, como se nada fosse tão fácil como aparentava ou deveria ser. Tinha cabelos negros, olhos azuis, uma altura bastante considerável e ombros largos. Magnus, por sua vez, tinha de admitir que o advogado criminalista era um homem bonito, de pele pálida e com uma pequena cicatriz em uma das sobrancelhas, mas carregava um pesar em sua aura desconhecida. Em meio ao barulho, a bebida e as pessoas dançando, o homem parecia terrivelmente deslocado.

Alec deu de ombros. — Esse é o meu objetivo. — Ele fez uma careta quando a bebida acabou em um único gole.

— Mais um! — gritou para Meliorn. Magnus reprimiu um revirar de olhos e o olhou com o cenho franzido, o verde-dourado iluminado com irritação. — O quê?

— Você realmente quer beber até esquecer o próprio nome?

Alec rolou os olhos. — Sempre foi essa a minha intenção. — Sua risada grogue teria feito Magnus rir em outra época, mas não agora. — E você, Magnus... O que você faz?

— Hum, barman? Isso. Acompanhante masculino nas horas vagas também — disse Magnus, pensativo, sem freios e sem se importar com o que estava falando. — Você sabe, termo mais elegante para garoto de programa. Inclusive, vim aqui ver se conseguia uma noite com você, mas agora tudo o que quero é ir embora. Ser um psicólogo gratuito não é a minha praia.

— Quê? — Alec quase se engasgou. — Acho que essa é a coisa mais absurda que ouvi hoje. E eu já ouvi muita coisa absurda hoje, acredite. — Ele sorriu um sorriso idiota, puxando a gravata com os dedos longos e calejados. — Transar com você seria ótimo, mas eu não tenho vida social e não posso fazer isso. Não que você não seja o pecado em pessoa, Magnus, não fique chateado, tudo bem? Eu adoraria ter a minha boca ocupada com o seu pê–

— Magnus — Meliorn interrompeu a revelação bombástica e indecente de Alec, e semicerrou os olhos de forma acusatória. Magnus deu de ombros. — Ou você tira ele do meu bar, ou eu vou tirar. Não mereço passar a noite em um trabalho caótico ouvindo um bêbado falando das suas partes íntimas, que realmente não me importam nem um pouco.

— Então é assim? — Magnus jogou as mãos para o alto. Meliorn o ignorou de propósito. — Você é uma criatura tenebrosa e insensível.

— Como o meu pai — balbuciou Alec. — Sabia que ele me disse que encontrar a mulher certa me faria perceber as coisas ao meu redor de uma forma diferente? — Ele riu outra vez, pairando o olhar sobre o copo vazio. — Eu sou gay, Magnus. Você me ouviu? Eu sou gay. Tipo, completamente gay. Totalmente gay. Muito obrigado, aliás, é bom sair do armário tantas vezes para compensar todos os anos escondendo da minha família.

Fez-se um instante de silêncio entre os dois. Ao redor, as pessoas ainda dançavam, jogavam os cabelos para todos os lados, bebiam sem pensar no amanhã e, é claro, corriam até os cantos para praticarem coisas impublicáveis.

— Vamos dançar, Magnus — a voz do advogado cortou o silêncio.

Sem mais nem menos, Alec lhe puxou para o meio da multidão, seus dedos frios tocando a cintura de Magnus e os olhos dele fitando-o com uma expressão indefinida. E, então, sorrindo sob as luzes de neon, Alec estava rodopiando o corpo de Magnus, puxando-o para junto de si.

— Eu acho que você geralmente não dança com pessoas que não possuem vida social — relatou Alec. Seu rosto estava tão perto que Magnus facilmente conseguia detectar o cheiro forte de álcool, a expressão perdida, e a respiração batendo contra sua face. Como se aquele não fosse o tipo de lugar que o advogado era acostumado a frequentar.

Magnus ficou imaginando a conformação de vida a qual Alec tinha fora do trabalho, mesmo sabendo que esse não era um assunto seu. Deveria ser excepcionalmente solitária.

— O meu pai esqueceu meu aniversário esse ano — Alec murmurou com uma risada contida e sem logicidade, depositando a cabeça no ombro de Magnus e apertando os braços envolta de sua cintura. — Você acha que ele ainda se importa? Ele vai achar ruim se eu começar a ter uma vida social?

Por um instante, abraçando-o com movimentos calmos no ritmo da música agitada, Magnus percebeu que Alec deveria ser realmente solitário; os olhos fechados buscando por paz interior e o corpo desnivelando. Ele não tinha motivos para permanecer dançando com Alec, não aqui e não agora e não quando o rapaz parecia tão afundado em uma crise emocional causada por coisas as quais sequer Magnus conhecia.

Mas ele decidiu que sua mania em se importar com as pessoas, embora fossem desconhecidas, era tão fácil quanto sua agilidade em entender como elas se comportavam.

O corpo de Alec pendendo em seus braços puxou a atenção depositada em seus pensamentos sem sua permissão, sua visão provavelmente ficou embaçada e Magnus achou que ele iria cair. Parou no mesmo instante de dançar, pegando o advogado pelo braço. Droga, ele já estava bêbado demais e Magnus quis praguejar, mas apenas grunhiu e saiu puxando Alec para o lado de fora.

Na frente da boate, o caos era evidente. Magnus, por sua vez, já estava muito acostumado para começar a pensar que tranquilidade era muito melhor.

Era difícil ir e vir até para alguém que estava sozinho, pior ainda era quando você estava carregando um homem grande e bêbado até um carro que, definitivamente, você não tinha a menor ideia de onde estava estacionado. Ele culpava o bom coração que herdara de sua mãe.

Alec tinha o corpo quase todo jogado em cima do seu e, aquele, era o tipo de fim de noite que Magnus nunca quisera. Não era como se a mãe natureza lhe oferecesse estima, no entanto.

Bufou, pedindo para que Alec, pelo menos, lhe dissesse onde seu automóvel estava estacionado. Mesmo aparentemente tonto, Alec tirou a chave do bolso da calça. O barulho do alarme soou não muito longe de onde eles estavam, fazendo com que Magnus agradecesse aos céus por não precisar caminhar tanto.

Pararam à frente de um Audi A3 vermelho que, normalmente, teria deixado Magnus de boca aberta, mas ele estava tão inerte ao pensamento de voltar para boate e nunca mais ter o azar de encontrar homens altos, bonitos, bêbados para ele cuidar, desesperadamente inclinado em não agir com seu coração, que nem ao menos importou-se um pouco sequer.

— Obrigado, você é muito gentil — disse Alec, quando Magnus o jogou de qualquer jeito no banco, quase esmagando seus dedos com a porta quando a fechou. — Não tão gentil, devo acrescentar.

Magnus quis xingá-lo, enquanto mastigava o chiclete de menta que havia colocado na boca. Seu coração poderia ser idiota, mas ele não era paciente.

— Magnus? — chamou Alec.

Magnus olhou feio para ele. — O que é, inferno? — disse, revirando os olhos, as sobrancelhas franzidas e os braços cruzados.

Alec apontou para o próprio corpo.

— Eu não consigo dirigir assim.

— Problema seu. — Aproximou-se da janela do carro e inclinou um pouco o corpo, agarrando o queixo de Alec com os dedos da mão direita. — Só cuidado para não morrer na estrada, bonitinho. — Tirou a mão do queixo do homem e apontou com o indicador. — Se manda!

Alec piscou e olhou para ele. — Você poderia me levar. Sabe? Minha casa. Ajudar o próximo. — Fez um gesto engraçado com as mãos. — Essa coisa toda.

Que grande droga, pensou. Aquilo soava como algo errado demais para alguém como Alec, um advogado criminalista, servidor da lei, alguém que aparentava nunca quebrar regras impostas em sua vida. Magnus considerou que ele tinha vários motivos para estar surtando com as próprias palavras, mas Alec estava apenas sorrindo como um idiota.

— Eu não faço nada de graça e você não vai me pagar — disse Magnus, balançando os dedos tatuados. — Portanto, ajudar você não está na minha lista de caridade. Aliás, eu não tenho uma.

— Você quer sexo — informou Alec, como se fosse a descoberta mais histórica que o mundo já descobrira. — Eu quero ir para casa. Dormir!

Batendo os pés duramente no chão, Magnus virou-se para voltar para boate sem dizer absolutamente nada. Tinha a expressão irritada e os braços doloridos, os cabelos estavam um pouco amassados e o estacionamento estava lotado. O barulho da buzina do carro de Alec soou pelo ar, alto e irritante, obrigando-o a olhar para trás.

— Magnus? — gritou Alec. Sua cabeça estava para fora da janela e o vento batia contra seus cabelos escuros. — Eu pago.

Quando Magnus entrou no veículo, pensando em que tipo de impulsividade demoníaca seu corpo havia recebido para fazer algo tão horrível assim, Alec já estava no banco carona com a pior postura possível. Ele girava a chave nos dedos e olhava para Magnus com a expressão de alguém tentando repreender uma criança teimosa. Tinha a respiração suave e a gravata estava um pouco frouxa, como se ele tivesse puxado em algum momento. Alec esticou bem seu pescoço para o lado, fazendo com que Magnus olhasse fundo em seus olhos azuis, suspirou e disse:

— Sem sexo.

Magnus tomou a chave da mão inquieta de Alec e começou a rir, seus olhos brilhando com a iluminação das ruas; o barulho da boate soando distante. Girou a chave na ignição e deu partida no carro, seguindo na direção do apartamento do advogado de acordo com o percurso que o GPS indicava.

Em algum lugar de sua mente, quase era possível visualizar a cena de um lugar alto; um advogado bêbado ao lado de alguém considerado um libertino modernizado, a cidade noturna, a fachada do clube e as luzes brilhantes atrás, acompanhando o veículo vermelho como no fim de um episódio em uma série de TV.

Não sou um obediente cego, não sou um seguidor

Se encaixe no molde, se encaixe no molde

Sente-se no hall de entrada, pegue seu número

Eu era um relâmpago antes do trovão

Thunder, Imagine Dragons. 

. . .

Notas.

Olá pessoal, bom, era para esse capítulo ser postado domingo, mas eu fiquei muito animada e acabei postando hoje. Por falar nisso, obrigada por betar isso @myfreitas_ , eu te love muito.

Eu queria agradecer a todos que votaram no domingo passado, sobre uma reescrita dessa história em questão. Gostaria de explicar que, por muito e muito tempo, meu desejo era reescrever Male Escort e mudar as coisas que precisavam de uma mudança no meu ponto de vista. Por quê? Bom, essa foi umas das minhas primeiras fanfics e ela é o meu neném, então eu acho que ela precisava de uma melhoria, para me fornecer liberdade no futuro dela. Para me tornar satisfeita com ela e no que eu queria que ela se tornasse. Então, é isso?

Gostaria de me desculpar também se uma reescrita da história deixará algumas pessoas decepcionadas comigo, mas, bem, acho que uma mudança é sempre bom, certo?

Espero que vocês tenham gostado desse capítulo, espero que vocês também gostem das mudanças que acontecerão ao longo do caminho e, mais uma vez, obrigada a todo mundo que permaneceu aqui pela história; os comentários, as risadas que vocês me fizeram rir e os elogios carinhosos. É um recomeço para o bem.

E atualizações? Toda Sexta e Terça Male Escort será atualizada, mas se, por um acaso, o dia chegar e não existir uma atualização, ela chegará no máximo no dia seguinte. Não se preocupem, meu comeback não vai falhar desta vez (quê?)

Se você quiser comentar qualquer coisa no twitter sobre a história, quotes ou opiniões online —um pouco roubando as ideias das gringas — marquem com a tag #MEfic ou me chamem no twitter (bycateyes). É isso, gente. Deixem a opinião de vocês aqui e obrigada por ler.

Leitores novos, sejam bem-vindos. Leitores antigos, sejam também bem-vindos novamente. 

Até a próxima atualização e beijinhos da Jess.


Continue Reading

You'll Also Like

888K 95.5K 53
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
418K 21.5K 91
𝑬𝒍𝒂 𝒑𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂 𝒆 𝒆𝒖 𝒇𝒂𝒗𝒆𝒍𝒂𝒅𝒐, 𝑨 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒙𝒐 𝒆 𝒆𝒖 𝒂 𝒄𝒂𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒆𝒏𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅𝒓𝒐...
746K 45.4K 144
Julia, uma menina que mora na barra acostumada a sempre ter as coisas do bom e do melhor se apaixonada por Ret, dono do morro da rocinha que sempre...
823K 63.1K 53
Daniel e Gabriel era o sonho de qualquer mulher com idealizações românticos. Ambos eram educados, bem financeiramente e extremamente bonitos, qualque...