Ceres - Agora o Inimigo é Out...

By erika_vilares

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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Os muros cinzentos que cercavam o castelo retinham a cruel realidad... More

Ceres - Agora o Inimigo é Outro
Messagem aos novos leitores
Prólogo
Capítulo Um Parte I
Capítulo Um Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete Parte I
Capítulo Sete Parte II
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Aviso
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete Parte I
Capítulo Vinte e Sete Parte II
Entrevista na Band
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Penúltimo
Último Capítulo - Parte I
Último Capítulo - Parte II
Notas da Autora
PRÉ VENDA

Capítulo Quatorze

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By erika_vilares

Capítulo Quatorze

Os cafés da manhã nas cortes reais eram nutridos de regalias, encontrava-se todos os tipos de pães, salgados ou doces, leite fermentado, variados queijos, diversas frutas, ovos e até mesmo bacon. No início, alimentações fartas eram, de fato, uma das coisas que mais lhe fazia falta na vida mansa que levava na nobreza e passar fome nunca lhe pareceu algo tão monstruoso quanto realmente já foi, mas hoje, seu apetite não era grande devido todas suas más experiências. Alicia Grimm já se sentia satisfeita de tomar seu chá com mel na parte da manhã enquanto trabalhava com as contas do seu próprio cabaré. Antigamente, abrir os olhos pela manhã e realizar onde estava era assustador, e sempre lhe ocorria a pergunta: onde estou, e o que aconteceu? O tempo lhe fez acostumar e agradecer por aquela nova chance, contudo, depois de tanto tempo, aquela pergunta surgiu após de seu despertar aquela manhã.

Sua mente parecia torturá-la em reviver cada memória da noite anterior e, encontrar tantos números embaralhados nos papiros fizera com que ela tombasse seu rosto em suas mãos suspirando fundo em lamentação a falta de concentração deixando seus cotovelos escorregarem lentamente sobre a papelada econômica. Ela tomou um tempo para respirar, consciente de que apenas ela poderia fazer aquele trabalho e por isso, não tinha escolha. Por diversas vezes Alicia imaginou como seria reencontrar outra vez aquele que mexeu como partiu seu coração, Thor Czeslaw. E no fundo, cedo ou tarde, sentia que um dia reencontraria Mia, mas isso não lhe deixou mais preparada para o que aconteceu ontem, face a face com ambos. Juntos. Mentira descaradamente, ela sabia disto.

Lembranças do passado lhe atordoaram no presente e isso lhe impediu de trabalhar. Um toque seco na porta lhe arrancou dos pensamentos e alguém entrou em seu escritório, Tina Lawson surgiu na sua vista assim que Alicia reergueu seu rosto, e o sorriso travesso nos lábios amarronzados da mestiça abriram ao vê-la sentada em sua mesa.

– Bom dia! Eu lhe trouxe chá com mel – ela anunciou adentrando a sala e sentando-se na mesa com intimidade. Juntas ergueram aquele lugar, Alicia entrou com montante enquanto Tina entrou com as prostitutas. Ambas se conheceram no buraco mais fundo de suas vidas e numa difícil batalha de confiança, estavam ali, firmes e fortes com seu negócio. – Achei que precisaria depois do que eu vi ontem à noite.

– Gentileza de sua parte – ela apanhou a outra xicara aproveitando a oportunidade de degustar outra vez o mel. – Fora uma noite e tanto.

– Ele era mesmo o príncipe que você me dissera? – Tina perguntara o que Alicia já esperava, ela assentiu bebericando o chá. – E a garota era...?

– Deuses – ela riu cruzando os braços como as pernas. – Acontece cada história neste lugar... – Alicia assentiu com um olhar pensativa. – E, eles já sabiam do...?

– Desconfiavam – ela respondeu depressa. – Mas a situação está sob controle.

– Eu sempre me pergunto se você realmente seguiu em frente Alicia.

– Eu estou aqui com você, não estou?

– Não se sua cabeça ainda está na corte. Eu me pergunto se você tivesse uma chance de abandonar este lugar...

– Eu não faria – ela apressou-se em dizer.

– Seus olhos não dizem a mesma coisa – Tina rebateu ríspida. – Levantamos este negócio juntas Alicia, você não pode abandonar o barco. Independentemente do que esteja fazendo.

– Eu já disse que não o farei, minha vida é aqui. Skyblower, Wanderwell, minha família, Thor e... Mia, eles são o passado que voltou para atormentar meu presente.

– Porque você procurou – asseverou perdendo a expressão levada do rosto. – Sem você, este lugar não vai para frente Alicia, e nós estamos de acordo com isso.

Os olhos escuros não pareceram estar satisfeitos com a resposta.

– Como foi ver Thor novamente? – Tina perguntou inexpressiva e Alicia hesitou. – Vamos, Ali. Eu também tive meus companheiros, eu estou lhe perguntando sinceramente.

– Não tão estranho quanto ver Mia – ela murmurou lembrando-se vividamente da cena. – Durante anos sustentei um ódio tão grande dela... Por tudo que eu perdi. E vê-la ali, diante a mim anos depois que eu me reergui, foi paralisante. Ela não mudou nada, tinha o mesmo olhar que eu sempre me lembrei. E esta nova mulher é minha futura rainha – ela torceu a boca pensativa e em seguida suspirou afastando sua mão de sua amante e organizando os papéis em cima da mesa. – Mas isso não tem mais importância, esta noite eu arranjarei uma maneira de que eles nos deixem em paz, não importa o que digam, eu negarei.

– Eu posso resolver isso para você.

– Não Tina – ela adiantou –, isto é algo que eu tenho que resolver.

Tina a observou atentamente recruzando os braços.

– Está bem, como você desejar. Sugiro também que tenha atenção com o homem que lhes acompanha, o outro bonitão com uma cara debochada.

– Sir Berbatov? – ela ainda se lembrava de seu nome.

– Sir – ela caçoou do título. – O maldito está realmente vivo...

– Vocês se conhecem?

– Ele não me conhece, mas eu o conheço... Este fora o maldito responsável pelas mortes e pela desgraça ao noroeste que eu lhe disse. Ele é caçado por aquelas áreas. Um mercenário que sempre teve tudo – ela disse com desgosto. – Então, tenha atenção com eles porque com tudo que me disse, nenhum deve valer nada.

Alicia olhou sua companheira e assentiu com um aceno, ela ainda não sabia o que diria a eles aquela noite, mas estava certa de que não deixaria ser passada para trás por nenhum dos três. Tina se levantou e inclinou-se sobre a mesa derrubando a cascada de caracóis da cabeça para frente. – Deixarei você trabalhar – com um sorriso, ela depositou um beijo nos lábios de Alicia e lhe deu as costas. A garota de cabelos escuros se dirigiu para seus aposentos e trajou roupas mais quentes preparada para sair do cabaré pelas portas do fundo. Ela seguiu pelas ruas barulhentas atravessando o mercado principal e encontrando o edifício de melhores condições para os viajantes no feudo. Haviam chances de que a realeza estivesse hospedada no castelo dos Valois, mas algo lhe dava certeza de que não estavam. Pelos atos dele na noite anterior, era mais do óbvio que não gostariam de serem reconhecidos.

Ela adentrou a taberna que se encontrava no térreo e sua visão panorâmica rodou o ambiente já conhecido, boêmios os quais ela já sabia os rostos décor a avistaram e fizeram barulho para chamá-la até as mesas, contudo Tina estava ali somente por uma razão.

– Robb, uma cerveja – ela dissera ao homem que servia o bar.

– Pretender pagar como? – ele rosnou como um cachorro raivoso. Revirando o olhar, ela jogou as cinco moedas de bronze no balcão e ele lhe serviu de cara feia. Ela virou-se de costas e encostou seu corpo no balcão, olhando novamente o lugar, e em uma das mesas do canto avistou o grupo que procurava. Ela apanhou sua caneca e seguiu até o fundo da taberna onde cinco pessoas discutiam após o café da manhã.

– Eu lembro de vocês – ela anunciou para eles espontaneamente ganhando o olhar de Ari, Anna, Elliot, Mia e Thor sentados à mesa. – Tenho certeza que os vira ontem à noite, vocês são os conhecidos de Alicia, não?

Amélia olhou atenta para ela, pensando que seu rosto era familiar e logo lembrou-se no momento que lhe vira no escritório de Alicia no final da noite. Ninguém dissera nada e ela continuou:

– Me chamo Tina Lawson. Eu trabalho no cabaré – disse sorridente.

– Lembro-me de você no escritório de Alicia – Thor respondeu.

– É uma surpresa que vocês ainda estejam aqui, ficarão para a festa na fogueira esta noite?

– Sim – Mia respondeu encostando seus braços na mesa. – Pretendemos encontrar Alicia lá, para conversarmos novamente.

– Ah, e vocês trazem notícias ruins? – ela perguntou num tom inocente e Amélia não entendeu sua tirada. – Quero dizer, ontem quando vocês partiram Alicia ficou completamente perturbada, acreditei que alguém de sua família tinha falecido, mas ela apenas me disse que estava com medo. Logo eu associei que, talvez vocês tivessem lhe dado más notícias.

Rapidamente os olhos de Mia cruzaram com o de Thor.

– Gostaria de sentar-se e tomar café da manhã? – Mia perguntou-lhe amigavelmente.

Ela sorriu e assentiu sentando-se a mesa com eles.

– O outro homem que estava com vocês partiu? – ela notou a falta de Berbatov.

– Ele ainda está dormindo – Anna respondeu retraída pela presença daquela mulher.

– Então, vocês duas trabalham há muito tempo juntas?

– Erguemos aquele lugar juntas, somos sócias. Conheci Alicia numa fase terrível da vida dela, ela carregava uma energia ruim, era rancorosa. Mas hoje é um amor de pessoa, ela cuida da parte administrativa do cabaré.

– Rancorosa? – Mia repetiu.

– Talvez eu tenha falado demais – ela disse. – Apenas quis dizer que, ela era infeliz. Mas ela encontrou uma maneira de seguir em frente.

Mia assentiu olhando agora desconfiada para Tina.

– E, ela é confiável? – Elliot perguntou sem ser discreto recebendo um olhar de desaprovação da irmã.

– Ora, ela é minha sócia, ela que administra todo o dinheiro – ela ri. – Porém, às vezes, eu acho que ela vive ainda muito no passado. Ela sempre relembra coisas da época a qual ela viveu na corte, talvez Alicia carregue uma dificuldade para esquecer seu passado.

– Ela não lhe dissera o motivo dela ter saído da corte?

– Ela me dissera que fora culpa de uma garota, filha de alguém importante, ela fora expulsa do castelo – ela notou o silêncio na mesa e os olhares trocados entre Mia e o príncipe. – Talvez, eu tenha falado demais, eu adoraria ficar, porém o cabaré é, de fato, um cabaré nas manhãs, necessita uma boa limpeza. Foi bom conversar com vocês, espero que eu lhes encontre mais tarde! – ela se levantou da mesa.

– Talvez sim – Amélia disse com um meio sorriso. – Tenha um bom dia.

E todos viram a meretriz partir pela porta principal, quando seu caminho se cruzou com aquele que entrava, Lucky Berbatov admirou a mulher de cima a baixo, embora ambos continuassem seus caminhos. Lucky se dirigiu até a mesa encontrando todos já acordados tão cedo.

– Então... Mandaremos prender Alicia? – Elliot quebrou o silêncio na mesa fitando brevemente Lucky que surgiu com indiferença no lugar, sentou-se ao lado de Amélia que não direcionou seu olhar nenhuma vez para ele. – Talvez seja uma prova suficiente, não?

– Pelo que? – ele perguntou avistando a caneca cheia de cerveja que Tina deixara para trás, ele fez um gesto para Thor e o príncipe assentiu com um aceno, permitindo que Lucky apanhasse o copo e desse um grande gole na bebida.

– Uma das meretrizes dela viera aqui, talvez esperando jogar verde conosco – Thor respondeu ajeitando seus braços na mesa.

– O que ela disse?

– Tentou discretamente culpar sua chefe, apenas não consegui notar se suas palavras em verdadeiras ou meramente propositais. Quis demonstrar algum tipo de desdém de Alicia por Mia.

– O que não seria mentira – ele caçoou reparando rapidamente a maneira como Mia não lhe direcionou nenhuma palavra.

– Isso é claro, porém... Por algum motivo acho que ela quis culpá-la de alguma maneira. Temos até essa noite para descobrir.

– Você quer que eu faça o trabalho sujo? – ele perguntou com motejo e Thor arqueou as sobrancelhas. – Seduzir a cafetina e mostrar meu desdém por vocês – continuou ele no mesmo tom apreciando a cerveja gelada. – Talvez ela confie em mim.

– E eu poderia conversar com esta mulher novamente – Thor pensou num murmúrio. – Talvez Tina nos revele a verdade. O que você acha Mia?

– Talvez funcione.

– E o que nós fazemos? – Elliot pergunta.

– Vocês aproveitarão a festa – Thor respondeu. – Para que elas acreditem que nada está fora do normal.

+++

Após terem ido devolver os trajes usados na última noite no cabaré para a ruiva que Savannah conhecera e as ajudara se disfarçar para talvez uma das noites mais estranhas de suas vidas, ela e Emily andavam em meio ao clamor do mercado central no chão de terra voltando para a estalagem onde se hospedaram. A movimentação era agitada como qualquer centro comercial barracas, lojas e pequenos edifícios se encontravam por todo o fluxo de vai e volta dos habitantes, a poeira feita pela terra impregnava o ar. Ao fundo no final de todo o feudo, Savannah pôde ver a silhueta do pequeno castelo que pertencia ao senhor daquele feudo.

– Comprarei tâmaras – Emily anunciou –, aceita?

– Não. Talvez eu veja se por aqui, eu poderia encontrar um ferreiro para minha espada – Emily assentiu e lhe deu as costas indo até a barraca mais próximas onde um vendedor apresentava suas frutas aos gritos. Atravessando até o outro lado da rua, algo chamou-lhe a atenção apenas pela rápida energia que Emily pode sentir ao estar perto de um objeto em especial. Ela rodopiou seu olhar e ele encontrou uma boneca de pano sobre uma mesa misturado com parafernálias.

Subitamente Emily sentiu como se voltasse no tempo, ela se viu mais jovem correndo nos campos de primavera do Clã das Bruxas com Ludmila enquanto Soraya andava bufando atrás delas. "Será que vocês poderiam parar de serem crianças?" ela gritou.

"Precisamos nos apressar se queremos voltar logo!'' Ludmila na frente de todas gritou de volta saltando em suas longas pernas enquanto em uma de suas mãos ela levava uma boneca infantil para sua idade.

"Vamos Soraya'' Emily disse sorrindo-lhe "falta pouco!".

"Ela se acha madura demais para correr!'' Ludmila respondeu. E ela era, Soraya era dez anos mais velha que Emily e quatorze a mais que Ludmila, por isso ela sempre se tomou como irmã mais velhas delas, todas haviam crescido juntas no clã, sempre unidas por um laço inseparável de serem de famílias originais das primeiras Bruxas.

Soraya bufou e alcançou as garotas no topo da colina, seu mal humor tomava espaço pelo cansaço e pela irritação constante de seu nariz com o cheiro das flores vivas da primavera. As três se ajeitaram na grama e colocaram a boneca pano de costuras delicadas no centro do círculo delas.

"O que pretende fazer com isso?'' Soraya perguntou para Ludmila, a mais novas das três tinha um sorriso travesso nos lábios.

"Transfusão de magia'' ela sussurrou pegando as duas de surpresa.

– Aonde você conseguira isso? – Emily perguntou quase num tom rude surpreendendo o vendedor que olhava em volta em busca de clientes.

– Fora eu que fabriquei senhora – ele respondeu ríspido.

– Não. Não fora – disse-lhe ainda menos paciente. – Aonde você conseguiu esta boneca? Ao sudoeste? Por acaso roubara de alguém?

– Eu encontrei essa boneca ao sudoeste E a dei para minha filha! A praga lhe tomou de mim há meses. Eu apenas quero me livrar desta boneca. Pagará por ela ou não?

Emily encarou outra vez o pano encardido da pequena boneca sorridente, mas hoje parecia tão melancólica. Ela estendeu a moeda de prata mesmo que valesse uma de bronze, apanhou o brinquedo e desapareceu na multidão.

Na rua seguinte, Savannah caminhava atenta em cada pessoa, um costume que ela ganhara depois de se mudar para Skyblower. Observava e analisava todas as pessoas que cruzavam seu caminho, agora as pessoas também a olhavam, ela não era mais invisível aos olhos dos outros, seriam pelas suas roupas mais dispendiosas, sua espada ou por sua aparência, mas agora Savannah não se sentia um fantasma na multidão. Ela avistou um portão com barras de ferro escuro e encardido, adentrou o âmbito escuro pela passagem principal da rua. Lá dentro o lugar era mais escuro, sensivelmente quente e abafado, logo Savannah notou o único homem no fundo da sala um homem trabalhava diante as chamas, grossas luvas de pele de boi moldavam suas mãos, que arrancaram o cabo da espada do fogo com cautela. Ele virou-se em direção a Savannah e notou sua presença com o aço quente na mão, toda a lamina recém-criada ardia na tonalidade vermelha brilhante, Savannah pode sentir seu calor mesmo estando longe do local de trabalho dele.

Vendo-a, o ferreiro pousou a arma num caldeirão de água criando toda uma fumaça no ar. Savannah pôde notar a chegada de outro alguém na ferraria por cima do ombro, mas não deu-lhe atenção logo que viu o ferreiro lhe encarando.

– Eu preciso amolar minha espada – ela dissera. Ele se aproximou arrancando as luvas, um homem de olhos grandes e carrancudos num rosto completamente redondo.

– Para hoje? – o ferreiro perguntou, entretanto não esperou pela resposta desviando seu olhar para o homem que chegara logo depois de sua cliente. – Está pronto. Desejará algo mais? – disse apanhando um pano encardido no balcão e limpando o suor do rosto.

– Agradeço pelo serviço – o desconhecido disse com uma breve atenção em Savannah enquanto ele entregava ao ferreiro a outra metade do dinheiro por seu trabalho, ela curiosa deixava seu olhar rodar pela ferraria vendo as coisas mais estranhas dali de dentro, escudos, cotas de malhas, elmos e objetos metálicos não identificados. – Meu único pedido seria saber se você tem conhecimento de onde eu poderia encontrar o xerife deste feudo.

– Qual seria o assunto? – o ferreiro alcançou um velho palito de dente e colocou na boca se apoiando no balcão. – O xerife não é do tipo que trabalha.

– Um desaparecimento – o desconhecido respondeu-lhe. – Estou à procura de meu irmãozinho.

A palavra irmão atraiu Savannah para sua conversa num passe de mágica, fraternidade era tudo para ela. Ela olhou diretamente para o desconhecido que falava com o ferreiro e ambos olhares se cruzaram como ele esperasse sua atenção. Era um homem esguio, via-se uma pele pálida que parecia ter algum tempo que não era reaquecida pelo sol abaixo da grossa lã negra. Ele tinha cabelos escuros como o próprio ébano que iam até seu pescoço. Seus traços eram suavemente angulosos, e seu rosto longo como de um cavalo. Mas era esbelto e parecia ter presença, uma confiança no olhar. Os olhos escuros fitavam Savannah e depois o ferreiro.

– Uma rua a esquerda em direção ao castelo Valois, você encontrará a instalação do xerife – ele respondera voltando-se para trás e apanhando a espada que ficara de molho, quando ele ergueu a lamina mostrou sua claridade, o metal brilhava como diamante, e o ferreiro lhe entregou o produto.

– Divina. Belo trabalho – ele embainhou sua nova espada e lançou um outro olhar rápido para Savannah e depois acena para o outro homem. – Procurarei o xerife.

– Lhe desejo boa sorte – o ferreiro disse.

– Ele era jovem? – Savannah ousou perguntar tomando sua atenção, mas continuou num tom mais baixo. – Seu irmão?

– O suficiente para não saber se cuidar. Já fazem alguns anos.

– O que?

– Meu irmão está desaparecido há alguns anos – ela engoliu seco, imaginando numa hipótese de perder Anna do seu lado, ela jovem e sozinha por aí.

– Eu sinto muito por isso.

O homem deu um meio sorriso com os lábios cerrado e acenou com sua cabeça lhe dando as costas.

Assim que o crepúsculo caiu, as chamas consumiram lentamente a pilha de toras de madeira silvestre bem estruturada pelos próprios moradores em quase dois metros. À medida que as labaredas subiam todo o centro do feudo Valois foi iluminado, haviam montado até mesmo um pequeno palco onde faziam as apresentações. Famílias e crianças começaram a aparecer aos poucos até o negro tomar espaço em todo o céu ordenado por poucas estrelas e uma lua nova. O centro da vila estava movimentado.

Shows. Música. Cerveja.

E apesar da movimentação, Thor localizou com facilidade a meretriz que vira mais cedo, ela estava junto de outras companheiras de trabalho aos arredores da grande fogueira conversando como um bando de gralhas, chamando a atenção de todos os homens em volta e ganhando olhares feios das mulheres. Assim que os olhos escuros dela se encontraram com os azuis, Tina saiu discretamente dentre as garotas e o seguiu como um gato atrás de sua presa até o balcão de madeira que separava os barris empilhados uns em cima do outro abastecendo a bebedeira de toda a noite.

Thor sabia que ela o seguia e no momento em que se apoiou no balcão pedindo uma cerveja, jogou um olhar travesso por cima do ombro encontrando Tina Lawson.

– Esperava vê-lo aqui príncipe.

– Não está com sua sócia?

– Eu e ela não ficamos vinte e quatro horas juntas – ela balançou a cabeça fazendo os caracóis sacudirem. – Mas, ela virá se é isso que você está querendo saber.

– Imagino que Alicia lhe disse todos os detalhes do seu passado – Thor recebeu sua cerveja e fitou-lhe com atenção.

– Com honras – ela apanhou o caneco e tomou um gole. – Me disse como você partiu seu coração de todas as maneiras possíveis. – Ele jogou um olhar soslaio em volta por segundos desconfortável pelo assunto, mas estava certo de que precisava continuar o jogo. – Quem lhe olhasse diria que você carrega remorso pelo duro destino que somente Alicia arcou, no entanto apareceu aqui com sua atual companheira...

– Não foi algo planejado – rebateu.

– Ah, não? Então vocês não vieram atrás de Alicia? Descobrir o porquê ela espiona o castelo da nossa futura rainha? E ver o quanto ela odeia sua futura majestade por ter estragado toda sua vida?

Thor mantéu os seguintes segundos em silêncio enquanto observou atentamente a meretriz, sentindo já ter sua resposta em mãos.

– Eu poderia lhe perguntar uma coisa?

– Eu sou um livro aberto – respondeu-lhe com um sorriso.

– Está fazendo isso porque quer que se livrar dela? Ou na verdade é um jogo inverso? Tem medo de perdê-la e por isso quer acabar com qualquer indício de sua sócia voltar a fazer parte da realeza lhe abandonando? – o sorriso por segundos vacilou e Tina precisou ajeitar seu peso sobre as pernas, uma resposta não surgiu e Thor continuou: – Alicia sempre confiou nas pessoas – revelou. – Não tenho dúvidas que ela lhe contara tudo que aconteceu e o porquê nós todos estávamos lá e você está jogando com isso, mas de qual lado? – Thor desencostou-se do balcão pondo-se direito, não surpreendentemente ele era maior que ela, mas Tina Lawson era uma mulher esguia, de longas pernas negras e cabelos volumosos enrolados. E pela primeira vez ele viu que a confiança que ela moldava em sua presença lhe abandonado.

– Talvez nós tenhamos um mal entendido ... – ela disse com forçado sorriso. – E talvez essa seja a hora de ir.

Quando ela pensou em lhe dar as costas, Thor contornou seu pulso com a mão firme.

– Tem medo de ficar sozinha – arriscou ele e ela o encarou pela primeira vez vulnerável. – Todos temos.

Ela desviou o olhar envergonhada e rangeu os dentes.

– Agora que estamos começando a nos entender melhor, podemos fazer um combinado. Você fornece minhas respostas e eu não lhe entrego para sua sócia, o que me diz?

Após Savannah buscar sua espada com o ferreiro, ela partia em direção ao centro da vila agitada onde havia deixado sua irmã com Emily e Elliot. Virando a esquina, ela avistou o mesmo homem que vira mais cedo na ferraria, cujo o irmão havia desaparecido. Ele saia de um pequeno edifício junto de um homem roliço, por mera dedução ela julgou ser o xerife que ele procurava, os dois apertaram as mãos e cada um seguiu para um lado diferente. Ela olhou a praça principal a dez metros à sua direita, onde a grande fogueira brilhava. De nada faria hoje, ironicamente apenas Thor e Lucky tinham uma missão e a colocavam em prática naquele momento. Por que não faria isso? Mesmo a resposta sendo "porque isso não é da sua conta", ela se viu andando na direção do homem misterioso.

A distância que os separavam era longa, mas Savannah viu a sorte lhe ajudando quando ele parou em frente uma barraca de comida.

– O xerife foi-lhe útil? – ela começou ao encostar-se sobre o balcão. Mesmo com a luz fraca, ele não pareceu ter dificuldades para reconhecê-la quando os olhos escuros caíram sobre ela.

– O ferreiro bem me avisou que ele não gostava de trabalhar – ele batucou suas mãos no balcão, a vendedora veio até eles. Ele pediu uma salchicha grelhada no salpicão oferecendo uma a Savannah que recusou, salchicha era uma das coisas mais baratas e mais fáceis de roubar, por isso ela e sua irmã comiam salchicas por longas semanas. Apenas de sentir o cheiro podia sentir-se enjoada.

– Eu sinto muito por isso.

– Você já disse isso – ele respondeu neutro.

– Eu sei. É que, eu apenas não conseguiria imaginar algo parecido. Minha irmã mais nova é tudo que tenho, eu daria minha vida por ela sem pensar duas vezes – era por este motivo que ela estava ali, senão, por que ela teria coragem de falar com um homem atraente que ela não conhecia? – Como ele desapareceu, seu irmãozinho?

– Num incêndio – ele respondeu frio com os olhos fixos na madeira do balcão. – Há quase sete anos.

O queixo dela caiu. Haveria algo positivo para lhe dizer?

– E... Você acha que ele está...

– Vivo?... Não. Infelizmente não. Mas já fazem tantos anos que, hoje, restou apenas a dor e a sede vingança por tudo que aconteceu.

Savannah sentiu-se confusa. O irmão dele havia desaparecido há sete anos. E ele não acreditava que ele estivesse vivo, então o que exatamente procurava? Vingança, a voz na sua cabeça respondeu. A salchicha grelhava no salpicão pousou-se no balcão e o cheiro forte da gordura subiu, o homem pagou a cozinheira e lhe fitou com um meio sorriso vendo sua expressão confusa. Ele lhe estendeu a mão.

– Me chamo Jared Crawford, e eu procuro pelo assassino do meu irmão mais novo que ainda está solto por aí.

Lucky Berbatov andava entre as espaçosas distâncias das árvores, ali era o único rastro de natureza que se encontrava dentro dos muros daquele feudo, e foram ali onde ergueram os jogos para as crianças. Tiro ao alvo, pesca no lago, batalhas com espadas de madeiras, show de fantoches. Ele se perguntou o porquê teriam escolhido aquele lugar para o espaço de lazer das crianças, as esguias árvores com o ar da noite deixavam o lugar sombrio, e a única fonte de luz era a outra fogueira de porte médio onde os jovens estavam acendendo suas candeias de barro para esquentar a palha a qual preencheria a marionete que criavam. Mas isso não pareciam incomodá-las, estavam entretidas com tantas distrações, claramente todos os tipos de diversões infantis juntas era algo mais que raro para elas.

– Não é desta maneira que esperava ver uma cafetina durante uma Festa da Fogueira – ele dissera a Alicia que encontrava-se apoiada numa baia de madeira onde amarravam cavalos próxima da fogueira observando as crianças com um meio sorriso nos lábios. Ela não estava naquele mundo até Lucky surgir ao seu lado, lhe estendendo um caneco de cerveja.

– Esperava por um de vocês – ela respondeu-lhe lançando um rápido olhar medidor para ele de cima a baixo, o que fez Lucky sorrir. Em seguida aceitou a cerveja. – Mas, confesso que você era a última pessoa que imaginei vir a minha procura.

– Pois, devia ter me imaginado primeiro. Garanto que seus pensamentos seriam mais divertidos – disse com motejo e ela soltou um breve e rápido riso abafado.

– Onde está Thor? Ou Amélia?

– Estão ainda na parte disse-me-disse chato deles. Ex é sempre uma fagulha em relacionamentos – ele caçoou sentando-se ao seu lado.

– Eles estão brigando por mim?

– Por que a surpresa? – perguntou observando sua reação e Alicia pensativa, não se deu o trabalho de responder.

– E a quem você serve?

– Sirvo a mim mesmo – disse orgulhoso.

– É mesmo um cavaleiro sir Berbatov?

– No meu tempo vago, sim, quando eu quero. É uma das minhas especialidades...

– Mentir? – ela perguntou não escondendo seu divertimento.

– Atuar – ele corrigiu com um olhar malicioso por cima do ombro enquanto equilibrava seu peso em suas mãos apoiadas na extensão da madeira.

– É tão atrevido que eu não saberia dizer se os seus motejos serviriam de cortesias sir Berbatov.

– Se eles estão funcionando, eu poderia dizer que sim – dissera com um sorriso torto. Ela deu outro risinho e direcionou seu olhar para as crianças preenchendo a marionete com palha queimada. Ela não sabia ao certo porque estavam fazendo aquilo, mas ela sabia que o cheiro forte de palha queimada junto ao barro do chão já começara lhe incomodar. – Gosta de crianças?

– Muito – ela respondeu com um meio sorriso. – Sempre quis ter filhos.

– Você não parece ser do tipo de mulher que se importaria por ser uma mãe solteira...

– Hoje não mais. Entretanto, eu me importaria com a opinião do meu filho em ter de crescer numa sociedade onde sua mãe fosse uma cafetina... Uma família não parece ser uma opção acessível para alguém com um trabalho igual ao meu.

– Se você estivesse feliz, nada mais importaria. O resto é resto – Lucky disse cruzando os braços.

– Segue uma boa ideologia sir Berbatov, mas não me parece alguém que tenha uma família. Sem querer ofendê-lo, claro.

– Não ofendeu – ele balançou a cabeça. – Mas ter novamente uma família não é algo que está nos meus planos. É algo que exige muito trabalho e paciência, é algo que me limitaria e não é algo que eu gostaria.

– Você ainda não encontrou a pessoa certa – Alicia rebateu mais à vontade.

– Você acha? – ele arqueou uma sobrancelha erguendo suas costas e tendo sua força em suas pernas que o equilibravam.

– É isso que o amor faz Lucky – ele fixou seus olhos nas chamas dançando com o vento de uma maneira hipnotizante –, ele nos muda.

– Talvez eu seja incapaz de amar novamente... O amor apenas é honesto e bonito nas canções, nas poesias e na literatura. A realidade é diferente. Ele deixa feridas que você carrega por toda sua vida.

– Eu gostaria tanto de dizer que você está errado – ela suspirou. – Mas a verdade é que talvez no fundo eu sabia disso e não queira admitir.

– Um brinde aos males de amores passados – Berbatov ergueu seu caneco com uma expressão serena, no momento o qual ela ergueu seu caneco ele soube que estava no controle. Ambos beberam e ele não desviou seu olhar dela, e Alicia notou.

Os dois continuaram a conversar durante um bom tempo que lhes rendeu mais cervejas, Alicia já estava mais segura e humorística ao lado de Lucky. – Ironia, não é mesmo? – ela murmurou. – Eu fui humilhada no meu próprio ramo por uma princesa.

– Eu achei você mais atraente lá em cima – ele resmungou.

– Eu vi o jeito que você olhou para ela – ela semicerrou os olhos.

– Eu apenas... Apenas estive surpreso.

– Desde que éramos pequenas, eu e ela competíamos em exatamente tudo. Mia nem sempre ganhava, mas ironicamente sempre que o fazia era nas coisas mais importante, ou aquilo que parecia importante.

– Essas brigas normalmente acontecem entre os irmãos.

– É porquê você não é uma garota – respondeu com uma careta. – Nós competimos entre nós o tempo todo.

– E ainda dizem que os homens são violentos.

– É... Dizem... A questão é que, parece que ela sempre terá que tirar algo de mim. Começaram nas brincadeiras de crianças, logo veio minha separação com Thor que também veio ligada indiretamente à ela e mesmo agora que eu segui em frente com minha vida, meu próprio negócio, ela chegou aqui e mostrou que além de princesa, ela faz demasiada danças sensuais para uma vida toda certinha.

– Realmente seguiu com sua vida, Alicia?

– Eu sou a dona de um cabaré, não sou? Durante um bom tempo Lucky, eu guardei um ressentimento horrível da minha futura rainha. Era como se eu quisesse culpar alguém por todos acontecimentos ruins da minha vida e esse alguém era Mia – ela ergueu o olhar encontrando os olhos curiosos dele. – Mas, com o tempo, eu percebi que esse ódio não me movia a lugar algum.

– Eu me apaixonei por Thor, é verdade. E perdi tudo quando seu pai me separou dele, quando meu casamento fora negado por eu não ser mais "pura", minha família virou as costas para mim. Com o dinheiro que me restara, encontrei meu ganha pão e mesmo que seja mal vista aos olhos de todas as mulheres deste feudo, eu me orgulho disso. Sou dona do meu nariz e de minhas contas. E apesar de ter sido humilhada no meu próprio negócio, Mia e homem nenhum mudará isso!

Apenas quando ela terminou sua fala, ela pode notar os olhos misteriosos dele sobre ela. Alicia sentiu um arrepio que há muito tempo não sentia ao lado de um homem e de repente ruborizou, cobrindo o próprio rosto.

– Pelos deuses – ela ri. – Eu estou contanto isso tudo a você e nós nem ao menos nos conhecemos. O que aconteceu? Minhas meninas não lhe agradaram o suficiente para você estar aqui tendo tanta diversão neste lugar?

– Na verdade, eu estava pensando como se aproximar da cafetina. Afinal, é um desafio bem maior quando ela está o tempo todo trabalhando... – Alicia sustentou o sorriso em seus lábios.

– Seu charme é tentador, Berbatov – sussurrou. – Mas, de nada haverá entre nós dois esta noite – ela pensou em Tina no mesmo momento.

Ele tombou a cabeça com um sorriso travesso.

– Então vamos continuar conversando até que mude de ideia – disse seguro de si.

– Eu menti para Thor e para Mia – ela lhe segredou. – E eu sei que talvez corra o risco que você lhes conte isso...

– Não irei – Lucky afirmou. – Não há o porquê fazer isso.

Ela olhou em seus olhos e isso lhe passou mais confiança.

– Eu estava preparada para mentir ainda mais esta noite, porque eu estou demasiada envergonhada por meus atos – Alicia abaixou o olhar. – Disse e repeti por vezes que eu seguira em frente com minha vida... Mas, aqui estava eu mandando minhas meninas arrancarem informações de seus clientes sobre Skyblower. Qualquer coisa que relacionassem Thor ou Mia. Quando encontrei com ambos eu... Eu entrei em desespero e tudo que pode fazer foi negar de todas as maneiras qualquer acusação.

Alicia ergueu seu olhar encontrando os olhos de Lucky.

– Eu não sei se você entenderia, mas foi como se eu quisesse superar meu passado, e num vício, eu procurava ficar nele...

– E você se sente presa numa prisão de aço, mesmo acreditando que seguiu em frente... – ele completou e Alicia impressionada com sua compreensão, assentiu.

– Eu mudei muito. Não sou nem de longe a mesma garota que foi expulsa de sua família no passado, mas eu ainda procurei por saber de Amélia e Thor porque eu queria saber se eu pude mesmo continuar, e hoje eu posso ver que sim... Hoje eu posso ver que eu amadureci.

Lucky sorriu-lhe, arrumando cuidadosamente a mecha de seu cabelo atrás de sua orelha.

– Eu acho que nós estamos começando a nos entender.

Os estandartes de Skyblower estampados nas bandeiras penduradas acima de sua cabeça eram rebatidos pelo vento. Isso apenas fez Amélia pensar que ela deveria estar tomando mais cuidado do que estava, exposta ali, no feudo. Ela junto de Ari e Louis aproveitara realmente a Festa de Fogueira, Mia de algum modo estranho, deixou verdadeiramente Thor e Lucky cuidarem da missão, isso às vezes lhe invadia a mente e ela tentou por vezes abandonar o pensamento para aproveitar à noite. É como se o passado quisesse nos destruir no presente colocando todos aqueles que um dia conhecemos como suspeitos em nossas vidas. E era. Violetta, Nicolas e agora Alicia. Ela não queria desta vez se intrometer nisso, talvez por falta de força de vontade, mas Amélia tomara sua decisão.

Por isso, ela passou sua noite com aqueles que eram o sinônimo de diversão. Sua barriga doía de tantas gargalhadas por todas as horas juntas de Ari e Louis na Festa da Fogueira, eles foram perseguidos por gansos de cativeiro quando Ari arrancou a pena de um deles por uma aposta, expulsos de uma taberna por Louis ter jogado sujo no baralho e até mesmo ganhado uma boa quantia de prata por jogos de sorte e antes de saírem, Amélia havia confundido a saída e encontrou com a parede de cara. O trio agora comia os espetos de carne assada com cebola nas pedras quentes, os espetinhos pingavam gordura e eram gigantes, Mia não estava nem na metade do primeiro enquanto Ari encontrava-se no terceiro e Louis no quarto. Eles assustaram seus vizinhos aos arredores de maneira que, apenas encontravam-se os três sentados sobre a mesa de madeira naquele espaço.

Louis soltou um arroto tão alto que era impressionante para alguém do seu tamanho, Ari engasgou com sua carne e caiu na risada assim como Mia, que mesmo sentindo-se cansada de rir, não pode evitar outra gargalhada, ela nem se lembrava qual tivera sido a última vez antes desta noite que havia rido assim. Mia gostava sinceramente deles, os únicos que foram capazes de fazê-la por vezes os problemas.

Ela tomou um gole do seu vinho doce para ajudar a carne borrachuda descer sem que nada voltasse sem o seu consentimento, e nesse momento, seu olhar alcançou uma imagem que não esperava ver entre as esguias árvores que enfeitavam o fundo. Onde as crianças brincavam. Mesmo sob o efeito do álcool, ele pode ver claramente Lucky e Alicia.

Mia engoliu o vinho com esforços fitando fixamente os dois.

Eles estavam há algum tempo perto deles, Lucky ou Alicia teriam percebido a presença dos três ali? Uma voz na sua cabeça respondeu que não. Ela tivera que admitir que ambos pareciam envolvidos na conversa deles. Já estava claro que Berbatov conseguira atrair sua atenção, no entanto... no entanto ele também parecia ter sua atenção atraída por ela.

Ele está jogando, Mia disse para si mesma, porque é isso que ele faz. Ele joga com as pessoas. Ela mordeu seu lábio inferior lembrando da conversa que ela ouvira dele com Louis, onde ele se recusou a dizer que lhe amava.

Então, o que Lucky estava fazendo todo esse tempo? Um teatro?

– Você tem razão. Fui embora por não aturar a verdade! Porque mais irritante que você seja, eu gosto de você, Amélia! Porque todas essas pessoas estavam certas! Eu realmente sinto algo por você e por mais que eu tentasse dizer que me convencer do contrário essa é a verdade! ...

– Você quer que eu acredite que sente algo por mim?

– Apenas não se atreva a dizer que eu não me importo com você. Eu prometi ficar ao seu lado agora independentemente de você querer ou não minha ajuda. Então pare de fazer a suicida porque eu lhe manterei viva você querendo ou não! ...

Gostar não é amar. A voz na sua cabeça lhe sussurrou, ela sabia disso. Mas, seu ato no final do verão, trazer Thor de volta correndo o risco dela odiá-lo para sempre apenas para lhe proteger, por um momento Mia acreditou que... Isso não importa, disse alto em seu pensamento, porque na hora da verdade, ele fora incapaz de responder à pergunta de Louis. Ela sentia-se uma idiota porque ela mesma acreditou nele e nos supostos sentimentos dele por ela. Sentia-se uma patética como uma vez Lucky mesmo lhe disse porque ainda recusava-se acreditar que ele lhe abandonaria quando conseguisse o que procurava...

O que Lucky Berbatov procurava? Algo que seria capaz de trair a confiança dela que ele conquistou?

Mia viu ele tirar uma mecha loira do rosto de Alicia e colocá-la atrás da orelha dela enquanto eles se olhavam intensamente.

– É sua vez Mia – Ari anunciou lhe assustando-a, Mia fitou ele rapidamente e Ari mostrou seu desenho de palito de espetos sobre a mesa que eles estavam sentados, forca, era sua vez. Ela sorriu mostrando-se interessada, contudo ela não evitou olhar novamente para os dois ao fundo. Ari estava entretido demais para notar sua falta de atenção, mas Louis, Louis Legrand observou tudo do começo ao fim.

+++

No início da alvorada, o céu tomou um tom âmbar gratificante para os olhos dos moradores, todos admiravam o céu com um largo sorriso no final da festa, de fato, era uma surpresa uma manhã como aquela na época de outono. A fogueira estava acesa pela metade resistindo a falta de abastecimento de toras. Lucky caminhava atento, olhava todos os homens que se encontravam desmaiados pelo chão graças a bebedeira, talvez encontrasse um de seus amigos, porém por todo o caminho não vira nem um deles. Já perto da porta da taberna que o levaria para a estalagem, seu olhar alcançou um grande homem, de costas, conversando com um grupo do outro lado da fogueira. Aquele era Thor, ele falava com o grupo inteiro até mesmo Ari, mas Louis não estava lá. Ele já está velho, Lucky rezingou, deveria estar dormindo.

Ele imaginou que provavelmente, todos eles estavam à sua espera, à espera de novas notícias sobre sua "missão" com Alicia. Eles deviam estar ansiosos. Entretanto, tudo que Lucky fez foi lhes dar as costas e entrar para a taberna.

Todas as cadeiras estavam bagunçadas, algumas até caídas, e as mesas sujas. Um servente limpava o balcão ao fundo e ignorou sua chegada. Lucky seguiu para as escadas em direção ao seu quarto, chegando no corredor se dirigiu à sala de banho comunitária, tudo que desejava era jogar água fria no rosto antes que se jogasse na cama para dormir. Ao adentrar o ambiente frio moldado por azulejos encardidos, sentiu o ar perfumado por odores de plantas silvestres, talvez para esconder algum mal cheiro do espaço de banho público. As salas de banho eram do outro lado do salão, atravessando o segundo arco. Ali havia apenas um espaço oval, decorado por plantas e uma grande fonte de mármore desgastada pelo tempo, ela ficava no centro, talvez para aqueles que não quisessem se banhar.

O ar úmido tocou-lhe a pele ao atravessar o primeiro arco, mas o que tomou sua atenção foram os fios escuros e encaracolados que invadiram sua visão. Amélia estava ali, ele não tinha dúvidas mesmo vendo-a de costas, sentada na beirada da fonte limpando o suor do corpo com um pano úmido. A iluminação das duas janelas na parede não era suficiente para não deixar o ambiente escuro, porém Mia deixou ao seu pé um lampião aceso que a iluminava, assim quando os olhos dele caíram sobre ela Lucky pode ver o decote do espartilho mais aberto do que o comum, automaticamente tendo uma visão mais amplas do que ele já tivera para seus seios, o que o fez contrair seu corpo mesmo sem ver nada mais íntimo. Ele não teve tempo de dizer nada antes que ela notasse sua presença, rapidamente ela apertou suas mãos contra o peito e soltou um suspiro surpresa. Lucky umedeceu os lábios e não evitou soltar um risinho enquanto ela levantou-se e apertou as cordas outra vez com agilidade. Ele logo pensou que apenas teria aquela agilidade para arrancá-lo.

Mesmo sabendo que ela talvez estivesse constrangida, ele não evitou fitá-la ainda de costas, a princesa usava algo completamente desigual aos trajes formais do castelo, uma calça de coro verde-musgo assim como seu espartilho, de longe notava-se o tecido dispendioso, no entanto, o pano branco que vestia por baixo dele agora era encardido. As roupas destacavam suas curvas, e o espartilho sem dúvida faziam seus seios ficarem mais fartos e essa ainda a imagem que Lucky estava na cabeça enquanto media seu corpo.

– Você podia ao menos ser mais discreto – ela soprou dando o último laço em sua veste.

– Não é todo dia que encontra-se uma princesa se refrescando numa fonte – respondeu-lhe ainda rindo baixinho.

– Não acreditei que encontraria alguém a esta hora aqui – Mia explicou por fim girando em seus calcanhares e Lucky pode em fim fitá-la face a face. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo mal feito, seus olhos marcados estavam nublados, mas não foi o suficiente para que Lucky não notasse o pequeno corte no canto direito de sua boca.

– O que lhe aconteceu? – perguntou aproximando-se para ver melhor sua boca. Ela levou seu dedo até o pequeno ferimento e quase soltou um risinho recuando um passo.

– Tive uma noite agitada com Ari e Louis, nem mesmo notei quando fizera isso.

Lucky a observou, Mia estava diferente. Ele não sabia dizer se era no seu olhar ou se era na maneira de se comportar, porém pode perceber como ela se mantivera distante dele ontem como hoje.

– Por que não está lá fora com os outros? – perguntou mais frio. Ela revirou o olhar.

– Elliot acabou encontrando a mulher de um dos vassalos de meu pai durante a festa, e ela insistiu para que nos hospedar no castelo. Elliot não soube contornar a situação e agora precisamos arrumar nossas coisas para encontrá-la – respondeu-lhe cruzando os braços.

Lucky balançou a cabeça, mas não continuou o assunto. Ele se direcionou para a fonte e mergulhou suas mãos na água fria, logo esfregando o rosto. Ele sentiu o olhar de Mia sobre cada movimento dele.

– Thor conversou com Tina... Ela confessou que Alicia espionava o castelo com suas prostitutas, porém é tudo. Ele acredita que não é Alicia que manda ou ajuda com as cartas anônimas...

Ele sentou-se sobre a fonte soltando um suspiro.

– Se lhe agrada saber que eu não encontrei nenhuma marca dos Caçadores na pele de Alicia...

– Você também não acha que ela está fazendo isso? – perguntou numa voz baixa.

– Tudo aponta para ela. Mas, se você quer minha sincera opinião sobre tudo isso, é que deveria ouvir o príncipe. Alicia não é culpada pelas cartas ou por nada de ruim que aconteceu em Skyblower, se te alegra sabe...

– Você parecia estar se divertindo hoje... – ele lhe fitou. – Com Alicia...

– Conversamos.

– Como você disse que faria. Bastou ela sorrir para você, e então, você não acredita que ela possa estar envolvida nisso.

Lucky lhe encarou surpreso, logo levantou-se da fonte. – Se achou que eu seria facilmente seduzido pela cafetina, por que diabos me confiou para encontrá-la? – questionou encontrando Mia novamente na sua frente.

– Então não foi seduzido por ela? – inquiriu de volta umedecendo seus lábios rosados. Lucky semicerrou os olhos sentindo suas palavras como um desafio.

– Isso não lhe diz respeita – respondeu provocativo vendo sua reação. Pelo olhar que lhe fitou, Lucky acreditou que sairia da sala sem dizer mais nada, mas ela revirou o olhar e deixou sua língua empurrar sua bochecha pela raiva. – Cuidado Mia – ele disse com um tom de sarcasmo –, eu posso começa a achar que você está com ciúmes.

Ela não respondeu com seu olhar fixado em outro lugar, Lucky pode notar mesmo no escuro que ela estava ofegante. Quando pensou dar um passo à frente, ela voltou a encará-lo de uma maneira mais rígida.

– Por que você nunca me disse? – Amélia se ouviu dizendo as palavras soltas. – Por que você nunca me disse que você já conhecia Thor antes de me conhecer?

– Não me pareceu de importância – respondeu com indiferença.

– Não lhe pareceu de importância... – ela repetiu suas palavras num murmúrio balançando sua cabeça. – Por que não Lucky? Porque não tinha nenhum valor sintético para você? Não lhe ajudaria em nada ou não lhe seria útil em alguma coisa?

Ele aprumou suas costas e bufou:

– Mia se você está me questionando isso agora, é porque antes você não sabia, nisso concluímos que Thor também não lhe contou.

Pela primeira vez, ele sentiu ela olhar em seus olhos com intensidade, como se obrigassem que ele lhe dissesse a verdade. Aquele olhar o desafiava e isso lhe colocava na defensiva.

– Eu não sei nada sobre você, Lucky. Eu não sei onde você nasceu, não sei onde você cresceu, eu não sei seu envolvimento com este colar que você me entregou – ela colocou sua mão sobre o peito mostrando o pingente que carregava no pescoço, mas tudo que Lucky vira fora a pedra da lua em seu dedo –, e eu não sei o que você faz da sua vida além de fingir ser um ladrão sem perspectivas que claramente está buscando algo – ela se aproximou de braços cruzados olhando em seus olhos que não se alegraram ao escutar suas cobranças. – A única coisa que eu sei é que você me dissera uma única vez, ter sido adotado e não ter nenhum irmão. Porém, nos papéis inversos, você sabe tudo sobre mim!

Lucky rangeu os dentes e revirou o olhar, enfezado:

– E o que você quer que nós façamos, Amélia? – ele engrossou seu timbre. – Eu deveria lhe contar toda minha vida porque agora nós somos amigos? – ridicularizou. – Claramente, se Thor quis contar que ele me conheceu antes de Skyblower, então você já sabe de onde eu vim e o que eu fiz por várias e várias vezes.

– E é isso? – Mia perguntou numa voz também mais alta, franzindo o cenho. – Sua história se baseia antes e depois do Gládio? Quem você era antes ou quem você é agora não há importância?

Ele desvia seu olhar sem responder sua questão.

Lucky abaixou o olhar e suspirou. Ela balançou outra vez a cabeça, conformada, que ele não continuaria o assunto. – Mas, hoje eu pude perceber que, você só trouxe Thor de volta porque você nunca teve a intenção de ficar.

Ele umedeceu os lábios sem argumentos abaixando a cabeça e fez com que Mia lhe desse as costas, seguindo em direção ao arco acreditando que o assunto estava terminado.

– Eu não tinha certeza do que faria naquela noite quando você foi até a casa de Ceres, cuidar de Joseph, sozinha – Lucky revelou em voz alta em seguida virando-se em sua direção, Mia parou de andar para ouvi-lo. – Brincar de heroína arriscando sua vida como fez por muitas vezes naquela viagem – ele fez uma careta. – Eu não vou mentir dizendo que não me senti o seu protetor, porque a cada vez que você se metia numa furada você precisava de mim e eu ia atrás de você, sem hesitar.

– Eu não me importo com Thor, Mia. A morte dele só seria mais uma em minha vida, e passou por algumas vezes na minha cabeça que talvez eu apenas tivesse a ganhar com isso. Mas, era um pensamento ridículo porque nós dois sabemos que nós, nós não daríamos certo – ele dissera com um suspiro pegando ela de surpresa, de maneira que lhe fez engolir forçadamente em seco. Lucky tentara dizer isso de uma maneira natural, mas isso lhe pareceu frio, mais frio do que ela esperava. Outra vez o silêncio caiu sobre os dois. – Seus olhos estavam azuis – revelou fazendo ela sentir-se confusa. – Quando adentrei aquela cabana que você esteve por muito tempo com Joseph você estava medindo forças com ele e eu não sabia o que faria até eu ver que seus olhos estavam azuis, azuis como as descrições da sacerdotisa Ceres.





_______________________________

Décimo Quarto Capítulo do segundo livro da série As Adagas de Ceres

8662 PALAVRAS

Eita, vocês  acham que Mia ainda confiará em Lucky depois dele ter soltado essa?

Mídia inspirada na nossa queen bitch Ceres, e seus olhinhos frios e seduzentes u.u

Dedico à @DarkFreedon, Juh por onde poderia começar? Eu ainda lembro quando uma leitora surgiu aqui com um nome um tanto curioso, ela comentava e votava fielmente em todos os capítulos, logo ela me escreveu um lindo texto e daí se estendeu uma amizade, você é uma garota maravilhosa!!! As vezes acredito que gosta mais de AADC do que eu hahahaha Obrigada de coração por participar dessa jornada comigo, eu espero que tudo tenha ido bem na sua prova, e eu só espero poder retribuir um dia todo esse amor que você me dá. Sou alguém muito sortuda por tê-la aqui, com todo esse apoio e carinho OBRIGADA!!!!!!!!!!!


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