- Ei acorde!
Abro os olhos e demoro algum tempo para assimilar que estou na enfermaria, sentado em uma cadeira e com a cabeça apoiada na cama onde Eadlyn está dormindo. Eu passei a noite toda quase acordado, mas acho que acabei pegando no sono antes de amanhecer.
Olho para o lado e vejo que quem me sacudiu para acordar foi Kaden. Depois olho para Eadlyn, ela ainda parece na mesma.
- Você dorme feito uma pedra. - Kaden diz puxando uma outra cadeira para meu lado. - Os médicos vieram, eles mudaram a medicação ou algo assim, não estão a induzindo mais a dormir, então agora ela deve acordar em breve.
Suspiro aliviado. Me ajeito na cadeira, mas isso é um sacrificio, porque cada parte de mim dói. Nunca mais quero dormir em uma cadeira.
- Os médicos estiveram mesmo aqui? - Pergunto desacreditado que eu não tenha visto.
- Cara você estava exausto, acho que apagou. - Ele responde.
Quando você tira a fala de príncipe e a postura de príncipe, Kaden parece só um garoto normal de quinze anos, mas o que me chama atenção é que diferente de ontem ele não está me olhando como se quisesse me matar.
- Vai me contar o que aconteceu para eu receber isso? - Aponto meu olho.
Ele ri como se fosse engraçado eu ter sido agredido do nada.
- Não. - Me responde. - Não tenho autorização, mas você vai saber, em breve, é como impossível não saber. Meus pais só precisam falar com Eady primeiro.
Assinto. Seguro a mão de Eadlyn.
- Bom dia chata. - Sussurro.
- Quer ir tomar um banho e comer algo? - Kaden pergunta. - Fico com ela, meus pais devem estar aqui em breve.
Seria egoista da minha parte querer ficar com ela o tempo todo, America já foi um anjo tendo convencido Maxon a me deixar passar a noite, preciso dar um tempo a eles também.
- Tudo bem. - Afasto a cadeira e me levanto devagar, me acostumando com a dor. - Mas se ela acordar ou tiver alguma alteração dê um jeito de me avisar, por favor.
- Claro.
O palácio está estranhamente quieto, como não imaginei que estaria sabendo que sua rainha está hospitalizada, mas então me lembro de como foi no ano anterior com America, ela era a rainha e ficou desacordada por dias e apesar do choque e a correria inicial, nos dias seguintes fizeram o maior esforço possível para que tudo parecesse normal. O governo, a seleção, tudo continuou. Embora de certo modo seja diferente, já que Eadlyn é quem governa o país e America apesar de rainha não fazia isso.
Talvez seja um dom de Illéa, se recuperar mesmo nos momentos difíceis, tem sido assim desde sempre.
- Está vindo da enfermaria?
Minha mãe me intercepta no corredor. Ela parece bem, um pouco preocupada, mas bem.
- Sim. Preciso de um banho, tirar essa roupa. - Digo a ela.
- E comer. - Ela diz.
Tudo bem dona Marlee. E comer. Ela não vai parar de cuidar de mim nem quando eu tiver casado e com uma porção de filhos. Ela puxa meu braço e entrelaça com o dela, deixando claro que vai me acompanhar até o quarto.
- Meu pai? - Pergunto.
- Ficando maluco. - Ela ri e quando faz isso sempre parece uma garotinha, como a que vi em alguns videos da época da seleção de Maxon. - Está com medo de que aqueles ataques pontuais aumentem se acharem que o governo está vulnerável após o acidente da rainha. E fora isso você ter dormido na enfermaria está tirando-o do sério.
- Sério? Quando ele não sai do sério comigo ultimamente? - Resmungo.
Nós dois sempre fomos muito próximos, mas ultimamente é tudo sobre acusações ou ele me repreendendo.
- Ele apenas se preocupa.
Ela realmente me acompanha até o quarto e eu não consigo ir tomar banho rapidamente, pois dedico minha atenção a ela. Quando ela sai lembro-me que esqueci de informar Fox, não posso dizer com detalhes porque não sei quanta informação posso dar e quanto é confidencial. Escrevo só um bilhete rápido dizendo que Eadlyn está fora de perigo e deve melhorar logo, então peço para uma criada mandar entregar no hotel.
Entro na cozinha para comer quase uma hora depois que deixei o quarto. Algumas criadas sorriem para mim e eu apenas vou para Nan e lhe peço por alguma coisa rápida. Nan cozinha no palácio desde que eu tinha doze anos e confesso que sempre tirei proveito do seu carinho por mim para conseguir guloseimas extras.
- Precisa se alimentar direito. - Ela me repreende. - Onde foi parar o garoto que comia por dez?
- Cresceu e ficou sem tempo? - Pergunto.
Ela me olha torto enquanto coloca alguns pães recheados e suco na minha frente. Nan sabe que não sou fã de café. Trocamos algumas palavras e eu faço meu café da manhã tranquilamente até que Aspen aparece.
- Devia ter procurado aqui primeiro. - Diz.
- Desculpa, eu acho. - Brinco.
Não tenho culpa se ele estava me procurando, se tivesse perguntado muita gente me viu vir até aqui e poderiam ter lhe informado.
- Precisa de mim? - Pergunto.
Aspen faz sinal com a cabeça para eu segui-lo, agradeço a Nan e vou atrás dele.
- Ela acordou e quer te ver. - Ele diz.
Ah graças a Deus. Nunca fui muito religioso, mas murmuro algumas palavras de agradecimento a Ele por deixá-la bem.
- Ela está bem?
- Ainda não a vi, mas pelo que sei sim. - Aspen fala. - Agora vá. Estamos falando da Eadlyn, ela detesta esperar.
Concordo e ando com pressa pelos corredores até chegar a enfermaria. Quando abro a porta e me aproximo Eady está deitada tendo Osten sentado ao pé da cama, Kaden ao lado e seus pais em pé. Ela olha na minha direção e um sorriso se forma em seus lábios, como se eu fosse o que faltava para ela ser completamente feliz. A sensação que o sorriso me faz sentir é indescritivel.
- E ai? - Pergunto sem jeito.
Não sei como ser com ela na frente de todos. Assim mais próximo noto que os olhos dela estão vermelhos, de choro?
- Espero que não esteja se gabando, porque eu teria ganho a corrida se não tivesse me sentido mal.
Todos riem, inclusive eu. Devia esperar que seria a primeira coisa que ela me diria.
- Duvido disso, eu não ia perder. - A confronto. - Mas ainda estamos empatados e acho que vamos ficar assim para sempre, porque nada de apostar corridas com você de novo majestade.
Maxon tosse educadamente como se quisesse atenção e quando a tem chama os filhos e sua esposa a se retirarem. Todos gastam um tempo enchendo Eadlyn de beijos e dizendo que voltam logo, até que enfim nos deixam a sós.
- Soube que dormiu aqui. - Eady fala. - Kaden disse que você deve estar dolorido pela cadeira. Não precisava ter feito isso.
- Não tinha nenhuma chance de eu te deixar. Não vou te deixar de novo, nem mesmo que me obrigue outra vez. Nunca mais.
Ela morde os lábios e vejo agua se acumular em seus olhos. O acidente a deixou sensivel?
- Ei...
Me aproximo e ela se mexe na cama.
- Deita aqui comigo... - Pede.
Não deveria subir na cama com ela, mas ela pediu e eu não vou deixar de atender um pedido dela. Eu subo na cama e ela se encosta em mim.
- Nunca me assuste assim de novo. - Digo.
- Não posso prometer nada. - Ela rebate. - O que houve com seus olhos?
Ela passa a mão de leve na pele proxima ao meu olho, mas ainda assim dói e eu desvio o rosto.
- Erik me bateu. - Respondo.
Eadlyn franze a testa e depois sorri.
- Não imaginaria ele batendo em ninguém e nem você não revidando, porque não fez isso? - Pergunta.
- Fui pego de surpresa. - Digo. - Mas como sabe que não revidei?
- Ele esteve aqui hoje e não tinha hematoma.
Ah Erik esteve aqui antes de mim. Há quanto tempo ela acordou? Eu disse para Kaden me avisar imediatamente, mas pelo jeito ninguém liga para o que peço.
- Foi uma despedida. - Eady acrescenta.
Olho para ela sem entender. Os olhos dela estão lacrimejando de novo, eu ia deixar passar, mas não posso ignorar que a mulher que mais detesta chorar está a beira de romper em lágrimas.
- O que está acontecendo? - Pergunto.
Ela deixa as lágrimas virem e sua boca se curva em um bico tão triste quanto meigo.
- Não podemos continuar isso, vou anunciar o divorcio e as mudanças assim que sair do quarto, não podemos esperar, ele já sabe sobre nós, ele precisa ir...
- Está triste por que ele vai? - Seguro seu rosto.
Eadlyn balança o rosto agitadamente negando.
- Não estou triste, estou assustada. - Ela está começando a parecer desesperada. - Porque nós, eu e você...
- O que tem nós?
- Nós vamos ter um filho. - Ela dispara.
Acho que minha mão escorrega do rosto dela e que minharespiração dá uma falhada antes que eu processe o que ela acabou de dizer.