- Acho que basta por hoje. - Digo.
A verdade é que estou me afundando em trabalho nos últimos dias e tento passar a menor quantidade de tempo possível no palácio. E isso significa forçar todas as pessoas a ficarem em reuniões comigo até depois do expediente.
- Nós estamos mesmo terminando do horário hoje? - Caleb brinca.
- Estou sendo legal. - Aviso.
Estou cansado. Tudo que quero é chegar no palácio, tomar um banho, me deitar e só acordar amanhã. Todos saem e eu ainda levo um tempo recolhendo minhas coisas.
- Tem alguem aqui para vê-lo senhor Woodwork. - Sophie avisa.
Serio? O unico dia que eu decido ir embora cedo alguém decide que devo ficar mais.
- Quem? - Pergunto.
- Fox Wesley.
Fox. Ex-selecionado. Ex-elite. E o que eu posso chamar de meu melhor amigo durante aquele período. A pessoa que mais tinha alguma afinidade.
- Mande-o entrar e pode ir. Eu fecho tudo. - Digo.
- Certo. Até segunda.
Coloco minhas coisas de volta na mesa e espero Fox aparecer dentro da sala. Ele continua o mesmo cara bronzeado e sorridente que me lembro, talvez mais forte.
- Kile Woodwork! - Ele exclama.
Ele me abraça dando tapas nas minhas costas. Por que alguns caras tem essa mania? Eu definitivamente detesto isso. Mas eu não vou reclamar, é bom ver Fox depois desse tempo. Ver um rosto amigo que está fora do palácio.
- Ei cara! - Digo. - Clermont ficou muito chata salvando vidas e resolveu lembrar dos amigos?
Fox dá um leve dar de ombros.
- Sabe como é, as garotas se afogando para mim salvá-las começou a ficar irritante. - Fala com ar meio arrogante, mas ri em seguida. - Vamos ser sinceros, é uma droga não é, como elas agem só porque fomos da elite?
- Nem me fale. Achei que ia surtar. - Admito. - Vamos indo? O que acha de irmos para o palácio? A Eadlyn ia gostar de te ver. Alias, o que está fazendo em Angeles?
- Eu estou de férias e minha namorada é advogada, tem um caso aqui e então eu pensei em fazer uma visita. - Ele conta.
Faço sinal para deixarmos a sala e começo a fechar as coisas.
- Namorada hein?
- Não fale como se fosse uma surpresa eu ter uma namorada. Você por acaso tem uma?
- Não.
- Sempre soube que eu era melhor do que você. - Fox zomba.
Ele acaba cedendo a ideia de dar uma passada rápida no palácio enquanto sua namorada ainda está no tribunal. Vai ser o mais proximo que vou chegar da Eady em dias o que significa que preciso me segurar para agir com certa distância.
- Soube dos ataques constantes aqui, aconteceram dois em Clermont. - Ele conta. - Confesso que achei que a rainha já teria ordenado umas prisões e umas mortes.
- Ela não é assim. - Defendo. - Você sabe que ela melhorou muito.
- Oh claro, ela deixou de ser aquela que fez os caras chorarem no inicio da seleção.
Aquela eliminação foi memorável, nenhum cara chorou de verdade, pelo que eu saiba, mas muitos pareciam a beira disso. Lembro-me que daquela vez eu estava tentando implorar a ela com os olhos para ele me mandar embora, e foi antes do beijo, todas as eliminações seguintes meu medo passou a ser de não ficar, dela me mandar embora.
Se ela tivesse me eliminado daquela primeira vez seria tudo diferente agora. Nós ainda nos odiariamos.
Os criados, minha mãe e Neena são agradáveis com Fox quando entramos no palácio, não teriam motivos para não ser, Fox sempre foi educado e legal com todos. A unica vez que se meteu em problemas foi quando eu também me meti na briga na cozinha.
- Eadlyn está ocupada Neena? - Pergunto.
- Está em reunião com o primeiro ministro, mas devem estar quase no fim. - Ela diz. - Podem esperar um pouco?
- Já estamos aqui mesmo. - Fox se mostra disposto.
Nos sentamos em um dos bancos no corredor e passamos a conversar sobre coisas aleatorias. A menção ao primeiro ministro faz Fox lembrar que estranhou a monarquia virar constitucional e ter um primeiro ministro. Senhorita Brice assumiu esse cargo antes das eleições e agora temos Ren Bluter, eleito pelo povo. Ele estranhará o que está por vir então, com um governador por província.
- Algumas mudanças são necessárias. - É apenas o que digo. - Acho que Eadlyn sabe que podemos ter democracia e participação, e ainda assim manter o povo acreditando na monarquia.
- Você ainda continua ao lado dela para tudo? - Ele me pergunta.
- Mais ou menos. - Falo.
Eu continuo ao lado dela para tudo, ainda mais na verdade, mas não posso ser obvio. A porta do escritório se abre e primeiro sai o primeiro ministro e passa por nós com cara de poucos amigos. Depois disso posso escutar Eadlyn falando alto.
- As pessoas elegeram um idiota. - Fala. - Ele vai ligar de volta, vai se desculpar, ele sempre faz, mas se ele fizer isso no final de semana não passe, eu realmente não quero pensar em nada disso o final de semana. Então se alguém procurar por mim eu não estou, ok Jos?
Não posso escutar o que Jos responde, mas ela sai do escritório ao mesmo tempo em que Neena entra.
- Ei Fox! - Ela diz, daquele jeito apenas dela de ser intima mesmo com quem mal conhece. - Quando chegou? Podiamos ter feito um jantar para a visita, Eadlyn gostaria disso, Kile por que não avisou?
Ah claro, sempre culpe o Kile.
- Em defesa dele, ele não sabia, eu apareci de surpresa. - Fox defende. - Ei olhe sua irmã cara, ela parece ter amadurecido tanto em um ano. Está linda.
Vejo Josie corar diante do comentário de Fox. Ele a cumprimenta formalmente com um beijo no rosto.
- É um prazer revê-lo senhor Wesley. - A voz de Eadlyn parece bem humorada quando ela aparece na porta do escritório.
Fox faz uma reverência.
- Majestade. É um prazer revê-la também. - Diz.
Eadlyn faz sinal para ele se levantar e o abraça como costuma abraçar todas as pessoas próximas a ela. É estranho lembrar que Eadlyn parecia detestar seus selecionados no inicio, mas conseguiu finalizar com um grupo de pessoas a quem ela quer bem.
- Como está? E seu pai e seu irmão? - Ela pergunta a ele.
- Bem, meu pai está curado agora, e meu irmão continua achando que minha mãe vai voltar, mas acho que vai passar logo. - Ele responde.
Ela pergunta algumas coisas mais sobre ele, seu emprego e ele fala sobre sua namorada. Ela fala sobre o reinado, seu casamento. Penso em me retirar, como Josie e Neena acabam fazendo, mas gosto de ficar aqui e ouvi-la conversar e ter um momento normal com um amigo, mesmo que ela esteja agindo como se eu não estivesse aqui. Mas entendo, é parte do trato.
- Eadlyn?
Erik está vindo pelo corredor. Fox e eu o cumprimentamos com um Boa noite. Eadlyn o deixa abraçá-la e segura sua mão, o que é totalmente desconfortável.
- Suas criadas estão procurando por você, precisam te arrumar para o jantar com o chanceler, sua mãe já está quase pronta. - Ele avisa.
- Estou indo. - Ela fala. - Sinto muito Fox, até quando vai ficar em Angeles? Podemos fazer algo amanhã? Esse jantar é muito importante.
- Coisas chatas de rainha. - Digo saindo do meu modo mudo e tentando parecer aquele que eu costumo ser com ela e dizendo as coisas que costumo dizer.
- Devem ser muito chatas para você. - Ela retruca. - Mas então Fox, o que acha? Que tal cavalgar, você sabe e sua namorada? Temos um lugar lindo e depois podemos tomar o chá da tarde juntos. Vou adorar conhecê-la.
Eadlyn está sendo muito gentil e amistosa, e sendo insistente sobre a namorada de Fox. Talvez ela sinta falta de amigas. Ela tem Josie e Neena, mas Josie é mais nova e Neena é sua dama de companhia, não exatamente sua amiga.
- Eu acho que não terá problemas, só preciso confirmar com Cat, mas eu aviso amanhã pela manhã. Pode ser? - Fox diz.
Eady se solta de Erik e se vira um pouco para mim.
- Embora você cavalgue mal está convidado também, pode levar alguém, talvez Alice. - Ela convida.
- Não.
- Seu amigo Fox gostaria que fosse, não é? - Eadlyn insiste.
Sei que a mente dela está tramando alguma coisa e desconfio que ela quer que as pessoas me vejam com alguém, vejam ela bem com seu marido.
- Claro, vai ser legal Kile. - Fox concorda.
- Tudo bem.
Ela se despede e diz que precisa ir rápido, ela não abraça Fox dessa vez. Quando Erik sai na frente dela ela vira seu rosto em minha direção e no meio de um sorriso toca os lábios, esfrego devagar meu dedão nos meus também.
Sim Eady, eu te amo e nós estamos bem, mesmo você me fazendo sair com outra praticamente a força. Amanhã será um dia daqueles.