Agosto, 2010
Suas pernas insistiam em tremer enquanto caminhava pela primeira vez pelos corredores de um colégio para alunos do ensino médio. Entretanto, sua face não expressava qualquer sinal de ansiedade. Indra havia assegurado que aquela experiência era puramente educativa. Socializar não era a prioridade nem uma indicação. Por sorte, Lexa teria a companhia de Anya e de seu irmão em praticamente todas as oito horas escolares. Estavam todos no mesmo ano, o que facilitava as coisas.
Era o primeiro dia do ano letivo e, apesar da agitação causada pelos reencontros, uma grande quantidade de pessoas encarava o trio com curiosidade. Esse era o problema de se mudar para uma cidade tão pequena quanto St. Michaels. A cidade era charmosa com sua influência pré-colonial e construções históricas, além de seus portos, o que era estratégico para o trabalho de sua família. Mas seu tamanho significava que as pessoas se conheciam e sabiam quando alguém vinha de fora. Na escola não era diferente, a maioria daquelas pessoas se conheciam desde o jardim de infância. E aquilo tornava a ordem de não chamar a atenção ainda mais difícil.
– Parece que estamos na selva e todas essas pessoas são nossos predadores. – Anya murmurou, incomodada com os olhares.
– Nós somos os predadores, Anya. Apenas ignorem. – O mais velho, ainda que fosse por questão de semanas, disse em repreensão.
Lexa engoliu o bolo que se formava em sua garganta, forçando suas pernas a se firmarem. Estava começando a se arrepender por ter insistido em ter aulas regulares até que seu pai deixasse. Odiava ter que seguir todas as regras que ele impunha. As primeiras aulas passaram como um borrão de êxtase e ansiedade. Principalmente quando tinha que se apresentar para a turma.
Seu irmão parecia irritado com aquilo, preferia continuar tento aulas particulares com Indra, mas a insistência da irmã havia recaído sobre ele. Se um iria para a escola regular, todos iriam. Até porque o pai deles sabia que a filha era arredia e iria tentar burlar as regras. Após o primeiro intervalo, cada um seguiu para uma sala diferente. Lexa se sentia exposta diante dos olhares. Sentou-se no fundo da sala, na bancada mais distante. Pegou seu caderno de anotações e começou a escrever, perdida em pensamentos.
– Oi. – Uma vez a saudou timidamente e Lexa levantou os olhos para encara-la. – Posso sentar aqui?
Encarou a menina por alguns segundos. Seu rosto delicado a encarava amistosamente, seus lábios carnudos formavam um sorriso tímido enquanto seus olhos a encaravam a espera de uma resposta. Lexa não pôde deixar de reparar na cor âmbar de sua íris e no padrão abstrato que havia ali. Suspirou, acenando para que a menina se sentasse.
– Você é nova na cidade? – Perguntou, colocando um de seus muitos cachos atrás da orelha enquanto se sentava.
– Sim. – Sua voz saíra mais suave do que pretendia, algo havia despertado em Lexa, mas ela não fazia ideia do que era aquilo.
– Espero que goste daqui. – A morena sorria abertamente agora. – A propósito, sou Cóstia.
– Lexa. – Disse seu nome enquanto devolvia um sorriso de canto para a outra. O nome da morena ecoava em sua mente.
A professora entrou na sala e começou a dar aula. O sorriso de Lexa se desfez e, na próxima vez que olhou para Cóstia, ela sabia que havia quebrado pelo menos uma das regras para que continuasse ali. Só não sabia o quão destrutivas e dolorosas seriam as consequências.