A manhã seguinte chegou rápido demais. Era o dia de começar os estudos, em uma nova escola, ser a forasteira, que todos rodeariam e encheriam de perguntas.
Aquilo tudo já seria desagradável mesmo se eu não tivesse passado os últimos anos tentando ser o mais discreta possível. O que era fácil em Phoenix numa escola com mais de três mil alunos, mas seria improvável na minha nova escola, com pouco mais de trezentos alunos.
Forcei-me a sair da cama, sentir o ar frio enlaçando meu corpo, logo estaria nevando, a cidade ficaria completamente sem sol, eu podia sentir a natureza cada vez mais se forçando sobre nós.
Abri a gaveta do meu criado mudo, como se algo vivo pudesse sair dali, então o livro negro se destacou entre os papéis antigos, peguei-o alisando a capa e sentindo meu coração disparar, meu corpo inteiro estava reagindo, era realmente hora de despertar.
Coloquei o livro na mochila e comecei a preparar-me para o dia, começar era algo em que eu não era boa.
Quando finalmente saí para fora da casa uma garoa fina caía, levantei meu rosto para aproveitá-la, então entrei no carro.
A velha caminhonete cheirava a gasolina, hortelã e cigarro, exatamente como eu me lembrava.
Dei a partida esperando alguma resistência, mas o motor pegou de primeira espalhando um ronco forte pela rua, era como voltar para um velho amigo, sorri e acariciei o volante.
Por anos havia sonhado em dirigir aquela lata velha que agora era minha. Sintonizei em uma rádio de músicas antigas e comecei meu curto caminho para a escola.
Logo estava entrando na antiga construção de tijolinhos a vista, embaçada pela chuva parecia mais com um condomínio do que com uma escola.
Depois de pegar meus horários na secretaria comecei a procissão de apresentações em cada aula. Os professores me faziam dizer meu nome, idade e de onde eu vinha, o que era ridículo, já que literalmente todos sabiam quem eu era.
Meu pai havia alardeado meu retorno para aparentemente todos os habitantes de Forks.
Ao final das aulas tinha a segunda parte da minha pequena tortura, os alunos, aos montes, querendo conversar, fazer perguntas, me levar pelos pequenos corredores que eu já conhecia só de olhar uma vez o mapa.
E eu tinha que sorrir, sorrir e ser o mais gentil possível, tudo era muito sufocante, mas essencial.
A primeira regra de sobrevivência é: misture-se. A segunda é: seja simpática. Sempre. Mesmo quando você está desejando fazer a pessoa a sua frente engolir a própria língua.
Pessoas corajosas e destemidas são odiadas. Só piora se você é uma mulher, então sorria e seja gentil, se não quiser ser queimada em uma fogueira.
Quando bateu o sinal para o intervalo, um garoto alto e com o cabelo preto como carvão se aproximou com o que parecia ser seu melhor sorriso.
- Você é Isabella Swan, certo?
- Bella - corrigi automaticamente - Por favor, me chame de Bella. - completei tentando ser mais simpática.
- Sou Eric. - ele estendeu a mão um pouco tarde demais, parecia atordoado, então o momento acabou tornando-se desconfortável.
Cogitei não pegar a mão dele, mas ser rude seria chamar mais a atenção, então a segurei por um segundo e depois me afastei deixando meus dedos resvalarem em sua mão, fazendo o contato parecer maior do que havia sido.
- Prazer, Eric. - falei bem devagar, o olhando nos olhos, depois disso ele ficou definitivamente aturdido.
- Eu te mostro onde é o refeitório, que tal?
Sorri mais um vez - Seria ótimo. - sairia daquele dia com as bochechas doloridas de tanto sorrisos falsos.
- Então, aqui é bem diferente de Phoenix, né? - ele perguntou enquanto caminhávamos.
- Muito.
- Não chove muito lá, né?
- Três ou quatro vezes no ano.
- Caramba, nem consigo imaginar como é.
Sorri. - Ensolarado - e seco, muito seco.
- Você não parece muito bronzeada.
Meu coração se afundou um pouco, eu estava o oposto de ensolarada, a brancura natural da minha pele havia se tornado cada vez mais opaca e sem vida, levariam algumas semanas para recuperar um pouco de cor.
- Falta de sorte. - dei ombros como se não fosse nada e agradeci internamente por estarmos chegando ao refeitório.
Uma garota alta e esbelta me esperava na porta, seus olhos negros reluzindo por trás dos óculos.
- Eric - ela o cumprimentou com um aceno - Bella... - então sorriu, eu havia sentido falta daquele sorriso.
- Angie - me adiantei para abraçá-la, nossos corações disparados juntos.
- Bem vinda de volta, irmã. - ela sussurrou no meu ouvido.
- Obrigada. - respondi me separando, mas continuei segurando sua mão, sentindo o calor dela se potencializar por estarmos juntas.
- Vocês se conhecem? - Eric havia assistido tudo com um misto de surpresa e decepção, ele queria me acompanhar durante o intervalo e Angela estragaria seus planos.
- Sim. Obrigada por ajudá-la, querido. Pode deixar que eu assumo daqui. - seu tom não poderia ser mais irônico.
Eric abriu a boca para retrucar algo, mas Angela já estava me escoltando para dentro do refeitório.
- Podemos nos sentar sozinhas, ou eu posso te apresentar para o grupo em que eu me misturo.
Eu ri da escolha de palavras.
- Melhor eu me misturar também, não?
Angela deu ombros.
- Sempre é, mas é cansativo. Você decide.
- Amanhã podemos tirar uma folga, hoje vamos ajudar esses meninos a passar alguma vergonha.
- Ai meu deuses, você vai quebrar alguns corações. - ela disse rindo.
Quando chegamos a mesa Angela me apresentou todos, nomes que eu não gravaria tão cedo, e então a sessão perguntas voltou. De onde você é? Como é lá? Você gosta daqui? Por que você voltou?
Eu acabava mentindo para a maioria delas, mas foi divertido ver a a cara de tédio de Angela, além das eventuais viradas de olho que ela dava.
Levou alguns minutos, mas então eu os vi pela primeira vez.
Eram cinco, sentados a mesa mais afastada do refeitório, como se as cadeiras vazias entre eles e o resto dos alunos fosse uma fronteira. Meus olhos se estreitaram.
Eles não conversavam e não comiam, apesar de haver uma bandeja para cada um deles, a comida intocada. A aura de irrealidade deles era quase palpável.
Beleza sobrenatural. Mesmo não se parecendo um com o outro, eles claramente eram da mesma espécie.
Todos muito pálidos, os mais pálidos da escola toda e provavelmente da cidade toda também.
Eles eram mais pálidos do que eu, e naquele momento eu me parecia mais com uma pessoa morta.
Inumanamente lindos.
Então a garota mais baixa me olhou, seus grandes olhos negros me destacando entre os demais, ela piscou algumas vezes parecendo confusa.
Só depois ele me olhou, o garoto com cabelo cor de cobre, sua cabeça inclinada, claramente curioso, poucos segundos depois veio a pressão, primeiro leve, como um dedo tocando o topo da minha testa, e depois mais forte.
Sorri para ele. Eu podia ser nova na cidade e em todo o resto, mas não era idiota. O garoto estava tentando ler minha mente. Empurrei meu escudo um pouco mais. Ainda não era forte o suficiente para expandir além de mim, mas era o suficiente para que eu não sentisse mais o esforço dele.
- Angela - chamei sem tirar os olhos do rapaz. - Quem são eles?
Ela riu baixinho, então aproximou-se para falar em meu ouvido, de um jeito que ninguém ouviria, nem ele ouviria.
- Cullen's. Agora seja boazinha e comporte-se Bells.
- Você não me contou que haviam vampiros na cidade.
Ela virou os olhos, fazia sempre isso, ao que parecia eu estava sempre a frustrando.
- Você não estava exatamente em contato.
Olhei-a por um instante mas não encontrei nenhum indício de mágoa.
- Desculpe.
- Não seja tola, está tudo bem. - ela tocou minha mão, depois olhou para a mesa. - Esqueça isso. - era uma sentença, quase como uma ordem. Talvez fosse mesmo uma ordem.
- Eles são... bonitos. - falei voltando a olhá-los.
- Sim, escandalosamente. E estão todos juntos. - ela riu. Qualquer outra pessoa da cidade acharia o envolvimento escandaloso. - Rosalie e Jasper tem sobrenome Hale, são os loiros. Emmet, Edward e Alice atendem por Cullen. Emmet está com a loira, é o maior. Jasper está com a morena, que está descaradamente te olhando. O que você fez?
- Nada!
- Edward também. Você não se controla. - era seu pior tom de desaprovação.
- Eu não fiz nada... demais.- isso a fez rir.
- Não seja exibida. Vamos logo. Você não quer se atrasar pra próxima excruciante apresentação, em frente a toda classe.
Seu humor tinha voltado, o que era bom, eu não queria ouvir sermões. Não a mais do que eu ouviria mais tarde.
Voltei-me mais uma vez para a mesa dos Cullen. Alice estava encarando o namorado e Edward ainda me olhava, então virou-se rápido, rápido demais, eu sorri.
Angela me levou até minha sala e depois seguiu para a dela, me senti vazia e novamente fria. Era difícil lembrar da nossa conexão e voltar a ficar sem ela tão cedo.
Olhei-a se afastar e a solidão foi tomando conta de mim. Todas aquelas pessoas ao meu redor, muitas delas ansiosas por estabelecer algum contato, mas a verdade é que Angela era a única que me entenderia.
N/A:
pediram Capítulos grandes, então senta que lá vem história. Hihihihi
Quero lembrá-los que cada vez que vocês lêem um capítulo e não dão estrelinha uma fada morre.
Comentem o que acharam, os palpites, as dúvidas, e a pergunta que não quer calar: #TeamEdward ou #TeamJacob? :p