Isabella II

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O avião decolava quando a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto.

A vastidão de Phoenix diminuindo, se esvaindo, como areia em minhas mãos, quanto mais eu apertava, mas ela escapava e de repente já não havia nada em que me segurar.

Coisas velhas morrem para que novas possam nascer. Foi o que eu disse a mim mesma, repetidas vezes. Mas a terra ensolarada da minha infância deixaria saudades.

Senti minha coragem vacilando então fechei os olhos e tentei refazer a imagem do meu pai em minha mente.

Três anos antes eu havia deixado a densa floresta de Forks prometendo nunca mais voltar. A lembrança agora me fazia rir, a ingenuidade das minhas escolhas.

Foram longos três anos, antes que eu assumisse que as despretensiosas tardes na praia não me pertenciam, nunca haviam pertencido.

Minha vida havia começado em Forks, eu estava ligada àquele lugar. Estaria para sempre.

Quando o avião pousou em Port Angeles eu senti a tensão aliviar, era oficial, eu estava de volta e não havia mais tempo para chorar.

Charlie me esperava na diminuta sala de desembarque. Lágrimas nos olhos e um sorriso tímido, meu pai.

Foram três anos nos vendo apenas por duas semanas durante as férias. Poucos dias preenchidos por silêncios infindáveis.

Nenhum de nós sabíamos o que dizer um para o outro, não quando haviam tantos segredos proibidos.

Caminhei até ele tentando ficar calma, medindo suas reações, Charlie tinha todos os motivos do mundo para estar desapontado comigo, mas a única coisa que eu via em seus olhos era amor.

Larguei as malas no chão e o abracei por um instante, quando uma lágrima furtiva escapou por meus olhos achei melhor me separar, não queria começar uma cena em público.

- Filha... - havia um latente orgulho em sua voz - bem vinda de volta. - ele pegou uma mecha do meu cabelo, levemente avermelhado pelas luzes artificiais. - Você não mudou...

Segurei a mão dele sentindo meu peito crescer. Eu realmente não havia mudado, mesmo que tivesse tentado com todas as minhas forças.

- Não pai, eu não mudei. - era quase uma promessa zelada.

Haviam acabado os segredos.

*

O caminho de volta foi silencioso, havia uma estática no ar, a expectativa pelos próximos passos.

- Eu achei um carro para você. - Charlie disse pouco depois de alcançarmos a metade do caminho.

- Não precisava se preocupar com isso, eu estava preparada para procurar um pouco.

- Não foi nada demais, eu também não procurei, exatamente... - ele completou cuidadoso.

- Não? De que carro nós estamos falando?

- De uma caminhonete.

Eu segurei o riso, queria achar aquilo ruim, mas na verdade era engraçado.

- A caminhonete do tio Black? - tentei soar incrédula.

Charlie sorriu antes de continuar.

Crespúsculo - A IniciaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora