Música sugerida para leitura: Ben Harper - Amen Omen
Assim que alcancei a escada pude olhar para e me deparar com a coisa mais bizarra e absurda que eu poderia imaginar. Era uma mistura de cachorro com rato, possuía um rabo pontudo e dentes afiados, pelos cor de cobre, sangue escorrendo pelo focinho e uma língua pontuda para fora da boca. Um ser surreal plantado no meio do hall da minha casa. Animador!
Minha cabeça estava rodando com o tamanho absurdo mas esse bicho não estava ali de brincadeira, com certeza não estava. Tentei ser o mais silenciosa possível, precisava alcançá-lo e de alguma forma espantá-lo. Pude ver o estrago que ele tinha feito em uma das janelas, vidro por toda parte. Deixar todas as luzes apagadas definitivamente não tinha sido uma boa ideia. Quanto mais descia a escada mergulhava na escuridão e ficava mais próximo daquele animal. De qualquer forma me trancar no quarto não era uma solução viável, eu precisava encarar.
Finalmente cheguei ao primeiro andar, estilete devidamente empunhado e coração na boca. Mas que droga! Meses de treinamento deveriam servir para alguma coisa. Assim que dei dois passos para dentro da escuridão pude sentir a vibração daquela coisa em minha direção, veloz, mortal e totalmente imbatível. Por uma fração de segundo tive absoluta certeza da minha morte, então, tudo mudou.
Assim que o animal pulou para morder meu pescoço abaixei e só consegui ouvi um grande estalo, em seguida meu corpo inteiro ficou coberto de sangue e uma gosma grossa. Quando finalmente tive coragem de olhar pra trás encontrei exatamente quem eu menos esperava.
- Qual é o seu maldito problema? Mandei sumir da minha cidade?
- Leni?
- Hades eu já estou cansada dessa palhaçada, você não é o Euro e eu já percebi isso. Foi você que mandou essa coisa entrar na minha casa, não é? Mais um plano tosco para que eu fique grata.
- Leni... eu... não faço ideia do que está acontecendo.
- Euro? Euro é você mesmo?
- Quem mais poderia ser?
Mesmo totalmente suja de gosma, descabelada e suada eu o abracei com toda a força que pude. Seus cabelos cacheados, aqueles olhos negros como a noite e aquele sorriso acanhado que só ele era capaz de dar. Era Euro, agora sim ele estava comigo. Um misto de incredulidade e alegria me entorpeceu completamente enquanto ele me abraçava e finalmente eu disse em baixo e bom tom:
- Eu senti muito a sua falta, muito mais do que eu gostaria.
- Duvido que tenha sentido tanto assim, mas fico feliz por ter me recebido tão calorosamente.
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Banho tomado, hall limpo e um sorriso estampado no rosto. E daí que um cachorro desfigurado invadiu minha casa e tentou me matar? Euro estava ali e me salvou. Meses bancando a durona, sem derramar uma lágrima e agora tudo estava perfeitamente no lugar. Corri até o quarto e coloquei um jeans justo e uma camiseta branca, rabo de cavalo devidamente penteado e vontade de gritar minha felicidade para quem quisesse ouvir.
- Básica desse jeito nem parece a menina de vestidos da Maria Antonieta.
- Esse estilo realça minhas curvas - zombei.
- Isso é indiscutível - disse me fazendo corar.
- Bobo. Mas agora pode me explicar duas coisas: Como um cachorro louco resolve me matar e como você volta depois de ter morrido?
- Bem - diz respirando fundo e sentando na escada - Hades me trouxe de volta sem me dar qualquer explicação. Acho que quando ele fica carente ele resolve trazer pessoas mortas de volta a vida.
- Hades? Ele realmente está surtando. Hoje pela manhã ele veio me procurar dizendo que precisava falar comigo. Só que ele apareceu com o seu corpo. Obviamente descobri a farsa assim que ele abriu a boca e o mandei embora.
- Ele não falou o que queria?
- Não, eu o mandei embora antes disso. Ele não te deu alguma explicação? Como ele pode ressuscitar pessoas sem qualquer satisfação?
- Preferia que eu continuasse morto? - riu.
Me abaixei na escada me posicionando na altura de seus olhos, aqueles olhos negros e sinceros. Segurei delicadamente suas mãos e disse:
- Não fale isso nem brincando. Você morreu para salvar um cara que me amava e ainda devolveu minha liberdade. Nesses meses que passaram me perguntei diariamente por que você tinha morrido, por que justo uma pessoa tão incrível morreu. Você ter entrado nessa sala e ter me salvado superou todas as minhas expectativas.
- Eu senti sua falta e vejo que esses meses te tornaram uma pessoa totalmente diferente, segura de si. Se eu não tivesse atirado naquela coisa com certeza você tentaria atacá-lo com o estilete.
- Na próxima vez eu acho melhor comprar uma arma. Afinal, que bicho era aquilo?
- Feitiçaria, um animal criado de acordo com a imaginação de algum feiticeiro e enviado para matar o alvo. São chamados de Enviados.
- E por que alguém mandaria uma coisa dessa até a minha casa? Não vejo qualquer ser mitológico desde... hoje de manhã. Isso só pode ser obra de Hades.
- Não tenho certeza disso, assim que voltei do Mar dos Mortos ele simplesmente me deu algumas roupas, dinheiro, chave do carro e mandou vir o mais rápido possível. Ele estava visivelmente nervoso e inquieto, quase me expulsou do castelo. Ele queria que eu te salvasse.
- Então ele sabia desse ataque e te mandou para me salvar?
- É o que tudo indica. Mas por quê? Por que alguém te atacaria e por que ele quer te proteger?
- Eu não faço ideia do que ele quer, só acho que precisamos sair dessa casa assim que amanhecer. Não me sinto segura aqui.
- Sabe onde podemos ficar? Algum hotel ou...
- Podemos? - interrompi mais rápido do que gostaria.
- Bem, Hades me mandou atrás de você, não posso virar as costas e voltar antes que ele ordene. Por quê? Você quer que eu vá embora?
- Não é isso. Só é totalmente bizarro e sem noção. É óbvio que te quero por perto, não duvide disso. Só estou confusa.
- Tudo bem, é hora de dormir. Amanhã temos uma mudança para fazer.
- Euro... - disse envergonhada e olhando pra baixo como se pudesse me esconder no próprio decote - você poderia dormir comigo lá em cima? Não sei se vou conseguir pregar o olho depois desse bicho maluco.
- Não precisa ficar com medo, menina, eu estou aqui e te protegeria contra qualquer coisa. Vamos, você precisa dormir, hoje eu fico de alerta.
- Eu não era tão frágil assim há meses. Você me faz mal! - sorri enquanto subia as escadas.
- Então eu espero te fazer muito mal.
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A manhã começou tranquila, alguns raios de sol invadiram a grande janela e a cama vazia me faz despertar mais rápido que o esperado. Um barulho vindo da copa e instintivamente me fez pegar uma grande tesoura em cima de um móvel. Só de camisola e com a respiração ofegante desci as escadas cautelosamente e tentei localizar o barulho. Quando alcancei a porta da cozinha apenas vi Euro cozinhando, como se nada tivesse acontecido.
- Aonde você vai com essa tesoura e de camisola?
- Que susto você me deu! - disse ainda ofegante.
- Calma, me desculpe, não era intenção. Desci pra fazer um café, teremos um dia cheio.
- Eu vou me arrumar e logo podemos começar a empacotar algumas coisas. Eu preciso tampar aquela vidraça quebrada, pretendo deixar a casa fechada até alguém se interessar. Nos mudamos ainda hoje, tudo bem?
- Minha querida, com essa camisola eu faria o que você quisesse.
- Idiota - sorri e voltei para o quarto me sentido patética.
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Empacotar algumas coisas foi a parte fácil do dia, exceto pelas reclamações de Euro quando resolvi deixar praticamente todos os móveis e eletrônicos da casa. Era difícil explicar, eu não queria levar muita coisa, por mim só pegaria algumas roupas. Aquela casa tinha marcado a minha vida e todos os momentos ruins tinham passado por aquele lugar, eu não queria levar essas recordações, não queria que nenhum detalhe fosse repassado para o meu novo lar.
Pouco antes do anoitecer tudo estava devidamente arrumado e empacotado, então Euro estava arrumando tudo no carro. Aproveitei para ter o meu momento com a casa, deixando todas as lembranças invadirem minha mente e segurando teimosas lágrimas que teimavam cair. Aquele era o encerramento de mais um ciclo e eu estava ansiosa para a próxima fase. Ainda na porta de casa Euro começa a falar:
- Hades me procurou.
- Como? - disse assustada.
- Nós precisamos ir até o castelo, o assunto é bem sério e eu não vou poder ficar com você.
- Você só pode estar surtando - ri de forma nervosa - o que ele pode fazer? Te matar novamente?
- Sim. Ele pode. Olha, eu sei que você quer sua vida normal novamente, quer esquecer tudo que aconteceu e que aquele animal intruso só jogou as coisas pelo ar. Mas é realmente sério. Hades só quer te ajudar.
- Você é uma piada, Euro, o cara te matou! Você ainda o defende e acha que tem razão? Qual assunto ele pode querer comigo? Ele só deve estar entediado e quer me usar como isca para Zeus, mas tem um detalhe: o semi-deus não quer saber de mim! Eu vou morrer se entrar novamente nesse jogo doentio.
- Eu entendo cada ponto que você disse e tenho certeza do quanto está magoada embora tente se passar por durona. Menina, você precisa confiar em mim - desse alisando meu rosto de forma delicada.
- Quando você entrou pela porta da casa e me salvou daquele cachorro eu realmente confiei. Mas ir com você para os braços de Hades é pedir demais. Eu não faço ideia de qual foi o acordo entre vocês mas eu não estou no jogo! Agora, por favor, suma da minha vida.
- Você está falando sério Helen? É exatamente isso que você quer? - seus olhos eram duros e acusadores, mas eu não poderia voltar atrás.
- Totalmente. Obrigado por me salvar e parabéns por ter voltado a vida. Eu preciso voltar a ser uma pessoa normal e eu espero que você entenda.
- Eu entendo que você está pagando de metida e egocêntrica e não entendeu que só queremos ajudar e te proteger! - disse alterado.
- Eu não quero a ajuda de ninguém!
- Aquele cachorro na sua casa foi o que?
- Olha, eu não quero saber, entendeu? Some da minha vida de uma vez por todas, não quero ser ignorante mas você não está ajudando.
- Quer saber, eu voltei do maldito inferno para te proteger e você agora banca a suicida? Qual é o seu problema, garota?!
- No momento é uma pessoa chamada Euro. E você voltou por que Hades quis, não jogue na minha cara. Eu vou entrar naquele carro e espero nunca mais olhar na sua cara. Passar muito bem.
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Assim que sentei no banco do meu carro perdi todas as forças que estava reunindo. Eu tinha mandado embora a pessoa que invadiu meus sonhos por meses, o homem que tinha morrido pela minha liberdade e que nunca fui nada além de um amigo. Eu estava sendo dura, egoísta e mesquinha, mas era minha única alternativa. A história toda não fazia sentido, o que Hades queria comigo? E por que Euro apareceu justamente após o ataque do Enviado? Hades já havia armado algo com Euro, assim que nos encontramos, ele me atacou e Euro me salvou. Tudo uma grande encenação. Poderia ser outro truque para me fazer mudar de ideia e ir até o castelo, mas dessa vez eu não cairia.
Pisando fundo e totalmente confusa finalmente cheguei ao prédio de Davi. Peguei algumas bolsas, passei correndo pelo porteiro simpático e finalmente tranquei a porta. Deixei meu corpo relaxar depois de toda aquela tensão. Sentei no chão e envolvi meu corpo com meus braços. Eu não poderia voltar atrás, Euro nunca me perdoaria por aquelas palavras, mas foi preciso para o nosso bem. Ele não pode ser ressuscitado cada vez que eu precisar de ajuda! Hades era um maníaco focado somente na inveja. Se eu aceitasse entrar novamente naquele turbilhão de loucuras poderia ter que reencontrar Sebastian, algo que eu definitivamente não queria.
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Acordei deitada no carpete e totalmente dolorida, apaguei de uma forma absurda na porta do apartamento e tentei me lembrar de quanto tempo passei chorando. Tentei levantar mas uma tontura me jogou novamente ao chão, o que raios estava acontecendo comigo? Felizmente consegui me apoiar na mesinha e tateei a parede até alcançar o quarto. Segui até a janela na esperança de me deparar com um lindo dia de sol e, quem sabe, me animar para um passeio na Cachoeira da Pedra. Mas ao contrário disso tive uma grande surpresa.
Neve. Estava nevando em Belo Vale. Neve no sudeste do Brasil definitivamente não era uma coisa comum, e não era pouca, a cidade inteira estava coberta por uma grossa camada. As pessoas deveriam estar imaginando o fim do mundo visto que no dia anterior o sol estava invicto no céu, a cidade estava completamente deserta. Corri para ligar para Lara. Ficar presa dentro de casa com toda aquela barriga não era seguro. Felizmente os pais dela já estavam em casa, o que me deixou 75% mais tranquila, mas eu sabia quem alguém precisava ver o que estava acontecendo na cidade fantasma.
Enrolada em um grosso casaco de lã, uma calça preta justa e botas de salto alto, me senti uma estúpida patricinha prestes a enfrentar uma nevasca no Alasca. Nenhum cidadão de Belo Vale tinha equipamento ou roupas para aquela temperatura e eu sabia que era suicídio sair do prédio. O simpático porteiro ainda tentou me convencer, mas eu sabia exatamente aonde eu precisava ir. No fundo eu sabia que nada estava acabado.
Assim que passei pela última árvore e dobrei a esquerda me deparei com a imponente Cachoeira da Pedra. Senti todo o meu corpo congelar quando avistei uma pessoa sentada de minha pedra predileta. Era uma criança, uma menina de no máximo nove anos. Usava um vestido florido e com rendas brancas, um sapato impecavelmente branco e um grande laço rosa no cabelo. Quando ela finalmente virou para me encontrar senti o medo percorrendo todo o meu corpo.
- Você demora a acordar hein, garota! Estou há horas te esperando.
- Quem é você? - tentei parecer rude mas a minha voz não ajudou.
- Isso não importa e não é da sua conta. Apenas saiba que mandei aquele cachorro fofo para sua casa.
- Você mandou aquele Enviado me matar. E por que faria isso?
- Também não é da sua conta. Eu ouvi falar que você era estúpida, mas arrogante é demais para mim.
- O que você quer comigo? - agora eu estava totalmente no controle e aquela pirralha sentiu isso.
- Ora, vejamos, você era a amada de Sebastian. O amor platônico do semi-deus. E agora, bem, agora está largada no mundo tentando esquecer tudo que aconteceu. Estou certa?
- Isso não é da sua conta. Perguntei o que você quer.
Em um movimento rápido a criança simplesmente se aproximou e segurou minha garganta com tanta força que pensei que era o meu fim. Ela era rápida e totalmente mortal, eu sabia que não era hora de desafiá-la, mas eu precisava tentar.
- Vai me matar agora? Que mágico.
- Não... não será tão rápido assim, minha querida - me soltando lentamente e com um sorriso maquiavélico no rosto - Você ainda enfrentará sete enviados, todos feitos por mim! Isso é mágico!
- Oito animais daquele?
- Não, aquele foi o primeiro. Tenho imaginação suficiente para criar outros e ainda mais letais. Eu duvido que você contará com o santo Euro para te salvar. Hades mandou ele de volta para o Mar dos Mortos graças a você.
- Isso é mentira! - disse perdendo todo controle.
- Pense o que quiser... O próximo Enviado chegará hoje a noite para aproveitar essa temperatura agradável que vai durar muitos dias. Mocinha, tranque as portas antes de dormir e comece a rezar.
E então ela sumiu, a criança imbecil simplesmente desapareceu no ar.
Voltei o mais rápido que pude para o apartamento, todo meu corpo estava congelado pelo frio e pela neve. Assim que abri a porta do apartamento me deparei com ninguém menos que Hades e Celena, para meu total espanto. Celena estava visivelmente abalada e totalmente desamparada, seus olhos estavam vermelhos de tanta lágrima. Não tive tempo respirar quando ela me envolveu em um abraço quente e seguro, abraço que eu precisava há muito tempo. Ali estava a minha querida amiga e ex-cunhada.
- Por favor, me diga que ela não fez nada com você.
- Eu estou bem... mas o que você está fazendo aqui? Ainda mais com ele?
Hades finalmente virou para me encarar, sua expressão era fria e totalmente impiedosa. Eu tinha sido estúpida quando ele tentou me ajudar, agora eu sabia o porquê da preocupação.
- Não vim aqui por você, garota, vim por que ela me pediu. Devia um favor a Celena e não pude negar.
- O que ela falou? O que ela disse? Leni nós precisamos saber tudo que Martha te falou.
- Vou preparar um café enquanto falo. Não tenho boas noticias.
História contada, pontos levantados e os dois continuavam me olhando com cara de paisagem e terror. Na minha cabeça tudo estava muito confuso, como uma criança daquele tamanho poderia ser tão temida? Estaca no coração, bala de prata ou qualquer coisa da mitologia, nada daria jeito nela?
- Helen, eu sei que você não me suporta, mas pode ter certeza, sou a única pessoa que pode te ajudar nesse momento - Hades falou com tanta verdade que senti meu estomago revirar.
- Leni, aquela menina na verdade é uma mulher, se chama Martha e é uma ex-mulher do meu pai. Meu pai jogou um feitiço que a transformou em criança pela eternidade, o motivo disso foi que Martha tentou abusar de Sebastian quando ele ainda era um adolescente. Ela tentou seduzir um menino inocente e enteado dela. Martha é a minha mãe e você não imagina o quanto me dói isso. Ela é extremamente poderosa e sumiu das nossas vidas após a maldição que a transformou em criança. Pelo visto ela usou esse tempo para reunir forças. Não descobrimos ainda o motivo dela estar te atacando, pode ser só uma forma de atingir Stefan ou o meu pai.
- Essa mulher doente surge do nada e resolve me atacar por que tive um romance passageiro com Sebastian? Essa pessoa precisa de tratamento.
- Concordo plenamente com você e juro que assim que encontrá-la passo um cartão do meu psiquiatra, mas agora você tem que se preparar para o segundo Enviado que será muito pior que o anterior e assim sucessivamente.
- Hades eu queria te pedir desculpas, você tentou me ajudar naquela manhã e eu...
- Tá certo, garota, eu mereci aquilo. Fui te procurar no intuito de te oferecer um abrigo, depois enviei Euro para te buscar e também não obtive sucesso. Celena foi minha última alternativa. Contei para ela do que se tratava e ela aceitou me ajudar a te convencer da verdade.
- Leni, eu fiquei medo do que aquela doente poderia fazer com você. Infelizmente não posso te levar comigo para o Olimpo, meu pai e Sebastian estão fora, foram para uma viagem em busca de alguma coisa para a conquista da imortalidade do meu irmão. Estão sumidos há meses e não sei quando voltam. Por isso Hades ofereceu abrigo. Você não pode enfrentar essas coisas sozinha, você precisa de treinamento e proteção.
- Eu aceito voltar, aquela criança não parecia estar brincando e eu não sei como atacar esse Enviado. Mas Celena, você promete que não vai contar a Sebastian ou a Zeus sobre essa história? Se eles souberem ela vai ter a atenção que quer, vai ter sucesso no plano. Me deixe com Hades, eu tenho certeza que ele vai me ajudar no que puder - tentei ser o mais convincente possível, na verdade eu só não queria ter que reencontrar Sebastian.
- Ela tem razão, Celena, deixe os dois fora disso. Meu castelo é uma fortaleza, não será fácil atacar Helen. Não envie qualquer chamado para os dois, quando eles voltarem contamos de uma maneira calma e sem alarde. Martha não vai gostar de saber que não espalhamos a notícia, pode até se cansar e desistir.
- Tudo bem, mas Leni me prometa que você não vai fazer qualquer estupidez e que vai aceitar a ajuda e proteção de Hades. Eu nunca me perdoaria se minha mãe fizesse algo com você.
- Pode ficar tranquila, eu vou tentar me manter segura. Obrigada por vir escondida, eu senti a sua falta.
- Eu também, amiga, eu prometo que vou aparecer mais vezes e vou fazer o possível para te manter segura. Desculpe por ter demorado tanto, você não merecia isso.
- Tudo bem. Só vou arrumar algumas roupas e sigo com Hades.
Enquanto arrumava algumas coisas senti meu mundo novamente ser virado de cabeça para baixo. Toda a tranquilidade e normalidade estavam totalmente perdidas. Uma psicopata resolve surgir do nada e matar a ex-nora. Seres mortais sendo enviados na minha direção e a necessidade do abrigo do deus dos mortos, tudo muito divertido. Pelo menos Celena estava ali comigo, me ajudando, conversando sobre banalidades e tentando me passar a calma que nem ela tinha.
No último momento corri para a mesinha de centro e deixei um recado para Davi, junto com meu celular.
Davi,
Mais uma vez eu me enrolei em uma confusão com alguns conhecidos. Está tudo bem, só vou ficar alguns dias fora. Por favor, cuide de Lara e avise o que aconteceu. Não sei se conseguirei chegar a tempo do casamento, explique que tenho uma boa desculpa.
Desculpe por não ter ligado, na verdade... desculpe por tudo. Se cuida.
Beijos, Helen.
E então tranquei o apartamento, com uma mochila na mão e acompanhada por dois seres mitológicos. Eu sabia que tudo mudaria novamente e a minha única certeza era o ataque do segundo Enviado. Com o coração apertado e pensamentos perdidos segui com Hades de volta para o seu castelo admirando o sol tímido e a neve assustadora.