Ceres - Agora o Inimigo é Out...

By erika_vilares

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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Os muros cinzentos que cercavam o castelo retinham a cruel realidad... More

Ceres - Agora o Inimigo é Outro
Messagem aos novos leitores
Prólogo
Capítulo Um Parte I
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete Parte I
Capítulo Sete Parte II
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Aviso
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete Parte I
Capítulo Vinte e Sete Parte II
Entrevista na Band
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Penúltimo
Último Capítulo - Parte I
Último Capítulo - Parte II
Notas da Autora
PRÉ VENDA

Capítulo Um Parte II

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By erika_vilares

Capítulo Um - Parte II

Ela umedeceu seus lábios e continuou:
– Nós não prometeremos que, os culpados não pagarão por seus atos, porém eles serão os únicos que sofrerão com a justiça caso alguém venha à frente. Pelo bem se Skyblower, por seu rei e pela paz, se alguém entre vocês tem conhecimento sobre algo, por favor, se pronuncie. Terá nossa gratidão e nossa proteção.

Ela finaliza com um olhar sólido. Nenhuma palavra é dita e um silêncio preenche o ar.

– Ninguém os condenará. Estando ao nosso lado, estará ao lado de seu reino, nosso reino – a quietude se mantém, sem saber quais palavras mais utilizar, a princesa lança um olhar para seu rei que carregava uma expressão petrificante sobre seus servos, logo seu olhar desviou para sua filha e talvez como uma aprovação, ele acena com sua cabeça.

– Um atentado fora cometido dentro de nossas muralhas – ele suspira com seu forte timbre alto. – E quais seriam as chances de nenhum entre vocês não terem visto ou escutado nada? Não terem informações de como isso foi planejado? Seria impossível, não seria? – sua voz ecoa no salão e todos serviçais se mantêm imóveis, ninguém se atreveria sussurrar uma palavra por mais baixa que fosse.

– Muitas vezes, durante reuniões, as pessoas questionam se o maior castelo do Norte de Reynes é seguro. O meu lar e de minha família, significa que eles questionam a mim. E se as pessoas questionam a mim, questionam o real poder de Skyblower.

O rei anda silenciosamente para o outro lado, encarando um a um. – Eu não gastarei mais minhas palavras e nosso tempo. Serei gentil com vocês lhes oferecendo uma chance, caso não queiram se delatar em público: quem tiver qualquer informação sobre o crime que fora cometido dentro dessas muralhas, poderá se apresentar até à noite de hoje em minha sala – ele faz uma pausa e se apruma.

– Porém, caso isso não venha acontecer, espero que todos estejam preparados para terem suas privacidades invadidas, porque meus homens revirarão suas casas, seus quartos, até mesmo seus guarda-roupas atrás de pistas para que cheguemos ao culpado. Será realmente um vexame ter suas vidas expostas de tal maneira, então espero que tenha sido claro que a escolha será de vocês, pense em suas famílias... Poderão voltar para suas obrigações agora. Tenham uma boa tarde.

Hubert com a ordem do rei, acompanha todos os serviçais e soldados para a saída, em pouco tempo a sala que parecia tão cheia é esvaziada. Somente quando todos saem, a família real se atreve sair de suas posições que por segundos, pareceram falsas.

– Revirarão as casas deles? – Elliot Van Woodsen, o segundo na sucessão do trono, não se censurou de questionar impressionando seus pais. Via-se de longe as semelhanças de seus traços com os de sua mãe. – E os inocentes? Você não está lembrado deles?

– Se são inocentes, logo não terão nada a temer porque não haverá nada a esconder – o rei rosna de malgrado por ter sua ordem questionada por seu filho.

– Amélia, você está de acordo com isto? – Elliot busca o apoio de sua irmã que somente sai de seus pensamentos quando todos esperam por sua resposta, Lucky então se aproxima se juntando com eles no salão e depois de vê-lo, seu olhar desvia para Thor.

Normalmente, Amélia seria contra a um ato radical desta maneira, acharia que seria uma forma opressora de buscar respostas por parte da realeza contra os mais opressivos, porém naquele momento ela ignorou todos seus princípios. Era por Rosa.

– Nós precisamos chegar numa solução, Elliot. Drazhan não se infiltrou nesse castelo sozinho, alguém de dentro o ajudou. Demos a opção de nos revelarem a verdade de forma simples, caso não tenhamos testemunha até à noite, nós precisamos tomar medidas mais drásticas – Elliot não esconde seu semblante impressionado e ela ignora seu olhar decepcionado. 

– A pessoa não se pronunciará – a voz acomodada com a ponta de sarcasmo natural profere cheio de certeza, Lucky não hesitava em suas afirmações.

A chegada do grupo que ficara na estalagem de Soraya fora uma semana depois da vinda de Thor de seu reino. Revê-lo fora uma surpresa para Mia, de alguma forma ela acreditou que o dinheiro não teria credibilidade e ele não voltaria ao Norte com os outros, entretanto Berbatov recebeu sua recompensa junto de seus amigos e passaram as semanas seguintes queimando a recompensa com bebida, mulheres e armas, ao menos fora o que eles fizeram todos acreditassem.

– Eu não creio que Rosa tenha sido assassinada por falta de misericórdia, ela viu algo e em consequência acabou morta por isso. De quebra fora um bônus aterrorizando a princesa.

– Também não creio num fato longe disso – Thor completa. – Conheci o caráter de Drazhan, ele não sujaria suas mãos com isso, decerto manipulou alguém.

– Você tem certeza de que não encontrou nada de diferente em seu quarto, princesa? – Lucky dirige uma pergunta a ela, Mia ainda se surpreendia a maneira como ele variava seu tom por diversas vezes com seu título de princesa, ele podia pronunciá-lo desta maneira seca como fizera ou poderia vim acompanhado de um diminutivo cheio de motejo. – Eu sei que detetives estiveram lá, mas antes deles, você não encontrara nada? Uma mensagem ou ameaça?

Mesmo a pergunta lhe pegando de surpresa, olhando em seus olhos, Amélia nega com sua cabeça. Por algum motivo que nem mesmo ela soubera, Mia escondera a ameaça encontrada sobre sua cama naquele dia, as palavras ela ainda sabia décor e elas ainda a aterrorizavam. Mia apenas sabia que aquilo fora direcionado à somente ela e a mais ninguém.

– Precisamos de pistas e precisamos agir – ela diz impaciente. – Sem perder mais tempo...

– Não – a rainha contradiz. – Meus filhos passaram quase dois meses fora deste castelo. Enfrentando o perigo cara a cara da vida selvagem à fora. Independentemente do que esteja acontecendo, vocês ainda são os primogênitos de Skyblower – ela intercala seu olha entre seus filhos. – Você é a princesa e você o príncipe, se sustentarão em esperar por notícias e nesse meio tempo cumprirão suas tarefas como príncipes neste reino.

– Me perdoe, porém estamos falando do assassinato de minha ama em meio nosso castelo! Você está sugerindo pistas caírem nos nossos pés?!

– Quase dois meses, Amélia – articula pausadamente a rainha que se levanta de seu trono. – Esse foi o tempo de ausência de meus filhos desse lugar, querendo ou não você ainda é a princesa. Mesmo se houver notícias ainda hoje, vocês esperarão... Seu aniversário está próximo e você tem obrigações por aqui. Não estou pedindo que deem um tempo, estou ordenando – ela fita o rei que não interveem. – Espero que tenha sido clara. Agora eu agradeceria se você me acompanhasse, minha filha.

A rainha desce as escadas com leveza e Amélia ainda boquiaberta a acompanha com seu olhar, logo fita o rei: – Você não pode estar de acordo com ela. Perderemos tempo por obrigações reais?

O rei alisa as têmporas e suspira: – Amélia, vocês já fizeram muito nesses dois meses. Permita que agora os serviços reais se ocupem disso, deem este prazer para a rainha e sejam pacientes – raivosa, ela dá as costas para todos os homens e se retira da sala seguindo sua mãe.

Enquanto Amélia tentava acompanhar os passos dela, que eram propositalmente rápidos entre os corredores para evitar a conversa a qual repudiava, a princesa tentava convencê-la do contrário.

– Mia, apenas estou lhe pedindo um tempo. Um tempo para respirar e se acalmar, sua vida é aqui, então por um momento esqueça o mundo perturbador e violento no qual vivemos e falaremos de assuntos tranquilizantes – ela para de andar em meio ao corredor diante uma das grandes janelas que enfeitavam o corredor.

– Então, sobre o que nossa alteza gostaria de falar? – Mia pergunta pacientemente olhando para o teto procurando não se estressar. 

Ela a fita com motejo e responde: – Sobre aquelas duas jovenzinhas as quais você trouxe para morar aqui no reino – Amélia abaixou sua cabeça e a olhou, ela lança um olhar em direção a janela e Amélia o segue notando o que ainda não tinha visto, pela visão da janela, elas viam a horta e ali estavam Anna e Savannah.

Anna molhava plantas com delicadeza, enquanto sua irmã encostada em uma árvore desenhava sobre um caderno silenciosa e de certa forma solitária.

– O que há elas?

– Gostaria de saber qual será a posição delas neste castelo – responde sem tirar os olhos da imagem.

– Você quer que eu as coloque numa posição neste castelo?

– Mia, não seja ingênua, neste castelo as pessoas têm postos, eu sou a rainha, você é a princesa, Emily é a bruxa, Lucky e seus amigos estão prestando serviços para a realeza e por aí vamos, você mais que ninguém sabe disso. Querida, eu simpatizei com essas duas garotas, mas não estamos num abrigo. Elas precisam ter algum status aqui dentro.

– Vidente prodígio e sua guardiã já não estaria bom? – ela comenta, a rainha suspira seu nome e Amélia fixa seu olhar na janela. – Creio que você já teria uma suposição, do contrário não teria citado este assunto...

Ela enche o pulmão entusiasmada. – Ladies, as ladies da futura rainha – logo Amélia a encara com um ar debochado. – Amélia, elas apenas precisarão te acompanhar e lhe prestar serviços simples o que fariam do mesmo jeito, elas estariam inclusas na nobreza e teriam acesso a corte. 

– Ótima ideia...

– Perfeito! Poderemos comunicá-las nesse exato momento. Mais tarde haverá a cerimônia dos barcos, e eu mesma cuidarei para deixar tudo preparado para nossas novas garotas já que nossa querida Violetta tem estado tão doente desde a perca da irmã gêmea.

– Claro. Você poderá ir na frente, precisarei avisar Emily que nossos planos mudaram – a rainha assente sorridente e Amélia a observa notando sua falta de remorso por ter estragado seus planos.

+++

– E agora nosso plano é: sentar e esperar que os "serviços reais" nos deem algum sinal. Você acredita nisso? Estamos lidando com o assassinato da mulher que cuidou de mim toda a minha vida, lidando com um atentado contra a realeza e as ordens dos reis foram esperar!

Emily Wiston ouvia ela enquanto amassava alguns frutos vermelhos dentro de uma tigela rasa de madeira e às vezes seu olhar verde amendoado observa-a para mostrar que ouvia com atenção.

– Talvez devesse dar esse tempo para a rainha enquanto os homens de seu pai procuram por alguma pista, Mia. A ausência de vocês neste castelo a abalaram. É compreensível, instinto de mãe.

– Você sempre tem que ser tão maternal?... Agora não fará diferença, nossa única opção é esperá-los – pronuncia quase conformada, ela tateava a boca de uma garrafa que enfeita a mesa com papoulas vermelhas. – E como você está?

Emily sabia o que sua pergunta se referia, porém ela preferiu tomá-la apenas como uma pergunta casual do dia a dia sobre nosso estado de espírito.

– Aparentemente, tenho estado ótima.

Ela mostra um sorriso para Amélia, que o retribui, mas não na mesma medida.

Emily privou todo o grupo sobre detalhes de sua viagem no último verão, ela de fato fora encontrar o amigo bruxo de Soraya ao Oeste na companhia dela e de Anna. Ela também aprendeu a controlar todos os seus poderes que saíram de controle no último verão. Aquela fonte de magia na qual Emily fora atingida ainda era desconhecida, e na certa, quase incontrolável. Mas ela sabia qual era o motivo dela ainda estar viva e aparentemente levando uma vida normal apesar de transbordar de magia.

Pertencendo à uma família original do Clã das Bruxas, automaticamente seus poderes já eram mais elevados do que uma bruxa comum, sobreviver a essa fusão de magia que lhe ocorreu somente foi possível pelo evento o qual ela nunca esqueceria e que ainda levava cicatrizes. A última vez a qual Emily esteve presente no Clã das Bruxas... Esse era um pesadelo que ainda a assombrava e agora estando tão longe, era difícil de acreditar que fora real...

Ela coloca a tigela sobre a mesa e semicerra seus olhos, repentinamente chamas se formam sobre o líquido avermelhado e em segundos somem. Amélia a olha curiosa e Emily empurra a tigela em sua direção com um olhar malicioso.

– Doce de frutas vermelhas – diz com um sorriso, Amélia a fita desconfiada com um meio sorriso examinando a superfície avermelhada e cremosa, ela mergulha seu dedo e experimenta o doce, um gosto ácido invade seu paladar.

– Foi isso que o bruxo te ensinou? Creme de frutas vermelhas? – ela ri e se debruça na mesa mergulhando seu dedo também e levando a boca.

– Não tinha muitas coisas diferentes além de ervas para comer onde ele morava.

Amélia lança um olhar discreto para algumas ervas de mirra e cravo, cristais japes e pedras ônix que estavam num canto separado na mesa. – Você fará algo de especial?

Emily a fitou.

– Mabon, equinócio de outono. Normalmente as bruxas costumam comemorar, não?

– Agora você também é uma bruxa e eu não sabia disso? – Emily arqueou as sobracelhas e disse surpreendida. Amélia mostra seu sorriso.

– Eu passo muito tempo lendo e depois de tudo que vivemos, bruxaria passou a ser uma das coisas mais interessantes para estudar. Imagino que hoje será seu sabbath.

Um semblante tristonho passa rapidamente pelo rosto de Emily. – Eu perdi um pouco a prática desde que saí do Clã das Bruxas.

– Você não pode praticar sem eles?

– Posso – se antecipa em dizer. – Mas, não há muita... graça.

Amélia pode notar como o assunto a deixara desconfortável e sem pretensões de continuar, ela muda o sujeito: – Por acaso, você já conhecera o apotecário do castelo? Ele passou uma temporada fora do castelo aprimorando seus conhecimentos em viagens, mas creio que está de volta.

– Simon? Fora ele que me trouxera essas frutas. Ele é um doce e muito inteligente.

– Tem razão, mas é uma pessoa bem fechada, como alguém que conheço... – comenta com motejo olhando para ela experimentando outra vez o creme viciante, Emily sorri e limpa suas mãos num pedaço de pano.

– Por acaso, você ainda tem visões com a vida dela? – seu olhar encontra o de Amélia de forma curiosa, o nome de Ceres não era citado com frequência no reino do Norte e isso, de alguma forma, parecia fazê-la menos real.

Amélia limpa a garganta e toma seu tempo para responder: – Na verdade não. Às vezes, eu penso que dentro dos muros de Skyblower ela simplesmente não existe. Como se fosse apenas eu, Amélia aqui.

– Então, você não tem nenhuma ideia de qual seria a ligação de Ceres com aquela Cripta? Quero dizer, lembro-me que você foi capaz de ver a primeira vez que Ceres entrou aquele lugar.

– Sim, mas foi tudo o que eu vi sobre a Cripta. Por que as perguntas?

Antes que ela responda uma sombra surge sobre a mesa e os olhos delas se dirigem para quem surge diante a porta do salão que fora reaberto na última primavera onde esteve fechado por anos quando os feiticeiros foram banidos de Skyblower...

O olhar surpreso de Aspen Butler, o conde mais do que fiel do rei, encontra o da princesa, ele parecia disperso e por segundos fita Emily antes de retornar a Mia, parecendo perder sua fala.

– Conde Butler – a princesa logo se levanta de sua cadeira ajeitando discretamente o vestido no corpo. – Há alguma novidade vinda do rei?

Ele limpa a garganta e fita por meros segundos Emily outra vez antes de pousar seu olhar esverdeado fixamente em Amélia. – Sua mãe está convocando sua presença princesa, para que a ajude com os preparativos finais do evento.

– Ah, claro – Mia se afasta da mesa e segue em direção à saída. – Emily, espero sua presença hoje, no evento. Você não me acompanhará, conde?

– Sim, princesa. Emily – ele acena com a cabeça e eles se retiram da sala enquanto Emily ainda tentava respira normalmente.

Enquanto eles andavam por áreas menos frequentadas no castelo, Mia não evitou perguntar: – Vocês são amigos? Você e Emily?

O conde fita a princesa com seus olhos esverdeados. – Ela é minha prima, na verdade prima de consideração, nós não temos o mesmo sangue.

– Por isso a olha daquele jeito? – pergunta entre os dentes maliciosa, Aspen se endireita e a fita pasmo.

– O que?

– Nada, eu não disse nada.               

+++

Depois do meio dia o memorável evento dos barcos dera partida, era uma clássica tradição na corte de Skyblower na abertura do ano como o início do outono. Marceneiros de Skyblower e de reinos próximos vinham ao castelo e se reuniam todos no celeiro próximo ao lago totalmente redecorado para a recepção dos convidados. Compravam os barcos de madeira e escreviam mensagens sobre seus desejos para este ano, colocariam no interior do barco, o libertando para que eles se tornem reais.

A princesa observava o seu redor sem chamar a atenção, lembrava que esse fora o último evento que participou antes de sua fuga, antes de sua vida "virar de cabeça para baixo". Liberdade, fora as palavras que ela escrevera no papel. Hoje, ela não saberia responder se aquilo era seu sentimento ou fora algo implantando como tantos outros na sua vida. Um suspiro escapa de seus lábios enquanto ela tateava um navio mediano de madeira muito bem polido, sua superfície era macia e ele havia uma cor caramelizada em sua extensão.

Ela o repousa sobre a mesa, ele não chamara sua atenção.

Todos da corte andavam para cima e para baixo escolhendo seus tão esperados barcos. Entre tantas conversas desinteressantes, avoada, Amélia pode ver Ari e Louis juntos roubando comida da mesa do banquete e colocando em simples bornais, começaram com os pães e até o cordeiro assado. Amélia soltou uma risadinha, em seguida escutou uma risada totalmente familiar, a risada de sua irmã. Seu olhar alcança as duas pequenas garotas que corriam pelo salão com um barco nas mãos dando risadas e suspiros afagados, logo quando ela avistara Alice correndo de Anastácia em sua direção sem olhar para frente, Amélia decide pegá-la de surpresa que logo segura sua irmã em seus braços.

Anastácia desaba na risada assim como a mais velha. Alice se levanta animada, seus cabelos ainda eram muito longos enquanto os de Anastácia iam apenas até o busto, mas assim como o pai quando jovem, a cor castanho avermelhado era visível. As gêmeas ainda tinham o ar feliz da infância nos olhos.

– Estão se divertindo?

– Sim! – Anastácia respondeu primeiro. – Veja o que Lucky fizera para nós! – Anastácia se aproximou e estendeu suas mãos mostrando um pequeno navio cor de salmão, seus detalhes eram delicados e havia um toque de fragilidade em sua construção.

– Que lindo, tem certeza que fora ele que fizera?

– Ou ele roubou de alguém – Anastácia deduziu sem escrúpulos surpreendo suas irmãs.

– Anastácia isso não é nada gentil! – Alice repreende com o mesmo tom de sua mãe, certeiramente roubando uma risada de Amélia.

– E vocês poderiam me dizer onde posso encontrar esse ladrãozinho?

– Mia, ele é um cavalheiro como todos os outros, e ele está ali – Alice aponta para o outro lado do celeiro. O olhar delas avista um homem de costas, Lucky estava lixando o casco do navio que carrega ainda inacabado. Amélia pode notar que enquanto "trabalhava", ele trocava olhares com um grupo de garotas próximas a ele, todas elas o olham dando risinhos.

Ela aperta o nariz de Alice de maneira doce e agradece as meninas que voltam a correr, em passos leves a princesa atravessa o salão ao seu encontro, ela segue até uma das mesas de peças avulsas e compra um pedaço de pano que servirá como vela.

Logo quando ele pousa o barco sobre a mesa trocando de lixa, Amélia se aproximou. Ela o surpreendeu jogando a vela sobre sua cabeça, Lucky apanha o pano de seus cabelos e joga um olhar desconfiado fitando ela por cima de seu ombro.

– O que você está fazendo?

Amélia deixa um sorriso transparecer. – Estou lhe ajudando – responde como se não fosse óbvio. Ele continua fitá-la duvidoso e a rouba um riso. – Pare de ser arrogante e me deixe te ajudar – ela toma o pano de suas mãos e pensa como o amarrará no barco. – Não sabia que você também sabia construir barquinhos de madeira.

– Por que não estou surpreso? – fala sem emoção alguma.

– Mal humor desde cedo? – alfineta amarrando a vela no mastil.

– Está bem – ele suspira olhando em volta. – O que você quer? – ela franze o cenho sem entender sua pergunta. – Vamos Mia, você está mais me atrapalhando que ajudando como de costume. Diga-me o que quer.

Ela abaixa a cabeça e umedece seus lábios soltando um risinho. – Você nunca se familiarizará com o gesto gentileza?

Ele arqueia as sobrancelhas e semicerra o olhar debochado. – Vindo de você?

– Por que você não aceita isso? – ele continua a fitá-la esperando que seja mais clara. – Que agora nós dois somos... Amigos.

Ele franze o cenho com uma careta e em seguida questiona: – Somos o quê?

– Amigos – ela afirma. – Agora nós somos amigos – ele olha em seus olhos segurando a vontade de rir, Mia se apruma e olha com altivez para ele. – Pode negar o quanto você quiser Lucky Berbatov, mas terá que aceitar o fato de que agora você é amigo de uma princesa fresca e mimada.

– Ah, e agora você é amiga de um ladrão arrogante e mal-educado?

– É... Acho que sim – responde com humor. Seus olhos pousam nela enigmáticos, em seguida ele bufa com os lábios cerrados tirando sarro e lhe dá as costas. A princesa olha em volta conferindo se alguém vira o modo como ele a deixara falando sozinha e em seguida segue atrás dele.

– O que é? Me virá com uma teoria machista de que homens e mulheres não podem ter uma amizade? – ele a lança um olhar por cima do ombro e continua andando, ela mantém seus passos apressados para acompanhar seu ritmo.

– Não é teoria, é fato – responde firme.

– Você é tão... primitivo e previsível.

– Então conte-me princesa-sabe-tudo, quantos amigos homens você tem? – antes que responda, ele completa: – Lembre-se, bonitinha, Thor não está na sua lista porque vocês compartilham a mais linda história de amor proibido – satiriza. 

– Mas, erámos amigos antes de isso acontecer.

– Exato, e acabou num relacionamento. Reforçando minha teoria de que homens e mulheres não têm amizades – ele apanha uma maçã na cesta em uma das mesas de comida e dá uma mordida a olhando superiormente.

– Claro que não!

– Ok, cite suas amizades do sexo oposto – antes que ela responda ele adivinha: – Lembrando, Elliot é seu irmão – ela cerra os lábios. – Como eu pensei – ele lhe dá as costas e ela persiste em provar que ele está errado.

– Nicolas Kaufmann, ele é um homem.

– O soldado prepotente com um nome irritante? – questiona franzindo o nariz provocando um risinho nela – Eu já vi o jeito que olha para ele. Você não o suporta – afirma.

– Aspen Butler.

– Aposto que trabalha para seu pai – inspira irritada.

– Ari e Louis – ele para de andar.

– Eles são meus amigos.

– Isso não os impedem que sejam os meus também.

– Não seja trapaceira, eles te suportam como eu, são meus amigos e não seus.

– Frederick – diz orgulhosa cruzando os braços.

– Você acabou de inventar.

– Não – fala com altivez. – Irmão de Julieta, lembra-se dela? Ele era meu amigo – ele semicerra os olhos e continua a andar.

– Mia, ele te suportou por um ou dois dias, você não tem a menor ideia do que seja uma amizade. Admita estar errada e acabamos com esse assunto.

– Não admitirei estar errada, porque não estou. Amizade entre homem e mulher existe sim e eu lhe provarei isso, porque querendo ou não, agora nós somos amigos – finaliza. Ela coloca suas mãos na cintura e diz: – E meu primeiro conselho como sua amiga, será... – ela fita o grupo de garotas que ele olhava durante a conversa.

– Se você está procurando alguém para dormir hoje, pare de paquerar Alinda Chandler, ela provavelmente tomará toda sua noite e no final não farão nada, ao menos que você a faça uma boa proposta de casamento envolvendo grandes terras. A família Chandler sempre buscou por ser vassalos dos Van Woodsen, mas a esta altura creio que eles aceitem qualquer boa proposta para a querida filha deles. Clarissa Carter, a família Carter enviou a mais bela de suas filhas para a corte na esperança de que ela encontrasse um casamento de bom negócio, porém todos conhecem sua fama. E particularmente eu a acho mais atraente entre elas, então... – ela faz um bico e olha as garotas que cochicham entre si.

– Achei que tivesse apatia com seu futuro povo – ironiza. – Principalmente com as garotas.

– Estou de volta ao meu reino e devo conhecer meus súditos – ela responde com certo motejo. Lucky apanha sua mão juntando a dele e a surpreende com seu contato.

– Agradeço por ter poupado meu tempo, nova amiga – ele deixa o resto de sua maçã sobre a palma de sua mão e se dirige em direção ao grupo de garotas sem hesitação. Ela arqueia sua sobrancelha por seu atrevimento, Lucky sendo Lucky. Ela olha para a maçã mordida e faz uma careta de nojo.

– A maçã está ruim? – quando ergue seu olhar, encontra o sorriso de Thor que se aproxima, ela bufa e joga o resto dela numa cesta qualquer.

– Pertencia a Berbatov. Estava me lembrando como o humor negro dele começa cedo – ele solta um risinho e com suas mãos ele fecha sua palma que ainda estava escancarada com nojo. Ela olha em seus olhos e seu contato a transmite bonança.

– Creio que esteja estressada com a decisão de mais cedo – ela cerra os lábios dando um meio sorriso, logo soltando um suspiro.

– Eu conversei com a rainha e sua palavra foi final. Eu não ficarei parada Thor, nós precisamos começar a procurar com ou sem a realeza – cochicha.

– Eu sei o que você está sentindo, Mia – ele murmura.

– Mas você acredita que eu devo esperá-los.

– Você terá meu apoio para o que quiser – ele afirma olhando em seus olhos. – Entretanto pensar na posição de seus pais nesse momento será nobre.

– Devemos escolher nossos barcos antes que seja tarde – reverteu o assunto com um meio sorriso.

+++

Horas mais tarde no início do pôr-do-sol todos se reúnem diante o lago, aquela seria a hora de libertar seus barcos junto de seus desejos. Os primogênitos de Skyblower e Wanderwell dão as primeiras honras. Amélia e Thor se posicionam diante a mesa apanhando a delicada e leve superfície da pena que se encontrava ao lado da tira do papel que dispunham.

Ambos seguem suas mãos para os tinteiros mais próximos, e logo suas mãos seguem até as tiras de papéis, o príncipe escreve silenciosamente sobre a sua, porém a princesa não prossegue ao notar que, ela não sabia o que escrever. Ela estava familiarizada com essa clássica cena onde eles eram observados por todos enquanto escreviam seus desejos, mas Amélia já deveria ter escolhido o que colocaria no papel. A tradição não os permitiam de revelar seus pedidos mesmo para os mais íntimos e sem ter a quem recorrer ajuda, ela tentar pensar rápido.

Thor escreve suas palavras e logo repara na falta de ação dela. Amélia pensou em pedir vingança de sua querida ama, mas hesitou. A cerimônia era feita na esperança de trazer prosperidade e energia, e ao seu ver, a vingança era um dos sentimentos mais rancorosos e maldosos que alguém pode alimentar, ela era a prova viva disso, segundos tornam-se minutos e ela ainda mantém o silêncio.

Logo ela mergulha a ponta da pena na tinta negra exposta no tinteiro e sua mão direita sem firmeza tenta se apoiar na mesa, não importasse os anos de prática, escrever com a mão direita sempre fora um grande desafio para Amélia.

Thor a observa pelo canto do olho, ela está ciente de que todos a observam. Amélia olha para o pedaço de papel e a gota de tinta na pena prestes a escorrer. O silêncio é completo e nesse momento seus batimentos cardíacos parecem ser o único som entendido. Ela avista discretamente uma ponta amostra dos raios de sua marca de nascença pela manga do vestido.

Bastille - Pompeii 

Silenciosa, escreve suas palavras na tira de papel. 

Ergue-se e acena com sua cabeça, um militar assopra sua trombeta e o som paira ao vento junto aos outros soldados. Amélia e Thor se entreolham e sorriem com um brilho no olhar, apanham seus barcos colocando ambos abaixo do braço e se aproximam em gestos parecidos até o lago.

A princesa coloca seu navio sobre a água clara água do lago ao lado do navio negro de Thor, ele não pareceu se importar que a cor escolhida levasse comparações nas fofocas aos navios piratas, mas a ousadia foi sua forma de representar o novo ano. As tiras com seus pedidos são amarradas no casco e são arrastadas na cristalina superfície d'água.

Sem planejar, eles entrelaçam suas mãos.

Seus navios caminham lado a lado até tomarem direções contrárias, formando invisíveis arcos opostos sobre a água, dando a abertura oficial o novo ano.


_____________________

Capítulo Um Parte II do segundo livo da série As Adagas de Ceres

5092 palavras

Agora siiim vem textinho babão para vocês, cinco meses! Sim, foi todo esse tempo que Ceres ficou fora do ar, mas eu ACREDITEM foram muito bem aproveitados, eu coloquei minhas ideias no lugar e as coisas fluíram, UFAAA!!! Agora não é para puxar saco não, mas que eu tenho umas leitoras e leitores maravilhosos eu tenho usahuashush Sério, vocês acabam comigo com todo esse carinho nas redes sociais, agradeço de coração <3
Infelizmente a ferramenta de áudio não está funcionando então não teve música neste capítulo :(

Capítulo dedicado a : hcarolly a linda que já pegou muitos dos meus mistérios só com as dicas <3 haha beijão para você!!

P.S.: Parabéeeens MonicaBertelle pelo seu aniversário no dia primeiro <3 que venham muitos mais, felicidade e saúde!!

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