Aquala e o Castelo da Provínc...

By BernardoDeSouzaCruz

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Extraterrestres. Será que eles realmente existem? De onde vêm? Será que são do jeito que os humanos imaginam... More

PRÓLOGO - VIZINHOS EXTRATERRESTRES
CAPÍTULO 1 - A CADEIRA DOURADA
CAPÍTULO 2 - O DICIONÁRIO DE BOLSO
CAPÍTULO 3 - CATORZE ANOS MEDÍOCRES
CAPÍTULO 4 - ESCOLA DAMATIO
CAPÍTULO 5 - UM INSETO EM ALAN
CAPÍTULO 6 - O ATAQUE AOS ALUNOS
CAPÍTULO 7 - DEBAIXO DO SEU NARIZ
CAPÍTULO 8 - TUDO DE MÃO BEIJADA
CAPÍTULO 9 - OS EXTRATERRESTRES DE ESTIMAÇÃO
CAPÍTULO 11 - O CENTRO OSÍRIS
CAPÍTULO 12 - A CIDADE DO CASTELO
CAPÍTULO 13 - A CORRIDA
CAPÍTULO 14 - O LAGO DOS DESEJOS
CAPÍTULO 15 - MALDITOS MONSTROS!
CAPÍTULO 16 - SOB O DOMÍNIO DOS THONZES
CAPÍTULO 17 - A SOBREVIVENTE
CAPÍTULO 18 - OS ESCARAVELHOS
CAPÍTULO 19 - UMA ESTRANHA VISITA
CAPÍTULO 20 - DOIS HOMENS DE MEON
CAPÍTULO 21 - AS ABDUÇÕES
+ Um recado aos leitores
Capítulo 22 - O gancho necessário.

CAPÍTULO 10 - AS AVES CINTILANTES

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By BernardoDeSouzaCruz

Naquele mesmo dia, Thomas tinha a certeza de que seu pai não voltaria para casa. Não havia receio ao permanecer sozinho em casa, mas o que realmente o comovia era não ter uma companhia para conversar, contudo a melhor saída foi dormir na casa do melhor amigo.

De madrugada, Felipe não tinha sono algum, ele olhava para o teto de seu quarto tentando imaginar um mundo inteiro diante de seus olhos, mas somente encontrava o teto. Luka dormia na gaveta de cuecas do garoto, havia uma luz verde em volta dele, assim iluminava o quarto. Volta e meia, Thomas, no colchão abaixo, puxava algum assunto que logo era rompido com êxito pelo garoto.

– Deveríamos ter passado o dia com as meninas.

– Não houve nada melhor para fazer que ficar horas arrumando minhas malas – colocou-se Felipe – Você deveria ter feito as suas.

– Tenho poucas roupas para dobrar e sapatos para pôr na mala, somente.

– Então completamos tudo com êxito – ele riu. Um momento de silêncio instalou-se no cômodo. Qualquer graça tornou-se nada mais que bobeira. A língua de Thomas coçava e não se prendia tão facilmente em seus dentes.

– O que pretende dar à Sofia?

Mais alguns segundos de silêncio pairaram no ar e, logo em seguida, veio a resposta.

– Como assim?

– Li, no livro que me emprestou, que, ao encostar em terra aqualaeste, um representante do sexo masculino deve presentear uma representante do sexo feminino. Isso é cultura Neo Malisiana – ele apoiou a cabeça em seus braços.

– Isso vai ser engraçado – Felipe falou em tom eufórico ainda se ajeitando na cama – Mas eu só vou fazer isso por que quero pregá-la uma peça.

– Vá com calma. Lembre-se de que seu humor é um tanto pesado – alertou Thomas.

– Sofia é durona, ela aguenta.

– Não tenho certeza quanto a isso. Talvez ela fique chateada, essas suas brincadeirinhas são, algumas vezes, ofensivas.

– Ofensivas como? – Felipe olhou para o colchão embaixo, onde o amigo estava.

– Não sei como explicar, deixe-me dar um exemplo. Quem é a única garota com quem você faz piadas? – não houve ruído algum durante uns segundos – Sofia, certo?

– Talvez sim – Felipe concordou.

– Quem é a única pessoa que você faz questão de caçoar todos os dias em que a vê?

– Eu deveria dizer Sofia?

– Claro! Só quero alertar que nem sempre ela deverá aceitar suas piadas de mau gosto.

– Mas continuo querendo presenteá-la.

– Vá em frente, mas não diga que não avisei – Thomas virou-se para o lado, o travesseiro cobrindo a orelha.

A porta do quarto bateu naquele momento. O espanto foi inevitável, eles levantaram rápido e quase encostaram na parede longe daquele barulho.

A maçaneta rodou bem devagar, de modo sutil como quem não queria assustar, mas sim avisar que estava chegando. Do outro lado, sombrio no corredor, o homem de chapéu e sobretudo abria a porta assim como dava os passos, de modo lento. Ele logo tomou espaço ao aproximar-se dos meninos, que ainda mantinham distância, ele segurou o lençol da cama, passava as mãos nos armários. Com um medo agonizante cortado pelo doce som da sua voz, ele perguntou.

– Não vão abraçar o seu velho?

Thomas levou sua aparência do branco ao natural quando reconheceu aquela rouquidão.

– Ganhe uma bala...

– ... de um velho banguela! – completou o garoto, agora sorrindo. Um senhor que retirou o chapéu e trouxe, de dentro da roupa, uma barba prateada, não havia sequer um fio de cabelo em sua cabeça.

– Quase que o senhor nos mata do coração – sorriu Felipe, levando a mão ao peito, sentindo o quão leve seus batimentos cardíacos ficaram. O velho deu uma risada gostosa de se ouvir.

– Faz tempo que não nos víamos, Lutile! – falou Thomas quando os dois foram lhe abraçar. Ele olhava para os rostos dos meninos.

– Como cresceram! – admirou.

– Impressão do senhor – disse Felipe, carinhosamente.

– É verdade. Com a observação de que não foram me visitar lá na loja desde... deixe-me ver... hum... faz quase um ano.

– Muita informação chegando, o senhor não imagina o que nos aconteceu! – falou Thomas.

– Antes de começar, responda uma pergunta. De onde o senhor veio?

O homem deu uma risada meio rouca e mirou bem os olhos do garoto.

– Hoje, mais cedo, passei na escola de vocês, porém não os encontrei. Mas, se querem saber sobre um planeta, eu digo que vim de Aquala.

– Precisava perguntar, não sabia se o senhor era um boçal ou um aqualaeste.

– Boçal? – o velho perguntou, intrigado.

– Um amigo meu chama assim quem não é aqualaeste. Achei bom o termo para quem não sabe cuidar do planeta.

– Uma pergunta extremamente necessária, é sempre bom perguntar. Parece que o destino os chamou para conhecerem a realidade, mas precisam de sabedoria para poder encará-la – complementou Lutile, olhando um instante para cada rosto. Thomas o olhava compenetrado, mas sem entender – Quero mostrar-lhes uma coisa.

De suas mãos grandes e enrugadas, movimentos entrelaçaram seus dedos e um inseto parecido com um lagarto verde, mas com três centímetros e asas de libélula rosas, andava em sua palma. Ele manteve um voo preciso e parado sobre os olhos do velho.

– Encostem o dedo indicador.

– Não morde? – Felipe perguntou e aguardou, enquanto Thomas afobou-se e recebeu uma ferroada.

– Não tenha medo, olha o tamanho dele e o de vocês – falou Lutile. Quando o último dedo o encostou, uma folhagem gigantesca os cobriu, a velocidade com que elas se movimentavam era tanta que algumas caídas no chão do quarto espalhavam-se com o vento. Eles não tinham ideia de onde surgiram, mas começavam a acreditar fielmente no poder aqualaeste.

Em questão de segundos, o velho e os garotos sumiram com a maioria das folhas, ainda que algumas delas tivessem sido levadas por uma corrente de ar através da janela. Enfileiradas em ordem bastante atraente, elas voaram, ultrapassam a janela e, em seguida, no frio da noite, alcançaram as nuvens altas além dos prédios. Cada andar parecia um degrau para o paraíso, as pessoas em suas camas, outras em computadores com a ajuda de uma xícara de café, outras assistindo à televisão, tudo ao alcance dos garotos que não aparentavam estar no meio daquelas folhas, mas tinham uma visão surpreendente da cidade por cima.

O vento continuava forte, contudo eles mantiveram-se atados. Transformados nas próprias folhas, sem poderem se mexer ou falar algo, somente observaram o que se passava à sua volta. Por um instante, eles sentiam o vento em seus rostos, mas aparentemente não estavam lá. A fileira de folhas emergiu e, finalmente, entre os arranha-céus, Thomas achou que a morte lhe estendia uma mão e ele a rejeitava apavorado, mas nada pôde ser feito, não tinha domínio do comando.

Enfim, eles desceram e ficaram a dois metros da calçada, a corrente continuou e uma lojinha de dois andares foi fitada com minúcia. O foco era voltado à sua aparência funérea, um olhar putrefato em resposta às paredes que pareciam se deteriorar, pálidas e mortas. Sua madeira velha era acinzentada. Parecia ser uma antiga loja que um dia foi devorada por um incêndio. Aquelas folhas entraram pela janela, cujo cheiro fétido era dominante, e, ao alcançarem a escuridão, um frio aconchegante os envolveu. A corrente de ar aumentou e um pequeno tornado se formou, jogando os garotos no chão.

No momento seguinte, o contato com o piso lhes deu insegurança, eles apareceram entre aquela briga de folhas que lhes chicoteavam. Lutile apareceu como se saísse de um carro, esticou a perna e manteve o equilíbrio. Ele segurou-se no que podia, sentiu-se debilitado, todavia o vento batendo em suas orelhas não cooperava, era algo fora do imaginável. Vigorou-se um desejo impulsivo de bater na cabeça para soltar-se daquele mal-estar que o impregnou.

– Thomas! Thomas, está me escutando? – berrava o velho usando sua voz falha.

– Me tira disso, por favor, me solta! – ele respondeu em meio a gritos, ainda não se via muita coisa pela frente, sua visão estava turva.

– Não faça nada que te machuque, está me entendendo? É normal isso acontecer no começo, querer se bater, mas passa.

A tempestade de folhas cessou e um peso fez barulho no chão, a madeira estalou, ele sentiu que, por uns quilos a menos, o piso não se desfez. O prazer de bater na sua cabeça fazia suas mãos coçarem, uma dor profunda parecida com estilhaços de vidro entrando na lateral de seu crânio.

Um clarão diante dos olhos do garoto o fez hesitar em abri-los, lembrou um centro cirúrgico pós-parto onde pareceu um bebê em seu primeiro contato com o ambiente fora da barriga da mãe. Naquele momento, tudo estava visível e o homem barbudo segurou Thomas antes que caísse.

– Bata na cabeça com as mãos, depressa! – falou o senhor.

Soltou-se dos braços do velho e procurou fazer o lhe era mandado. Ele não mostrava pena alguma de si, a dor que carregava era insuportável.

– O que está acontecendo com ele? – Felipe manteve espaço.

– Eu deveria ter avisado, Thomas saiu antes de nós. Ainda não está apto a fazer esse tipo de coisa, não estava na hora – ele segurou novamente Thomas pelos braços, controlando o garoto, que o olhou diretamente nos olhos, dizendo:

– Estou bem – engasgou.

– Nunca desobedeça a uma ordem – Felipe o apontou o dedo quase a tocar o nariz.

– Eu não sabia que isso iria acontecer. E pode ter muita calma Sr. Guinard – ironizou o garoto.

– Não acha perigosa a ideia de que podia estar morto agora? – ele examinava algumas prateleiras vazias ao tentar bronquear Thomas.

– Podia? – o garoto perguntou a Lutile, que negou com a cabeça. Na mão do velho, agora, descansava uma lança de dois metros, cuja iluminação, pouco acima de suas cabeças, era esvaída por um fígado. De seu interior, uma luz azul-topázio fazia os garotos se enxergarem ainda, como o brilho de diamante.

– O que é isso? – Thomas pôs o dedo e afundou, era mole feito gelatina.

– Fígado de Chloetor, a fera das florestas – o senhor respondeu, o garoto limpou a mão no pijama, mesmo não estando melada. Embora nojento, aquele órgão transmitia uma profunda paz, um sentimento de felicidade e trazia uma beleza descomunal. – Agora deixem-me apenas encontrar o interruptor.

A luz vinda das lâmpadas no teto interrompeu a forte ligação de seus olhos com a iluminação abundante do fígado que logo se tornou desprezível. Agora apenas se viam estantes nas paredes e um rombo no chão, que parecia dar entrada ao primeiro andar. Lutile colocou um pé após o outro e caiu, sem nenhuma recomendação, lá embaixo.

– CUIDADO! Pelo amor de Deus, está bem? – assustou-se Felipe, cuja última cena vista foi a visão ligeira da cabeça nua do velho adentrando o piso. Em resposta, uma risada acolhedora.

– Estou bem, deviam tentar sem a escada.

Primeiro, Thomas e, em seguida, o amigo desceram pela escada de madeira. Um balcão e mais prateleiras presenciavam o lugar. Lá embaixo, Felipe andou até uma máquina de balas empoeirada por completo, não dava para visualizar seu interior.

– Suponho que estejamos na sua loja de doces. Não me lembro de ela estar tão morta como agora – murmurou Thomas – Onde estão todas aquelas balas, chicletes e chocolates?

– Estive um tempo fora. Não foi por desprezo que não me encontrei mais com vocês, afinal um trabalho me foi fornecido em Castella Hondeias – Lutile pôs seu sobretudo e chapéu no cabideiro ao lado do balcão – O governador Lamborìe me chamou para um serviço temporário, mas que durou sete ciclos.

– Como assim ciclos?

– Cada mês aqualaeste possui trinta e oito dias. Um ciclo.

– Castella Hondeias é onde terá a festa da Luana – lembrou Felipe.

– E exatamente onde, primeiramente, ficarão hospedados – continuou Lutile, ao pegar dois lençóis brancos atrás do balcão – O governador Lamborìe, líder da província onde irão permanecer, resolveu deixar de lado o status de castelo do Castella, para torná-lo também um hotel para os novos aqualaestes até se acostumarem e seguir com suas vidas.

– Então não vamos precisar nos preocupar em ter um lugar onde morar lá, esse tal de Lamborìe já faz isso por nós – concluiu Thomas.

– Mas, com ou sem castelo, vocês terão facilmente onde morar – confirmou Lutile ao passar na frente dos meninos com os lençóis brancos arrastando ao som do estalo do piso empoeirado. Ele jogou os panos para o alto e eles voaram por toda a loja.

Ao passarem pelas prateleiras vazias, elas abarrotam-se de vidrinhos cujo recheio eram balas de todos os tipos e sabores. Aquelas de gelatina saltitavam até um metro de altura, ursinhos de marshmallow empacotados ao lado de uma caixa que jorrava pedacinhos de biscoito no ar quando abria, como se não houvesse gravidade, vidros como os de conserva estavam cheios de guloseimas. Alguns destes sacudiam, outros pulavam, tudo nas estantes.

No momento em que a visão dos garotos foi impedida pelos lençóis, o chão ficou brilhante e de cor ocre, uma variação do marrom. Do teto azul e das paredes, escorria chocolate, mas os ralos no piso impediam que sujasse os pés dos clientes.

Por tão pouco, o joelho de Felipe se deparou com a quina de uma máquina que jogava pipocas torradas com doce de leite ao ar. Caíam de volta em um jarro de vidro, onde pareciam brigar entre si. Os garotos estavam deslumbrados.

– Como o senhor fez isso? – questionou Felipe.

– Pergunte a Gualeis. A filha do dono estuda com vocês se não me engano.

– Deve estar falando de Ophelia.

– Essa menina! Muito mimada, mas uma boa pessoa. Já até comprou comigo mesmo não precisando.

Thomas moveu-se até o balcão, o lençol que estava no ar pairou, tornando-se o pano sob uma caixa registradora e um baleiro de três andares. Deu um pulo ao assustar-se com um gato sem pelos, mas que tinha uma espécie de mel de cor avermelhada pingando sobre suas patas. Lutile contava o dinheiro que ainda restava na bancada.

O outro lençol tornou-se vermelho e, finalmente, serviu como tapete de entrada da loja, enquanto Felipe mergulhou as mãos num lago de água pastosa com sabor doce e levemente azedo de manga.

Nos poucos minutos que se passaram, batidas na porta, agora de madeira mogno, foram ouvidas.

– Não atendam, eu vejo quem é – falou o velho em sua camisa branca de manga comprida e calça de linho, encaminhando-se para atender. Uma mulher baixa de rosto redondo e boca pequena, com lábios finos, tinha o coque quase desfeito, usava uma enorme bolsa que se esticava até os joelhos.

– Mãe!? – exclamou Felipe num tom meio assustado.

– Bom dia, crianças! A luz do sol mal tocou o bairro e já encontrei uma razão para passear com o Luka. Vieram para cá e esqueceram o pobrezinho em casa – o potuco saiu de trás das costas da mulher e pulou como um macaco na cabeça de Felipe. O ET parecia se sentir confortável em cima dos cabelos cacheados do garoto.

A história não foi mais contada, os Guinard já passaram dos limites com suas esquisitices. Um belo dia, Felipe acordou e decidiu pôr o nome Luka em seu cão, que agora virou um alienígena. Volta e meia, o monstrinho não podia ouvir um som de carro ou buzina que ainda latia e o som invadia todos os cômodos. O caçula da família era constantemente chamado a atenção.

Naquele mesmo instante na loja, o garoto agarrou Luka quando tentou voar e lamber seu rosto. Não tinha mais o porte de um poodle fino como Rosana sempre almejou, mas sim o porte de um fã nato de lambidas, gargalhadas e destruição quando flutuava. O dono o segurou no colo enquanto Thomas acariciava suas costas escorregadias.

– Eu me perguntava o que faria para deter o Luka no exato momento em que cuspia as bolas de pelo – a mulher, que usava um casaco de lã, retirou os óculos escuros, sentindo-se mais confortável dentro da lojinha – Obviamente eu achei a resposta com o Sr. Lutile, era óbvio que, quando o transformamos em cachorro, eu acabei dando algumas gotas para curar sarna de gatos, mas devo agradecer a ele e aos seus serviços – ela sorriu.

– Não diga isso! – ele pareceu agraciado – Somente alguns conhecimentos sobre os doces e nada mais para um bom resultado.

– Vocês deram bala ao animal? – o garoto tentava entender.

– Medicamos o cachorro com um pacote de Delícia Doce Gualeis – ela sorriu espontaneamente, afrouxando o lenço no pescoço.

– UM PACOTE? Me surpreende você ser veterinária, mãe! – ele protestou. Ao seu lado, um bando de gaivotas bem pequenas de chocolate voava perto de suas orelhas, a menos de três centímetros.

– Calma, Felipe – intrometeu-se Thomas – Foi para o próprio bem dele.

– Meu querido! – a senhora Guinard veio na direção do Flintch – Fazia tempo que não o via – ela o abraçou. Ele sorriu.

– Como o Luka começou com esse sintoma? – perguntou Felipe, ainda segurando-o.

– Filho, provavelmente uma bactéria. Sangue aqualaeste produz pequenas ondas nos chamados glóbulos azuis que, às vezes, liberam acretaria esoatae. Infecta muitos seres vivos entre alguns dos dois planetas, é comum. Afinal de contas, ele é um potuco, é normal ter essas crises. Na forma de um cachorro, ele devia comer muitos pelos, mesmo que, por dentro, ele seja o mesmo extraterrestre que é hoje.

A mulher deu uma olhada no relógio em seu pulso e voltou o olhar decidido para os meninos – Bem, esta é nossa hora. Na verdade, já estamos atrasados!

– Atrasados para onde? – Thomas interferiu, com cara de preocupação.

– Para a viagem, é claro! O que mais poderia ser? Temos que ir depressa.

– Não é possível, meu pai disse que ainda falta um tempo para ajustar o horário local com o de nossas mentes para que não haja impacto.

– Se ele lhe disse isso também é possível ter mencionado sobre a crise das Manleiras, as ajudantes do governo. O principal motivo da antecipação da viagem – explicou, apressando o filho, ao puxá-lo pelos braços, enquanto Luka o seguia – Seu pai recebeu uma ligação agora pouco, está doido procurando por você!

– Conseguiu falar com ele? Como ele está? – Thomas arregalou os olhos, interessado – Podia ter me contatado.

– Ele está à nossa espera.

– E temos que buscar nossas malas – lembrou Felipe.

– Isso não é mais um empecilho, já estão em nosso atual destino, casa dos Flintch – deu meia volta, puxando o filho consigo. Thomas os seguiu.

– Esperem! – chamou Lutile – O comércio já está de portas abertas, precisarão de uma ajuda – o senhor retirou do bolso do sobretudo no cabideiro um saquinho de plástico colorido contendo uma porção de balas translúcidas, parecidas com bolinhas de gude de cor azul.

– O que é? – perguntou Thomas.

– Caramelos confeitados com água de melado e borracha. Não parecem muito confiáveis, mas o gosto é bastante agradável.

Os três, inclusive Rosana, puseram uma daquelas guloseimas na boca.

– Não esqueçam: nunca as mastiguem, apenas deixem na boca ou engulam se tiverem coragem. Bem, creio vê-los mais tarde – Lutile pôs a mão enrugada no ombro do garoto.

– Mas o senhor não vem conosco?

– Não posso, mas encontrarei vocês na nave, antes de embarcarem.

Thomas não ousou entender o que o senhor queria que fosse interpretado, pelo que ele tinha entendido, Aquala não usa forma alguma de tecnologia, pelo menos até onde o informaram, mas não disse uma palavra sobre o assunto. Ele queria mesmo é ver seu pai, já que nunca o via. Virou-se e esbarrou em Felipe, os dois voaram em direções opostas, a força foi tanta que eles chegaram a se machucar ao baterem de cabeça nas prateleiras, resultado das balas que colocaram na boca. Vários jarros cheios de guloseimas e frutas exóticas foram ao chão. Eles gritaram de dor.

– Tenham bastante cuidado! – o velho lembrou, num tom de alerta. Sua mão erguida no ar fez Thomas pôr os pés no chão e manter-se em equilíbrio, novamente – Enquanto vocês usufruírem o caramelo, estarão impossibilitados de fazer qualquer ação em que haja qualquer tipo de colisão, o efeito é esse que acabaram de presenciar.

– Não podemos tocar em nada? – Felipe ajeitava-se com a ajuda da mãe ao levantá-lo.

– Podem, mas cuidado.

A noite em claro serviu para alguma coisa. A saudade do bom velho já havia passado, não completamente, ele era uma pessoa sensível e totalmente capaz de lidar, um coração puro e amigo de informações. Não havia homem tão experiente como Lutile.

O céu já estava claro e mais que uma visão das nuvens azuladas atrás dos arranha céus foi percebida, a percepção de profundidade estava ampliada. Rosana apressou-se e tomou lugar na frente de todos, olhou para um lado e para o outro. Um senhor gordo passou por eles como uma das poucas pessoas que caminhavam naquela rua. Usava boina e se apoiava numa bengala.

Thomas se perguntou se haveria problema caso aquele senhor os visse, já que, sem querer, o deu bom dia logo que o viu. A bala que Lutile os entregou não parecia ser normal e possuía um efeito proveitoso, mas não tinha com o que se preocupar, afinal os terráqueos não podem assistir a poderes e nada relacionado aos costumes aqualaestes. Era o que tinha em mente.

Após a ordem da Sra. Guinard para eles a seguirem, a mulher soltou impulso ao chão e deu um pulo que a fez passar por cima dos carros estacionados no meio-fio e pôr os pés no telhado de uma casa no outro lado da rua. O senhor de boina provavelmente a viu soltar o impulso e desaparecer, ficou perplexo e tremeu-se por inteiro. Não era efeito dos remédios.

Felipe esperava Thomas tomar iniciativa e ir primeiro, o garoto também o fazia.

– Nós somos aqualaestes, certo?

– Certo.

– Isso é muito comum em Aquala, certo?

– Provavelmente.

– Se cairmos no chão, iremos quicar, certo?

– Não sei, vamos embora?

– Vamos logo! – Thomas correu e seu amigo fez o mesmo. Deram pulos altíssimos, chegaram a ver, sob seus pés, um caminhão de lixo passando, lembrando aqueles carrinhos de brinquedo. As poucas pessoas eram pontos se locomovendo.

O senhor de bengala olhou para a porta da lojinha ao procurar alguma explicação. Lutile, parado ao segurar a maçaneta prateada, levantou os ombros em sinal de alienação, fingindo não saber de absolutamente nada e bateu a porta.

Rosana pulou do telhado para o prédio da outra rua e os meninos iam atrás. Em seguida, eles quicaram de edifício em edifício.

– Me fala que eu não estou sonhando! – berrou Felipe, com o vento no rosto e Luka o segurando com suas mãozinhas verdes e pequeninas. A testa era aquecida pelo calor do nascer do sol. Ele apontou para as ruas lá embaixo, entre um prédio e outro, embasbacado.

– Não estamos sonhando! – ele riu. Seus olhos, naquele instante, estavam fixos na escola, alguns alunos já se aglomeravam em frente ao portão.

Thomas, de uma maneira, não parava de pensar se aquilo tudo era realidade, mas era tudo muito colorido e sensível para ser fruto da sua imaginação. Nos sonhos, as pessoas podem alcançar até o que lhes era impossível de acontecer, e agora eles sabiam que tudo era, sim, possível. Quem imaginou que, em algum dia, em vez de olhar para cima e ver o céu, eles estariam olhando para baixo e visualizando tudo como se fosse miniatura?

– Meus calcanhares estão começando a formigar! – queixou-se Felipe, cujas orelhas eram encobertas pelo barulho do vento.

– Já estamos chegando – sua mãe berrou, enquanto estava a muitos metros acima dos carros. Em seguida, pulou do edifício e caiu no telhado de Robert, saltou para o jardim dos fundos. Aguardou até os meninos chegarem. Ao encostar os sapatos na grama, logo correram para a porta.

– PAI! – Thomas exclamou. O homem desceu as escadas e veio especulando.

– Onde você esteve? Estão horas atrasados!

– Me desculpa – falou o garoto – Lutile nos chamou para ver a loja, então nós fomos. Somente depois a Sra. Guinard chegou e nos trouxe.

– E o papel, onde está? – Robert pôs as mãos na cintura.

– Que papel? – Thomas se intrometeu.

–Lutile entregou a mim – Rosana se impôs, retirando da bolsa uma folha dobrada e amassada que cabia perfeitamente na palma da mão.

– Mas para que isso lhe serve, Rob?

– Arranjei um trabalho, acredita? – ele olhou, meio cabisbaixo.

– Que ótimo! Mas onde? – ela deu-lhe um abraço.

– Na Duality Guilux. Como... administrador.

– Estou muito orgulhoso de você, pai – Thomas, agora, o abraçou.

– Bom, acho melhor subirem. Suas malas estão prontas no seu quarto, filho. As meninas também estão lá em cima.

Enquanto subiam, memorizavam o que iam contar para elas sobre Lutile e os pulos entre os prédios, mas, ao abrir a porta, os garotos se depararam com um animal quadrúpede apoiado com as patas dianteiras em sua cama, como se quisesse ver através da janela. Tinha olhos totalmente verde-água e uma brecha preta no meio, o pelo alaranjado e listras finíssimas pretas. O rabo era do tamanho de uma perna. Thomas fechou a porta no exato momento e voltou para a sala.

– Pai, por que tem um leopardo lá em cima?

– Não é um leopardo, é um tigre aspektua, um dos animais mais raros.

– Aspektua? – ele repetiu.

– Exato. São parentes distantes dos tigres siberianos, porém têm características fortemente assemelhadas.

– E por que tem um no meu quarto?

O tigre desceu vagarosamente as escadas com um gingado e postura robustos ao lado de Laura e Sofia. Robert o apresentou.

– Crianças, esse é Balta, um grande amigo que conheço desde antes de todos vocês nascerem.

O grande animal ergueu o focinho quase todo branco e disse:

– É um grande prazer conhecer novos aqualaestes tão destemidos.

Thomas o olhou com uma visão diferente, carismático dessa vez, sem nenhum medo. O animal falou com todas as palavras como sempre fazia, era de surpreender qualquer um. Mas os garotos já haviam presenciado fatos tão extraordinários que relevaram com êxito e normalidade.

Laura, ao lado do garoto, encostou no pelo macio, suas mãos afundaram.

– O tempo está passando rápido – lembrou Rosana, sem paciência.

Horas depois, todos já estavam prontos, o animal usava um acessório em suas costas para carregar algumas das malas sobre um lençol branco que o cobria. Estava escurecendo e eles já haviam saído de casa. Na rua, um grupo de crianças jogava bola, estava tudo muito calmo.

– Mas ainda não sei onde estamos indo – falou Sofia, ao andar ao lado dos amigos, usando um vestido prateado e sapatos de salto fino. Uma argola dourada brilhava em seu braço.

– No shopping. É o lugar mais perto que temos – respondeu Robert.

– Não seria uma má ideia, só que meus pais me matariam, apesar de já terem pegado o voo antecipado para Aquala. Depois desse, agora só daqui a quatro anos, e além do mais, demos sorte de uma manleira voluntária ter dado as caras – falou Sofia.

– Não vamos fazer compras – avisou Laura ao olhar para a amiga.

– Nosso destino é o estacionamento no último andar. É lá nosso portal mais próximo – completou Robert. Em seguida, ele deu um tapinha nas costas de Balta, que estava sob as bagagens – Está tudo bem aí?

– Na medida do possível – respondeu a voz de muitos anos, vinda de baixo do lençol.

Volta e meia, enquanto andavam, Felipe tropeçava no pano branco que cobria Balta e se arrastava pela calçada. Sofia o fitava com repugnância.

Para chegar à quadra do shopping, não se precisou de grande atenção, nem de muito tempo. A Rua Mario Cisney era a mais movimentada, circulava uma boa camada de pessoas ao lado do ponto de táxi em frente à entrada, que era uma enorme parede de vidro de uns vinte metros, com luzes a enfeitando, lembravam estrelas. Em grandes letras verdes, havia escrito Alto Lago.

Eles passaram a porta automática e subiram as escadas rolantes para o primeiro piso.

– O estacionamento fica depois de qual piso? – murmurou Thomas à Laura, ao seu lado.

– Fica acima do quarto piso.

– Não sabia? – interferiu Sofia.

– Não... é que meu pai não tem muito dinheiro para ficar gastando aqui – ele falou.

– Que pecado! – ela fez cara de pena.

– Não tem problema – disse Laura, novamente – Hoje em dia, as pessoas andam nos shoppings simplesmente para passear.

– Sabe o que é? Eu não venho porque não quero almejar uma coisa que nunca poderei ter, roupas nas vitrines, sapatos italianos, tudo muito fora da realidade para mim e eu não gosto nem de pensar nisso.

O chão do primeiro andar era todo branco. Mais à frente, havia poltronas e alguns desenhos abstratos de ladrilhos coloridos no chão, parecidos com os das janelas de catedrais. Nas laterais, mais lances de escadas rolantes. O teto do shopping era de vidro em forma de mosaico. Definitivamente havia pessoas por todos os cantos.

O garoto andava na frente com Laura guiando Balta sob o lençol. Robert e Rosana dos lados, e, atrás, Felipe com Sofia.

– Como chegaremos a outro planeta? – Thomas olhou sobre o ombro para o pai.

– O jeito como nós, pseudo-humanos, viajamos é por zarmo, uma ave bastante esperta. Voaremos até o Centro Osíris no espaço e, em seguida, as naves nos levarão numa viagem demorada até a atmosfera de Aquala.

– Podíamos ir de teletransporte – lembrou Felipe, atrás de todos.

– Apenas algumas raças bem selvagens sabem como o fazer. Conseguem ir, em tão pouco tempo, a milhões de quilômetros à frente – explicou Robert – Agora, continuem andando.

Sofia percebeu que muitas das pessoas que passavam por eles paravam e olhavam seus pés. O que podia ter de errado?

Balta balançava seu rabo alaranjado e listrado à mostra. A garota logo tratou de cobri-lo.

O calor do estacionamento no último piso adentrou e levantou os cabelos de Sofia ao abrirem a porta automática.

– Vejam se não há ninguém por perto – pediu Rosana.

– Não há nenhuma alma viva aqui, somente carros – falou Felipe em tom alto. A Sra. Guinard então puxou o lençol branco de cima do tigre.

– Já estavam demorando – disse Balta com aquela voz grossa – Vocês não sabem o quanto é difícil andar podendo apenas ver o chão.

Um casal saiu do carro preto perto dali. Ambos ficaram com olhos fixados no tigre. Os garotos não sabiam o que falar naquela hora, poderiam fazer uma confusão sem tamanho ao visualizar os pelos tão reais do animal, então Balta paralisou no exato momento.

Felipe estufou o peito e engrossou a voz.

– Vocês sabem como me tirar o fôlego, família – o garoto interpretou, despistando o casal – Ele parece idêntico àqueles das florestas, é um brinquedo perfeito. Muito obrigado pelo presente – abraçou o animal e o casal continuou andando e desceu as escadas ainda fitando o tigre.

– Essa foi por pouco – falou Laura, rindo.

– Mas como eles viram o Balta? Afinal, ele é aqualaeste.

– Digamos que, por eu ter um parentesco quase idêntico ao tigre siberiano, há uma confusão das moléculas que formam a visualização dos meus pelos – explicou o animal.

Enquanto isso, Rosana contava, em tom baixo, uns passos ao olhar o chão. Em torno dos vinte e cinco, o piso a sua frente se quebrou e foi afundando, formou algo parecido com uma cratera, porém em forma retangular. Notou-se que havia degraus mal formados, entretanto não houve temor diante da escuridão lá em baixo. Eles desceram.

Lampiões estavam presos nas paredes feitas de rochas. E, então, eles os retiraram cuidadosamente. A pouca movimentação poderia causar um desmoronamento e todos morreriam no exato momento. Logo puderam enxergar onde pisavam, a claridade das chamas os ajudavam, porém, mesmo assim, Luka tremia de medo pendurado no ombro de Felipe.

Sofia mostrava uma aparência pouco confiante, os ratos a transtornavam, estava completamente aturdida. Seus sentidos não funcionavam como antes e ela sentia uma breve tontura. A boca do seu estômago permanecia encardida com o mau cheiro.

Laura usava tênis. Volta e meia, seu tornozelo engolfava em uma das poças negras e frias, seus calçados emergiam imundos. Os roedores corriam pelos lados, nada se tornava visível ao suceder dos passos, apenas havia escuridão adiante.

– Vocês têm certeza de que esse caminho é o correto? – perguntou a garota.

– Deve ser. Na época em que eu e Robert vínhamos, o portal era longe, em outra cidade – explicou Rosana, segurando o lampião – Mas estou seguindo estritamente as instruções da manleira que nos atendeu. Se o caminho não fosse esse, nem ao menos o rombo no chão teria rompido.

O Sr. Flintch havia esbarrado em alguém, uma mulher de voz aguda e importuna, bastante desagradável como o giz no quadro negro. Era magra e alta, vestia um uniforme rosa e saia justa até os joelhos, lembrava uma empregada doméstica.

– Quem são vocês e por que carregam um lampião? – ela empinou o nariz de batata.

– Receio que saiba chegar aos zarmos – disse Robert.

– Uma hora atrasados... não fica de modo satisfatório em meu relatório. Mas já que estão aqui...

– Mas quem é você? – Thomas interferiu.

- Erlize, a manleira. E acho que deram mesmo sorte; com essa crise, muitas de nós deixaram de trabalhar pela falta de pagamento – ela caminhava na direção de que vinha uma luz que refletia nas rochas úmidas – Mas preciso do dinheiro, tenho uma grande família e recebo por hora. Posso ganhar atrasado, mas não deixo de receber.

O túnel que, até então, lhes parecia estreito foi tornando-se amplo e um ar fresco vinha adiante. Thomas percebeu que onde pisava era um vidro fosco.

– Saia daí menino! – a manleira advertiu – Esse é o vitral do teto do shopping.

O garoto começou então a pular e rir sozinho, mas não ria das pessoas que se preocupavam com sua vida, mas sim ria do perigo que corria. Momento bobo.

– Ele é o amigo abobado de todos nós – caçoou Felipe, caracterizando a si em vez de Thomas.

Não havia razão para o garoto pular, a não ser chamar a atenção como uma criança, o que não era do seu feitio. Ele decidiu ver até onde chegava a confiança que o abraçou.

Onde todos estavam, havia aves fantásticas cujos olhos eram do tamanho de bolas de boliche que os fitavam. Os animais tinham o rosto puxado como o de um cavalo, mas possuíam um bico de cor azulada, assim como todos os cantos do corpo. No lugar da crina, havia três espécies de frágeis prolongamentos de pontas finas enfileiradas, duas asas com o triplo do seu tamanho, cujas garras nas pontas chegavam a encostar o chão, mantendo o equilíbrio. Havia também um rabo pesado e aveludado, com a mesma função, e uma concha no final. Sua postura lembrava a de gorilas.

– Pelo visto, a única maneira de chegarem aos seus destinos é montando nesses bebezinhos. Chamamos de ZARMOS – a manleira os acariciava, os animais possuíam pernas fortes e musculosas com três garras em casa pata.

– Ótimo, então – Sofia mostrou-se desapontada – Mas não sei se você sabe, além da atmosfera não existe oxigênio, como iremos respirar?

– Fora da gravidade, o corpo de um aqualaeste aguenta 38 minutos sem ar, mas, sobre a temperatura e pressão, essas belezinhas de aves irão aquecê-los. Só de olhar seu peitoral estufado, isso deixa uma imagem de poder e, de uma forma ou de outra, possuem poderes de cura. A desaceleração dos seus organismos no espaço será apostada nesses poderes. Não há risco nem de não gostarem do voo, são fantásticos! – a manleira sorriu e a ave respondeu com um grunhido. Thomas deu uma risada involuntária, achou os animais magníficos! – Agora não precisam esperar mais, montem o mais rápido que puderem. Já se esqueceram de que estão atrasadíssimos?

O garoto mal teve tempo de pensar em o que fazer. Laura e Rosana já suspiravam ao sentir as penas confortantes e macias sob suas coxas e mantinham-se equilibradas, uma perna para cada lado.

Ele viu Felipe fazendo contato com o zarmo. Na altura dos olhos de cavalo, ele sinalizava um pedido para montar, com a mão aberta e dedos juntos, parecido com o sinal da reza. Quando fez um círculo no ar com a mão e o indicador direito dobrado, o animal estendeu no chão a asa coberta por penas azuis para que o garoto subisse nele.

Não houve por que não fazer o mesmo. Naquela hora, Thomas não estava crendo mais no que sabia, mas sim no que aprendia com aqueles em quem confiava. Não tinha mais conhecimento sobre nada, era como nascer de novo, entrar no paraíso e não ter controle sobre nada. Um alienado deixava seu lar em busca do que acreditava, um lugar magnífico fora dos olhares terráqueos.

Era mais fácil montar em um cavalo. Aquela ave era bastante íngreme para sua coluna, ele apoiava os pés no que seria o ombro do animal, onde começava a asa. Havia um zarmo para carregar especialmente as malas que eram amarradas por uma espécie de emaranhado de cordas que entrelaçava até o peito da ave, sem dor alguma.

Balta seguia a manleira, mostrou o caminho até uma abertura de vista para o céu, tirou as patas do chão e flutuou. Robert tinha, no olhar, uma preocupação contínua, Thomas o esperava montar em uma ave, mas o homem não se adiantava e andava até o filho, com uma fisionomia séria, mas, ao mesmo tempo, reconfortante.

– Filho, antes de ir, eu preciso resolver algumas coisas – ele pôs-se a olhar o garoto montado no animal, os braços levantados para tocar no menino, seus cílios molhados piscavam em sinal de adeus.

– Você não vem com a gente? – Thomas franziu a testa.

– Nada importante, apenas trabalho, sou novo lá e não posso sair deste jeito. Não quero que tenha um pai desempregado novamente.

– Pai, com emprego ou sem emprego, eu quero você comigo – o garoto segurou a mão de Robert, que se empenhava ao tocar no filho, a mais de dois metros do chão.

– Eu sempre vou estar com você, não importa onde estiver – o rapaz sorriu e largou Thomas – Agora vá! Aquala não espera ninguém, nós que esperamos para conhecê-la.

Asas azuis bem abertas foram vistas deixando o shopping.




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